sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Desejo - Victor Hugo





“Desejo primeiro que você ame,
E que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim,
Mas se for, saiba ser sem desesperar.
Desejo também que tenha amigos,
Que mesmo maus e inconseqüentes,
Sejam corajosos e fiéis,
E que pelo menos num deles
Você possa confiar sem duvidar.
E porque a vida é assim,
Desejo ainda que você tenha inimigos.
Nem muitos, nem poucos,
Mas na medida exata para que, algumas vezes,
Você se interpele a respeito
De suas próprias certezas.
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
Para que você não se sinta demasiado seguro.
Desejo depois que você seja útil,
Mas não insubstituível.
E que nos maus momentos,
Quando não restar mais nada,
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.
Desejo ainda que você seja tolerante,
Não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
Mas com os que erram muito e irremediavelmente,
E que fazendo bom uso dessa tolerância,
Você sirva de exemplo aos outros.
Desejo que você, sendo jovem,
Não amadureça depressa demais,
E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer
E que sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
É preciso deixar que eles escorram por entre nós.
Desejo por sinal que você seja triste,
Não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra
Que o riso diário é bom,
O riso habitual é insosso e o riso constante é insano.
Desejo que você descubra ,
Com o máximo de urgência,
Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos,
Injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.
Desejo ainda que você afague um gato,
Alimente um cuco e ouça o joão-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matinal
Porque, assim, você se sentirá bem por nada.
Desejo também que você plante uma semente,
Por mais minúscula que seja,
E acompanhe o seu crescimento,
Para que você saiba de quantas
Muitas vidas é feita uma árvore.
Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,
Porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele
Na sua frente e diga "Isso é meu",
Só para que fique bem claro quem é o dono de quem.
Desejo também que nenhum de seus afetos morra,
Por ele e por você,
Mas que se morrer, você possa chorar
Sem se lamentar e sofrer sem se culpar.
Desejo por fim que você sendo homem,
Tenha uma boa mulher,
E que sendo mulher,
Tenha um bom homem
E que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,
E quando estiverem exaustos e sorridentes,
Ainda haja amor para recomeçar.
E se tudo isso acontecer,
Não tenho mais nada a te desejar ".
                                                        (Victor Hugo)
 

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Sol de Amanhã - Danny Marks


 Então, um dia, você descobre a solidão.

Antes ela se escondia atrás da porta do seu quarto, embaixo da cama, no armário.
Às vezes estava bem ali na terceira gaveta, por entre as folhas mal escritas, no livro debaixo das roupas mais intimas.
Mas um dia você descobre a solidão e ela se gruda em você como uma cola pegajosa e mole que se estica quando tenta escapar, mas que a puxa de volta como um elástico, de volta ao seu abraço nefasto.
E você passa a temer os abraços, de qualquer tipo.
E em cada trovão há uma tempestade devastadora; em cada nuvem e sombra, um monstro de fumaça tóxica que vai dissolver os seus ossos mantendo o restante intacto, de forma que você não possa mais se levantar, não possa mais se defender, não possa mais gritar ou mesmo correr.
De forma que você não possa mais.
E os dias se seguem, um após o outro, e algo duro se forma lá dentro.
Uma camada de gelo que recobre os seus sentimentos e entorpece, com o frio, os sentidos que antes eram tão vívidos.
Então um dia você descobre que a solidão também te protege de suas lágrimas, da sua dor, dos efeitos incertos do seu sorriso. Ela te protege do futuro que você não sabe mais qual será ou mesmo se vai chegar algum dia.
E como uma couraça que reveste o seu corpo, um exoesqueleto que a sustenta e a põe a andar sem ser tocada por nada, por ninguém, ela avança com e sobre você.
E tudo isso seria evitado se alguém, qualquer mãe ou pai, tivesse lhe dito que estava tudo bem.
Que você poderia sentir medo, e que realmente há um monstro nas sombras do seu quarto, escondido no seu armário ou embaixo de sua cama.
Que não há problemas em você sentir-se paralisada de vez em quando, e que sempre podem ocorrer tempestades que arrasem o seu mais belo jardim.
Alguém que lhe diga que não há problemas em temer o futuro de vez em quando.
Mas, que lhe diga, depois de tudo isso, que vai ficar tudo bem, e que a envolva em um abraço de liberdade, e lhe ilumine com um sorriso de sol.
Alguém que um dia lhe dirá que, sim, há verdadeiros monstros a solta no mundo e que isso é muito ruim, mas que você não deve achar isso normal, que deve combater com coragem a dor que possa surgir, e que jamais deve se tornar um monstro também porque há sempre melhores opções.
Nesse dia você lembrará de alguém, como eu, que lhe disse que não há problema em ter medo, e que a coragem é simplesmente a força que adquirimos enfrentando os nossos mais terríveis medos para fazer o que é certo, o que acreditamos.
E essa força, essa crença que alimentará você, levará para longe qualquer dor que possa sentir, e lhe demonstrará que não é por estar sozinha que você está só.
Que a solidão pode habitar dentro de nós e nos isolar de todos, ou de ninguém.
Então um dia você descobre a solidão e avança sobre ela e lhe tira a máscara sombria e a abraça como ela sempre desejou ser abraçada, e lhe dirá que está tudo bem, que tudo ficará bem, e que você jamais vai deixa-la sozinha de novo.
E nesse dia, vocês duas vão ver que sempre haverá um sol amanhã.


quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

O Homem que Queria Destruir o Natal - Danny Marks


 
(Publicado no E-book Natal Fantástico da Ed Infinitum - Organização Ademir Pascale e Gian Danton. 


                  O mensageiro aproximou-se do homem que bebia a cerveja distraidamente e puxou-lhe a manga da camisa estendendo o cartão. O homem nem olhou, fez que não com a cabeça, a mão aberta recusando qualquer coisa.
                O outro repetiu o movimento insistentemente, pouco ultrapassava o ombro do homem sentado que finalmente pegou o cartão sem ver quem o entregava e leu contrariado “Nelson, precisamos conversar. Nicolau”.  O Homem virou-se para perguntar ao mensageiro o que era aquilo, mas este havia desaparecido.
                Nelson rasgou o bilhete, pagou a conta e saiu do bar. Pouco depois esperava o semáforo liberar a travessia quando sentiu puxarem sua camisa novamente, outro cartão lhe era oferecido pelo mensageiro.
 “Nelson, precisa me ajudar. Nicolau”.
                — Mas que... — parou ao ver que o mensageiro havia desaparecido novamente. Alguém daquele tamanho poderia se misturar facilmente na multidão, mas não com aquelas roupas. Nelson riu consigo mesmo, alguém deveria estar querendo lhe pregar uma peça.
                — Alguém deveria atender meus pedidos, para variar. — resmungou para si mesmo.  
                Odiava essa época do ano, deixava-o de mau humor.
                Jogou o papel na lixeira mais próxima. Não conhecia nenhum Nicolau.
                Ouviu um resfolegar ao seu lado e assustou-se.  Um maluco havia resolvido se fantasiar de Papai Noel e sair com um trenó puxado a renas em plena cidade. Dois anões abriram as portas do trenó e colocaram uma escada enquanto o velho gordo sorria-lhe por entre a longa barba branca.
                — Nelson, entre, não temos muito tempo.
                Atordoado não pensou no que fazia, simplesmente sentou-se ao lado do velho gordo, seguido pelos anões. As pessoas pareciam não dar importância ao espalhafatoso veículo, mas o que mais o assustou foi quando alçaram voo, liberando o transito.
                Pouco depois, não sabia como, estava pousando em frente a uma modesta casinha encravada no alto de uma encosta rodeada de arvores. Anões brotaram de vários lugares e cuidaram do trenó e das renas.
                Nelson não sentia frio, embora usasse uma roupa leve.  Comeu dos biscoitos que lhe eram oferecidos por uma idosa senhora e sentou-se em uma das cadeiras de encosto alto que cercavam a mesa de madeira.  Sentia-se completamente à vontade no que, parecia-lhe, ser um sonho.
                — Noel, por que demorou tantos anos para aparecer? — Não havia mal algum em ser grosseiro em um sonho alcoólico qualquer.
                — É uma longa história, Nelson, mas vou ajuda-lo a realizar seu desejo, se você me ajudar com o meu.
                A senhora e os duendes que fingiam se ocupar com outras coisas simplesmente pararam como atingidos por um sopro enregelante, mas logo continuaram a fazer o que pareciam estar fazendo.
                — Isso é ridículo. — riu Nelson, mas ao ver o rosto dos que o cercavam mudou de ideia — Estou morto e isso é a punição pelos meus pecados contra o Natal?
                — Não é nada disso, meu filho.  Preciso de sua ajuda porque não há nada que eu possa fazer para mudar as coisas, mas acredito que a solução possa estar em suas mãos.
                — Está de brincadeira? Gente, o Noel resolveu ME pedir ajuda? Escuta velho, não sei o que está acontecendo com minha cabeça, mas é bom que saiba; se pudesse, acabava com o Natal. Entende? Ainda quer minha ajuda?
                — Realmente, e se me ajudar posso lhe dar esse poder.
                — Se pode fazer algo assim, para quê precisa de mim? Faça-o você mesmo.  
                — Não entende, só posso atender ou negar pedidos. É complicado. Nelson, ajude-me, por favor.
                Nicolau deixou sua cabeça pender sobre a longa barba que encobria a parte superior da barriga. A senhora e os duendes vieram juntar-se a ele para fechar a cena trágica.
                Nelson há muito não se comovia com o Natal, as cenas ensaiadas e levadas a termo pela imensidão de farsantes no mundo todo. Pensava que seu inconsciente lhe dava justificativas para seu desejo de acabar com a farsa.
                — Quer saber, não sei para quê precisa de minha ajuda, mas o que deveria fazer era contar a verdade para todos. Ora que se dane, eu ajudo você e depois acabamos com o Natal.
                Nicolau levantou o olhar brilhante para Nelson, havia um largo sorriso no seu rosto.
                — Eu sabia que você seria a solução...
(...)

