quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Pato Com Laranja - Mary Pontes


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Ele forçou a porta, um pouco, que acabou cedendo sem fazer ruído. Caminhou no escuro tomando cuidado para não esbarrar em nada.
                Ela estava sentada na copa, um pato assado iluminado por luz de velas, uma taça de vinho ainda cheia, a música suave preenchendo os vazios.
                O vestido vermelho, decotado, deixava ver o corpo ainda sensual, apesar de não encobrir algumas marcas da idade. As unhas pintadas de vermelho combinando com o baton, a maquiagem leve, feita com cuidado.
                O rosto tinha uma expressão de paz, um leve sorriso de lábios fechados como os olhos. Devia estar pensando nos bons momentos.
                Ele sentiu desejo por ela, não havia notado antes o quanto era bonita.
                Aproximou-se lentamente e puxou uma cadeira sentando-se, colocou a arma sobre a mesa para que ela visse quando abrisse os olhos.
                Ela os abriu lentamente, um pequeno susto inicial, nenhuma outra reação. Teria bebido tanto assim? Não, a garrafa ainda estava cheia.
                — Fique tranqüila, vai terminar tudo bem, eu...
                — Pegue o que quiser e vá, não importa mais.
                — Você não entende. Eu faria isso, antes. Mas ao ver você assim...
                Ela franziu a testa, pensativa por um breve instante, então compreendeu.
                — Tudo bem. Acho que não tem importância agora, é até um tanto irônico, mas...
                Levantou-se e soltou as alças que prendiam o vestido ao seu corpo, deixando que deslizasse até o chão.  Deu um passo vestida apenas com a calcinha de rendas e com a sandália de salto alto, afastando-se  da mesa. Dando as costas para ele e para a arma.
                Ele se aproximou e a enlaçou pela cintura.
                — Ele não vem hoje, não é? O que estava comemorando?
                — Meu aniversário.  Vai fazer muitas perguntas?
                Ele a deitou no carpete grosso, despiu rapidamente as roupas, demorando um pouco na máscara, mas resolveu retira-la também.
                Fizeram amor por várias horas, suave a princípio, mas logo depois com um desejo incontrolável que explodia e renascia constantemente, até que acabaram por adormecer.
                Ele acordou primeiro, o dia já quase raiando. Assustou-se.
                Vestiu rapidamente as roupas. Não queria ser visto ao sair.
                Cobriu delicadamente o corpo adormecido dela com o vestido vermelho, pegou a taça de vinho sobre a mesa e ergueu um brinde:
                — Feliz aniversário, seja qual for o seu nome.
                Tomou o vinho e saiu sem levar nada.
                Ela sentiu a solidão de novo e acordou. Olhou em volta e pensou que tinha sido um sonho até ver o copo vazio sobre a mesa e a arma ao lado do pato.
                Vestiu-se e segurou a arma.  A porta da frente se abriu...
                — Querida, desculpe, não deu para te ligar ontem. Tivemos uma reunião na empresa, e varamos a noite resolvendo algumas questões. Você vai sair? Está toda arrumada. O que é isso sobre a mesa?
                Ela respondeu sem se voltar.
                — Pato com Laranja, para comemorar o meu aniversário.
                — Seu...Ah, amor, desculpe eu...
                Ela se voltou para ele segurando firmemente a arma
                — Não se preocupe, eu recebi o meu presente...

sábado, 17 de outubro de 2009

Campanha de Proteção aos Direitos Autorais

Nada contra que as pessoas copiem e utilizem os trabalhos de autores, mas não custa nada dar os créditos a quem os produziu de fato, afinal, respeitar o trabalho do outro faz parte do prazer de poder usufruir desse benefício. Se você concorda com essa idéia, participe desta campanha.

