domingo, 22 de janeiro de 2012

Coisas que você nunca quis saber sobre o Amor - Danny Marks



Amor deve ser tratado com cuidado.
Se a natureza tivesse inventado um vírus que afetasse profundamente todas as formas vivas, com certeza seria o amor.  Provavelmente da família do Influenza.
Ele é totalmente mutante. Cada vez que alguém inventa uma vacina para ele, já se transformou e ataca de novo, de outra forma.
Veja o amor de mãe, o primeiro de todos e que permanece com efeitos secundários por toda a vida.
Ou então o "Primeiro Amor", esse é o mais dolorido, o que devasta mais forte, com crises de choro incontroláveis, cenas lamentáveis de histeria, acessos artísticos inusitados, delírios febris, sonhos molhados e garganta seca; sem falar nos tremores, na gagueira, nas crises de pânico.
Nunca se está vacinado contra o amor, nem mesmo quando o coração é duro, sempre há uma brecha pela qual ele vai se infiltrando e criando seus enlaces.
Tem aqueles que amam as coisas, como o dinheiro, o carro, a casa. A quantidade de lugares onde foi, ou mesmo bichos e plantas.
Sempre tem um tipo que ataca os mais renitentes.
O sexual, que se envolve de um manto de luxúria e depois se torna devastador; em alguns casos destrói  contas bancarias, empregos, vida social, saúde e até mesmo a sexualidade.
Tem o ambicioso, que se espalha por todos os lados, indiscriminadamente, sob a alcunha de fraternal. Quem tem tantos irmãos assim?
E o que falar do amor grego, platônico. Esse é quase um estado de arte. Se os romanos tivessem percebido,  Marte seria retratado como um coração sangrando, com seus conflitos intermináveis para consigo mesmo.  Qual a guerra mais violenta e inconquistável do que a luta para se ter e manter uma ideia?
Ama-se as coisas mais abstratas, como um time, uma música, uma pessoa. Ama-se até mesmo estar amando.
Em nome do amor se mata o outro e a si para serem felizes na eternidade. A continuidade é deixada em cartas, em tratados, em desejos escondidos que se tornam revelados no porvir.
Não há nada no mundo que cause maior insatisfação. Quando não se tem, deseja-se; quando se tem, quer-se mais; quando termina busca-se outro diferente.
Essa tragédia destrói as individualidades, sistematicamente amalgamadas. A começar pelo próprio nome que é substituído por sinônimos que em qualquer outro estado seriam repudiados furiosamente, mas quando se está amando... ah, o amor!
Não existe ridículo para quem ama; não existem limites para o que pode ser feito; não existem críticas possíveis pois a aura contagiosa da loucura se estende a volta modificando o olhar.
A humanidade vem lutando contra o amor desde os primórdios imemoriais; até porque o amor não tem memória, se tivesse perceberia danos anteriores e enfraqueceria.
Não há o que possa ser feito.
O remédio seria a indiferença, mas até mesmo isso já foi perdido na escala genética.
Todos que eram indiferentes morreram ao longo dos tempos, não deixaram descendentes inoportunos para esse grande conquistador de corações e mentes que reina incólume e se propaga suavemente.Estamos todos condenados a morrer de amor, em alguma de suas inúmeras manifestações.
Não há o que possa ser feito, basta percebermos que a maior tragédia já ocorreu:  a natureza nos ama.
E isso é simplesmente o fim.

domingo, 15 de janeiro de 2012


Durmo, cheio de nada, e amanhã
Durmo, cheio de nada, e amanhã
é, em meu coração,
Qualquer coisa sem ser, pública e vã
Dada a um público vão.

O sono! este mistério entre dois dias
Que traz ao que não dorme
À terra que de aqui visões nuas, vazias,
Num outro mundo enorme.

O sono! que cansaço me vem dar
O que não mais me traz
Que uma onda lenta, sempre a ressacar,
Sobre o que a vida faz ?!

Fernando Pessoa

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