sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Sobre a Visão Hipocrática da Atividade Sexual dos Canídeos Lupus em relação ao Darwinismo Fantasmagórico (ou Dança com Lobos).





                Seguindo a visão de Hipócritas Hiludidus o problema do Darwinismo Fantasmagórico, especialmente em relação ao canibalismo virtual apresentado nos tempos atuais, se deve a ação da ilusão invertida de quem caça o caçador, sendo a isca desejável e fraca para tentar a aproximação.

                Observando as comunidades de Canídeos Lupus Fantasmagóricos pode-se verificar que todo o processo se inicia com algum expoente fêmea que podemos chamar de Fêmea Alpha em contraposição ao expoente macho, o Macho Alpha, aquele que supostamente é dono da comunidade, ou que, ao menos, a comanda como um exemplar a ser seguido.

                A Fêmea Alpha transita os seus atributos intimidando tanto os pares machos quanto os fêmeas de forma a apresentar o seu poder e escolher qual será o seu parceiro sexual. Como não precisa ter pressa, testa todos os parceiros, machos e fêmeas, por algum tempo antes de se decidir. Isso causa o segundo nível de competição: Quem vai comer quem depois que alguém for comido em primeiro lugar.

                Estabelecido o modelo básico da comição, cria-se o modelo do “desejável” e verifica-se o que se encontra disponível em relação ao modelo. É nesta fase que acontece a grande depressão coletiva pela descoberta de importantes fatores:
- Se todos fossem Alpha, não haveria ninguém igual a você
- Há muitos exemplares de um tipo de sexo e poucos de outro; logo não haverá pares suficientes e alguns vão ter que se virar com alguém do mesmo sexo.
- O Gameta não tem nada a ver com "Gama, meta", embora também implique em sexo, em ultima análise.

                Normalmente os exemplares femininos são mais numerosos, por terem menos coisas para fazer durante o sexo, podem fazer muito mais vezes, o que gera um positivo natural que acaba criando mais espécies folgadas do mesmo tipo; só alguns trouxas caem na armadilha de acharem que sendo machos vão se dar bem. Quem se dá bem são sempre as fêmeas.

                Percebendo que vão ter que ficar com outras fêmeas por falta de machos no mercado, algumas acabam, ou se antecipando e arrumando logo a sua ou oferecendo coisas que supostamente as outras não ofereceriam e que acreditam que encantariam os machos.

                Fazer tudo de todo jeito e não reclamar nunca do resultado (ao contrário, valorizando exageradamente o pouco que conseguiram) são atitudes aplicadas por profissionais do sexo fêmeas, que desistiram de competir por machos alpha e resolveram ficar com todos os outros ao mesmo tempo, em troca de valores monetários e nenhum compromisso de sustentar os vícios e defeitos deles em um relacionamento prolongado.

                Nesta altura já vemos as divisões de classes por expoentes e seguidores:
- A Fêmea Alpha;
- A Lésbica Alpha;
- A Puta Alpha;
- A Alpha do Caralho.

          A Alpha do Caralho é aquela que busca um caralho para chamar de seu, o que descarta a possibilidade de ficar com outra fêmea, e para garantir que vai ter um caralho para chamar de seu, usa os mesmos atrativos da Puta Alpha, mas só como engodo, pois o seu objetivo é encontrar um relacionamento fixo com um caralho, dominando-o definitivamente.

                Por outro lado o que essa divisão nas Alphas acarreta nos machos?
A mesma divisão ou similar.

                Então temos o Macho Alpha que acaba não comendo ninguém por ficar embriagado com tanta oferta. Mantém a pose, mas morre de medo de perder o posto de ser o mais desejado se realizar o seu próprio desejo. Prefere realizar fantasias alheias em detrimento à concretização da sua criando a auto ilusão de ser feliz assim.

                Temos também o Puto Alpha, que aprende a oferecer o mesmo que as Putas Alphas por reprodução direta comportamental. Se tanta gente oferece tudo o que pode para ter um Macho Alpha deve ser bom, logo buscam conquistar um para si também.

                Com mais Putos Alpha, menos machos disponíveis e maior a tendência das Fêmeas Alpha aumentarem a oferta de serviços para atrair a sua presa. Com tanta oferta de serviços de todos os lados maior a tendência dos machos disponíveis de tentarem experimentar a todos, antes de se deixarem prender por uma qualquer, até que encontram alguma Alpha mais sábia que não oferece nada, na verdade, nega tudo.