Obrigado,

Danny Marks

Utilize estas imagens em seus blogs, perfis, etc



segunda-feira, 5 de outubro de 2009


Qual o artista que não gostaria de ver a sua obra em uma Galeria? Provavelmente esse é o sonho de todo artista. Mas, e se a Galeria em questão for Sobrenatural?
Aqueles que tem uma idade semelhante a minha devem se lembrar da fantástica série The Twilight Zone que no Brasil foi lançada com o título de “Além da Imaginação”, e outras séries que se inspiraram no mesmo modelo revolucionário.
Eu sou fã incondicional da série, passava madrugadas assistindo os episódios que sempre traziam um conteúdo interessante e diversificado, não o terror puro e simples, algo com a único objetivo de causar susto ou medo, em cada história havia um fundo para reflexão, um olhar mais crítico sobre a vida e as escolhas que se faz. Uma visão verdadeiramente sobrenatural.
50 anos após, Silvio Alexandre e a editora Terracota resolvem homenagear esse trabalho com um livro de contos e convocam os melhores autores nacionais para apresentarem seus textos.
E, sem falsa modéstia, me sinto orgulhoso de poder integrar essa galeria. Sim, meu conto LIMITES foi um dos escolhidos para esta galeria em especial, o que me deixa realmente muito feliz. De fã passei a autor também, e não há nada mais gratificante do que ter a honra de ver o nome ladeado pelos grandes mestres da literatura fantástica nacional.
Nada mal para um menino que demorava a pegar no sono, refletindo sobre as histórias emocionantes de vida e além-vida que assistia nas madrugadas. Uma prova a mais de que o destino existe, mas ele é traçado pelas escolhas que fazemos ao longo de nossa vida e que há um poder oculto nas sombras, esperando para agir tão logo as decisões tenham sido tomadas.
Agora mais uma oportunidade será dada para que as pessoas encontrem-se pessoalmente com esse poder oculto, essa verdade subliminar que nos sorri por entre as sombras e nos observa atentamente em cada ato.
No dia 31 de outubro de 2009, das 15 às 18h30, na Livraria Martins Fontes, na Av. Paulista, 509 - São Paulo será lançada a antologia GALERIA DO SOBRENATURAL – JORNADAS ALÉM DA IMAGINAÇÃO, organizada por Silvio Alexandre. Haverá uma tarde de autógrafos com direito a coquetel e a exibição do primeiro epísódio de Além da Imaginação (1959), de Rod Serling, numa justa homenagem aos 50 anos da série, e também uma palestra sobre a série e sua importância com a jornalista e pesquisadora Fernanda Furquim.
Quer mais? Leia o livro e faça as suas escolhas, e acredite, Você está sendo observado.
http://www.terracotaeditora.com.br/index_editora.html


sexta-feira, 2 de outubro de 2009

O Homem e o Muro - Danny Marks


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Segundo uma antiga lenda que agora vou contar, existiu em algum lugar, uma cidade cercada por um muro altíssimo que não poderia ser escalado e nem derrubado. Ninguém sabia quem havia construído o muro ou qual o motivo dele estar lá, mas como conviviam com ele desde que nasciam ninguém se importava.
Ou melhor, quase ninguém, porque entre eles nasceu um dia O Incorformado.
O Inconformado era uma pessoa comum, passou sua infância e sua juventude convivendo com o muro, sorria e brincava, trabalhava e pagava suas contas, sofria por amor e tinha lá seus gostos e opiniões como todos. Mas havia uma coisa que o tornava diferente: Não aceitava o Muro que o limitava.
Tudo ia bem, até que um dia o Inconformado decidiu dar um basta na situação: Iria vencer o Muro.
Armou-se de todas as ferramentas necessárias para vencer a barreira e lá foi ele com toda a coragem de que dispunha.
Primeiro tentou escalar o muro, mas provou apenas que isso era mais difícil do que parecia. Resolveu golpea-lo e abrir um buraco nele, mas o muro parecia ser feito de diamante de tão duro. Pouco a pouco suas tentativas foram se frustrando.
Como não podia deixar de ser o boato correu pela cidade e todos foram ver o “Louco do Muro” que dizia iria atravessa-lo custasse o que custasse.
E a multidão delirava a cada fracasso do Inconformado. Alguns o incentivavam a continuar até a morte, e que esta sobreviesse rápido. Outros sorriam balançando a cabeça diante de tamanha estupidez. Moleques mais perversos lhe atiravam pedras e insultos. Mas o Inconformado não desistia.
Não podia mais suportar a ideia de ter que conviver com o muro.
Pouco a pouco as pessoas da cidade foram perdendo o interesse e voltando às suas vidas normais, cercadas pelo Muro.
O Inconformado ficando cada vez mais triste e sozinho.
Um dia percebeu que restava apenas um estranho ao lado dele.
Não o conhecia, o que era impossível. Sendo o Muro intransponível como poderia aquele ter vindo de outro lugar que não a cidade onde todos se conheciam?
— Interessante como quando estamos tão próximos de um problema não conseguimos ver a solução — disse o Estranho.
— De onde é você?
O Estranho apenas sorriu e foi andando para longe do muro e o Inconformado o seguiu, curioso.
— Barreiras foram criadas para nos proteger enquanto não estamos aptos para vencê-las — disse o outro sem ver se o Inconformado o acompanhava — mas elas podem se tornar uma prisão quando nos conformamos em ficar presos dentro delas. As mesmas paredes que o guardam, também podem prende-lo. A menos que você as compreenda e as use corretamente.
— E como farei isso?
— Observe...
Tinham se afastado suficientemente do muro para vê-lo quase por completo e o Inconformado, pela primeira vez, notou que havia uma irregularidade. Uma parte do muro parecia se diferenciar do resto, a poucos passos do local onde havia protagonizado suas frustradas tentativas de escapar.
— Seu instinto o conduziu até um caminho possível, confie nele, mas apenas a sua razão pode compreender um problema e soluciona-lo, confie nela também. Usando os dois vai aprender sobre o funcionamento do problema e aprender como usar os caminhos que descobrir.
De volta ao Muro o Inconformado empurrou a parte que se diferenciava ao longe e esta gentilmente cedeu mostrando uma porta por onde se via uma linda planície. Ele estava livre.
— Sempre soube que havia uma saída! Ah, quantos me chamaram de louco, mas aqui está. Vou esfregar essa porta na cara deles....
— E a perderá para sempre. O que ganha ao mostrar a porta para pessoas que não estão preparadas para atravessa-la? Por que tirar a segurança daqueles que possuem apenas isso, sem nada dar em troca? Quando estiverem preparados para ir além, encontrarão a saída para longe de sua antiga proteção e poderão trilhar a próxima etapa. Somente então deverão fazê-lo. É assim que se tornam mais fortes, vencendo os limites quando estão preparados. Usando seus limites para ficarem confortavelmente seguros enquanto se preparam para os desafios que virão.
— Quem é você? De onde Veio?
— Vim de um lugar onde havia limites que superei. Não resisti em oferecer ajuda a um irmão de caminhada. Podemos andar por um tempo juntos mas logo nossos caminhos se afastarão e cada qual irá buscar o novo limite e tentar supera-lo, Talvez nos encontremos de vez em quando, mas quando o fizermos poderemos nos reconhecer, trocar informações e confiar um no outro.
E dizendo isso o estranho atravessou a porta e foi embora.
O Inconformado soube então que tinha que tomar uma decisão difícil. Fechar a porta e permanecer em território conhecido e seguro? Ir além e arriscar-se ao desconhecido enfrentando o próximo obstáculo? Ficar e tentar ajudar os outros a superar os seus próprios limites e tornar-se um guia na busca pela porta? Em cada decisão um rumo diferente, um desafio a ser enfrentado, um novo Muro.
Compreendeu finalmente que os Muros eram construídos dentro de cada um e que serviam sempre para proteger ou aprisionar, conforme fossem usados.
Com um sorriso tomou a sua decisão. Sentia-se livre para ser feliz e encontrar com alegria o próximo obstáculo que lhe indicaria uma nova fase de crescimento.

