quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

O Jogo - Danny Marks

O Jogo ainda é o meu mais querido trabalho de escrita, o primeiro romance experimental com temática Mítica em que convido os leitores a mergulhar em uma narrativa de subnível, em que as chaves de leitura podem alterar a experiência de leitura, como um jogo em que o leitor é obrigado a ficar atento aos nuances para conseguir passar para o nível seguinte.
É um livro de poucas páginas, mas a história que contém ultrapassa os limites convencionais e se completa no leitor, através do leitor, tornado um jogador que observa à parte do cenário, interferindo sutilmente na narrativa e na compreensão dos eventos.
O desafio é voltar a ler o livro e obter a mesma compreensão. As mudanças e reflexões que O Jogo obriga o leitor a ter, criam um novo leitor, mais sábio, mais preparado para uma nova jornada. O caminho muda o caminhante e o caminhante muda o caminho.
Este também é o livro em que apresentei o mais carismático, sensível, inteligente, sábio e estranho personagem que já criei. Das inúmeras vezes que li a narrativa pela perspectiva dos personagens, as melhores e mais profundas foram pelos olhos deste Ser. E para aqueles que acreditam que um autor não pode aprender com os seus personagens, digo apenas: Inocentes, vocês não conhecem este Jogo, ninguém sai dele do mesmo jeito que entrou. Essa é a regra principal. Vai encarar o desafio?

O Jogo

Não se trata de filosofia ou de psicologia, está muito além disso. Esta não é uma narrativa simples; não é um jogo que se possa vencer sem perdas; não é toda a verdade possível. Nada pode ser dito que esclareça completamente o que está contido nestas páginas. Qual o limite do seu conhecimento? O que fazer quando as respostas trazem mais perguntas que exigem soluções? Nestas páginas você poderá assumir os papeis de leitor, criador, mestre do jogo, expectador, escravo, ou toda e qualquer forma que lhe parecer digna para seguir por este universo de possibilidades que cobram sempre um preço por sua atuação. Você só não pode deixar de acompanhar o que será apresentado sob a pena de que a sua vida mudará, mas sem que você perceba que não é livre de fato. A cada vez que ler estas páginas elas não lhe parecerão as mesmas, tudo terá mudado. Não serão oferecidas respostas ou estratégias, ao contrário, serão exigidas perguntas que, talvez, nunca pensou em fazer e que repercutirão no que vai se transformar. Você está pronto para conquistar a sua liberdade?

Preço do eBook: R$9,99


Disponível em todos os países que tenham a Amazon Books, abaixo alguns links


Detalhes do produto

  • Formato: eBook Kindle
  • Tamanho do arquivo: 1441 KB
  • Número de páginas: 86 páginas
  • Quantidade de dispositivos em que é possível ler este eBook ao mesmo tempo: Ilimitado
  • Editora: Fábrica de Ebooks; Edição: 2ª (19 de janeiro de 2016)
  • Vendido por: Amazon Servicos de Varejo do Brasil Ltda
  • Idioma: Português
  • ASIN: B01AV9JQDG

