sábado, 30 de setembro de 2017

Novo projeto literário de Danny Marks, aguarde.



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Depois da Pós-Verdade, a Polêmica – Danny Marks

             
Sabe da última polêmica? Não tem, pelo simples fato que jamais vai ser a última, apenas a mais recente que alguém inventou por algum propósito que poderá ou não ser atingido. Recentemente há uma tendência a revitalização dessa metodologia de provocar o outro através de atos ou palavras de duplo sentido e múltiplas interpretações. Digo recente porque não é algo novo, embora a forma como seja utilizada pode ser recente, incorporando novas tecnologias.
               Quando falo em tecnologias não digo apenas as novas formas de mídia, tecnologia vai além disso, significa algum tipo de conhecimento que pode ser transmitido e utilizado para algum fim, nesse sentido as técnicas de manipulação e apresentação da informação são tecnologias também, não apenas os aparelhos ou mídias em que aparecem.
              Quem trabalha com textos escritos ou visuais aprende bastante sobre os usos das tecnologias de informação para poder fazer melhor o seu trabalho, mas para o público em geral muitas coisas passam despercebidas e apenas os efeitos são sentidos. Há os que dizem que é possível através do conhecimento das técnicas envolvidas ficar vacinado contra a manipulação, não acredito nisso, embora concorde que é possível tornar mais difícil que os efeitos sejam sentidos quando se conhece os mecanismos que os produzem, algo como perder a encanto pela mágica quando se sabe como o mágico consegue ludibriar a plateia, mesmo que não se perceba o truque durante a sua apresentação.
              Esse também é um assunto polêmico, mas como todos do gênero é interessante poder ser discutido, afinal o objetivo verdadeiro e necessário da polêmica é justamente provocar um debate racional e saudável. Mas quando a ferramenta é usada para outros fins que não os quais foi criada para executar ocorre o que podemos chamar de deturpação de propósitos. E é o que tenho observado muito em relação a ferramenta da polêmica.
              Recentemente houve uma grande polêmica sobre a Pós-Verdade, um neologismo criado para as situações em que se nega veementemente uma verdade consensual com o uso de uma interpretação amplamente divulgada apoiada em fatos selecionados especialmente para reforçar a interpretação dada, recortes da verdade realinhados em uma sequência que parece ser verdadeira, mas não é. Apesar de ainda amplamente usada, a pós-verdade tem sido ridicularizada e denunciada de diversas formas, reduzindo o seu efeito danoso, mas não eliminando-o. O problema é que todo vírus não tratado até o extermínio, adapta-se ao remédio e fica mais forte. É o que aconteceu quando a pós-verdade se fundiu com a polêmica.
              Basta uma rápida olhada nas redes sociais e poderá ser constatado que as postagens mais comentadas são aquelas que envolvem algum tipo de polêmica, mobilizando exércitos de defensores e detratores com a mesma paixão. Espere, paixão e polêmica não combinam por um pressuposto básico que tudo que é feito emocionalmente exclui automaticamente um raciocínio lógico e deforma a argumentação, certo? A menos que esse seja o efeito desejado, utilizado com habilidade na construção da polêmica para alcançar o seu objetivo.
