quinta-feira, 28 de julho de 2011

(Sem Título) - Baumann ( Noite )


Louco era...
Quando entrava em teus sonhos,
Para poder sonhares comigo,
E vela sorrindo ao despertar do dia...
Quando desenhava tua boca,
Numa página branca da solidão,
Para poder beijá-la todas as horas...
Quando pintava teus olhos,
Para ver por onde caminhas,
E neles lhe encontrar por mero acaso...
Quando escrevia teu nome,
Pelas areias desertas da mente,
Para nunca ficar só em meus pensamentos...
Quando me despedia de todos,
Mesmo quando não havia ninguém,
Só pelo prazer de lhe esperar,
Mesmo que este dia nunca surgisse...
Quando naufragava em devaneios,
Escrevendo-lhe meu amor contido,
Para nunca deixá-la entristecida,
Numa gaveta de lembranças esquecidas...
Quando sentia saudades,
Dos encontros que nunca tivemos,
E poder sorrir feito louco,
Dos sonhos que um dia sonhei...

baumann(noiTe)

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Noturnal - Dalva Abrahão



Quando ave
deixa-me noturna.
Melodia, ouça-me serenata.
Quando luz clarão de lua
beije o céu...
O céu da minha boca.

Quando vento
sinta leve açoite.
Quanto à flor
sou dama da noite.
Se farol
acenda o mar e a estrada.
Para seres meu sereno
meu moreno...
Quando madrugada.

(Sem Titulo) – Marcel Rei


Meus punhos estão abertos. Minha cabeça fechada

Quero que você me conheça
Pelo menos uma frase de toda a minha poesia
Pois a minha prosa biotônico fontora
Não agrada a ninguém

Não quero também que se amacies
Com esses versinhos tristes
Que se parecem lhe dados
Como presentes por me aturares

Quero o contrário
Ser um empecilho traumático
Porém lírico, discreto
Muito menos burocrático

Fugir da dor
De ser um dois na vida
Fazer jogo com o número que me deram no RG
E ganhar uma fortuna na loteria da vida

Não sei ser O Cara
Mas eu conheço muito bem o que é ser
Cara Nenhum
Mas nem por isso jogo: cara ou coroa, cara ou coroa

Não escolhe meu futuro na sorte
Pois dou um azar de morte
Sou só
Isso até me conSola

No meio de tantas pessoas
No mais, tantas idéias
Sou eu mais amigo delas
Que me vem no fim da tarde, nunca me deixam sem um questionamento

Chego a sentir raiva
Dor
Muito carinho
Talvez não somente ao tédio

Não há remédio para mim
Os meios sociais já diziam
És um hipócrita
Patrocina empresas inexistentes!
Que tem déficit abaixo do decrescente!
Talvez tenham uma bunker
Um call center, no reino do nada!
E você vem de madrugada
Me dizer essas coisas...

- Sou anti populista
Não por querer ser sozinho
Mas por ser multidão
E a multidão ser toda uma só...

Não achei o pedestal que falaram que iam trazer
No dia em que os deuses
Ouviriam os nossos suplícios
Os nossos martírios

Fiquei de fora da corte da humanidade
O corte que me deram foi profundo
Prático
Sem vontade

Pedras me dizem que eu saia do meio do caminho
Mas enquanto os obstáculos
As pessoas
Tudo o mais

- Me provocar-

Vou ser sim uma vez
Mesmo que abobada
Feia,
E rouca

A falar

Mesmo que eu não acredite no que eu diga
Não importa
A verdade nunca esteve tão longe

E tão perto.

DESABAFO - Lariel Frota


Socorro: mato ou morro?
O mato: o fogo queimou.
O morro: alguém detonou.
O socorro: ninguém escutou.
Parei para parir.
Parindo, não pude partir.
Ficando parada, perdi
Agora não sei onde ir!
A cria se foi, o coração se agita
Ao crer na cria, nem percebeu
O passar do tempo, agora grita
Exige, implora e eu?????

