quinta-feira, 25 de julho de 2013

Depoimentos – Danny Marks



“O tio é muito engraçado, ele fala aquelas coisas e a gente vai junto” (Leonora, 12 anos)

“É, ele faz tchum, Bach, sssquixe e pow e arrasa, sabe, mó legal” (Bruno, 11 anos)

“Ele me faz pensar sobre o amor, sobre a vida, sobre todas as coisas que estão ai” (Monica, 15 anos)

“Não, vou te falar, tem hora que dá raiva, vei. Tem hora que dá vontade de esmurrar alguém, de gritar, de sair correndo. É muito louco, vei. Sei lá, queria ver os caras fazer isso no cinema” (André, 16 anos)

“Tem toda aquela coisa de época. Você ficar sabendo como era, o que pensavam. Mas é tipo assim, você vê isso hoje em dia, sabe como é? Dá a impressão de que você esteve lá e agora está aqui, e que as vezes as coisas não mudam, mas mudam. Entende?” (Carlos, 17 anos)

“Eu não sei o que seria a minha vida sem ele. Todo dia eu sento no meu cantinho e fico vendo aquelas coisas que ele fala e... nossa, até me emociono de pensar, é algo que toca a gente” (Valéria, 20 anos)

“Na boa, essas coisas inventadas não curto não. Mas quando é fato, só ele para me dizer exatamente o que aconteceu. A história de verdade, não a que esses políticos mandam colocar nos livros. Você tem que entrar na cabeça dos caras, pensar como eles pensavam, entender o que eles queriam. Só assim para saber a verdade, essa é que é a verdade” (Rogério, 40 anos)

“Quem você acha que realmente inventou a lâmpada? O laser? O submarino? Heim? Todas as grandes invenções já estavam na cabeça dele, os outros só copiaram e tornaram fatos, mas quem ia pensar nisso se não fosse ele? Quem? O futuro é um estado de espírito, é ele quem nos faz pensar nisso, no amanhã.” (Jorge, 27 anos)

“Eu aprendi a ler com ele, sabe? Minha mãe sempre andava com ele por ai e eu fui me apaixonando também. Aquelas frases lindas que emocionam, aquelas coisas que eu gostaria de ter dito, e disse, porque ele me disse como dizer. “ (Fernanda, 32 anos)

“Eu não sei. Tem horas que me faz rir, tem horas que me faz chorar, tem horas que fica aquela coisa de suspense. Quem você conhece que transforma uma festa em cena de crime? Quem consegue fazer piada em funeral? Tratar a loucura como se fosse uma coisa normal e a normalidade uma ilusão? Não, eu acho que isso tem que nascer pra coisa, tem que ter algum tipo de talento. Eu queria poder fazer isso, mas acompanho. Eu sigo mesmo, onde for.” (Horácio, 53 anos)

“A primeira carta para namorada foi ele que me deu. Não sabia o que dizer, como dizer, mas ele me falou todas as palavras certas. Estou hoje com a Natalia, já se vão vinte e oito anos, por culpa dele. Como não gostar de um cara assim?” (Osvaldo, 72 anos)

“Eu sempre soube que não eram palavras do Osvaldo, mas o jeito que ele me deu aquela carta, as palavras que ele copiou com tanto cuidado. Como não amar um homem assim? Ele tem nos acompanhado desde então, ainda hoje eu falo para o Osvaldo as palavras dele. Nós temos sido muito felizes desde o primeiro momento, nós três” (Natalia, 70 anos)


Homenagem ao Dia Nacional do Escritor, porque ele consegue traduzir a vida em uma forma que cada um de nós consegue suportar e aprender a amar. Obrigado pelas palavras certas nos momentos certos.

sábado, 20 de julho de 2013

Viaduto - Danny Marks



 

Você viu? Ali? Ontem? Naquele viaduto!
Foi sim que estou lhe dizendo, não entende? Eu estava lá... você não?
Aquela multidão, aquela alegria toda, revolta, indignação, organização.
Organizaram a depredação.
Foi bonito ver o por do sol em sangue escorrendo nas faixas e nos cartazes.
Bandeira não, que isso aqui é nosso, só nosso e ninguém nos representa.
Ninguém nos representa!
Foi lá daquele lado, as pessoas embaixo, em cima, cercando.
A polícia, tudo em volta, observando.
Tinha até urubu no céu avoando, entornando, fervendo aos poucos, já sabendo no que ia dar
O governador que não deu, nem as caras, não pra nós. Pros outros deve ser diferente, não sei.
Eu sei que estava tudo bem, as mãos dadas, no peito, o hino nacional em coro.
Tudo tão tranquilo e pacífico, a onda vindo de cabeça em cabeça, mancomunando, mão comungando, mão passando, mão...
Só faltava dar uma mão e tinha sido diferente, quem sabe? Não sei.
Só Deus sabe o que pode vir, quando chega a hora é agora e não tem mais jeito.
O gigante acordou e o brado retumbante ecoou no céu da Liberdade, filho de imigrante, talvez.
Eu não conhecia, não vi direito, só a mancha, borrão no chão.
O transito parado que a rua é nossa, vem pra rua, quem não vem bom sujeito não é
Ruim da cabeça, doente do pé, de moleque já estou cheio.
Quer saber! Foi melhor assim, agora tem gente falando e tá dando ibope
Sei lá o que é isso, mas dizem que é bom, que quanto mais ibope melhor, então que venha.
Amanhã alguém vai ter que fazer alguma coisa, vai ter que mostrar no youtube, vai ter que vender as imagens pra TV, pra gente ver, se ver.
Amanhã alguém vai ter que limpar essa sujeira, vai ter que resolver o meu problema, vai ter que falar com a família.
Amanhã vai ser tudo diferente, melhor que seja, será?
Amanhã o Antonio, João, José, sabe lá qual nome tinha, não vai pagar passagem mais cara, não vai mais trabalhar.
Amanhã vai passar de carro pelo viaduto, a multidão seguindo.
Caiu,
 na contramão,
 no meio do povo.