                Nelson não era o mesmo homem de dias atrás quando aceitara o seu encargo, mas, a menos que revelasse, ninguém notaria diferença.  A apresentadora estava aterrorizada embaixo da sua bem construída máscara social. Não era para menos.
                Há apenas alguns dias ninguém sabia quem era aquele homem, até que começara a falar publicamente sobre a farsa que envolvia o Natal.
                Convencera tabloides locais a darem voz ao seu discurso. A Verdade abria portas que muitos preferiam manter fechadas; por outro lado, sempre haveria os que queriam dar vazão ao seu ressentimento, sua frustração, e o discurso de Nelson servia-lhes bem.            
A notícia se tornara viral na internet chamando atenção até nos lugares mais remotos do mundo. Em vários idiomas, ele discursara de forma contundente provocando reações diversas. Médicos tentaram diagnosticar algum distúrbio psicológico que pudesse apresentar; não conseguiram.  Governos tentaram bloquear os seus vídeos; só aumentaram o interesse. Empresas tentaram se apropriar de seus discursos para lucrar mais; sofreram protestos do publico. Grupos extremistas tentaram alicia-lo; tiveram suas ideologias desmascaradas.
A Verdade derrubava a todos impiedosamente.
                Qualquer um que tentasse aproveitar-se da situação via-se imediatamente compelido a falar a verdade sem restrição. Segredos íntimos, comprometedores, firmemente guardados, eram revelados pelos seus guardiões tão logo tentavam usar as palavras de Nelson em interesse próprio. A verdade rompia as barreiras e não parava mais.
                Casamentos foram perdidos, sociedades e pactos foram desfeitos, empresas faliram e carreiras foram destruídas, assassinos se entregaram às autoridades de quem se escondiam, governos caíram.
Em qualquer lugar quem se posicionasse contra o Mensageiro sucumbia diante dos próprios pecados auto revelados.
                Em alguns dias Nelson deixara o anonimato para se tornar a pessoa mais temida e menos comentada do mundo. Ninguém se atrevia a contradizê-lo, ou apoia-lo.
                Nelson suportava o peso das verdades inconfessáveis sobre ombros magros. Quase não dormira ou se alimentara naqueles últimos dias, que pareciam séculos para ele. Cada vez falava menos, e menos lhe perguntavam.
                Faltava apenas dois dias para a véspera de Natal e ele convocou uma coletiva de imprensa.  Um imenso anfiteatro foi equipado com os mais sofisticados equipamentos de transmissão, ocupado plenamente por repórteres de todos os lugares do mundo.
Independente de ideologias políticas e religiosas, as pessoas aguardavam as palavras do “Homem que queria destruir o Natal”, como já o chamavam.
                Sentado em uma confortável poltrona diante da repórter que escolhera para fazer a sua ultima entrevista, reproduzido no imenso telão para que todos pudessem ver cada mínimo detalhe de sua postura, Nelson exibia a mesma roupa simples que dias atrás usara, quando sua vida mudara para sempre.
                Depois das desnecessárias apresentações a repórter deu início à entrevista com perguntas feitas e selecionadas pelos repórteres presentes.
                — A pergunta que mais se repete é “por que o senhor quer destruir o Natal?”.
        — O Natal não existe mais, o que peço é que a farsa acabe. Assumam que estão interessados em ganhar dinheiro vendendo coisas inúteis por preços exorbitantes. Necessitam de uma boa desculpa para se drogarem, beberem e comerem além de qualquer limite? Podem fazê-lo, mas não tornem isso um exemplo a ser seguido. Nunca foi preciso um dia específico para perdoar os que lhe ofenderam, amar os que se distanciaram, desejar o melhor para os que estão próximos. O que estão ensinando às suas crianças? Quais valores desejam que elas tenham quando forem cuidar de vocês?
                — Mas o senhor é contra que haja um dia em que as pessoas tenham esperança de um futuro melhor?
                — Alguma vez se perguntou por que a Esperança estava na Caixa de Pandora junto com os maiores males da humanidade? O futuro é feito hoje, nas relações que se constroem. A superficialidade torna raso o futuro que estão construindo para vocês mesmos.
                — Então o senhor acredita que não há verdadeiramente o espírito de natal?
                — Pelo contrário, sei que há e muitos ainda o vivenciam. Mas a cada dia se rendem a restringir essa vivencia a um único dia, como se houvessem perdido a batalha de salvar a humanidade, mas nunca lhes foi pedido fazer mais que dar o melhor de si e receber o que lhes era ofertado, com alegria. Presentear não é trocar valores, é doar dádivas, e isso deve ser feito diariamente.
                — Não compreendo. O senhor diz que devemos todos parar de comemorar o natal, mas ao mesmo tempo diz que seria melhor se as pessoas vivenciassem o natal durante o ano todo? Não é contraditório?
                — Contraditório é promover guerras em nome da Paz, promover a intolerância religiosa em nome de Deus, promover a discriminação em nome da aceitação das diferenças. Contraditório é ignorar uma pessoa durante o ano inteiro e no dia do seu aniversário, fazer uma grandiosa festa. Contraditório é dizer que o espírito de natal só vive por um dia e nada mais. Querem comemorar? Então o façam pelos motivos certos. O Espírito de Natal não se importa de morrer pelo que acredita, mas não o usem como desculpa para seus interesses pessoais. Querem um bom presente de Natal? Ofereçam a verdade dos seus sentimentos, o valor dos seus atos, embrulhados nos laços do seu relacionamento. Ou simplesmente deixem essa bobagem de lado.
                — O senhor pode nos dizer por que só agora decidiu apresentar para o mundo suas ideias sobre o natal e como ele deveria ser conduzido?  O que pretende conseguir com tudo isso? Mudar a humanidade?
                Nelson ficou parado, mudo diante dos repórteres.  Enquanto todos aguardavam sua resposta ele desvaneceu-se lentamente até desaparecer para nunca mais ser visto.

