sábado, 23 de março de 2013

Paranóia - Roberto Piva


Eu vi uma linda cidade cujo nome esqueci
onde anjos surdos percorrem as madrugadas tingindo seus olhos com lágrimas invulneráveis
onde crianças católicas oferecem limões para pequenos paquidermes que saem escondidos das tocas
onde adolescentes maravilhosos fecham seus cérebros para os telhados estéreis e incendeiam internatos
onde manifestos niilistas distribuindo pensamentos furiosos puxam a descarga sobre o mundo
onde um anjo de fogo ilumina os cemitérios em festa e a noite caminha no seu hálito
onde o sono de verão me tomou por louco e decapitei o Outono de sua última janela
onde o nosso desprezo fez nascer uma lua inesperada no horizonte branco
onde um espaço de mãos vermelhas ilumina aquela fotografia de peixe escurecendo a página
onde borboletas de zinco devoram as góticas hemorróidas das beatas
onde os mortos se fixam na noite e uivam por um punhado de fracas penas
onde a cabeça é uma bola digerindo os aquários desordenados da imaginação

Roberto Piva (1963)

(Fragmento) Para matar um grande amor - Jamil Snege

 
Arrisco mesmo a dizer: só os amores verdadeiros se acabam. Os que sobrevivem, incrustados no hábito de se amar, podem durar uma vida inteira e podem até ser chamados de amor mas nunca foram ou serão um amor verdadeiro. Falta-lhes exatamente o Dom da finitude, abrupta e intempestiva. Qualidade só encontrável nos amores que infundem medo e temor de destruição. Não se vive o amor; sofre-se o amor. Sofre-se a ansiedade de não poder retê-lo, porque nossas cordas afetivas são muito frágeis para mantê-lo retido e domesticado como um animal de estimação. Ele é xucro e bravio e nos despedaça a cada embate e por fim se extingue e nos extingue com ele. Aponta numa única direção: o rompimento. Pois só conseguiremos suportá-lo se ocultarmos de nossos sentidos o objeto dessa desvairada paixão. (...)

Fragmento do texto de Jamil Snege, escritor e publicitário curitibano, não necessariamente nessa ordem (1939 – 2003)

Clareiras – Mario Quintana


Se um autor faz você voltar atrás na leitura, seja de um período ou de uma simples frase, não o julgue profundo demais, não fique complexado: o inferior é ele.
A atual crise de expressão, que tanto vem alarmando a velha-guarda que morre mas não se entrega, não deve ser propriamente de expressão, mas de pensamento. Como é que pode escrever certo quem não sabe ao certo o que procura dizer?
Em meio à intrincada selva selvaggia de nossa literatura encontram-se às vezes, no entanto, repousantes clareiras. E clareira pertence à mesma família etimológica de clareza… Que o leitor me desculpe umas considerações tão óbvias. É que eu desejava agradecer, o quanto antes, o alerta repouso que me proporcionaram três livros que li na última semana: Rio 1900 de Brito Broca, Fronteira, de Moysés Vellinho e Alguns Estudos, de Carlos Dante de Moraes.
Porque, ao ler alguém que consegue expressar-se com toda a limpidez, nem sentimos que estamos lendo um livro: é como se o estivéssemos pensando.
E, como também estive a folhear o velho Pascall, na edição Globo, encontrei providencialmente em meu apoio estas palavras, à pág. 23 dos Pensamentos:
“Quando deparamos com o estilo natural, ficamos pasmados e encantados, como se esperássemos ver um autor e encontrássemos um homem”.