Baú de Cassandra - Lariel Frota

É com grande prazer que eu apresento para os meus amigos e leitores o mais recente trabalho da minha amiga Lariel Frota.
Eu tive o prazer de conhecer a Lariel Frota quando organizei a Antologia Dias Contados, pela editora Andross, e agora tenho a oportunidade de ser o editor responsável pela publicação deste maravilhoso relato apocaliptico, um história emocionante e com traços marcantes da nossa cultura, que, tenho certeza, será um grande sucesso de publico e critica.
 Recomendo para todos que apreciam o gênero, este livro e esta autora, que em sua simplicidade vai nos proporcionar grandes momentos de prazer.
Descubram os segredos contidos no Baú de Cassandra e façam essa viagem mágica ao interior da floresta amazônica e seus mistérios mais antigos, antes que as profecias se realizem de forma irremediavel.

Os pedidos podem ser feitos pelo site Baú de Cassandra ou diretamente com a autora pelo email Lariel Frota


Danny Marks
Editor Multifoco



terça-feira, 26 de julho de 2011

Vizinhança - Danny Marks

  Todos sabem que a primeira coisa que se deve olhar em um imóvel é a vizinhança. Qualquer coisa serve, quando se tem os vizinhos certos, mas ninguém diz como se pode descobrir quem são os vizinhos sem ter que perguntar para os mesmos. E como falar mal de si mesmo é coisa que ninguém em sã consciência faz, então a questão fica mais para a sorte. Ou para o azar.
            Obviamente que se pode usar os serviços de um profissional da investigação. E foi isso que o José Carlos Tenório, vulgarmente chamado de Zé Mecânico, resolveu fazer quando soube da excelente proposta do Nelson Ned da Silva, vulgarmente conhecido como Nenê Grande, a respeito do apartamento que estava a vender.
            Detetive bom é aquele que sabe onde encontrar os seus clientes, mesmo que estes nunca o tenham chamado, por isso mesmo o Zé não se espantou quando o sujeito bem vestido, dirigindo uma BMW, apareceu na sua porta, se dizendo como um profissional do ramo investigativo.
            Coisa do destino, diriam alguns, mas não o Zé. Este logo viu a oportunidade de juntar o útil ao agradável ao saber que o dono do carro era um famoso detetive, dito pelo mesmo com cartão de visita e tudo para comprovar.
            O que levou o distinto empresário dos segredos alheios até a oficina do Zé foi apenas a necessidade de verificar qualquer problema no veículo, ainda em fase de test driver e com a garantia de Paraguay de LaTerra (La garantia soi jô), nascido Pedro Alvares Cabra, um nordestino que acreditava que Buenos Aires era um bairro baiano e que espanhol era tudo igual; mas que absorvera o melhor sotaque e as experiências dos clientes da Casa Bode Cheiroso no período que trabalhou como segurança pessoal de dona Lucrécia, esta sim uma legítima hispânica de além-fronteira.
            E no embalo dos beiços largos do negão de 2,15 m de altura e uma protuberância abdominal de fazer inveja a hipopótamo de animação, o nosso amigo Detetive descobriu duas coisas importantes que mudariam o seu destino.
            A primeira e mais marcante foi a habilidade prestidigitatória do mecânico que bastou olhar para o veículo para descobriu que precisava trocar a bomba de gasolina. A segunda, não menos importante, de que o profissional núbio necessitava dos serviços de um investigador.
            É que o Zuca, como preferia ser chamado pelos amigos, íntimos que já estavam se tornando ele e o Detetive, estava querendo comprar um imóvel para poder se casar. Contava já dois meses que se correspondia com uma distinta e rica senhora e já faziam planos para um enlace matrimonial onde poderiam juntar os seus pertences e carinhos de forma definitiva, mas estava com receio de que a mesma não se habituasse a morar no porão do motel Ping Pong, alugado de João Cafetão, empresário do órgão genital alheio e corretor de imóveis.
O Zuca confessou ao seu mais novo amigo que estava cansado de ter a mulherada dando em cima dele todo o tempo, queria encontrar alguém para se firmar de vez e passar o resto de seus dias.
           Não que a coisa andasse devagar nos negócios, confessou ao Detetive, mas talvez este aceitasse o trabalho em troca de uma máquina de escrever usada com pequeno defeito, com a qual dedilhava as suas cartas românticas. A mesma não faria falta, pois dentro em breve acertaria os detalhes das núpcias com o Pastor Alemão, recém chegado de sua terra natal e que encontrava-se enrabichado com Fogosa, irmã do mecânico.