(...)

                — Estava errado. Achei que poderia fazer a diferença, deixei que minha revolta me guiasse e acabei me defrontando com a minha verdade. Como fui tolo.
                Nicolau deixou que Nelson desabafasse antes de lhe passar uma xícara de chocolate quente e servir-se de outra. Estavam sentados de frente para a janela, olhando os flocos de neve caindo suavemente.
                — Não se sinta assim, Nelson. Já reparou que não existem dois flocos de neve iguais, embora todos provenham da mesma fonte? Estou satisfeito com o seu trabalho. Obrigado.
                — Queria que as coisas tivessem mudado. Não podia suportar o que estão fazendo com o Natal. Uma única pessoa não vai mudar tudo, não é?
                Nicolau sorriu, havia retomado ao seu antigo vigor nos últimos dias e naquela casa todos creditavam o fato a Nelson, eram-lhe gratos por isso.
                — Não, meu querido amigo, as coisas não são tão simples assim. Mas uma pessoa pode fazer toda a diferença quando aponta um caminho a seguir. Você fez com que as pessoas parassem para refletir, ouvissem os seus corações e se confrontassem com a verdade que há neles. Isso terá que servir por enquanto. Dê-lhes tempo, acredite neles.
                — Eles não acreditam em você.
                — Mas eu sempre vou continuar acreditando neles, e em você, Nelson.
                — Nunca mais vou poder voltar a minha vida anterior.
                — É verdade. Quando se entra em contato com o verdadeiro Espírito do Natal, ele nunca mais nos abandona. Sua vida anterior pertencia a outra pessoa que não é mais você, mas posso dar um jeito nas coisas. O que deseja de presente de Natal? Peça qualquer coisa.
                — Bem, estive pensando por todo esses dias...
                — Diga, meu filho, o que mais deseja?
                — Você tem lugar para mais um ajudante na sua fábrica?
                Nicolau riu alto, como há muito tempo não fazia, e sua alegria contagiou aos que vivem todos os dias o Espírito de Natal.
                E isso era tudo o que precisava ser feito.

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Mensagem de Natal - Eloane Ferreira

O dia de hoje é iluminado, e quero aproveitar essa data especial para desejar tudo que há de bom a toda a minha família, aos amigos e a todas as pessoas boas que existem nesse mundo.

Desejo paz e muita saúde a todos nós! E dias repletos de amor e carinho, pois assim a felicidade fica ao nosso alcance.

Desejo que tenhamos sempre amigos verdadeiros ao nosso lado, pois eles multiplicam os momentos de alegria e com eles é muito mais fácil passar pelos momentos de dor.

Desejo que tenhamos dinheiro no bolso e fartura nas nossas mesas.

Que somente as pessoas boas consigam entrar nas nossas vidas, e que saibamos mantê-las conosco.

Que consigamos perceber o propósito de estarmos aqui, e que sejamos pessoas melhores a cada dia.

Isso é o que eu consigo traduzir em palavras. Mas a mensagem e os desejos são do fundo do coração, e espero que consigam chegar ao coração de vocês também.

Alfa e Ômega - Janice Adja


 (Texto concorrente do Concurso Os Retratos da Mente)


Descortino tua infância jubilosa
alimentada de muito amor.
Filha que nutriu meu coração
com fibras infinitas de contentamentos.

Presenteada pelo destino maldito
olho teu corpo com vida extinta.
Fatalidade morbida, que
faz minha alma sangrar em dor.

Pranteio a perca, deploro tua dor
lagrimejo minha culpa grandiosa
provida do cansaço diário. Assim,
condeno-me por homicídio culposo.

                Janice Adja

"Plágio é crime e está no Artigo 184 do Código Penal 9610".

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Metafísica do Sonho - Danny Marks