              E a polêmica apaixonada tem invadido as redes com todo tipo de objetivo manipulatório, desde a venda de um livro porque supostamente houve um engodo prévio, até a desautorização de instituições por conta de situações polêmicas habilmente trabalhadas para confundir. Tenho visto desde vídeos editados para apresentar uma posição que parece contrária a uma determinada pessoa, até recortes de cenas apresentados para embasar teses polêmicas em si mesmas. O que é direito? O que é arte? O que é ético? Tudo pode virar polêmica e ser apresentado com o viés necessário através da junção da pós-verdade com a paixão polêmica.
              Ah, mas isso é bom, as pessoas estão falando mais sobre as questões apresentadas. Estão falando mais de política, estabelecendo limites éticos, questionando as instituições, etc. Será? A que preço isso vem sendo feito e com qual objetivo?
              Recentemente vi um vídeo claramente manipulado sobre um possível candidato a presidência do Brasil que supostamente teria o efeito de validar a sua inadequação e demonstrar a falta de caráter e qualificação para o cargo. Mas será que é esse o objetivo? Ou será que a exibição obvia da manipulação não deixa a dúvida sobre todos os outros fatos levantados? Aquilo que poderia comprovar a inadequação pode ter o efeito inverso de criar uma dúvida sobre um (já declarado anteriormente) ataque desleal contra alguém que, até prova em contrário, é inocente e está sendo perseguido de forma abjeta, desprezível, provocando a simpatia pelo ofendido e não a aversão.
              A desconstrução de argumentações de algumas instituições e suas resoluções apresentadas sem um cuidado (ou com um cuidado específico?) pode desautorizar qualquer resolução justificada e enfraquecer todo um conjunto a partir de uma falha ocasional. É como construir uma lógica tendenciosa a partir de recortes que validem a teoria ou a condenem de vez. Alguém poderia dizer que aviões não podem voar porque maças caem das arvores, por exemplo, ou que não se deve dar tratamento humanitário para pessoas que matam e assassinos deveriam ser mortos para evitar que matassem novamente, mas quem seria o carrasco assassino final? Ou há justificativa para alguns assassinatos e outros não?
              A deturpação de argumentos contrapostos por recortes polêmicos se tornou a maior e mais eficiente ferramenta da pós-verdade, utilizando as paixões e os medos inconscientes de forma eficiente para criar um efeito amplificador que corrompe efetivamente qualquer projeto racional de um debate. Não dá para argumentar contra algo que, deslocado do contexto, é apresentado como argumento, ainda mais se dentro do contexto original teria o efeito oposto. Se alguém é a favor de algo em uma situação, fica automaticamente proibida de ser contra outra situação similar, mas com significantes diferentes, ou vice e versa.
              Se digo que gosto de bananas, como ser contra bananada ou a fruta junto com a comida, por exemplo? Não disse que gosta de bananas? Então vai ter que gostar de banana em qualquer contexto ou está sendo hipócrita. Fica automaticamente obrigado a gostar de banana com arroz e feijão, ou com aveia, ou feita em doce, ou temperada com sal e pimenta, ou... Pois é, dessa mesma forma que as polêmicas estão sendo tratadas, em uma cortina de desinformação apaixonada de pós-verdades que tem por único objetivo possível a manipulação subvertida de racionalidades e sentimentos para atingir um objetivo particular inconfessável.