          O Detetive não hesitou, na verdade estava realmente precisando de algum trabalho, pois o seu ultimo havia resultado um pouco inesperado.
Um caso simples de um cão raptado pela sogra ingrata de um cliente, em represália a um anuncio colocado no jornal, onde o nobre cliente se oferecia para trocar uma jararaca inconveniente por qualquer outro exemplar ofídico, que lhe possibilitaria obter alguns trocados em venenos mais utilizáveis.
Encontrar o cão não foi problema, um alegre Pitbull que havia gostado muito da raptora, tanto que já lhe devorara uma das mãos e uma perna. O problema é que por conta do incidente o cão acabou sendo vendido para pagar as próteses necessárias. O problema foi que o cliente ficou aborrecido pela rapidez do serviço, alegando que o investigador poderia ter aguardado ao menos uma semana para que o canino degustador tivesse completado a refeição. Por conta disso recusou-se a lhe pagar os créditos devidos e ameaçou denunciar o detetive à sociedade protetora dos animaus de quem o pitbull devia ser sócio emérito.
Por conta disso o detetive foi logo acertando os detalhes do trabalho, e em vista do veiculo ser reprovado no test drive, solicitou emprestado o chevette, artisticamente decorado com durepox, que esperava retorno do além do dono, na oficina, para visitar a vizinhança do imóvel pretendido e verificar a viabilidade do negócio oferecido por João Cafetão ao seu novo amigo.
Qualquer pessoa poderia dizer que o próprio Zé, ou Zuca, ou Bomba de Gasolina, ou sabe-se lá quantos nomes mais o distinto cidadão utilizava-se em seus empreendimentos, poderia fazer o serviço sem desfazer-se de seu precioso bem, mas as mesmas pessoas não teriam dúvidas dos motivos de se enviar um representante, acaso desconfiassem da localização efetiva se encontrava o pretenso ninho de amor.
O fato é que tão logo o Detetive adentrou as cercanias residenciais dos futuros pombinhos, foi literalmente recepcionado por uma salva, e a coisa só não ficou pior porque a imensa ladeira ajudou na fuga. Os buracos da rua, não das balas, acabaram fazendo com que a máquina de escrever fosse projetada do porta malas onde se encontrava alojada, o que serviu de distração e possibilitou um retorno seguro. O motorista sequer percebeu que o veiculo possante não tinha, entre outras coisas, freio que o fizesse reduzir a velocidade, como se houvesse interesses de o fazer, dadas as circunstâncias.
Verificada a periculosidade do local e agradecido aos céus pela imensa sorte de ainda poder escolher outra profissão menos problemática, o Detetive até recusou novo pagamento, e ainda deixou para o nubente núbio uma caixa de preservativos de ótima qualidade que havia, e isto fica entre nós, encontrado no veiculo anterior a título de pagamento pelo carro emprestado que ficara em algum lugar no caminho.
Contam as lendas urbanas que a irmã do Zuca acabou por abdicar de trocar o Pastor Alemão por outro que fizesse melhor uso de sua língua, mas se predispôs a trocar os preservativos que ganhou do irmão por roupas de bebê.
O mecânico, no entanto, não teve os seus intentos nupciais realizados pois soube por foto autografada encontrada no veículo a ser devolvido depois do test driver insatisfatório, que a sua pretendente era na verdade a velha conhecida de Paraguay, conhecida pelo nome de Lucrécia, famosa empresária daquelas bandas. Não desistiu de casar, no entanto, e tratou de investir em uma nova paixão colocando anúncio em um site de encontros, desta vez com a exigência de foto. E como paixão de mecânico é carro, foi justamente deste que solicitou a estampa à próxima pretendente.
Já o amigo detetive, tendo solicitado ao Zuca a devolução da BMW e decidido mudar de profissão, acabou se especializando em digitar documentos com rapidez e baixo custo, embora nunca tenha feito qualquer curso de digitação, o que lhe garantiu um lugar para morar. Um condomínio fechado, com regras tão rígidas que até para ser visitado havia dia certo, mas com uma ótima segurança, tendo até um tal de Juiz Noel, Nicolau, ou Lalau, como preferir, como vizinho.
É por isso que sempre digo: Vizinhança é tudo!
 

segunda-feira, 25 de julho de 2011


Sou uma estrangeira em mim.
Torno a voltar num país de sonho,
De luz e de infância
Perdida num vendaval de espumas.