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

A Escolha de Cypher – Danny Marks


          Para quem ainda não assistiu ao filme Matrix, fique preparado, contém spoilers. É inevitável porque vou fazer referência a um personagem da trilogia cinematográfica como ponto de partida, porque se torna um arquétipo da modernidade. Para entender melhor é necessário dizer que a Matrix é um mundo virtual onde os humanos cultivados e escravizados por máquinas (sistemas), vivem suas vidas em um sonho eterno (ideologias), enquanto suas energias vitais são absorvidas para alimentar as máquinas (sistemas) que os aprisionam.
          Há muitas críticas possíveis a essa forma de roteirização, devido à lógica que ela envolve em seu nível primário, mas isso não arranha a trilogia de filmes porque a base em que se apoia segue o padrão de ação e filosofia existencial que acaba por encantar boa parte do público de uma forma ou de outra. Então vamos nos fixar nesta questão mais filosófica: A Utopia Humana contra a Matrix.
          Cypher é um dos humanos resgatados da prisão das máquinas por um artifício usado dentro da virtualidade da Matrix. Ser resgatado da escravidão é ser lançado no horrível mundo dominado por máquinas assassinas que vão caça-lo e mata-lo implacavelmente, enquanto tenta derrubar o sistema de dentro e de fora. É uma guerra dupla, constante, com resultados duvidosos, para a qual não se está preparado, e da qual não há retorno.
          Ou não havia, porque Cypher consegue fazer um acordo com o seu captor, decide trair os guerrilheiros e voltar a ter uma vida de ilusão, reinserido no sistema até a morte, vivendo em um mundo imaginário com vantagens que não teria na sua vida anterior de escravo, ou na sua vida de guerrilheiro liberto. E por isso é classificado como um dos vilões traidores da humanidade.
          Uma outra questão interessante que segue na mesma linha é dada pelo Arquiteto, uma entidade-programa que vive à parte da Matrix e é responsável por criar a realidade virtual onde os humanos são cultivados até a morte natural. O arquiteto revela que as primeiras versões da Matrix eram projetadas para serem verdadeiros paraísos, as utopias humanas realizadas na virtualidade. Mas não deram certo, os humanos as rejeitavam como real, não aceitavam que a realidade pudesse ser tranquila, benéfica a todos. E, segundo o Arquiteto, colheitas inteiras (de humanos) foram perdidas, até que se inseriu um mundo em que as diferenças e os desafios criassem um estado constante de conflito.
          Como é possível juntar essas duas coisas? O ser humano rejeita um sonho bom, mesmo quando lhe parece real, só porque todos estão bem, basicamente no mesmo nível que si mesmo? Cypher decide voltar a Matrix desde que tenha uma vida boa, mesmo sabendo que será um escravo até a morte, mas não quer lembrar de nada do que viu na sua liberdade, quer esquecer de que um dia foi livre, e voltar para um mundo onde as diferenças e conflitos existem, desde que ele ocupe um lugar acima dos outros.
          Essas duas questões se unem através do paradigma de que a competitividade humana faz parte de sua essência e jamais aceitaria uma total igualdade. Não estaríamos programados pela nossa própria essência humana a aceitar um mundo em paz, onde a ordem absoluta desse a todos os bens que desejavam. Necessitamos lutar para estar acima dos outros, necessitamos nos sentir superiores, necessitamos nos sentir privilegiados, para a vida fazer sentido?
          Isso poderia explicar o motivo de por que inúmeras pessoas desistem dos seus avanços nas lutas sociais, e passam a apoiar os algozes que vão restringir os direitos. A identificação com o carrasco, na chamada “Síndrome de Estocolmo”, estaria impressa na nossa essência. Amamos o predador que nos abate, porque desejamos no mais íntimo, SER o predador. Aceitamos ser as presas porque desejamos sempre abater nossas próprias presas. Essa seria a raiz animal da nossa essência que nem mesmo o verniz cultural conseguiria vencer. Mas será que isso é verdadeiro?
          Será que somos programados pela natureza a viver de forma hierárquica predatória, almejando subir na escala às custas de nossas vítimas, e não mudaremos nunca isso? Estaria a escolha de Cypher determinada em nossos genes? Seria o rebelde guerrilheiro o verdadeiro Messias da Humanidade, dizendo para todos que devemos sim buscar o topo à custa de tudo e de todos que se opuserem a isso, sem limites morais para alcançar o sucesso? Como ter certeza? Teríamos que verdadeiramente criar uma Matrix, onde um mundo perfeito, uma Utopia, fosse criada e vivenciada pelos seus integrantes. Mas tanto na filosofia, quanto na literatura, as utopias estão fadadas ao fracasso. Sempre há uma “serpente” disposta a nos banir do paraíso e nos lançar na dura e cruel luta pela sobrevivência.
          Em todos os milênios de nossa cultura, não conseguimos conceber uma utopia que funcionasse de verdade, não conseguimos aceitar a igualdade de direitos, a capacidade de existir sem que isso implique em tirar do outro algo a mais para nós, que talvez nem precisemos, mas que faremos porque “é a ordem natural das coisas”. Porém, um fator se levanta contra esse paradigma. A cultura é herdada tanto quanto os genes que nos formam. A nossa mente é formada pela sociedade que ajudamos a formar em conceitos e preconceitos.
          Dessa forma, sempre teremos como um ideal o paraíso, a utopia que será alcançada quando nos tornarmos melhores do que somos, mas que precisará ser conquistada através da eterna luta contra nós mesmos. Por isso sempre teremos aqueles que demonstram superiores capacidades de deixar os interesses pessoais pelo bem-estar de todos, sofrendo as penas por ir contra o sistema, que é praticamente uma máquina implacável a destruir os opositores e corromper os fracos. Nos almejamos Salvadores porque não nos sentimos capazes de alcançar sozinhos esse ideal, e repudiamos os Cyphers como traidores da humanidade embora, em nosso íntimo, desconfiamos que poderíamos facilmente fazer a mesma escolha, se nos fosse dada oportunidade.

