quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Uma análise divertida do Mundo... - Hernán Casciari


Li uma vez que a Argentina não é nem melhor, nem pior que a Espanha, só que mais jovem. Gostei dessa teoria e aí inventei um truque para descobrir a idade dos países baseando-me no 'sistema cão'. Desde meninos nos explicam que para saber se um cão é jovem ou velho, deveríamos multiplicar a sua idade biológica por 7.
No caso de países temos que dividir a sua idade histórica por 14 para conhecer a sua correspondência humana. Confuso? Neste artigo exponho alguns exemplares reveladores.
A Argentina nasceu em 1816, assim sendo, já tem 190 anos. Se dividimos estes anos por 14, a Argentina tem 'humanamente' cerca de 13 anos e meio, ou seja, está na pré-adolescência. É rebelde, não tem memória, responde sem pensar e está cheia de acne.
Quase todos os países da América Latina têm a mesma idade, e como acontece nesses casos, eles formam gangues. A gangue do Mercosul é formada por quatro adolescentes que têm um conjunto de rock. Ensaiam numa garagem, fazem muito barulho, e jamais gravaram um disco.
A Venezuela, que já tem peitinhos, está querendo unir-se a eles para fazer o coro. Em realidade, como a maioria das mocinhas da sua idade, quer é sexo, neste caso com Brasil.
O México também é adolescente, mas com ascendente indígena. Por isso, ri pouco e não fuma nem um inofensivo baseado, como o resto dos seus amiguinhos. Mastiga coca, e se junta com os Estados Unidos, um retardado mental de 17 anos, que se dedica a atacar os meninos famintos de 6 anos em outros continentes.
No outro extremo, está a China milenária. Se dividirmos os seus 1.200 anos por 14 obtemos uma senhora de 85, conservadora, com cheiro a xixi de gato, que passa o dia comendo arroz porque não tem - ainda - dinheiro para comprar uma dentadura postiça. A China tem um neto de 8 anos, Taiwan, que lhe faz a vida impossível. Está divorciada faz tempo de Japão, um velho chato, que se juntou às Filipinas, uma jovem pirada, que sempre está disposta a qualquer aberração em troca de grana.
Depois, estão os países que são maiores de idade e saem com o BMW do pai. Por exemplo, Austrália e Canadá. Típicos países que cresceram ao amparo de papai Inglaterra e mamãe França, tiveram uma educação restrita e antiquada e agora se fingem de loucos.
A Austrália é uma babaca de pouco mais de 18 anos, que faz topless e sexo com a África do Sul.
O Canadá é um mocinho gay emancipado, que a qualquer momento pode adoptar o bébé da Groenlândia para formar uma dessas famílias alternativas que estão de moda.
A França é uma separada de 36 anos, mais prostituta que uma galinha, mas muito respeitada no âmbito profissional. Tem um filho de apenas 6 anos: Mónaco, que vai acabar virando gay ou bailarino... ou ambas coisas. É a amante esporádica daAlemanha, um caminhoneiro rico que está casado com a Áustria, que sabe que é chifruda, mas que não se importa.
A Itália é viúva faz muito tempo. Vive cuidando de São Marino e do Vaticano, dois filhos católicos gémeos idênticos. Esteve        casada em segundas núpcias com Alemanha (por pouco tempo e tiveram a Suíça), mas agora não quer saber mais de homens. A Itália gostaria de ser uma mulher como a Bélgica: advogada, executiva independente, que usa calças e fala de política de igual para igual com os homens (a Bélgica também fantasia de vez em quando que sabe preparar esparguete).
A Espanha é a mulher mais linda de Europa (possivelmente a França se iguale a ela, mas perde espontaneidade por usar tanto perfume). É muito tetuda e quase sempre está bêbada. Geralmente se deixa enganar pela Inglaterra e depois a denuncia. A Espanha tem filhos por todas as partes (quase todos de 13 anos), que moram longe. Gosta muito deles, mas a perturbam quando têm fome, passam uma temporada na sua casa e assaltam sua geladeira.