Aquela voz que me chamava
Já não existe mais,
Mudou-se para o desconhecido.
Estou só num mundo de lembranças
Que brotam como erva-daninha,
Sempre e sempre.

Estou quieta numa morna solidão de tédio
E minha esperança é essa voz
Que ecoa sem se importar com nada.

Vem me falar ainda uma vez.
Acalma-me neste país de solidão.
Traga-me um sopro de alento
Que morro de estar viva.

Nesse insondável mistério de você
Que de tão perto se faz tão distante,
Que se mantém escondido de mim,
Num lugar de sonho.

Pare de mostrar-me a todo instante,
Que é preciso menos que a morte
Para me fazer morrer.

Rachel Dias de Moraes

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Xicara Vazia - Danny Marks

O mestre se preparava para tomar seu chá com o aluno quando uma mulher triste o procurou.
            _ Em que posso ajudar?
            _ Não aguento mais o meu marido, ele nunca me houve...
            _ Sente-se! Tome um chá conosco. Dois corações que vivem juntos e não se compartilham, não crescem. Acabam ficando pequenos e duros.
            A mulher sentou-se e o mestre encheu uma xícara e lhe deu, enquanto continuava suavemente.
            _ As pessoas se unem pelas semelhanças que encontraram. Com o tempo descobrem diferenças que estavam lá, mas não haviam percebido.
            _ Eu pensei que com o tempo ele mudaria, mas ele não muda. E pra evitar conflitos, me calo.
            _ As pessoas só mudam por prazer ou por necessidade. O prazer é quando descobrem que existem caminhos mais fáceis, aprendem com os erros e crescem em seus espíritos. Mudam pela necessidade quando, mesmo não tendo aprendido que há um caminho melhor, são forçados a ele pelas contingências da situação, mesmo lutando contra. Quem determina o que a pessoa se torna é o que já havia dentro dela, as tendências estão lá e sempre que encontram espaço, se libertam.
            _ Como assim...?
            _ Diz a lenda que um sábio deixou uma semente em um bule de chá. Com o tempo a semente germinou e lançou seus galhos pelo bico do bule. Atingindo o sol, ganhou forças e empurrou a tampa do bule. Depois de algum tempo cresceu tanto que acabou rompendo o bule e tornou-se uma arvore. As pessoas para sobreviver buscam os caminhos mais fáceis, com o tempo ficam mais fortes e criam novos caminhos, através das adversidades. Quando o fazem conseguem se libertar e ser realmente o que eram. A árvore estava na semente desde o princípio, ao sentir-se livre, assumiu o que era.
            _ Mas, meu marido já disse que é assim e não muda...
            _ Se o sábio podasse o galho que saia pelo bico do bule a semente não se tornaria árvore, morreria. Em um relacionamento é necessário que haja uma troca, as arvores que crescem lado a lado se protegem mutuamente e as folhas que caem alimentam a ambas. Se uma se tornar egoísta e quiser tudo para si acaba destruindo aquela que lhe permitia ser mais forte e morrem as duas.
            _ Mas o que eu posso fazer? Ele não me escuta...
            O sábio colocou mais chá na xícara, ainda cheia, que acabou transbordando.
            _ Um coração cheio é como esta xícara. Nada pode entrar, é necessário que se esvazie a xícara, ou que a mesma se torne maior, caso contrario o chá esfria e fica amargo...
            _ Mas o que eu posso fazer?
            _ Crescer ou esvaziar! Se as semelhanças forem maiores que as diferenças, ele irá perceber sua necessidade e vai tentar preenche-la novamente, senão as diferenças já estão maiores que as semelhanças e nada mais o irá segurar. Se a distancia já for tão grande que não perceba sua xícara vazia então nada mais há a fazer do que buscar outro caminho.
            _ Mas eu gosto dele, não quero brigar...
            _ Quando há respeito pelas diferenças, consegue-se dividir o que se tem e o amor cresce, porque ambos se completam e tornam-se melhores. Como somente se pode dar o que se tem, se apenas um se dá chega o momento em tudo acaba e mais nada pode ser dado. Quando se dá amor se demonstra o desejo de receber amor, quando se dá respeito demonstra-se o desejo de receber respeito. Aceitar coisas amargas em troca de coisas doces enche o coração de amargura; até que somente amargura poderá ser dada.
            _ Não há outro meio?
            _ Esvazie a sua xícara ou cresça, do contrário ninguém vai conseguir preenche-la. Mostre a sua necessidade e o que deseja de compartilhar. Aquele que parece satisfeito não dá oportunidade para que o satisfaçam.
            _ Mas, e se nem assim ele quiser mudar...
            _ Então haverá o afastamento e, nesse caso, o melhor é que seja rápido, antes que seu chá fique tão frio e ruim que só produza amarguras.
            _Gostaria que ele fosse diferente.
            _Quando duas arvores crescem juntas elas se sustentam. Quando se distanciam não se reconhecem mais.
            A mulher levantou-se e foi embora. O aluno aproximou-se e perguntou ao sábio.
            _ Mestre, será que ela vai conseguir?
            O mestre olhou para a xícara cheia que a mulher havia deixado sobre a mesa.
            _ Talvez. Nenhum problema é fácil de resolver quando não estamos dispostos a olhar de frente para ele. Quanto mais fugimos mais espaço deixamos para que cresça. Somente quando a necessidade é maior nos dispomos a lutar e sempre ficam as cicatrizes da batalha como lembrança.
_ Fico pensando porque as pessoas se deixam chegar nessas situações...
_ Quando nos sentimos fracos, buscamos a força que nos proteja. Mas se não nos fortalecemos, nos tornamos prisioneiros desta mesma força.
_ Espero que ela tenha entendido isso.
_ Crescer ou esvaziar! A xícara dela estava cheia, e nos pediu mais chá...E a sua? Já tem mais espaço?