O homem por trás dos óculos não consegue ver direito.
                Houve um tempo em que ele conseguia ver a luz do sol por entre as brechas da cerca, uma nesga que se infiltrava pela parede mais escura e se espalhava por todo o ambiente.
                E a sua fé era luminosa como um raio de sol que invadia todos os espaços e encontrava os maiores tesouros por mais que estivessem enterrados sob camadas e camadas doloridas.
                E nesse tempo, o sorriso era o seu companheiro mais próximo e a esperança era o seu guia mais confiável.
                Houve um tempo em que a ciência ampliou os horizontes do homem por trás dos óculos e, pelas lentes, levou mais longe e mais profundamente o seu olhar.
                Ele ansiou por novos tesouros e novos companheiros para o seu sorriso.
                Mas no fundo de muitas almas, há arcas de tesouro que se tornam baú de ossos ressequidos, guardado por espíritos desiluminados de sol e de calor, buracos negros que absorvem qualquer coisa sem jamais devolver-lhes nada além de mais espaços vazios.
                Ainda assim, o homem procurava e procurava, com a esperança a cegar-lhe e a guiar-lhe; porque esperança é algo que se coloca no mais alto espaço interior e ela se põe a cantar e a cantar como uma sereia.
                E aquele que se guia pela esperança, alcança um porto seguro, mas aquele que vai ao encontro da esperança, é devorado pelas suas garras e dentes.
                Assim como nos mares não há estradas e caminhos pré-traçados, e todos os lugares podem levar a algum lugar ou lugar nenhum, assim como a luz se espalha e se dissolve a partir da sua fonte, mas deixa rastros do seu trajeto enquanto percorre o seu caminho, também a vontade dos que não desistem de seus sonhos se infiltra e se esvai, e todos os lugares podem ser um porto seguro ou apenas um ponto para parar.
                A Terra gira mesmo para quem fica fixo, gira e rodopia pelo universo em um balé sem música, e tão longe vai que quando sua imagem for vista não existirá mais quem a tenha produzido, um sonho a vagar pelas trevas frias entre as estrelas em busca de olhos de outro sonhador.
                Um sonhador que, talvez, como o homem atrás dos óculos, não possa ver com seus olhos de fonte, a sua luz, por entre as frestas, a se espalhar.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Xeque Mate - Danny Marks




“Na vida, diferente do xadrez, o jogo continua após o xeque-mate”
Isaac Asimov

             O João estava para voltar.
            Foi uma comoção, na empresa, essa notícia. Era o herói de todos.
            Nem sempre fora assim. Antes o João era apenas mais um cara legal, como tantos que iam e vinham.
            Um companheiro de bate-bola de vez em quando, um oi dado sem olhar de novo, no corredor ou no elevador, um favorzinho aqui ou ali, e algumas cervejas em festas e comemorações.
            O João bêbado era um caso a parte, quase um comediante transbordante de alegrias e brincadeiras para com todos, mesmo os que nem lembravam de tê-lo visto.