sábado, 9 de março de 2013

Lagartas de Fogo – Danny Marks



                Minha mãe dizia que nunca havia encostado a mão nos filhos para os repreender, e isso era verdade.  Sempre usava uma varinha de goiabeira que açoitava com destreza nas pernas que alcançasse, enquanto a raiva estivesse fervendo por dentro.
                Nunca fui inteligente de correr tanto quanto meus irmãos, quando ela ia buscar o ramo no fundo do quintal. Ficava e apanhava como merecido castigo por ter desagradado de alguma forma, ainda que tantas outras houvessem me desagradado.
                Correr era o meu mundo. Batendo pernas para ir buscar o pão, imaginando dirigir um carro veloz ou mesmo cavalgando por entre as nuvens de reinos cheios de perigo que existiam logo depois da cerca de madeira coberta de plantas.
                Correr era o mais perto de voar que consegui e servia para tudo. Nas brincadeiras com os colegas da rua, de esconder, de empurrar pneu velho na terra seca que formava a rua entre as valas a céu aberto.  Corria para me jogar nos buracos e me esconder; corria para fazer a pipa, construída com trabalho e bambu velho, subir e ganhar os céus. Corria para a escola, corria dos garotos maiores, cheios de violência.
                Só uma coisa me fazia parar de correr, os galhos da goiabeira que se elevava mais alta que a casa. As cascas soltas parecendo com o reboque caído, mas sempre tinha um galho forte para deitar e ler um bom livro, emprestado da biblioteca volante; comer a fruta arrancada ainda verde, que madura era para pássaros que já sabem voar.
                O vento embalava os galhos e farfalhava em folhas, que marcavam o livro, secas, quebradiças. E o sono vinha gostoso, de conforto, sem medo do chão que ficava longe, amparado nos braços, no berço vegetal, vegetando.
                Mas quando galhos ligeiros se abatiam sobre as pernas que não corriam, dava raiva. Traição do desamparo; violência que não dava para fugir, sem explicação.
               Se cometia o erro não era por falta de conhecer o certo feito, mas por não saber o que tornava errado o que podia ser feito.  
               Raiva é algo que precisa ser colocado para fora ou envenena mais forte. Feito a cobra que expele o veneno para não morrer.
                E toda vez que as espadas de goiabeira vergavam sobre as pernas, vingativamente ia a forja que as criara e urinava em suas raízes a quente e fétida raiva. Por dias não voltava lá.
                Um dia, vindas de algum lugar no infinito, feito caravana de mortos, elevaram-se pelo tronco marrom com suas costas peludas se movendo lentamente. Cobriram toda a extensão do tronco grosso, escalando até as mais altas folhas, deixando um rastro gosmento de nojo. Era uma invasão nascida do fogo urinado, da raiva que se elevava sem pudor algum, imperativas em sua marcha.
                Em apenas meia hora de espanto a ira encarnada em vermes conquistara completamente os ramos, cobrindo as folhas com uma teia espessa que lembrava algodão doce. 
                Lagartas de fogo — disse-me a vó em temeroso respeito — se tocar nelas, queima.
                Não houve clemência, antes que se espalhassem mais ainda para outras plantas à volta, a horta frágil que ficava logo abaixo na sombra, tudo foi regado com muito álcool que naquele tempo ainda era líquido de se jogar. E a chama vaporosa foi comendo tudo que encontrava na frente.
                A maior fogueira que já havia visto em arvore morta ou viva, os bichos caindo assados no chão como chuva bíblica de tragédia.
                Quando meu pai chegou a goiabeira era um tição fumegante, a horta crestada, a parede da casa preta da fuligem e nos sacos, ódios chamuscados, cada qual maior que meus dedos e muito mais grossos, empilhados em um canto.
                Sem dizer nada, meu pai foi buscar cal e cola para pintar a parede que pretejara. E sem que ninguém me pedisse ou impedisse, fiquei espalhando aquele branco todo, de costas para as cinzas do lugar dos meus sonhos.

sexta-feira, 1 de março de 2013

Ilusões - Danny Marks




Você nasce, pensa
Logo começa a se julgar humano.
Você cresce, começa a andar e falar
E se julga vivo
Aprende a ter idéias
a discordar dos outros
em pouco tempo, acredita ser adolescente
Deixa os cabelos, as revoltas internas, crescerem
adquire vícios
e se julga adulto.
Então casa, tem filhos,
arranja um emprego melhor, depois outro,
e quando chega em casa cansado
beija seu companheiro ou companheira e pensa ser feliz

Com o tempo os cabelos clareiam
os passos ficam lentos
as esperanças pesadas, como as palpebras,
e você se julga idoso
E um dia, finalmente, o sono se prolonga demais
e se julga morto
Morto pensa estar em paz
            Mas, então acorda
e vê que tudo não passou de uma ilusão
e que tem muitas realidades para enfrentar
E só então entende porque sonhava

Danny Marks
(11/08/1981)

Entrelinhas - Danny Marks


Caminhando, não saí do lugar
Procurando um lugar, me perdi
Me perdendo, procurei amar
Mas só o ódio adquiri
Odiando, errei o destino
Errando sofri
Sofrendo te encontrei
Te encontrando, amei
Amando, me conheci
Me conhecendo descobri o caminho
E pelo caminho estou seguindo
os passos que produzi

Danny Marks
(04/02/1981)

Aforismos de Criminal Minds 7a Temporada


7ª Temporada


7x01 - It Takes A Village

O passado não pode ser curado
Rainha Elizabeth I

7x02 – Proof

Se é um milagre, algum tipo de evidência dirá, mas se for um fato, a prova é necessária.
Mark Twain

Nada melhor que a vingança para inspirar o perdão.
Scott Adam

7x03 - Dorado Falls

Homens não são prisioneiros do destino, mas são prisioneiros de suas próprias mentes
Franklin D. Roosevelt