TAMANHO - Rogério Camargo


Tentando ser maior que seu tamanho,
ganhou o medo como companheiro.
Um medo que acompanha o tempo inteiro
os atos conhecidos e os estranhos. 

Da máxima ferida ao simples lanho,
as dores têm raiz neste primeiro
impulso fantasioso, interesseiro,
onde qualquer estímulo é um assanho.

A iminência de, afinal, realizar,
de se tornar um grande, finalmente,
gera tensões, angústias e pavores.

Pois, consequência lógica, falhar
é tudo que consegue o pretendente
a cores que não são as suas cores.

12.07.2011

Rogério Camargo

CLAMOR - Lariel Frota


Onde estarei senhor, quando passares de novo?
Já foi longe o meio da noite
E ainda com medo, assombrada
Percebo, vai alta a madrugada .
Procuro dentro da escuridão
A luz, que leva o vazio embora,
Sinto que nada sei, sobre a hora
Em que se aproximará teu guardião,
Pra arrematar enfim, o que lhe pertence.
 
Onde estarei senhor, se perguntares por mim?.
Perdida procurando meus sonhos?
Enganada por prazeres medonhos?
Infiel fui, não a TI, mas a mim primeiro
Confundindo o falso com o verdadeiro?
Mas se não tivesse procurado tanto,
Talvez, só me restasse hoje o espanto
De perceber, que se não há desenfreada busca
Nada foi achado, ou perdido e afinal o que assusta
É que se assim acontecesse, nada teria vivido.
 
Onde estarei senhor, se me estenderes as mãos,
E o sono a preguiça, ou então a correria
Desta viagem tresloucada, me impedirem de enxergá-las?
Que farei, se meus ouvidos estúpidos, repletos de nadas
Me impedem de entender TUAS falas?.
Ah! eu TE imploro, se estiver distraída
Me sacode, me estapeie, tira o chão sob meu pé
Deixa-me cair, me esfolar inteira, e que a dor da carne ferida
Me façam de novo atenta, para no momento
em que chegares para tuas colheitas,
eu esteja pronta, absolutamente alerta
pra me entregar a vida plena, de alma liberta!!!!!

Abraços

Marli

domingo, 10 de julho de 2011

Busca - Danny Marks



Eu quero alguém que lute comigo
Até quando for preciso me parar
para que eu não me destrua
Porque eu sou Guerreiro, e às vezes Escravo

Eu quero alguém que seja forte e leal
Que me acolha em meus momentos de dor
para que eu possa acolher nos seus
Pois eu sou Fortaleza, mas necessito de Refúgio

Eu quero alguém que respeite os meus segredos e silêncios
e que aceite as minhas desculpas
Que continue a acreditar em mim
mesmo quando nem mesmo eu o fizer
Porque eu sou Resposta, mas às vezes sou Dúvida.