                Com essa misteriosa indiferença leva o macho a acreditar que esconde algo maior ainda, e a buscar conquistar o que poderia obter facilmente em outros lugares, só que sentindo-se como um caçador.
A Megera Alpha acaba capturando o seu macho e comendo-o, através desse artifício muito bem engendrado.

                É comum que a Megera Alpha arranque o couro do macho capturado e logo depois passe a buscar outra presa. Alguns ficam tão entrevados no processo que acabam se tornando o Corno Alpha.

                É por esse motivo que temos cada vez mais Alphas do Caralho e Megeras Alpha e cada vez menos Machos para encarar essa Dança com Lobas.

                As exceções à regra desenvolvida exclusivamente para as Comunidades de Canídeos Lupus Fantasmagóricos são poucas e merecem estudos à parte, na tentativa de entender a sua evolução em um padrão saudável, que raramente é copiado por ser minoria,  justificando a antitese de que nem sempre a maioria está certa e toda unanimidade é burra.

                Que se registre esta tese nos anais, e não digam que eu não avisei.


Bibliografia:

Tratado Geral sobre a Sexualidade Fantasmagórica das Comunidades Lupídeas - Hipócritas Hiludidus - 2004
Quem tem Cú tem medo - Arnesto Nosconvidô - 2006
Sexualidades Fantasmagóricas e outros atributos - Danny Marks - 2009

O Pé de Vento - Rogério Camargo


Estava o poeta poetando suas poetices quando um pé de vento penetrou seus pensamentos, sua caverna, suas folhas de papel.
O que é isso?!, perguntou, à beira do espanto e da indignação.
É meu! É meu! Pega ele pra mim, poeta. Mas não esmaga, cuidado.
Ele quem, diacho? Só vi passar por mim um pequeno vendaval.
Mas é dele mesmo que estou falando. Pega pra mim meu pé de vento.
Raios!, resmungou o resmungão de si para si mesmo. E levantou o corpanzil que uma capacidade de estar presente às coisas fazia parecer ainda maior.
Mas eu nem vi direito para onde foi aquele estrupício!
Ah, não diz assim! Tão bonitinho que ele é!
Bonit...?! Tá bem, há gosto pra tudo. E agora, onde está aquele... tão bonitinho?
Ai, mas que má vontade, poeta! Deixa que eu mesma procuro, então.
Não, não, pára aí. Não vai desarrumar minhas coisas. Tá vendo isso aqui,? Pisa com cuidado, é uma ode. Não vai derrubvar aquilo ali também, é um epigrama. Não te encosta naquilo que... Olha só, já encostou!
Que manchas são estas?
São madrigais. Agora vais ter que esperas noite de lua cheia pra lavar.
Por que?
Senão eles choram. Aí, derretem toda a tua blusa.
Que coisa!
Tô dizendo. É complicado aqui dentro. E tu ainda me soltas este canalhinha aqui!
Eu não soltei, foi ele que se soltou!
Não entendo muito bem qual é a diferença, mas vá lá que seja. Vamos até os fundos, mas olha bem onde pões os pés, por favor.
Não precisava me repetir. Madrigais de lua cheia já são suficientes pra mim.
Ele rosnou alguma coisa que ela não ouviu e continuou entrando caverna adentro, pensamento adentro, folha de papel adentro.
Passou por aqui, ó.
Como sabes?
Os sonetos estão todos retorcidos, não foi assim que deixei.
Não podiam se retorcer sozinhos?
Um pé de vento talvez se solte sozinho, mas um soneto não se retorce sem que algum desastrado passe por ele.
Não concedes mesmo ao pobrezinho, né?
Conceder? Eu estava trabalhando, menina!
Eu sei disso, ora. Claro que eu sei disso. Queres que eu me sinta culpada?
Não. Quero que me ajudes a achar o... tão bonitinho. Andaram ainda vários minutos por aquele labirinto até que num canto um redemoinho de papéis dava conta de que o pé de vento estava presente.
Olha só o estrago! Chama aquele diabrete, vamos ver se ele te atende.
Claro que atende. Ele é da mamãe, não é, filhinho? Vem cá, vem.
A papelada caiu ao chão, mansamente, e o cabelo da moça começou a espalhar-se pelos ombros, pelo ar, pela vida, denunciando que ao colo já lhe subira o “filhinho”.
Que alívio, hein, “mamãe”?
Pára de implicar! Olha que eu solto o queridinho de novo, hein?
Ué, mas não é ele quem se solta?
Pra vir aqui foi ele que se soltou.
Eu sou mesmo bastante cheio de atrativos – continuou brincando o poeta.
Bobão. Quer que eu dê uma arrumada em tudo isso aqui?
Não, deixa comigo. Vocês dois jamais descobririam a ordem que eu quero dar às coisas.
Mas eu posso deixar ele lá fora e...
O poeta foi de uma ternura descabida quando deu um beijo na testa dela e disse simplesmente não.