          É por esse motivo que lançamos as utopias em outro mundo, após a morte, depois de uma purificação do Ser e livre de sua parte animal, mortal e resgatado em sua essência divina e imortal. Por isso que nosso repudio aos que se unem ao sistema opressor se dá de forma raivosa, fruto do medo que temos de que nos seja oferecida a mesma oportunidade e a aceitemos. Fruto do medo de que, afinal, alguém está melhor que nós, a nossa custa. E isso, como animais predadores, não podemos aceitar.


quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

ESCULTOR DE OSSOS - DANNY MARKS



Ele é um artista com uma rara habilidade e ama a sua arte acima de todas as coisas.
Ele é um homem sedutor que não está interessado apenas no seu corpo.
Você precisa conhecer O Escultor de Ossos antes que ele se aproxime de você, porque ele não quer roubar seu coração, ele quer os seus ossos.


Preço Kindle R$ 5,99








Detalhes do produto
Formato: eBook Kindle
Tamanho do arquivo: 661 KB
Número de páginas: 33 páginas
Quantidade de dispositivos em que é possível ler este eBook ao mesmo tempo: Ilimitado
Editora: DRAGONFLY EDITORIAL LTDA; Edição: 1 (18 de abril de 2016)
Vendido por: Amazon Servicos de Varejo do Brasil Ltda
Idioma: Português
ASIN: B01DR2QEW0