Outro que tem filhos espalhados no mundo é a Inglaterra. Sai de barco de noite, transa com alguns babacas e nove meses depois, aparece uma nova ilha em alguma parte do mundo. Mas não fica de mal com ela. Em geral, as ilhas vivem com a mãe, mas a Inglaterra as alimenta.
A Escócia e a Irlanda, os irmãos da Inglaterra que moram no andar de cima, passam a vida inteira bêbados e nem sequer sabem jogar futebol. São a vergonha da família.
A Suécia e a Noruega são duas lésbicas de quase 40 anos, que estão bem de corpo, apesar da idade, mas não ligam para ninguém. Transam e trabalham, pois são formadas em alguma coisa. Às vezes, fazem trio com a Holanda (quando necessitam maconha, haxixe e heroína); outras vezes cutucam a Finlândia, que é um cara meio andrógino de 30 anos, que vive só em um apartamento sem mobília e passa o tempo falando pelo celular com a Coreia.
A Coreia (a do sul) vive de olho na sua irmã esquizóide. São gémeas, mas a do Norte tomou líquido amniótico quando saiu do útero e ficou estúpida. Passou a infância usando pistolas e agora, que vive só, é capaz de qualquer coisa. Estados Unidos, o retardadinho de 17 anos, a vigia muito, não por medo, mas porque quer pegar as suas pistolas.
Irão e Iraque eram dois primos de 16 que roubavam motos e vendiam as peças, até que um dia roubaram uma peça da motoca dos Estados Unidos e acabou o negócio para eles. Agora estão comendo lixo.
O mundo estava bem assim até que, um dia, a Rússia se juntou (sem casar) com a Perestroika e tiveram uma dúzia e meia de filhos. Todos esquisitos, alguns mongolóides, outros esquizofrénicos.
Faz uma semana, e por causa de um conflito com tiros e mortos, os habitantes sérios do mundo descobriram que tem um país que se chama Kabardino-Balkaria. É um país com bandeira, presidente, hino, flora, fauna... e até gente! Eu fico com medo quando aparecem países de pouca idade, assim de repente. Que saibamos deles por ter ouvido falar e ainda temos que fingir que sabíamos, para não passarmos por ignorantes.
Mas aí, eu pergunto: por que continuam nascendo países, se os que já existem ainda não funcionam?
Portugal?
Por esta ordem de ideias Portugal será um "cota" de 62 anos, que não quer saber dos filhos que fora de horas teve em África de uma mãe trintona (todos agora com por volta dos dois anos e meio) enquanto se perde de amores pela enteada catorzinha que do outro lado do Atlântico se insinua emergente e tesuda ao som do Samba. Proxeneta por tradição, sendo o mais velho na Europa acha que os outros têm obrigação de o sustentarem, e para tal usa de todos os estratagemas e de chantagem emocional: quando necessário até canta o Fado.
Fabulosa localização com... "aquela janela virada para o mar"! Já para não falar das vinhas ancestrais que lhe crescem nas traseiras do quintal, do azeite das oliveiras que bordejam a propriedade, do peixinho fresco que só falta conhecer o caminho para o assador para ser perfeito!
Ah! À sua custa vivem duas belas filhas solteironas já quarentonas: uma toda virada para a ecologia, com uns olhos azuis lindos como lagoas; e a outra, muito rebelde, a ameaçar casar sempre que a mesada tarda. Ambas com um temperamento assaz vulcânico, prometem ainda dar que falar: a primeira tem sempre a cama feita para um jovem ricaço que a visita amiude de avião; e a segunda, de tão bela, dá-se ao luxo de nem se depilar da sua floresta laurissilva, recentemente eleita para Património Mundial da Humanidade.