(Rogério Camargo)

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Mensagem de Boas Festas



Minha Mensagem para todos aqueles que acompanham este cantinho do coração.

domingo, 13 de dezembro de 2009

O Elevador - Danny Marks



          As portas abriram e ela precipitou-se para dentro, lágrimas amargas a queimar-lhe os olhos. Pela segunda vez entrava em um elevador, desde que ficara claustrofóbica em uma brincadeira ruim, na infância. Com o temor infantil progredindo para o pânico adulto, resolvera procurar ajuda profissional.
          Dois anos de terapia e um romance com seu psicólogo haviam feito milagres e caminhava para a cura. Ainda subia os dois lances de escada que a conduziam aos seus encontros no divã, até que ele comunicou sua mudança para o nono andar e que indicaria outro profissional para atendê-la. Não queria que ela sofresse, disse, e ela aceitou. Sempre aceitava tudo o que ele mandasse, sempre querendo agradá-lo. Dois meses de desencontros a obrigaram a enfrentar o cubículo macabro.
Algumas horas de sistemática preparação de corpo e alma e suportou a subida pelos nove andares, olhos fechados e coração pulsando entre o medo e a alegria de superar-se e comunicar-lhe a novidade do seu progresso, queria que a visse renovada.
          Ninguém na recepção, porta do consultório fechada, não trancada.
          Uma brecha pequena e um olhar furtivo, o sorriso definhando no rosto ao ver e ouvir os sons que denunciavam previamente o tratamento que era dado no divã. A visão de corpos nus entrelaçados e o riso medonho em sua mente.
          Ali no “seu divã” viu o monstro ressurgir e abraça-la em suas paredes fechadas, o mundo girou e escureceu à sua volta. Correu entrando na primeira porta que se abria e o elevador tragou-a em sua descida automática.
          Quando se apercebeu onde estava as luzes apagaram e o elevador parou. Um simples fiapo de luz iluminando o seu medo vindo de alguma brecha acima, queria morrer, mas já estava enterrada.
          — Não se preocupe, deve ter sido uma falha nos geradores, mas logo arrumam e vai ficar tudo bem.
          Ficou paralisada, muda pelo medo, trancada no escuro solitário com um estranho e com imagens a suceder-se na mente. Chorou soluçando, desabando completamente como as paredes de sua fortaleza.
          — Por favor, não chore. Vai manchar o seu lindo vestido. — disse-lhe a voz.
          Sentiu o toque suave de um lenço em suas mãos, dedos fortes e ásperos o sustentavam em oferta, pegou-o rapidamente, limpando o rosto sem saber o que mais fazer.
          — Eu queria tanto... Estava disposto a obrigá-lo a dar-me o seu nome e endereço e depois... castigá-lo por trair você. Tinha que a ver ainda que ao longe, mas o destino a trouxe assim, tão linda, e me permitiu poder falar-lhe sem medo uma última vez. Não, não fique com medo... não vou lhe fazer mal algum.
          Ela sentiu o hálito suave, o carinho nas palavras e soube que ele a amava. Estranhamente sentiu-se segura com a insegurança dele, se identificando com aquele ser de quem só podia ouvir a voz emocionada.
          — Quando abrirem as portas desaparecerei de sua vida. Nada posso lhe oferecer, sou pobre, feio, mas... Eu amo você. Desde que a vi no consultório dele, não consigo pensar em outra coisa, só em vê-la, sentir o seu riso.
          Ela sentiu o apelo desesperado na voz dele fundir-se às suas próprias necessidades. Todos os seus sentidos e sentimentos em um turbilhão em meio à escuridão e num impulso sua boca procurou a dele nas sombras. Desejo reprimido, desespero, caos de sentidos e memórias fundindo corpos em êxtase frenético com a urgência de condenados. Luz, movimento, realidade superando fantasias. Roupas arrumadas às pressas quando a luz voltou, olhar furtivo para o dono daquela alma incomum.
Uma arma guardada às pressas, portas que se abrem e uma fuga prometida. Ela ainda levou alguns segundos para se recompor e sair atrás dele gritando:
— Vilma! Meu nome... é Vilma.

