Para todas as pessoas na maternidade, aquele parecia que seria mais um dia comum, mas tornou-se especial porque Ninguém nasceu.
Era um menino franzino, quieto, tão feio quanto qualquer recém nascido. Mais um bebê que vinha ao mundo e que, os médicos achavam, não iria sobreviver.
Porém Ninguém estava decidido a levar aquela vida adiante.
A mãe, cansada depois de um parto difícil, desejava que Ninguém aparecesse no quarto. Ele apareceu, nos braços da enfermeira, aos berros, faminto.
Ninguém era assim resoluto, desde o começo sabia o que queria e como conquistar. Logo ficou claro que Ninguém era diferente.
Conseguia ficar tão quieto que as pessoas não percebiam que estava lá até que alguém olhasse para um canto que deveria estar vazio e o que viam? Ninguém.
Cresceu muito sociável, gostava de brincar e fazer algumas travessuras como qualquer criança. Era tão ativo que levava a fama até do que não tinha feito.
Quando acontecia de algum menino quebrar uma vidraça, puxar o rabo do gato do vizinho, escrever coisas feias na porta do banheiro da escola e vinham perguntar quem fora o responsável a resposta era unânime: Ninguém fizera.
Era sempre assim, famoso quando tinha alguma coisa de errado, esquecido quando as coisas saiam certas. Por tudo isso Ninguém acabou por adquirir muita coragem, alias, uma coragem inabalável.
Se havia um problema difícil de resolver: Ninguém resolvia!
E quando fizeram aposta de quem iria entrar na jaula do leão que tinha vindo com o circo?
Claro que Ninguém foi lá!
Por sorte o leão estava velho e quase cego e não viu Ninguém na jaula. Mas com um ato assim Ninguém virou um herói.
O Tempo passou e veio a época do alistamento militar e como era de se esperar Ninguém queria cumprir o seu dever com a Pátria, porém naquele ano as Forças Armadas não precisavam de Ninguém.
Uma pena, diziam seus amigos, nunca haveria um soldado tão corajoso como Ninguém.
Restou dedicar-se aos estudos, coisa que Ninguém queria.
Inteligente e dedicado, Ninguém formou-se com louvor e finalmente revelou ao mundo que tinha um sonho. Ninguém queria entender como as pessoas são. Na verdade era muito mais que isso, Ninguém queria resolver os problemas do mundo.
Foi desse jeito que acabou se metendo na pior encrenca de sua vida. Acreditou no que todos diziam, que Ninguém poderia mudar a situação do país e virou político.
Eleito, todos ficaram sabendo que Ninguém era muito honesto. Porém, seus novos colegas não deixavam Ninguém fazer nada. E quando surgiram as primeiras denuncias de corrupção e desvio de verbas Ninguém foi injustamente acusado.
Durante o julgamento ficou comprovado que Ninguém estava inocente na historia toda, mas magoado com o ocorrido, abandonou a política e voltou a ser um qualquer na multidão.
Até o dia que conheceu a mulher de sua vida, apaixonou-se e decidiu casar-se. Ela tinha tudo que Ninguém queria em uma mulher. E pela primeira vez sua coragem foi posta a prova de uma forma cruel.
Será que ela acharia que Ninguém era especial? Será que ela não gostava de Ninguém? As duvidas cresceram na mente dele e o momento mágico foi passando sem que Ninguém percebesse que a estava perdendo.
Ele a procurou por todos os lados, sem encontrá-la. A sua mulher ideal havia desaparecido e Ninguém ficou muito triste.
Acabou tendo uma crise nervosa, foi parar em um manicômio onde esqueceu-se de quem era.
Todos os internos gostavam dele, afinal, só político não gosta de Ninguém.
Ele trabalhava como um louco, e um dia conheceu um jovem psiquiatra.
Ao observar que aquele homem era diferente dos outros como Ninguém, acabou por lembrar-se de quem era e ficou curado.
Ninguém abandonou o hospício para nunca mais voltar, decidido a encontrar a sua amada, mas como quase não tinha dinheiro, resolveu jogar com a sorte.
Apostou em um jogo popular, o premio estava acumulado. Quis o destino que naquele dia Ninguém ganhasse.
Milionário comprou uma ilha onde Ninguém poderia morar sossegado.
Não muito tempo depois houve um terrível acidente de barco próximo a ilha onde morava. Ninguém foi ajudar, entre os sobreviventes encontrou a sua Amada.
Não perdeu a oportunidade e foi logo declarando o seu amor eterno.
Ainda ontem recebi um email onde Ninguém me dizia que estava bem e feliz. Ninguém se casou com a mulher perfeita, moram em uma ilha.
Nosso breve encontro, há muito tempo atrás, mudou minha vida e, acredito, Ninguém mudou.
As vezes fico imaginando como será viver em uma ilha deserta, mas não importa, seja como for, Ninguém merece.
Este relato que Ninguém me contou em um hospício é a Incrível Historia de um homem que tinha o sonho de mudar o mundo e hoje todos sabem que Ninguém conseguiu.
Encerro concluindo que, por mais louca que possa ter sido esta historia, Ninguém sempre dirá toda a verdade.
2 comentários:
Querido Escritor,
Li este conto há alguns semanas e ficou cá comigo o desejo de elogia-lo.
Aproveito a data. Parabéns pelo seu dia. Parabéns pelo dia do ESCRITOR.
Beijos mágicos,
Anna Amorim
Obrigado, Anna,
Sempre bom ver você por aqui.
Um Feliz dia do Escritor para você também, Poeta.
Beijos Mágicos, sempre,
Danny
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