NOTA SOBRE O AUTOR:
Hernán Casciari nasceu em Mercedes (Buenos Aires), a 16 de Março de 1971.

Escritor e jornalista Argentino. É conhecido por seu trabalho ficcional na Internet, onde tem trabalhado na união entre literatura e blog, destacado na blognovela. Sua obra mais conhecida na rede, 'Weblog de una mujer gorda', foi editada em papel, com o título: 'Más respeto, que soy tu madre'.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

O PLANO - Danny Marks


                O Cabeça está morto. É o que estão dizendo.
                Um murmúrio baixinho que vai ganhando força.
Começou com vocês, do seu lado. Eles até pensaram que era um plano dos meus, mas não. Agora até Eles estão pensando assim, há algum tempo. Os meus talvez pensem, mas não vão falar, nem mesmo pensar, na minha presença.
Ninguém sabe do Plano. O Cabeça nunca revelou. Não há como saber se ainda está valendo, se sobreviveu. Dentro de algum tempo isso não vai importar tanto.
Dentro de algum tempo vai haver guerra. Coisa feia, inevitável. Todas são assim, para os que desejam a guerra. É isso que acontece quando as informações são limitadas, as escolhas reduzidas na ilusão de livre arbítrio.
Quantos realmente tiveram isso? Entre os meus, os Deles, entre os Seus? Não muitos, e sempre deu merda.
Deveriamos ser diferentes, todos nós, escolhidos de lugares e tempos distintos. No entanto as escolhas vão se reduzindo e nivelando a todos em qualquer lugar.
Seria esse o plano? O Cabeça nunca disse o que esperava de nós, o objetivo. Apenas ordens aqui, ali, lá. Faça isso!
Não dá pra discutir com o Cabeça. Ninguém mais tenta.
De tempos em tempos um de vocês é escolhido no mesmo sistema que nós fomos. Uma formula simples de deslocação completa. Esse é o modelo, alguém não muito próximo do inicio, não muito próximo do fim, suficientemente distante do ponto de atuação para não haver um vinculo genético, emocional, de reconhecimento.  Nada.
Sem vínculos, é melhor quando se explode a limitação e se dá o poder de escolha livre.
Vocês nunca notaram.  Alguém que nasceria morto é salvo e levado para outro lugar, outro tempo, outra família. Alguém que deveria existir de uma forma é ressincronizado para aceitar o Coringa, é como os meus chamam. Eles chamam de Desajustado. Fora do Plano, fora de controle Deles.  Só o entorno que não, no inicio.
Se alguém percebesse eles dariam um jeito de ajustar as coisas. Forçar o Plano a aceitar o Desajustado. Alterar memórias, plantar dúvidas, alterar os fatos se necessário. Eles fazem um trabalho perfeito.
Tem que fazer ou os meus entram em ação.
Nós limpamos a merda que Eles fazem, limpamos as merdas que Vocês fazem, vigiamos os vigilantes e ajustamos as coisas. Do nosso jeito.
O Cabeça não gosta disso, mas foi para isso que ele nos trouxe, para sermos odiados e manter as coisas nos eixos.
Todos Eles seguem as ordens do Cabeça sem pestanejar, todos Vocês seguem as opções que o cabeça deixa pra vocês, sem perceber que estão limitados a isso.
E quando alguém sai da linha, Nós entramos em ação.
Alguns acabam passando para o lado de cá, mas a maioria apenas desaparece como sujeira diluída escorrendo pelo esgoto, realimentando o sistema.  Essa é a parte do plano que todos sabem e são obrigados a aceitar. Quando as dúvidas crescem a guerra acontece e dura o bastante para que muitos desapareçam e o equilíbrio seja restabelecido. O Cabeça só assiste.
Eu fui escolhido na primeira Guerra. Contive a segunda, e já sinto o cheiro podre da terceira se aproximando.
O Cabeça deve estar morto, o plano deve estar morto, todos devem estar mortos em breve. É o que andam pensando, e começam a dizer.
Não os meus! Estes sabem o que acontece quando se faz merda. Do lado de Vocês, apagamento, ressincronização; do lado Deles, podem acabar aqui ou desaparecer. Do nosso lado... não, ninguém se atreveria.
As coisas tem sido bem simples até agora.
Vocês pensam que agem, Eles vigiam e os fazem continuar pensando que são livres. Nós vigiamos todos vocês e limpamos as merdas que fazem.  E o Cabeça olha tudo, escreve o Plano, dá ordens. Reescreve tudo se for preciso e depois ordena.
O Cabeça ordena.
Agora o cabeça está morto e o Plano que ninguém conhece pode estar perdido.  O que resta? A guerra? Sem um Plano até mesmo isso fica sem sentido, desapareceria tudo antes que houvesse uma solução. Sem Plano não tem solução. Sem o Cabeça não tem um Plano, e eu preciso dar um jeito nessa merda toda. Colocar as coisas nos eixos.
Seria fácil se eu tivesse aquilo que Vocês acreditam possuir, mas só tenho duas escolhas. No fim, tudo se resume a escolher um lado.
É melhor você escolher o seu. Não importa mais o Plano.
O Cabeça agora sou EU!!!

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