Necessito de alguém que me seduza
Que transforme meus desejos em realidade
Que me conduza por seu corpo com habilidade
Sem me tirar a possibilidade de dar
Pois eu sou Amor, e também Paixão.

Desejo alguém que saiba meus defeitos
e os conheça tão bem quanto as qualidades
Que me ensine gentilmente a superar
e que aprenda comigo da mesma forma
Porque eu sou Inteligência e Sensibilidade,
mas às vezes me distancio da Verdade

Necessito alguém que não tema a dor
e saiba expressar a sua e acolher a minha
Que se erga junto comigo sem se importar
qual dos dois é que conduz
Pois eu sou Guia, mas as vezes me perco de mim

Necessito alguém que saiba ler no silêncio
as mesmas palavras que poderiam ser ditas
e que possa se revelar sem medo, para que eu também o faça
Porque sou Mistério, e às vezes sou Certeza

Preciso de alguém que não tema o escuro
mas que não busque a luz como uma certeza
Que saiba irradiar ou receber
Porque eu decomponho as Trevas em busca das Cores

Espero alguém que ame a vida com todas as forças
e que saiba dividir o pouco que tiver
sem jamais pedir retorno qualquer
Pois eu sou Fartura e Dádiva, mas às vezes sou Carência

Espero alguém que guarde consigo o meu passado
Que seja repositório e fonte borbulhante
mas que mantenha os olhos no futuro
com a coragem de um caminhante
Porque eu sou Estrela, e às vezes apenas Viajante

Necessito de alguém que olhe os fantasmas
como sombras do passado mal resolvido
Que os compreenda e perdoe, sem mágoas,
e cicatrize ferimentos antigos
Porque eu sou a Cura, e também fui Ferido

Hei de encontrar alguém que ouça minhas palavras
e as receba como ditas por seus sentimentos
Que complemente a parte que me falta
e que me receba em sua necessidade de mim
Porque eu sou Inteiro, e necessito de outro Inteiro para ser mais.

 



