29 de outubro de 2015, dia nacional do livro, este
escritor que já conhece tem uma proposta para lhe fazer: PARE DE LER!
Estranho? Acha que fiquei maluco? Como assim? Ora, isso
só reforça ainda mais a necessidade do meu pedido, pare de ler!
Em tempos em que a informação viaja a velocidade da luz
por fibras óticas e bandas largas, em que proliferam textos de todos os tipos,
inclusive livros, muitos livros. Nesses tempos de velocidade acima do normal,
em que todos querem igualdades de direitos, respeito às diferenças, fazer parte
do grupo, exercer seu poder de expressão, etecetera e tal; causa um certo
constrangimento um escritor fazer um pedido desses, não é mesmo?
Mas o fato é, justamente por causa dos fenômenos da pós-modernidade
que estamos vivendo na atualidade, que se faz necessário pedir algo do tipo.
Pare de ler!
Pare de ler e pense no texto mais recente que leu. Não,
não conte nada para ninguém, não dê sua opinião, não grite o nome do autor e
nem do texto, não divulgue nada, apenas tente lembrar do texto mais recente que
leu. Então tente responder estas perguntas:
— Como você era antes de ler esse texto?
— Como você ficou depois de ler esse texto?
— Conseguiu se identificar, ou identificar alguém, ou
alguma situação, à partir do texto que leu? Fez alguma reflexão antes, durante
ou depois?
— Conseguiu localizar, mesmo que metaforicamente, o
texto em algum lugar do tempo e espaço reais? Quem sabe como um passado ou futuro
possível, embora alternativo?
— O que concordou de tudo o que leu e o que não
concordou?
E finalmente a mais importante pergunta que, se
possível, deve ser feita imediatamente após cada uma das anteriores e repetida
sempre que for necessário: Por que?
Pois é, parece difícil né? Mas de que adianta você ter
lido milhares de textos, livros, anúncios, notícias, documentários, biografias,
testemunhos, etecetera e tal, se não consegue responder perguntas simples após
ter lido? Ou o ato de ler se tornou tão mecânico e rotineiro que basta
registrar em algum lugar da sua memória que leu, resgatar conceitos prévios que
estavam em algum lugar e que se parecem de alguma forma com o que foi dito, e
depois sair produzindo mais textos e mais documentários e mais testemunhos e
mais eteceteras e tais que serão tratados da mesma forma?
Pare de Ler! Reflita só um pouquinho. Pare de tentar se
impor pela quantidade de textos ou livros que leu durante a sua vida, ou na última
semana. Se quantidade de livros lidos fosse sinal de inteligência, qualquer
biblioteca pública do mundo seria um gênio da humanidade. Ah, não dá para
comparar, né? Quantidade de informação disponibilizada e acessada por uma
infinidade de pessoas não torna um objeto uma pessoa, quanto mais um gênio.
Pois é! O mesmo vale para a internet, que algumas
pessoas parecem acreditar que tem vida própria e genialidade incontestável. O
mesmo vale para aquela pessoa que passou os olhos por milhares de páginas e não
raciocinou sobre nenhuma delas, não fez paralelos, não fez reflexões, não “se
viu” naquelas palavras, naqueles pensamentos. Quanta humanidade tem alguém que
não sente empatia pelo que alguém lhe contou? Que não consegue identificar no
relato do outro, traços em comum? Que não se sensibiliza e não vê a necessidade
de fazer algo a respeito ainda que seja apenas consigo mesmo?
De que adianta ler um livro que após terminado só
produz uma opinião que fica registrada na memória para ser resgatada quando
alguém mencionar o livro. Se o livro não mexeu com você, se não mudou nada no
seu pensamento, mesmo que minimamente, se não fez refletir. Então esse livro
foi totalmente inútil e desnecessário e nem precisava ter sido lido. Aliás,
melhor que não tivesse. Sobraria mais tempo para você olhar o mundo a sua
volta, “ler” a vida que o cerca, encontrar elementos verdadeiros, e
interiorizar pessoas e fatos para que, quando lesse um texto, pudesse
identificar coisas do seu mundo, da sua realidade e refletir sobre elas.
Se você não parou de ler até agora, parabéns! Eis
finalmente a sua oportunidade de o fazer e tentar responder aquelas perguntas
que fiz. Lembra delas? Feliz dia nacional do Livro.
Danny Marks