terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Pedras Empilhadas – Danny Marks



Então é assim que vai ser?
Segura a minha mão enquanto o cigarro queima
Sem ao menos me dar algum prazer.
Minha taça entornou no chão, você vê?
Meu grito abafado; você não escuta minhas palavras.
Não tire isso de mim
Você não sabe quanta falta me faz.

Lembra quando fizemos amor da ultima vez?
Eu estava sozinho.
Corpos podem se encontrar e criar sinfonias diferentes
Há um muro que separa as almas
Ele cresce em algum lugar quando deixamos ser
E penduramos retratos empoeirados

Ei, você! Não olhe para a minha nudez nesta solidão
Não roube a minha respiração para viver alguns minutos sem ar
Eu lhe dei os meus suspiros mais antigos
E o que você fez?
Quão cruel pode ser um riso sincero?

Engulo algo amargo que deveria me fazer melhor
Saia do meu caminho e leve com você todas as lembranças
Quem vai querer se lembrar do paraíso no inferno?
Apague a sua linha da vida na minha mão
Regue com a minha dor os seus frutos
Mas não tire de mim quem sou

Você construiu com os meus ossos o seu castelo
E encheu sua piscina com meus olhos
Você flutua indiferente, eu sei, sobre tudo o que deseja
Enquanto os pulsos sangram na umidade do seu corpo
Me afogo distante do mar quebrando garrafas nas paredes
Ainda vou sobreviver ao meu vício de você
Se jamais olhar para o muro que cresceu entre nós.

Ei você! Que fez parte de mim
Nada pode mudar o passado
Mas o futuro que escolhemos
Não vive de fantasmas
Há um muro que separa almas
O quanto pode ser cruel um riso sincero?

My Way (Meu Jeito) - Frank Sinatra



MEU JEITO - Frank Sinatra


E agora o fim está próximo
E portanto encaro o desafio final
Meu amigo, direi claramente
Irei expor o meu caso do qual estou certo
Eu tenho vivido uma vida completa
Viajei por cada e todas as rodovias
E mais, muito mais que isso
Eu o fiz do meu jeito
Arrependimetos, eu tive alguns
Mas aí, novamente, pouquíssimos para mencionar
Eu fiz o que eu devia ter feito
E passei por tudo consciente, sem exceção
Eu planejei cada caminho do mapa
Cada passo, cuidadosamente, no correr do atalho
E mais, muito mais que isso
Eu o fiz do meu jeito
Sim, em certos momentos, tenho certeza que tu sabias
Que eu mordia mais do que eu podia mastigar
Todavia fora tudo apenas quando restavam dúvidas
Eu engolia e cuspia fora
Eu enfrentei a tudo e de pé firme continuei
E fiz tudo do meu jeito
Eu já amei, ri e chorei
Cometi minhas falhas, tive a minha parte nas derrotas
E agora conforme as lágrimas escorrem
Eu acho tudo tão divertido
E pensar que eu fiz tudo isto
E devo dizer, sem muita tímidez
Ah não, ah não, não eu
Eu fiz tudo do meu jeito
E para que serve um homem, o que ele possui?
Senão ele mesmo, então ele não tem nada
Para dizer as coisas que ele sente de verdade
E não as palavras de alguém de joelhos
Os registros mostram, eu recebi as pancadas
E fiz tudo do meu jeito

domingo, 25 de janeiro de 2015

Masmorras de Areia – Danny Marks



               Cadáveres adiados sussurravam seus risos distanciando-se das lápides exuberantes que se enfileiravam desafiadoras frente ao mar.
               Verdadeiros exércitos de condenados fugindo de suas batalhas diárias em um encontro com o útero primordial, estendidos em objetos de culto, semidesnudos corpos protegidos por escudos invisíveis contra laminas douradas que despencam dardejantes, sem clemência.
               Em meio ao tumulto caórdico, que tomava como sua a pátria emprestada, sorrisos duvidosos forneciam suprimentos mitigadores da ausência autoimposta com prazeres artificiais, alimentando ilusões de alegria.
               Os sons aglomerados em meio ao silêncio se contrapondo ao ritmar dos ventos que açoitavam águas indiferentes, engolindo detritos, mastigando-os lentamente e os devolvendo como o regurgitar das grandes feras em seu sono.
               Há tanto a se perder quando nada falta que a escassez se torna valor abstrato de negociações impensáveis em outro lugar que não o campo de batalha, na trégua torpe, no andar pálido, no arrastar indelicado dos momentos.
               Ao longe, como que indiferente às eras que distanciavam este de outros lugares semelhantes, pequenas criaturas empilhavam as úmidas areias do limiar entre mundos compondo enormes poesias aos seus olhos. Edificações que lembravam a quem quisesse ouvir que os grilhões das masmorras aguardavam, mas, enquanto a paz de ouro se fizesse presente, as dores seriam esquecidas.
               Até mim chegavam apenas sussurros de força incomum, seu grito imemorial suplicando uma ordem impossível de decifrar completamente.

               — Vii...vaaaa... viiiiii...vaa... viii...vaaaaaa....