sexta-feira, 8 de julho de 2011

O Alemão, o Gato e o Gatuno - Danny Marks




Aos colegas de trabalho e ao meu nobre empregador:
                Venho por meio desta comunicar que estou deixando o emprego e a profissão por motivo justo e peço a compreensão de todos. Os motivos são os que relato a seguir, ainda que sob forte tensão.
                Foi com grande felicidade que abracei o meu trabalho no Pet Shop, e até o dia de ontem eu tinha a maior alegria de contribuir para o conforto e a beleza desses pobres seres que Deus nos deu para companheiros.
                E foi nesse mesmo espírito que ontem, após o horário de almoço, fui atender a Dona Gertrudes, como devem saber a mais nova, e ex, cliente.
                Fui de ônibus, pois meu carro encontra-se para reparos, e como não era muito distante resolvi que não haveria problemas.  E não haveria, se não fosse o Genivaldo.
                Genivaldo é, ou era, um gato. No sentido mais específico da palavra. Um grande gato negro. Não sei se a lei contra discriminação racial se aplica ao caso, mas é melhor não arriscar, do jeito que as coisas estão.
                Então, como eu estava relantando, Genival, o gato da dona Gertrudes, precisava de um banho e aparar as garras, um serviço simples. Mas para minha infelicidade o esposo da mesma havia recém adquirido uma panorâmica televisão de 59 polegadas e quatro canais de áudio.
                Acho que estou embaralhando as coisas, mas ainda tremo só de pensar.
                Enfim, fui recebida pela gentil senhora em sua casa, e fingi nem reparar no senhor, de cabelos brancos, que dormia de cuecas no sofá abraçado com um controle remoto. Era só fazer o meu trabalho e sair rapidamente com o bônus pelo serviço a domicílio e voltar a minha vida normal.
                Peguei o gato com muito cuidado, sempre é preciso ter cuidado com bichos alheios, mas não havia dificuldade alguma, até que o maldit..., digo, senhor de idade, acordou e dispôs-se a ver o futebol na sua TV nova.
                Não sei se para me impressionar, por alguma deficiência auditiva ou por qualquer outra causa desconhecida, justamente quando eu me dispunha a iniciar o meu tão delicado trabalho, o som quadrifônico da TV, em seu mais alto volume, disparou a falar.
                O gato, que já estava se acostumando com a minha presença, simplesmente deu um salto que o faria campeão de quaisquer jogos olímpicos felinos que pudesse haver, e foi se enfiar embaixo da geladeira em um espaço que eu acharia impossível para qualquer ser vivo ocupar.
                Com a ajuda de Dona Gertrudes, tentando ignorar o irritante som, fui com muito cuidado arrastando o desgra...Gato  de seu refugio, para não o ferir.  O bichano havia se transformado em um amontoado esquivo de pelos e unhas e eu decidi que era mais seguro para mim e para ele, cortar-lhe logo as garras, antes mesmo de o escald...dar-lhe banho.
                A gentil senhora se dispôs a ajudar segurando o mesmo, enquanto eu pegava as minhas ferramentas de tosa.
                A mulher sacudia o gato com uma freqüência quase igual a que eu faria se fosse a dona e estivesse com os nervos no estado que me encontrava, mas isso só contribuiu para que o mesmo, irritado, fugisse para debaixo do armário.
                E lá fui eu, ficar em uma posição nada própria para uma dama em casa alheia quando o sexagenário modelo de roupas intimas adentrou a cozinha com o controle remoto enfiado qual arma em sua ridícula vestimenta.  Não sei se pela minha posição ou pelas roupas que usava, o cidadão correu para outro cômodo da casa, ao mesmo tempo em que eu conseguia resgatar a criatura das sombras e das teias depositadas naquele canto esquecido por Deus e pela faxineira.
                Eu já pensava que as coisas não podiam ficar pior, mas estava enganada.
                Dei o felino esquivo para a senhora segurar e peguei rapidamente as ferramentas, antes que o mesmo resolvesse dar-me mais trabalho, e então aconteceu.
                Um grito horrível veio do interior da casa, no exato instante em que eu aproximava uma pontiaguda tesoura do ser peludo, que era sacudido pela dona em um espasmo que jamais havia visto.
 O resultado foi o fim de sete vidas em uma única estocada.
                A mulher largou o gato falecido em cima de mim e correu para acudir o marido. E qual não foi a minha surpresa ao ouvi-la gargalhar?
                Eu só podia estar na casa de alguma bruxa do mal!
                Então ela veio me contar ainda rindo, toda feliz, que o marido havia deixado cair o maldito controle remoto da TV no vaso sanitário e que ela agora não ia ter que aturar ele zappeando entre os canais enquanto ela tentava ver a novela.
                Eu olhei para ela com cara de quem não entendia nada , ainda segurando o cadáver que sujava o meu jaleco novo de forma irremediável.  Ela se compadeceu e disse-me que não havia sido culpa minha, que era culpa do alemão.
                Eu achei que ela falava do marido, mas quando ela continuou com os espasmos que me pareciam sacudidelas, compreendi que tratava-se de outro alemão.
                Ofereci-me para dar um destino digno ao animal recém falecido e até recusei o pagamento pelo serviço que na verdade nem havia feito. Saí o mais rápido que pude dali, com as minhas coisas em uma sacola e na caixa que guardava as minhas ferramentas o infortunado ex membro da comunidade felina.
                Logo chegou um ônibus, lotado, como era de se esperar de alguém que havia adquirido sete anos de azar, ou o raio que o valha. Mas eu o peguei mesmo assim.
                Um gentil rapaz vendo-me atrapalhada com a caixa se dispôs a segura-la para mim e eu rapidamente a dei. Queria era me livrar logo daquilo.
                Mas para minha surpresa, no ponto seguinte, o individuo saiu correndo do ônibus com a caixa embaixo do braço e os berros da assistencia de “pega, ladrão”. Um policial saiu correndo atrás do bandido, mas não sei se conseguiu alcançá-lo.
                Então eu desabei! Comecei a chorar compulsivamente.
                As pessoas tentavam me acalmar, e até se ofereceram para pagar a minha passagem.
                Eu resolvi tirar o resto do dia de folga e hoje acordei decidida a abandonar definitivamente essa maldita profissão que nos expõe a tantos perigos e surpresas
Vou tentar ser piloto de provas ou quem sabe infectologista; profissões que devem ser muito mais tranqüilas e seguras. 
E se por acaso alguém devolver a dita caixa, vocês sabem onde podem enfiá-la.
                Sem mais, Obrigada!

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