Todos
sabem que a primeira coisa que se deve olhar em um imóvel é a vizinhança.
Qualquer coisa serve, quando se tem os vizinhos certos, mas ninguém diz como se
pode descobrir quem são os vizinhos sem ter que perguntar para os mesmos. E
como falar mal de si mesmo é coisa que ninguém em sã consciência faz, então a
questão fica mais para a sorte. Ou para o azar.
Obviamente que se pode usar os serviços de um profissional da investigação. E
foi isso que o José Carlos Tenório, vulgarmente chamado de Zé Mecânico,
resolveu fazer quando soube da excelente proposta do Nelson Ned da Silva,
vulgarmente conhecido como Nenê Grande, a respeito do apartamento que estava a
vender.
Detetive bom é aquele que sabe onde encontrar os seus clientes, mesmo que estes
nunca o tenham chamado, por isso mesmo o Zé não se espantou quando o sujeito
bem vestido, dirigindo uma BMW, apareceu na sua porta, se dizendo como um
profissional do ramo investigativo.
Coisa do destino, diriam alguns, mas não o Zé. Este logo viu a oportunidade de
juntar o útil ao agradável ao saber que o dono do carro era um famoso detetive,
dito pelo mesmo com cartão de visita e tudo para comprovar.
O que levou o distinto empresário dos segredos alheios até a oficina do Zé foi
apenas a necessidade de verificar qualquer problema no veículo, ainda em fase
de test driver e com a garantia de Paraguay de LaTerra (La garantia soi jô),
nascido Pedro Alvares Cabra, um nordestino que acreditava que Buenos Aires era
um bairro baiano e que espanhol era tudo igual; mas que absorvera o melhor
sotaque e as experiências dos clientes da Casa Bode Cheiroso no período que
trabalhou como segurança pessoal de dona Lucrécia, esta sim uma legítima
hispânica de além-fronteira.
E no embalo dos beiços largos do negão de 2,15 m de altura e uma protuberância
abdominal de fazer inveja a hipopótamo de animação, o nosso amigo Detetive
descobriu duas coisas importantes que mudariam o seu destino.
A primeira e mais marcante foi a habilidade prestidigitatória do mecânico que
bastou olhar para o veículo para descobriu que precisava trocar a bomba de
gasolina. A segunda, não menos importante, de que o profissional núbio
necessitava dos serviços de um investigador.
É que o Zuca, como preferia ser chamado pelos amigos, íntimos que já estavam se
tornando ele e o Detetive, estava querendo comprar um imóvel para poder se
casar. Contava já dois meses que se correspondia com uma distinta e rica
senhora e já faziam planos para um enlace matrimonial onde poderiam juntar os
seus pertences e carinhos de forma definitiva, mas estava com receio de que a
mesma não se habituasse a morar no porão do motel Ping Pong, alugado de João
Cafetão, empresário do órgão genital alheio e corretor de imóveis.
O
Zuca confessou ao seu mais novo amigo que estava cansado de ter a mulherada
dando em cima dele todo o tempo, queria encontrar alguém para se firmar de vez
e passar o resto de seus dias.
Não que a coisa andasse devagar nos negócios, confessou ao
Detetive, mas talvez este aceitasse o trabalho em troca de uma máquina de
escrever usada com pequeno defeito, com a qual dedilhava as suas cartas
românticas. A mesma não faria falta, pois dentro em breve acertaria os detalhes
das núpcias com o Pastor Alemão, recém chegado de sua terra natal e que
encontrava-se enrabichado com Fogosa, irmã do mecânico.
O Detetive não hesitou, na verdade estava realmente
precisando de algum trabalho, pois o seu ultimo havia resultado um pouco
inesperado.
Um
caso simples de um cão raptado pela sogra ingrata de um cliente, em represália
a um anuncio colocado no jornal, onde o nobre cliente se oferecia para trocar uma
jararaca inconveniente por qualquer outro exemplar ofídico, que lhe
possibilitaria obter alguns trocados em venenos mais utilizáveis.
