quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Pente, Batom e Lenço - Danny Marks

A bolsa da moça não resistiu ao puxão e abriu-se. O Pente, o batom e o lenço correram para o meio da rua, imediatamente fixados por este, aquele e o outro veículo que vinham pelo negro cinzento na velocidade da luz recém nascida.
                O vermelho cereja foi gotejando na razão de PI, demarcando a trajetória dos amigos distantes do grito que atraiu o policial.
                Gravidade é a força que é descrita como uma lei, estudada pelos físicos e compreendida por poucos, que trata sobre a atração dos corpos, como o desejo.
O Desejo também é capaz de atrair os corpos embora não seja uma lei, e seja mais estudado e menos compreendido que a gravidade e, por sua vez, também resulta, às vezes, em situações complicadas, sendo uma delas a gravidez, que pode ser o resultado do encontro de dois corpos pelo desejo.
Uma situação complicada é algo que precisa de uma solução para não se tornar um problema.
O peso, um dos efeitos da gravidade que atrai os corpos não pelo desejo, pode resultar em um problema de saúde para o Valdir, que é um homem e portanto possui um corpo.
O Valdir é um carteiro, a extremidade final de um sistema postal. Sistemas são conjuntos de ações que estabelecem relações entre si para obter um fim que se chama resultado, que acaba realimentando o sistema em outras formas de relações.
O Sistema postal tem a finalidade de intermediar as relações entre corpos distantes, através de objetos chamados de correspondência, que levam informações, entre outras coisas, mediante um pagamento.
Pagamento é o que se faz quando se deseja adquirir algum objeto que não lhe pertence, ou solicitar que um carteiro o entregue para outra pessoa em um lugar determinado.
O pente, o batom e o lenço também são objetos que a Janice desejou ter e pelos quais pagou um valor determinado, adquirindo o direito de leva-los em uma bolsa, como a do Valdir.
Bolsas são objetos criados com os mais diversos formatos para facilitar o transporte de objetos que as pessoas desejam ter. No caso do Valdir, são as encomendas e cartas que alguém pagou para o sistema postal mandar entregar a outras pessoas que as desejam.
Quanto mais encomendas na bolsa, maior o peso, que como já foi dito é um efeito da Gravidade, que pode causar um problema de saúde no Valdir, que é um carteiro do sistema postal.
Uma das formas que o Valdir encontrou de solucionar a situação complicada, representada pelo peso de ter que intermediar as relações entre pessoas distantes que pagaram um valor determinado na entrega de objetos que levam informações entre outras coisas, foi o uso de uma bicicleta.
Valor é o resultado de um sistema de trocas em que objetos ganham importância pelo desejo de alguém que não os possui. O pente, o batom, o lenço, a bicicleta e as encomendas tem valores diferentes porque são desejadas por pessoas diferentes.
O Valdir desejava uma bicicleta que lhe permitesse fugir aos efeitos da gravidade, que faz com que a bolsa onde leva as encomendas do sistema postal fique pesada e menos desejável de ser transportada.
O Valdir precisa da bicicleta para fugir dos efeitos da lei da gravidade.
Um Marginal é um homem que gosta de burlar a lei criada pelo sistema legislativo, que é um sistema que faz leis para homens, como os carteiros, seguirem.
Um marginal é um homem que possui um corpo que é atraído por outros corpos chamados de objetos, que lhe parece terem valor, mas pelos quais não pretende efetuar um pagamento. O efeito da atração do marginal por objetos de valor pelos quais não deseja pagar cria uma situação complicada chamada de furto.
Furtos atraem policiais, que recebem pagamentos para impedir que o marginal obtenha objetos de valor, que não lhes pertence, sem pagamento.
Policiais são homens que possuem corpos sujeitos a gravidade e que também podem ser atraídos por outros corpos que julgam ter um tipo de valor chamado de beleza, como a Janice, que usa pente, batom e lenço.
Valdir é um homem que possui um corpo que, muitas vezes, não é atrativo para outros homens, como o policial, ainda que para as mulheres, como a Janice, possa ter algum valor.
Para o marginal, que é um homem, o principal atrativo do Valdir é a bolsa, que não é igual a da Janice porque não leva pente, batom e lenço, mas está cheia de encomendas e acoplada a uma bicicleta, que é um veículo com rodas que esmagam batons caídos na rua e serve para aliviar os efeitos da gravidade sobre a saúde dos carteiros, e para levar marginais em fuga.
Assim o pente, o batom e o lenço da Janice ficaram perdidos, bem como as encomendas e a bicicleta do Valdir, levados pelo ação do marginal, que deveria ter sido preso pelo policial, que não ficou tão atraído pelo furto quanto pela Janice e criou a situação complicada de fazer os sistemas, postal e legislativo, menos eficientes que a Lei da Gravidade que, por não ser uma lei criada pelos homens, não se preocupa em satisfazer o desejo de ninguém.

domingo, 19 de janeiro de 2014

Porcas Borboletas, a Ilha das Flores e René Descartes

Ilha das Flores - "documentário" completo



O bom senso é a coisa do mundo mais bem distribuída: todos pensamos tê-lo em tal medida que até os mais difíceis de contentar nas outras coisas não costumam desejar mais bom senso do que aquele que têm.