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

A Verdade Líquida em tempos de Revolução Tecnológica – Danny Marks

  
          Posso lhe contar uma história? Será algo criado especialmente para você e lhe fará refletir de uma forma muito simples e direcionada sobre questões complexas que todos estão discutindo no momento. Como vou fazer isso? Na verdade, de uma forma bem simples, usando todas as informações que forneceu voluntariamente através das suas redes sociais, compiladas através de um algoritmo que me fornece um mapa do seu perfil psicológico e os pontos em que posso atuar influenciando as suas opiniões e comportamentos, mas relaxe, você não vai nem perceber. Mais provavelmente vai acreditar que todas as suas constatações são apenas suas e que está muito bem fundamentado na sua opinião a respeito de um assunto que, anteriormente, não estaria tão atento assim, mas para o qual foi despertado pelo insight que teve de sua importância, tornando-se um militante da temática apresentada.
          Parece coisa de ficção científica, não é mesmo? Aquelas coisas inventadas por escritores com imaginação fértil que servem para nos assustar de uma forma agradável e nos fazer sair da nossa realidade e dar uma relaxada em um mundo alternativo que, por pior que possa ser, não vai nos afetar de verdade. Afinal a verdade é algo concreto e sólido, consistente e facilmente verificável, que sempre dará um jeito de emergir das sombras da mentira e iluminar a todos com seu poder de diluir os conflitos e nos conduzir no rumo do Bem Maior, com a ajuda de Deus e o apoio dos Homens e da Ciência. Tem sido assim desde os primórdios da nossa civilização, quando os pensadores e filósofos se debruçaram sobre as questões universais, entre elas a busca da verdade e de como alcança-la. E essa busca tem se mantido até hoje, com resultados diversos.
          A Filosofia, mãe de todas as ciências, chegou a ter cinco formas de descrever a verdade. A verdade como correspondência, originária em Platão, diz que a verdade é o que garante a realidade, ou seja, o objeto falado (discurso) é apresentado como ele é. Já o empirismo, a metafísica e a teologia apresentam a verdade como uma concepção de revelação, ou seja, algo que se revelou ao homem por meio das sensações ou pela intervenção de um Ser Supremo que evidência a essência das coisas. Platão e Santo Agostinho retornam com uma outra perspectiva em que a verdade deve se apresentar no sentido da conformidade e adequar-se a uma regra ou conceito, para ser verdadeira. Já no movimento idealista inglês, por volta da metade do século XIX, o filósofo Bradley alega que “o princípio de que o que é contraditório, não pode ser real”, portanto “a verdade é a coerência perfeita”, e assim apresenta-se a verdade como Coerência. Mas há aqueles mais pragmáticos, como Nietzche, que acreditam que a verdade deve ser funcional, ter uma utilidade. Para ele “Verdadeiro não significa em geral senão o que é apto à conservação da humanidade. O que me deixa sem vida quando acredito nele não é a verdade para mim, é uma relação arbitrária e ilegítima do meu ser com as coisas externas”. Portanto, tudo o que não colabora para a conservação do bem para toda a humanidade, poderíamos dizer que é verdade?
          Mas as coisas complicam de verdade, com o perdão do trocadilho, quando a tecnologia recria a realidade em uma forma diferente, seja pela ampliação dos sentidos, seja pela virtualização do que é real, criando uma realidade alternativa sensível à nossa interferência e interação, ampliando e torcendo todos os conceitos de realidade e de verdade que se poderia imaginar ou intuir. Como então buscar uma base razoavelmente sólida e confiável, verificável em seus efeitos sob todos os aspectos práticos, passível de ser reproduzida e que mantenha uma coerência com as revelações que forem produzidas a partir dela ou nela em si mesma? Surge então a perspectiva de que os fatos não mentem, e levantados os fatos e alinhados de forma correta e coerente teremos, por fim, a revelação da verdade de forma incontestável. Só que não é bem assim. Platão também foi o precursor da análise discursiva que investiga os fatos através de técnicas de desconstrução dialética que revelam as suas estruturas elementares e as intencionalidades por trás dos discursos. Ou seja, os discursos são capazes de alinhar os fatos de forma lógica e coerente, revelando uma verdade particular, mas também podem ser usados para selecionar e alinhar fatos de forma a produzir uma verdade alternativa que apenas se parece com a realidade, embora seja consistente de alguma forma com as intencionalidades que lhe foram impressas e sustentada pela verificação dos fatos de forma individualizada e parcial.
          Uma verdade alternativa não é uma mentira, como não é uma mentira um mundo virtual, ou o que é dito em uma rede social, ou a alucinação de um psicótico, porque produz um efeito significativo e concreto naqueles que acreditam nas revelações que traz gerando, por consequência, outras verdades irrefutáveis e não alternativas. Quando a tecnologia permitiu que diversas realidades, concretas ou construídas, inundasse o paradigmático mundo da virtualidade recriando e manipulando narrativas através de um realinhamento de fatos comprováveis que justificariam, de certa forma, as conclusões apresentadas pelas verdades alternativas e flexíveis, criou-se uma crise conceitual do que seria, afinal, uma verdade. Na atualidade vemos os efeitos significativos dessas verdades alternativas construídas com base em fatos fornecidos de forma espontânea ou não, haja vista a ação direcionada de hackers que invadem as privacidades em busca de fatos ocultos para compor as narrativas que lhes servem, temos cada vez menos confiança na verdade como uma coisa libertadora, como até então era vista, grosso modo.
          A verdade líquida dos tempos tecnológicos, nos obriga a repensar as bases sólidas em que se apoiava a concepção de verdade e nos cobra muito mais atenção e flexibilidade na forma de lidar com os conceitos fundamentais da realidade. A realidade, bem como a verdade, tornou-se relativa e é preciso aprender a lidar com essa relatividade de forma eficiente, usando os conceitos padrões e estabelecidos como ponto de partida, não como um fim em si mesmo. A busca pela verdade começa quando buscamos o ponto de partida para iniciar a jornada, demolindo padrões e limitações anteriormente dados como verdadeiros. Embora seja um terreno pantanoso devido à nossa inexperiência em lidar com ele, pode se tornar um terreno fértil para a construção de uma sociedade melhor, mais líquida em seus conceitos. Podemos repensar a sexualidade, os papeis sociais, as responsabilidades individuais, a ética, a moral, etc, incluindo a pluralidade como parte da verdade e não como uma aberração que foge ao que havíamos definido como normalidade.
          Mas é claro que para que o pântano se torne fértil, é preciso também levar em consideração os seus perigos e armadilhas, sua função transformadora que recolhe e transforma o lixo, digerindo-o e tornando-o uma reserva vital importante para a existência. Assim também a verdade líquida deve ser capaz de absorver todo o lixo produzido pelo radicalismo e separatismo e recicla-lo em conceitos mais eficientes e vivos, que preservem o que há de bom e decomponham o que há de ruim, obrigando a todos nós, que navegamos por sua diversidade estranha e sombria, a lidar com o inusitado para encontrar as belezas que produz, evitando as armadilhas pelo conhecimento dos seus mecanismos necessários. Não é negando a verdade líquida dos tempos de revolução tecnológica que poderemos aprender a lidar com ela, e sim mergulhando em seus mistérios e descobrindo os seus tesouros e possibilidades de forma tão real quanto descobrimos suas armadilhas e perigos. Só assim poderemos sobreviver como uma sociedade e construir um futuro cheio de narrativas, reais ou imaginárias, que nos atenda em nossos mais íntimos desejos e nos torne melhores.