Encontrar
o cão não foi problema, um alegre Pitbull que havia gostado muito da raptora,
tanto que já lhe devorara uma das mãos e uma perna. O problema é que por conta
do incidente o cão acabou sendo vendido para pagar as próteses necessárias. O
problema foi que o cliente ficou aborrecido pela rapidez do serviço, alegando
que o investigador poderia ter aguardado ao menos uma semana para que o canino
degustador tivesse completado a refeição. Por conta disso recusou-se a lhe
pagar os créditos devidos e ameaçou denunciar o detetive à sociedade protetora
dos animaus de quem o pitbull devia ser sócio emérito.
Por
conta disso o detetive foi logo acertando os detalhes do trabalho, e em vista
do veiculo ser reprovado no test drive, solicitou emprestado o chevette,
artisticamente decorado com durepox, que esperava retorno do além do dono, na
oficina, para visitar a vizinhança do imóvel pretendido e verificar a
viabilidade do negócio oferecido por João Cafetão ao seu novo amigo.
Qualquer
pessoa poderia dizer que o próprio Zé, ou Zuca, ou Bomba de Gasolina, ou
sabe-se lá quantos nomes mais o distinto cidadão utilizava-se em seus
empreendimentos, poderia fazer o serviço sem desfazer-se de seu precioso bem,
mas as mesmas pessoas não teriam dúvidas dos motivos de se enviar um
representante, acaso desconfiassem da localização efetiva se encontrava o
pretenso ninho de amor.
O
fato é que tão logo o Detetive adentrou as cercanias residenciais dos futuros
pombinhos, foi literalmente recepcionado por uma salva, e a coisa só não ficou
pior porque a imensa ladeira ajudou na fuga. Os buracos da rua, não das balas,
acabaram fazendo com que a máquina de escrever fosse projetada do porta malas
onde se encontrava alojada, o que serviu de distração e possibilitou um retorno
seguro. O motorista sequer percebeu que o veiculo possante não tinha, entre
outras coisas, freio que o fizesse reduzir a velocidade, como se houvesse
interesses de o fazer, dadas as circunstâncias.
Verificada
a periculosidade do local e agradecido aos céus pela imensa sorte de ainda
poder escolher outra profissão menos problemática, o Detetive até recusou novo
pagamento, e ainda deixou para o nubente núbio uma caixa de preservativos de
ótima qualidade que havia, e isto fica entre nós, encontrado no veiculo
anterior a título de pagamento pelo carro emprestado que ficara em algum lugar
no caminho.
Contam
as lendas urbanas que a irmã do Zuca acabou por abdicar de trocar o Pastor
Alemão por outro que fizesse melhor uso de sua língua, mas se predispôs a
trocar os preservativos que ganhou do irmão por roupas de bebê.
O
mecânico, no entanto, não teve os seus intentos nupciais realizados pois soube por
foto autografada encontrada no veículo a ser devolvido depois do test driver
insatisfatório, que a sua pretendente era na verdade a velha conhecida de Paraguay,
conhecida pelo nome de Lucrécia, famosa empresária daquelas bandas. Não
desistiu de casar, no entanto, e tratou de investir em uma nova paixão
colocando anúncio em um site de encontros, desta vez com a exigência de foto. E
como paixão de mecânico é carro, foi justamente deste que solicitou a estampa à
próxima pretendente.
Já o
amigo detetive, tendo solicitado ao Zuca a devolução da BMW e decidido mudar de
profissão, acabou se especializando em digitar documentos com rapidez e baixo
custo, embora nunca tenha feito qualquer curso de digitação, o que lhe garantiu
um lugar para morar. Um condomínio fechado, com regras tão rígidas que até
para ser visitado havia dia certo, mas com uma ótima segurança, tendo até
um tal de Juiz Noel, Nicolau, ou Lalau, como preferir, como vizinho.
É
por isso que sempre digo: Vizinhança é tudo!
2 comentários:
E eu digo que você é demais!
Olha que demais é muita coisa. rsrsrs
Belo trabalho, Danny.
Bjo enorme!
Obrigado, Dalva,
Muito bom poder ver você aqui neste cantinho do coração.
Eu tenho alguns amigos que já estão com medo de me contar as coisas, porque acabo transformando tudo em textos rsrs.
Até mesmo os "anuncios" mais malucos rsrs.
Mas a arte imita a vida, e a torna mais simples. E é isso que eu gosto de fazer ;)
Super Beijo Mágico pra você, Linda!
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