              A diferença entre remédio e veneno é uma questão de dose correta e intencionalidade. E parece que, cada dia mais, aqueles que tem o conhecimento das ferramentas da informação as usam para seus fins particulares das mais variadas formas, sem qualquer apego pela ética ou preocupação com o coletivo. E se a informação pode ser manipulada dessa forma negativa, a única solução possível para impedir ou minimizar seus efeitos danosos continua sendo mais informação, mais transparência, mais criatividade na solução do problema que afeta a todos nós, mesmo que estejamos cientes disso, pois não há vacina possível para impedir a doença, mas há tratamento. E se não concorda com isso, apresente-me seus argumentos sem paixão e estarei disposto a conversar sobre isso porque adoro boas polêmicas, feitas da forma correta.

quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Spoilers – Danny Marks


          Eu sei que você provavelmente tem uma opinião formada a respeito do assunto, e acredite respeito isso, mas vamos combinar. Se você for a favor de spoilers, vai concordar comigo. Se não for a favor de spoilers, não me diga nada ou estará traindo a sua convicção ao me dar spoilers da sua opinião, deixe que descubra sozinho. Fala sério!!!
          Estabelecida essa regrinha básica para este caso, vamos a minha argumentação. Eu não ligo para spoilers, na maioria das vezes. Claro que se for aquele caso de uma história cuja única característica importante é justamente o suspense, saber antecipadamente o que vai acontecer é estragar a única coisa que faria outra pessoa acompanhar a narrativa, concorda? Isso é uma tremenda sacanagem, no sentido de coisa ruim, porque há aquelas sacanagens que...
          Voltando ao assunto. Excetuando aquele caso descrito ali acima, qual o problema de spoiler? Aliás, o que seria exatamente um spoiler? Segundo a Wiki (ALERTA DE SPOILER) é o ato de “Destruir ou reduzir o prazer, interesse ou beleza de algo”, cara isso é muito sério. Deveria ser considerado como o décimo primeiro pecado capital “Não darás Spoilers ao teu semelhante” e deveria vir logo antes de “Não Matarás” para prevenir. Mas, convenhamos, quando isso realmente ocorre? E lembre-se, excetuando-se aquele exemplo que dei, não vejo muitas situações em que isso realmente ocorra.
          Sou da época em que as pessoas adoravam comentar sobre qualquer coisa, tendo o outro ciência disso ou não. O último capítulo da novela? Aquele livro daquele autor? O seriado que passava na televisão? E o filme que está em cartaz? Eram motivadores para longas discussões, e nem era preciso que o interlocutor realmente tivesse visto o motivo do debate, bastava que tivesse interesse que, invariavelmente, seria aguçado depois do spoiler.
          Como assim? Ora, muitas vezes o interesse era provocado apenas e tão somente para provar que o outro que teve o conhecimento antecipado, não tinha percebido todos os detalhes, que seriam acrescentados em outras discussões. E nem precisava ser imediato, poderia levar anos até que se conseguisse debater com suas próprias impressões as questões levantadas pelo outro que, muitas vezes, era obrigado a rever tudo de novo para poder continuar debatendo.
          Isso causava um fenômeno estranho para os dias de hoje, as pessoas RELIAM LIVROS!!! Às vezes mais de uma vez. Assistiam filmes incontáveis vezes para não deixar escapar nenhum detalhe. Viam novamente séries inteiras, descobrindo falhas de argumentos, confirmando teses, eram verdadeiros garimpeiros de novidades dentro do que já haviam visto. Por vezes criavam clubes para debater cada particularidade de uma obra exaustivamente, e ao final, voltavam a ver só para ter o prazer de ampliar a beleza do que já sabiam existir através dos comentários com os amigos. Era como se a cada revisão todos com quem já tivesse debatido sobre a obra, estivessem ali ao lado, vendo tudo de novo e tendo a mesma sensação de que valia a pena rever.
          Hoje, isso parece ser algo que não existe mais. Ou pelo menos alguns querem fazer crer que não é mais possível ter esse prazer de rever pela perspectiva compartilhada. Sabe aquele filme? Não fala nada, ainda não vi! E o livro do... Nem pensar, não me conta. Ah, mas o jogo de ontem. Cala essa boca! Eu não quero saber o resultado, deixei gravado para assistir mais tarde. Ok, então aquela novela. Já disse para não dar spoiler! Mas, estão reprisando ela...
          Que tipo de sociedade que estamos criando? Não vou mais votar na próxima eleição porque já sei que ninguém que for eleito vai fazer nada de bom, já votei em muitas eleições antes. Não vou me esforçar para vencer na vida, já me falaram que nunca dá certo. Não vou investir em um relacionamento porque já tive um e deu tudo errado. Não vou reler aquele livro, ou ver aquele filme, já conheço a história. Deus, nunca mais vou ao teatro ver uma nova interpretação daquela peça que já foi exibida por séculos! Que perda de tempo. Quero novidades, quero coisas que nunca fiz, que nunca ninguém fez, coisas que me desafiem e que não vou poder contar para ninguém porque spoiler é a coisa mais abominável que existe e não posso cometer o mesmo erro que os outros.
          Adeus clubes de fãs, para que falar com pessoas sobre um livro que todo mundo já leu e sabe tudo o que precisa saber sobre ele; e se não souber, não vou poder falar nada para não quebrar o prazer da descoberta.

          Você já soube que tem um livro novo do... Não me conta! Deixa eu descobrir sozinho. No entanto, ainda damos risadas das velhas piadas, que todos já estão cansados de ouvir, mas que ainda nos faz rir. Ainda estamos tentando resolver os velhos problemas que todos já sabem as causas, mas ninguém descobriu a solução. Ainda estamos aguardando aquele final do mundo que já foi anunciado milhões de vezes, mas para o nosso prazer sádico, ninguém ainda interpretou corretamente. Até que alguém nos dê o spoiler final. Então será realmente o fim. Mas isso você nunca vai ficar sabendo.

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