          E então, posso lhe contar uma história?

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Permanência - Danny Marks


O Ser peludo colocou delicadamente a pequena flauta feita de osso, que sempre o acompanhara, no oco da arvore que esculpira cuidadosamente para armazenar os seus tesouros. Sentiu a terra tremer mais violentamente e apressou-se. Colocou o couro onde havia desenhado por longo tempo e cortou com a faca de pedra um tufo comprido do próprio cabelo para colocar junto aos outros objetos antes de cobrir a entrada com uma grossa camada protetora de lama e folhas.
Sentiu a garganta arder e caiu cobrindo com o próprio corpo o artefato que criara. Quando o rio de rocha derretida e cinzas cobriu a paisagem já não estava mais em seu corpo.

(....)

A mulher ajeitou o dispositivo leitor na caixa metálica ao lado do sintetizador-modulador. As placas com as amostras de tecido cristalizado já estavam nos devidos receptáculos. Fechou o lacre à vácuo e já ia acionar o dispositivo que colocaria a caixa no centro protetor da coluna de concreto com enrijecimento nuclear, mas mudou de idéia. Rapidamente abriu a caixa e adicionou a pequena flauta de osso que mudara completamente a sua concepção sobre tantas coisas. O Alarme soou mais forte, ela apressou-se a concluir sua tarefa imbuída de uma certeza que poucos da sua espécie ainda conservavam.
Seu olhar recaiu com reverência sobre a estranha pedra oca cortada à laser, em que havia consumido boa parte da sua vida e que lhe trouxera tantas respostas e muito mais perguntas. O couro que havia dentro já se misturara em um amalgama com os pelos, apenas a flauta petrificada estranhamente havia sobrevivido. Ainda assim trouxera uma nova visão sobre muitas coisas, como um sinal de que...
Suas reflexões foram interrompidas pelos cogumelos atômicos que alcançaram as nuvens dissolvendo o ar com línguas de chamas vorazes.

(....)