Isso sim é que é protesto!

Polegares Opositores - Danny Marks

Você pode cobrar honestidade de um político se a sua honestidade não é impecável?
Essa é uma pergunta que muitos usam para defender alguns absurdos da política atual, mas há muita coisa que deveria ser perguntada anteriormente para que finalmente se pudesse fazer um correto juízo de valor. Por exemplo:
Qual o sentido da liderança?
A liderança é a capacidade de influenciar grupos de pessoas de forma que colaborem para um objetivo em comum.  Não é preciso neste momento aprofundar para as possibilidades de lideranças positivas ou negativas, o que nos cabe no momento é perceber a sutil relação que há entre líder e liderado.
O líder influencia, ou seja, possui o carisma, a confiabilidade, a aura magnetizadora que atrai e orienta os liderados polarizando-os de forma a gerar a força necessária para executar um trabalho. O líder motiva, organiza, mantém o impulso, redireciona, acolhe, revigora. Em muitos aspectos o líder é o pai e a mãe do grupo, o ícone a ser seguido, aquele que acumula os valores do grupo.
Por isso mesmo o líder só tem o poder que o grupo lhe dá, precisa ser escolhido pelo grupo antes de assumir a função e só então captar outros membros para sua esfera de influência de forma que todo o grupo cresça como um organismo.
Portanto os liderados primários são mais próximos do Líder do que os que acabam aderindo posteriormente.
Aqui cabe um aparte para algo importante, a questão do poder corruptor.
Engana-se quem pensa que o poder corrompe e o poder absoluto corrompe absolutamente. Na verdade o poder apenas revela, ilumina, fortalece, desmascara, realça, o objeto do poder. Aquele que possui o poder não o incorpora, é um objeto do poder, algo pelo qual o poder se expressa. Diferente do que é poderoso, que por si só é fonte e ação do poder.
Na esfera de liderança o Líder carismático é poderoso, pois o carisma é sua fonte de poder e emana dele de forma natural, não pode ser destituído disso. Já o representante é o que incorpora o poder do grupo, o objeto pelo qual o poder coletivo se expressa de forma uníssona, organizada.
Quando a democracia foi criada sua principal fonte de inspiração era a Liderança Carismática, influenciadora, que orientava e inspirava. Mas a democracia como todas as formas políticas, do coabitar em comunidade, evoluiu e se transformou.
E quando se fala em evolução não se pode deixar de citar Darwin e suas teorias de que os melhores adaptados sobrevivem. Note que não disse “os mais fortes” porque isso seria incorreto. Adaptado é aquele que resiste e sobrevive ao sistema em que está inserido e cria soluções para se fortalecer, nem sempre o mais forte consegue se adaptar, que o diga o finado Tiranossauro-Rex, que na sua época não tinha adversários, mas foi extinto pelo seu enorme peso e incapacidade de adaptar-se a um ambiente em mutação, que exigia flexibilidade.
Muitas vezes na evolução uma simples diferença pode ser fundamental para a construção do futuro, como no caso dos polegares opositores, aqueles que permitiram a criação de ferramentas sofisticadas, os mesmos que os imperadores romanos usavam para determinar se o gladiador vencido sobreviveria ou deveria morrer.
Na evolução da democracia, não apenas o sistema político mudou, mas as pessoas que o compõem. Atualmente há poucos líderes carismáticos até porque são raros pela própria natureza, considerando-se que se houvessem muitos capazes de influenciar, nenhum seria influente o suficiente. O que vemos nos dias de hoje são as lideranças representativas, aquelas que são escolhidas por interesses em comum e que emprestam o poder do coletivo e o aglutinam em volta de propostas específicas.
Por isso mesmo a democracia evoluiu para um sistema onde várias lideranças são escolhidas pelo mesmo grupo, de forma que todos os interesses estejam maior ou menor representados.
Mas o que não se pode esquecer é que uma vez escolhido o líder, ele se torna automaticamente um ícone a ser seguido, ou seja, obrigatoriamente o Líder tem que ter qualidades que comunguem com o grupo que lhe empresta o poder de forma a inspira-los e orienta-los no rumo objetivado.
Portanto o grupo não precisa ter as qualidades desejadas na sua liderança, mas acreditar que o Líder as possui e possa orienta-los na busca dessas mesmas qualidades desejáveis. Por isso o líder foi escolhido, por supostamente possuir os qualificativos desejados pelos liderados.
Então a conclusão lógica à pergunta de se podemos cobrar dos políticos uma honestidade que não possuímos de forma plena é um imenso e sonoro SIM!
Não só podemos como devemos cobrar de nossas lideranças representativas as qualidades que eles necessariamente deveriam possuir para nos manter como apoiadores de sua influencia, porque foi exatamente por esse motivo que foram escolhidos, para serem exemplos do que é desejável, do que é verdadeiro para o grupo, ainda que não tenha sido alcançado ou se já o foi, que precisa ser mantido e preservado.
Na evolução não há certezas, é sempre necessário estar preparado para a adversidade, para criar a mudança tanto quanto a permanência, mas sempre se deve estar atento aos resultados, desejáveis ou não, de forma que se possa corrigir os rumos oferecendo o nosso apoio ou repúdio aos que nos conduzem no caminho para sermos melhores.


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