            Naquele dia o João estava bêbado, quando a arvore o atropelou a 150 km por hora.
            — Absurdo! Culpa dessa “lei seca” — dissera o Rômulo ao saber do caso — Se ele não tivesse pego carona no carro do Martins não tinha acontecido isso.
            Sim, o Martins, aquele que perdeu o carro, o respeito dos outros e de si mesmo. O que ganhara uma depressão crônica por causa do acidente, que acabou fazendo com que perdesse o casamento também.
            Todos afirmaram no inquérito policial que não era culpa do Martins. Fora escolhido o “motorista da vez” e estava completamente sóbrio naquela noite. A empresa exigia respeito às regras.
            Sorteado pelo carro novo, recém comprado, modelo potente, prestação cara. O João, entusiasta alcoolizado, incitara a pisar fundo na banheira na descida, logo depois do semáforo, resolveu mostrar como se faz para ligar o som do carro, se espremeu entre os bancos da frente acotovelando-se com o Martins, que apertou demais o acelerador.
Ai veio aquela arvore...
            O importante é que todos deram uma força para o João, menos o Martins.
            O intrépido carona virou um ídolo na empresa, afinal quantos já partiram do banco traseiro de um carro atravessando o vidro dianteiro para cabecear uma arvore e sobreviveram para contar a história? Um milagre, foi o laudo final.
            O que é uma cicatriz ao longo da coluna? Todo herói tem suas cicatrizes, não é mesmo?
            Um ano internado, oito meses de fisioterapia e estava feito novo. Precisava de uma festa, claro. O João era um exemplo de superação, de garra, alguém que ganhara um rosto dentro da empresa. Era um cara especial, agora.
            Reuniram-se para decidir como seriam as boas vindas.
            Uma festa no salão de reuniões era o melhor. Só precisavam tirar a mesa para um canto e por as cadeiras para fora e...
            Começou a complicação.
            — Todo mundo de pé e o cara sentado? Vai pegar mal.
            — E se arrumássemos cadeiras de rodas para todos? Pro cara se sentir igual à gente?
            Carlos passou o resto da reunião sem falar mais nada, trespassado e fulminado pelas setas envenenadas dos olhares. Pôxa, só queria ajudar. Gente insensível.
            — Podemos contratar aquele casal argentino de deficientes, sabem, aquela bailarina cega com o perneta, que dançam tango. Que acham? — disse a Patrícia, da comissão de licitações.
Se fosse homem tinha apanhado, mas mulher bonita, loira...Tinha desculpa.
Alguém ainda tentou corrigir.
            — Não se fala deficiente, é...Sei lá. Como é que chamam agora mesmo? — Foi ignorado, ninguém estava atento a isso no momento.
            Eram pessoas civilizadas, de mente aberta e pró-inclusão. Não possuíam preconceitos, todo mundo tem o seu valor, não é mesmo?
            Decidiram por um meio termo. Uma reunião comum, com umas bolinhas coloridas nas paredes, algumas cadeiras nos cantos para quem quisesse sentar e espaço livre para transitar sem esbarrar na mobília. Alguns salgadinhos, mas nada de bebida, para não lembrar...Talvez refrigerante, mas pouco.
           