O Ser estendeu os três dedos com ventosas e desativou o dispositivo eletromagnético que o protegia e observou que todos já estavam recolhidos no êxtase que tornaria os momentos finais uma transição pacífica. Voltou ao seu laboratório e abriu a cápsula em que havia trabalhado desde que suas observações haviam apontado o futuro. Decepou o dedo longo da sua mão esquerda com cuidado, e observou que seu corpo já iniciara a reconstrução da parte faltante, se tivesse tempo logo estaria novamente perfeito para os padrões implantados nas nanomáquinas que cuidavam da sua saúde. Sorriu ao pensar que haveria tempo suficiente, ou não haveria mais nada.
Cuidadosamente trabalhou no dedo amputado usando o cubo transfigurador e o sonorizador molecular reproduzindo o objeto que vira em uma visão ainda na infância e que não conseguira explicar, e que somente agora compreendia de alguma forma o seu objetivo. O objeto esculpido com precisão pelas maquinas era algo estranho aos seus olhos. Colocou-o na boca sem lábios e soprou com força produzindo um som agudo. Tentou novamente desta vez com menos força e deixando um dos furos superiores descobertos. O som foi incrivelmente perfeito, tocou-o como nada antes havia feito. Manipulou seguindo uma escala matemática o som e a sequência de furos abertos ou tampados pelos dedos e se emocionou com o resultado. Era isso que ouvira na sua infância e não lembrava. Não apenas o objeto, também o som lhe viera na visão, mas de alguma forma não lembrava.
Apressou-se em colocar o objeto ao lado do cubo transfigurador e do sonorizador molecular orgânico nos compartimentos necessários completando o equipamento. O novo dedo já dava sinais de regeneração, como um sinal de que as coisas deveriam ser feitas daquela forma, contrariando aqueles que já se recolhiam em êxtase. Acomodou os objetos na capsula e acionou a catapulta quântica.
Quando o halo Solar devorou o planeta, uma chuva de íons colidiu com a aura protetora da cápsula que tremeu ligeiramente abrindo uma microfissura na sua carcaça e desviando o seu ângulo de entrada no buraco de minhoca que fora criado pelo poderoso mecanismo da catapulta quântica que se desfez junto com tudo a volta assim que a capsula penetrou nele.

(....)

O objeto apareceu quase fora da influência gravitacional do terceiro planeta. Um pouco além e teria seguido viagem em direção ao sol onde seria consumido completamente. Mas o pequeno impulso que ainda conservava fez com que fosse capturado pelos campos gravitacionais e em pouco tempo estava sendo projetado como uma bola de fogo na superfície do planeta.
A fissura que tinha na carcaça se ampliou e pouco antes de colidir com o solo as peças que a capsula continha foram lançadas para fora espalhando-se ao longo do breve percurso antes que o poderoso impacto reduzisse o involucro a uma massa disforme de material alienígena.
O dispositivo foi acionado ao perceber os elementos químicos necessários no ar e fez uma varredura nas suas funções promovendo os reparos necessários para que concluísse a tarefa que lhe fora destinada. Procurou no entorno, dentro do limite de seu raio de ação, o objeto que lhe permitiria a matriz necessária para a reconstrução. Não encontrou a referência que necessitava, embora houvesse material genético suficiente para uma adaptação. Registrou automaticamente a posição das estrelas e calculou o seu percurso espaço-tempo percebendo que houvera um significativo desvio angular que o levara além do período objetivado. Recalculou as possibilidades de sucesso e recriou o planejamento necessário para a execução. Começou a trabalhar com as criaturas que se aproximavam implantando uma codificação genética que poderia atingir o necessário estágio evolutivo para que pudesse dar continuidade a sua programação.
Quando conseguira os progressos necessários para a primeira fase, colocou-se em estado de hibernação e protegeu-se com um campo protetor. A paisagem mudou e a cada ano que se passava afundava ainda mais no solo, distanciando-se da luz que lhe reabastecia as baterias.

(....)