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Os Vilões dos Finais Felizes – Danny Marks



Por que os vilões não podem simplesmente ter um final feliz?
Essa é uma questão que tem me incomodado há muito tempo, como escritor, como leitor, como pessoa. Por isso mesmo tenho investigado os diversos argumentos, das mais variadas fontes, e descoberto uma intrigante teia de relações que ultrapassam limites, como qualquer boa história.
Não vou fazer um resumo de anos de pesquisa, ou tentar chegar a alguma conclusão, se é que existe algo do tipo neste caso, mas não posso mais me furtar a, talvez, fazer um protesto contra o que tem se tornado uma tendência: Finais Felizes para Ex-Vilões.
Ok, nada contra a boa e velha política de que as pessoas que se redimem devem ser perdoadas nos instantes finais antes de morrerem por uma boa causa, não importa o quão mal tenham feito antes desse fatídico instante. Aconteceu em uma galáxia distante algo do tipo, não é mesmo? Por que não poderia acontecer aqui mesmo, ali na esquina ou em um cinema perto de você? Afinal o que as pessoas querem quando vão assistir um filme em que há heróis é que no final, no mínimo, o vilão se redima e pague por seus erros, não é mesmo?
Engraçado que há uns trinta, quarenta anos atrás, vilão bom era vilão encarcerado, privado de toda a sua capacidade de exercer a maldade. Ou, quando sua existência se tornasse por demais ameaçadora, desaparecesse em um canto obscuro do universo ou provocasse a própria morte.
Ah, havia as exceções, os pistoleiros do Oeste Selvagem que simplesmente morriam sob as balas rápidas e certeiras da justiça em duelos impossíveis onde a vantagem numérica sempre estava ao lado do bandido.
Bom mesmo era ser o “mocinho”, sinônimo de bondade, gentileza, lealdade, justiça, mesmo que tivesse lá seus cinquenta e todos anos e, portanto, não tão moço assim.
Houve um tempo em que era preciso escolher um lado, ou se era totalmente bom e incorruptível, ou o inimigo capaz dos maiores e mais elaborados planos perfeitos que estavam fadados ao fracasso apenas porque estavam a serviço do mal.
Então começaram a surgir os vilões não tão malévolos assim, e ao lado deles, os heróis não tão incorruptíveis. A era dos “anti-heroi” derrubava o maniqueísmo de Bem X Mal e tornava os tons de cinza mais atraentes que algemas de veludo. Não bastava ser mal, tinha que ser bonito, charmoso, elegante, sedutor e, principalmente, ter um bom motivo para andar no lado negro da verdade para resgatar a beleza, punir as verdadeiras criaturas do submundo e ainda, de quebra, sair antes dos aplausos.
E ainda assim, os vilões não alcançavam os finais felizes. Mesmo sendo heróis sombrios, tinham que viver suas vidas amarguradas, lutando para sobreviver até mesmo daqueles a quem protegiam nas sombras; corrompidos, mas jamais corruptores.
Até que, provavelmente, o Conselho dos Vilões reclamou dessa trágica sina onde, salvo raras exceções, com o perdão do trocadilho, o vilão se dava mal.
Levada a petição do politicamente correto ao mais alto escalão da justiça, reclamando os direitos da mais sagrada lei da verossimilhança, que deveria imperar nas histórias acima de qualquer suspeita. Apresentada como prova fatídica os clássicos onde o leão devorava cristãos sem ser massacrado por isso, o lobo que devorava incólume a chapeuzinho e a vovozinha, por gerações. E que história é essa de beneficiar o ladrão que roubou o gigante que estava em sua casa tranquilamente, e ainda leva a fama de herói? E o príncipe que se aproveitava da moça adormecida por encantamentos mágicos? Isso estava errado. Se é para acabar com a violência fictícia, então é necessário que a violência de verdade deixe de existir, afinal as histórias são baseadas na realidade, extraídas como advertências, produzidas para trazer reflexão e envolvimento com a sina daqueles que estão expostos a todos os problemas do mundo, reais, imaginários, emocionais ou psicológicos.
Seria simples se a arte imitasse a vida, mas a verdade é que há uma inter-relação entre as duas. Tanto a arte influência a vida, quanto a vida influência a arte, é uma via de mão dupla que não pode ser simplesmente manipulada, pois é frágil quando se tenta omitir ou torcer, mas é forte para nunca desaparecer completamente ou se corromper.
Os vilões ficaram menos maléficos, suas atitudes perversas passaram a ser justificadas por falhas ou enganos do passado, alguns até conseguiram por algum tempo um pouco de alegria para suas vidas amargas, mas só pelo tempo de descobrirem quem eram de fato. Os heróis deixaram de ser tão encantadores e passaram a ter traços mais... humanos, por assim dizer, afinal quem é perfeito, não é mesmo? Os fins deixaram de justificar os meios, mas os meios nem sempre terminavam em fins, ainda mais felizes.
E as coisas ficaram extremamente complicadas, ao ponto de, muitas vezes, não sabermos se devemos acreditar naquele que parece ser bom, embora feio, porque pode ser que na verdade o que parece ser malvado e bonito é que realmente é o herói, mas ainda não pode se revelar por conta das terríveis manipulações dos sedutores agentes do mal que o obrigam a escrever sua história por caminhos tortuosos, cheios de voltas e reviravoltas e explicações e complicações, até que nós, leitores, somos obrigados a perguntar para os autores: afinal, quem é o vilão aqui? E rezamos para que o próprio autor não tenha se perdido na trama e saiba quem é afinal.
Particularmente, defendo a verossimilhança das melhores histórias que tive o prazer de acompanhar, e todas seguem de alguma forma a “regra” de um dos maiores escritores que já tive o prazer de acompanhar, que diz mais ou menos assim:
“If you want a happy ending, that depends, of course, on where you stop your story”.
(Orson Welles)
 Em uma tradução livre: “Se você procura um final feliz, isso depende, claro, de onde/quando você vai parar a sua história”.
Tem como discordar disso? Creio que é obrigação de todos os autores que tem compromisso com seus personagens (sejam vilões ou heróis, principais ou secundários) e com os seus leitores, ter em mente esse fato; e quem sabe nos inspiremos para viver as nossas próprias histórias cientes disso, também.


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