Nós nascemos sozinhos, vivemos sozinhos, morremos sozinhos. Somente através do amor e da amizade podemos criar a ilusão, por um momento, que não estamos sozinhos.
Orson Welles

7x04 - Painless

Você pode sair da escola, mas ela nunca sairá de você.
Andy Partridge

A dor é o quebrar da concha que aprisiona a compreensão.
Kahlil Gibran

7x05 - From Childhood's Hour

Na infância não estive onde outros estiveram, não vi o que outros viram.
Edgar Allan Poe

Todas as coisas verdadeiramente ruins, nascem a partir da inocência.
Ernest Hemingway

7x06 – Epilogue

Morrer é comoventemente difícil, mas a ideia de ter que morrer sem ter vivido é insuportável
Erich Fromm

O momento da morte como final da história altera o sentido do que a precedeu.
Mary Catherine Bateson (escritora)

7x07 - There's No Place Like Home

Para o homem de corpo são e mente serena não existe mal tempo. Todo dia tem sua beleza. E tempestades que fervem o sangue só o fazem pulsar mais vigorosamente.
George Gissing (escritor)

A adversidade é como um vento forte, leva tudo de nós, mas as coisas não retornam. Assim nos vemos como realmente somos.
Arthur Golden (escritor)

7x08 - Hope

A esperança é a fé segurando sua mão no escuro.
George Iles (escritor)

Encontre um lugar dentro de si onde há alegria e a alegria expulsará a dor.
Joseph Campbell

7x09 - Self-Fulfilling Prophecy

As coisas não mudam. Nós mudamos.
Henry David Thoreau

Cuidado com o quão longa é sua vida, os homens o julgarão por sua aparência exterior.
Jean de La Fonteine

7x10 - The Bittersweet Science

Todos querem ir para o céu, mas ninguém quer morrer.
Joe Louis

Alguns de nós pensam que aguentar nos faz fortes, mas as vezes é desistir.
Hermam Hesse

7x11 - True Genius

Três podem guardar um segredo, se dois estiverem mortos.
Benjamim Franklin

Não há maior pesar que relembrar, com tristeza, o tempo em que éramos felizes.
Dante

7x12 - Unknown Subject

Não tão somente sofremos com nossos traumas. Também aprendemos com eles, conforme nossas necessidades.
Alfred Adler

Toda arte de viver está no delicado equilíbrio de desistir e suportar.
Henry Ellis

7x13 - Snake Eyes

Na mesa de apostas não existe pais e filhos
Provérbio Chinês

Um jogador com um sistema deve ser em uma extensão maior ou menor, insano.
George Augustus Sala

7x14 - Closing Time

Não confie naquele que já tenha quebrado sua fé.
William Shakespeare

Você pode ser enganado se confiar demais, mas viverá atormentado se não confiar o suficiente.
Frank Crane

7x15 - A Thin Line

Igualdade talvez seja um direito, mas nenhum poder no mundo pode torna-la um fato.
Honoré de Balzac

Sou pela verdade, não importa quem a diga. Sou pela justiça, não importa quem seja a favor ou contra.
Malcolm X

7x16 - A Family Affair

Onde há raiva, sempre existe dor embaixo.
Eckhart Tolle

Viva de modo que quando os seus filhos pensarem em justiça e integridade, eles pensem em você.
H. Jackson Brown Jr

7×17 – I Love You, Tommy Brown

Para toda boa razão para mentir, sempre há uma razão melhor para dizer a verdade.
Bo Bennett

Amor é dar a alguém a habilidade de te destruir mas confiar que ele não o fará.
(autor desconhecido)

7×18 – Foundation

A memória é uma coisa complicada, uma parente da verdade, mas não sua gêmea.
Barbara Kingsolver

Nada fixa alguma coisa tão intensamente na memória como o desejo de esquecê-la
Michel de Montaigne

7×19 – Heathridge Manor

Somos nosso próprio demônio e fazemos deste mundo nosso próprio inferno.
Oscar Wilde

Tudo que somos ou sentimos não é mais que um sonho dentro de um sonho.
Edgar Allan Poe.

7×20 – The Company

Pior que contar uma mentira é passar sua vida toda mantendo-a
Robert Brault

7×21 – Divining Rod

Melhor matar o bebê em seu berço que acalentar desejos irrealizáveis.
William Blake

É apenas no amor e na morte que permanecemos sinceros.
Friedrich Dürrenmatt

7×22 – Profiling 101

Aos vivos devemos respeito, mas aos mortos devemos apenas a verdade.
Voltaire

A única coisa necessária para o triunfo do mal é que os bons homens não façam nada
Edmund Burke

7×23-24 – Hit/Run

O medo é encontrado e destruído com a coragem.
James F. Bell

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...