O ser peludo se aproximou furtivamente do animal que pastava, estava quase pronto para abatê-lo quando seu pé foi espetado por um objeto pontudo fazendo-o urrar de dor. O animal que pastava fugiu e o ser peludo ficou furioso. Pôs-se a cavar para desenterrar a coisa que o fizera perder a comida e sentiu um estranhamento ao perceber que se tratava dos ossos de um dedo de alguma criatura. Limpou a coisa batendo a terra e soprando para tirar os restos que ficavam aderidos. Então ouviu um som como nunca ouvira antes. Soprou de novo e um novo som aconteceu. Notou que havia buracos que quando tampados mudavam o som que era produzido quando soprava no miolo oco. Esqueceu da fome e da dor, brincando com aquela coisa. Em pouco tempo já testara várias possibilidades de som, combinando assopros com furos tampados e abertos. Voltou para o acampamento com a certeza de que se tornara alguém importante, fora tocado por algo que mais ninguém conhecia ainda. No seu DNA uma sequência determinada de genes foi acionada pelo sutil vibrar do som daquele objeto, disparando uma corrida contra o tempo.


domingo, 5 de fevereiro de 2017

Revista Conexão Literatura - Ademir Pascale


Olá, 

Nossa segunda edição do ano traz como destaque JackMichel, nome artístico das escritoras Jaqueline e Micheline Ramos, do qual os leitores poderão saber mais nas próximas páginas.
Já na coluna Conexão Nerd, trazemos notícias sobre o nosso novo canal no Youtube (https://www.youtube.com/channel/UC5mnMiHWHcACSrx_lbx4bjg), que aborda vários assuntos ligados ao universo geek. E com a ajuda dos leitores, esperamos crescer muito.

Nas páginas da revista o leitor poderá conferir entrevistas com autores, crônicas, conto e dicas de livros ;)

Interessados em anunciar ou publicar em nossa próxima edição, é só acessar a página: http://www.revistaconexaoliteratura.com.br/p/midia-kit.html

Para saber como fazer o download gratuito da revista, é só acessar a página: http://www.revistaconexaoliteratura.com.br/2017/01/edicao-20-da-revista-conexao-literatura.html

Boa leitura, muita paz e luz em seu caminho.

Forte abraço e até a próxima edição!


Ademir Pascale - Editor
Twitter: @ademirpascale
http://www.revistaconexaoliteratura.com.br

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Simpatia para Mudança de Governo - Danny Marks



O que era:
1 - Pegue um governo com um líder incompetente e desacreditado devido ao bando de colaboradores suspeitos de envolvimentos em operações ilícitas.
2 - Junte um grupo interessado em derrubar esse governo a qualquer custo para defender seus próprios interesses.
3 - Arregimente um batalhão de batedores de panela e tocadores de apito que queiram extravasar todas as suas frustrações, preconceitos, raiva e toda sorte de sentimentos negativos.
4 - Crie fantasias, músicas, discursos de como será melhor para a democracia a mudança, como haverá menos ministérios, como não será permitido a “blindagem dos amigos” com cargos públicos pagos pelo povo apenas para garantir um processo mais lento e que dê mais margem para arrumar acordos por baixo dos panos.
5 - Divida e incentive a polarização dos lados insuflando o “Nós contra Eles” com nomes pejorativos para cada um dos lados, fáceis de gritar, de forma que não consigam se comunicar entre sí, evitando que acabem descobrindo que no fundo são todos iguais.
6 - Mexa bem e acrescente doses dos ingredientes 3 a 5 até obter um resultado. Importante: Bata sempre que possível para aumentar a intensidade do efeito. Pode ser para a direita ou para a esquerda, não importa, desde que se mantenha a coisa agitada.

Como fica:
Em pouco tempo você consegue um novo governo, com toda a cara da democracia que plantou nas ruas em meio aos protestos e vandalismos necessários para impor o seu ponto de vista sem medo de passar por cima dos outros. E tenha absoluta certeza de que esse novo governo vai produzir ótimos discursos que não serão cumpridos, vai blindar os seus (dele) amigos com cargos públicos pagos pelo povo, vai tentar abafar todas as denúncias de corrupção que surgirem sobre os seus colaboradores e pode até deixar as coisas piores dizendo que a culpa foi do governo anterior e que está tentando resolver a (própria) situação.

Se não gostar do resultado, basta voltar no passo 1 e começar tudo de novo. Sucesso garantido sem dinheiro de volta. Afinal, SIMPATIA é tudo, não é?

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