Ele parou e voltou a olhar para ela, deslumbrante em seu vestido amarrotado. Ela o alcançou e capturou-o novamente em seus braços, as bocas coladas sem importar quem olhava a cena. Nunca mais precisaram de psicólogos, apenas elevadores.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Vitimas Algozes - Danny Marks


Lá está de novo. Coloco o saco de lixo de volta no vizinho e vou trabalhar, é assim todos os dias. O cachorro do vizinho não deve gostar de ver a merda que produz.
À noite os cães vadios espalham mais adereços na minha calçada, atraídos pelo cheiro. Ao lado tudo limpo.Tenho que persistir na lição, talvez...
Em classe resolvo tentar dar um ânimo, uso uma música conhecida e peço que falem a respeito do que a letra diz, do que podem trazer para o seu dia.
Em casa não funcionou, “troque seu cachorro por uma criança pobre”, ao lado só há amante dos animais.
O aluno no fundo troca algumas palavras com a namorada, a boca no ouvido que ri.
14 anos e grávida, olho por cima dos óculos sem levantar a cabeça, não se pode fazer muita coisa. Difícil levantar a cabeça. Antigamente o problema com balas perdidas era apenas quando elas ficavam coladas nas roupas e estragavam os dentes, hoje a realidade é mais dura que bala puxa-puxa. Essa nem existe mais, fico lembrando os nomes que davam: machadinha, caramelo escolar, vermelhinha...
A jovem mãe sai da sala, nessa altura da gravidez é comum correrem para o banheiro para tantas coisas. Ele se debruça sobre o papel, esfregando o rosto.
Fecho os olhos. Quantos antes não fecharam os olhos para que isso estivesse acontecendo. Há forças incontroláveis em andamento.
Todos começam a sair antes mesmo de terminar a aula, os celulares dão o sinal. Deixam as folhas sobre a mesa e vão. A menina-mãe nem volta, o garoto leva o material, a folha fica sobre a carteira, esquecida, sem importância.
Espero todos saírem e vou recolhê-la.
Sinto na superfície algo diferente, cheiro o pó das letras, não há duvidas. Sento-me desanimado. Olhando para a frente como no tempo em que eu era um deles, quando estava do lado de cá, tentando entender o incompreensível.
Enfurecido, saco a minha arma vermelha e vou sublinhando os erros e aplico um enorme zero no alto da página antes mesmo de terminar de ler.
Então noto algo no verso. Grafado e sublinhado.
Legião é de Legionário, soldado. Urbana é de cidade, favela, refúgio. Soldados encarnam a vida até que a morte chegue. Lutar até morrer
Algumas frases saltam aos meus olhos
Sentia mesmo que era mesmo diferente
Sentia que aquilo ali não era o seu lugar
De escolha própria, escolheu a solidão
Onde aumentou seu ódio diante de tanto terror.
Não entendia como a vida funcionava
Ficou cansado de tentar achar resposta
Vocês vão ver, eu vou pegar vocês
Não boto bomba em banca de jornal
Nem em colégio de criança isso eu não faço não
Se a via-crucis virou circo, estou aqui
Deu cinco tiros no bandido traidor
Fiquei olhando as frases sublinhadas, a resposta no final da página:
Você perdeu a sua vida meu irmão...
Me senti exaurido, inútil como um saco de excrementos devolvido a porta ao lado.
Vejo o embrulho sob a carteira, estend a mão e sinto o aço frio em contato com a pele febril.
Recolho minhas coisas e vou para casa, as palavras martelando na cabeça...
Você perdeu a sua vida meu irmão, essas palavras vão ficar no coração, eu vou sofrer as conseqüências como um cão.
Encaixo uma garrafa pet no cano da arma e salto o muro. A literatura ensina muitas coisas. O meu sorriso é maior que o do cão.
Um caiu sem suspiro, o outro arregalou os olhos e derrubou algumas garrafas.
Arrasto para dentro do banheiro, tiro as minhas roupas e as dele, uso a serra elétrica que nunca me devolveu.
Deixo todos os objetos de valor em vários lixos, os carrinheiros vão fazer a festa. Sacos pretos com excrementos em outros tantos lugares, a noite foi longa, cansativa, cem rumos, sem pistas.
Chego cedo na escola, sem dormir, devolvo a arma limpa no mesmo lugar e deixo a folha sobre a cadeira com dois pequenos acréscimos.
O numero 1 na frente do zero e mais uma frase sublinhada fortemente.
E na escola até o professor com ele aprendeu
Quando eles entram eu saio, há coisas que não se deve ensinar.
Nem aprender.

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