René Descartes

Porcas Borboletas - Tudo o que eu tentei falhou...




Não há nada no mundo que esteja melhor repartido do que a razão: toda a gente está convencida de que a tem de sobra.
René Descartes

Ilha das Flores: depois que a sessão acabou



Deve-se evitar toda "precipitação" e todo o " preconceito" ao se analisar um assunto e só ter por verdadeiro o que for claro e distinto.
(...)
Se você for uma pessoa que busca realmente a verdade, é necessário que ao menos uma vez na vida duvide de todas as coisas, da maneira mais profunda possível.
René Descartes



sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

...de quem se fala - Danny Marks

 
Ele está arrumando as coisas para voltar... de novo.
Sim, eu sei. Já esperava por isso... você não?
Não pode deixar ele ir... não de novo... não depois de...
Não?! E como acha que eu posso impedir? Heim? Esse foi o acordo...
Isso não está certo. Você tem que fazer alguma coisa...
Eu!?... Eu!? ... e por que não você? Que tal assumir essa parte então? Ah?! Tente impedi-lo... Fale com ele... Fale com ele como fala comigo... Está com medo? É?! Do que ele possa lhe dizer?
Foi você quem fez as coisas ficarem assim, não venha fugir da sua responsabilidade...
...Como você...?  É bem fácil vir aqui e me dizer “impeça ele”, “faça alguma coisa”, “você é o culpado disso”.  Não me aborreça!! Quer fazer algo? Então vai lá e tente convencê-lo de que está certo, de que não vale a pena... vai...!
Ele vai sofrer mais ainda... desta vez pode não aguentar...
E o que você quer que eu faça? Heim? Por que não arruma outra solução? Vir aqui me cobrar o que eu deveria estar fazendo... o que você acha que eu deveria estar fazendo... Se sabe o que deve ser feito, por que não faz você mesmo? ...Não assume essa responsabilidade para si? Nãaao... é mais fácil achar um culpado para ficar se escondendo de...
E não é isso que está fazendo? Deixando que ele faça o que você deveria estar fazendo? Deixando que ele assuma o seu lugar nessa... nessa loucura toda?
Alguém tem que fazer... ele escolheu isso, não eu... Eu não escolhi para ele...
E de que adianta tudo isso afinal? Por que não deixa-lo simplesmente... ser feliz?
Porque não dá para ser feliz e saber a verdade... Não dá para simplesmente ter o olhar despertado para tudo o que está acontecendo e... e fingir que... Não entende que não há felicidade no caminho da verdade? Que... não é tão simples assim?
Então por que deixou que ele despertasse? Por que não o deixou alienado e feliz? Por que lhe ofereceu essa... essa...  dor que... isso é crueldade...
Não! Não é! Eu avisei que seria difícil... avisei antes que... talvez não... Ele que escolheu isso, entende? Eu tinha que dar essa escolha... Eu tinha que permitir que ele visse as coisas porque...
...Porque você não queria ser o único a ver...
... porque alguém precisa achar uma solução e... só através da dor... da verdade, é que se consegue ir além. Não há outro jeito...
Talvez haja, mas você não sabe, não é? Por isso que permite que isso esteja acontecendo...
Você não entende? Ele é melhor que nós dois... Se há alguma esperança...
Tomara que algum dia ele consiga. Você sabe que ainda assim... mesmo que ele consiga... estará perdido. Só o próximo que tomar o lugar dele... poderá supera-lo...
Talvez... não sei... Ele é... melhor do que nós.
Tomara que eu esteja por aqui quando você cair... quando ele conseguir se livrar dos seus... quando ele ocupar o lugar que você deixar vazio. Eu quero ver... você cair...
...
Eu vou falar com ele...
O que vai dizer?
Mentiras, é claro! O que esperava que eu dissesse?
Ele vai saber. Vai perceber cada uma das suas mentiras, descobrir as suas intenções e...
Eu sei... estou contando com isso. Mas não importa! Ah... não importa... foi para isso que... Quer saber? Ele vai saber que vou estar mentindo ao dizer que vai dar tudo certo... que ele vai conseguir desta vez... e que as coisas vão ser melhores depois de... Ele vai saber de cada uma dessas mentiras no instante que eu falar, e ainda assim.... Ainda assim ele vai acreditar... porque ele precisa acreditar... e mentir para si mesmo, com a minha ajuda, para poder suportar toda a verdade que você jogou na cara dele, toda a verdade... E quando ele conseguir superar tudo isso... então ele vai lembrar quem esteve lá... mentindo para ele... mentindo para que ele conseguisse... Mentindo por ele... para que não perdesse o sonho de viver...então...


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