(...)

            O João apareceu na sua cadeira nova, presente da empresa (com logotipo e tudo) em nome dos colegas. Aplauso geral, ou para ele ou para a morena que veio junto. Um Espetáculo de mulher, morena, olhos verdes, corpo de modelo embalado em um longo de costas de fora, decotadíssimo, empurrando a cadeira com certa dificuldade pelo carpete felpudo.
Como ninguém tinha pensado nisso? No carpete, não na mulher.
            No discurso que se fez necessário, o João falou de como o acidente mudara a sua vida para melhor.
            Com a indenização do seguro comprara um carro adaptado, desconto do governo e facilidade de pagamento e tudo embutido. Agora tinha até vaga garantida. Brincou.
            Aprendera a valorizar as pequenas coisas e descobrira outras tantas grandes, como o amor.
            Ficara noivo de Renata, sua fisioterapeuta, que era uma mulher especial (nenhum dos presentes teve dúvidas do quanto, diferiram apenas na modalidade da especialidade), e que lhe mostrara o valor da vida e do amor. Agora era um novo homem, cuidava mais da saúde, voltara a estudar, já tinha até planos formados para o futuro.
            Foi polidamente aplaudido. Pessoas civilizadas.
            Renata cuidava muito bem dele, que irradiava alegria de estar de volta. Fora logo colocado a um canto, como um santo no altar.
            Os colegas iniciaram a romaria de um ou dois minutos de proza, sorrindo polidamente e incluindo na conversa, delicadamente, a “noiva do João”, como ficou sendo conhecida a Renata nas rodas que não se prendiam no carpete do salão.
            — Você viu só? O que um mulherão daqueles faz com um cara que...bem, vocês sabem...
            Dizia um aqui.
            — O mundo está cheio de gente aproveitadora... sem escrúpulo algum. Eu conheço um caso de...
            Dizia outra ali.
            A cada palavra dita, mais se esqueciam do João e de suas novas vantagens e se sentiam mais e mais injustiçados pelos azares da vida.
            Até que alguém comentou que o Martins não tinha comparecido a festa.
            — Coitado do Martins, nunca mais foi o mesmo depois do acidente.
            — É verdade. Um cara incrível, suportou tudo sem reclamar. Cara admirável, homem de fibra aquele.
            Todos concordaram. O Martins era um exemplo de pessoa. Alguém realmente especial. Um grande amigo. Um homem de verdade, completo.
            Segunda Feira, quando o Martins chegou, não entendeu por que todos o tratavam com uma deferência que nunca tiveram.
            Chegou a ser aplaudido pelos colegas de sessão, na reunião depois do almoço, sem um motivo aparente, só pela presença mesmo.
            O João chegou atrasado. Perdera um tempo enorme tentando arrumar alguém que o ajudasse a escalar os dois degraus da entrada do prédio.
            A rampa de acesso ainda estava para ser comprada, havia outras prioridades mais imediatas.
            Os colegas passavam apressados, por ele, dando um oi rápido sem olhar para trás.
            Foi, afinal, o Martins, que conseguira ser liberado para ir ao banco negociar com o gerente as dívidas que tinha, que acabou ajudando o amigo a subir os últimos lances. 
            Dois heróis na contramão.
            Somos todos iguais em nossas diferenças, diriam uns poucos mais sábios. Mérito de gente civilizada.
           

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