E assim o fez...

TUAS QUEDAS - Lariel Frota


Eras tão pequenino
Andavas
Indecisos passos
Tropeçavas
Caias.
As  vezes choravas,
Um abraço,
um afago,
Superavas a dor, e eu dizia:
-"Vai firme"!
Hoje crescido
Caminhas resoluto
Indecisa agora, sou eu
Temendo pelos seus passos.
Entendas que sofro
Já não posso
Aliviar tuas dores distantes.
Pequenino, tentavas
Vacilante, andavas,
Caias teus tombos
Tua pele rosada, ralavas
Em ti parecia
Que a dor não doia.
Hoje perplexa
Pela velocidade do tempo
Confesso
Teu andar,tua procura
Teu caminhar valente,
Me assustam
Pois me mostram a verdade
Sempre foi só teu e não meu
O teu caminhar!!!!!

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

PENSAR - Lariel Frota


Entre o silêncio e o grito,
Há um sufoco, um agito,
Um ser enterrado e aflito,
Procurando o próprio ar.
Entre o grito e o silêncio,
Há uma paz, um consenso,
Uma certeza: se penso,
E posso soltar o meu grito,
Então ainda sou parte da vida
Com a alma insana e atrevida
Que não desiste de sonhar!!!!

PRISIONEIRAS DO TEMPO - Lariel Frota




Presas no tempo, em frangalhos,
Vivem: a menina que ainda espera,
A mulher com sonhos incompletos
E a que já tem cabelos grisalhos,
Que a fazem parecer esperta.
Fala pra menina curiosa: -"O saber liberta".
Vendo que não é ouvida, irritada grita:
-"Mas só a sabedoria santifica".
Grita em vão, a menina está presa,
no seu mundo estranho feito de letras,
Onde beija flores e urubus de tetas,
Simbolos estranhos, lhe fazem caretas.
Quanto mais a velha insiste e grita,
Mais a menina presa se agita,
Se enrosca em verbos e adjetivos,
Tropeça no hífen, cai no substantivo,
Tromba com o pleonasmo e as metáforas,
Se perde no abismo entre linhas,
Derruba aspas, vírgula, ponto de interrogação.
Toda arranhada e com marcas roxas
Sem conseguir ouvir o conselho, responde em gestos:
-"Outra linha, parágrafo, travessão!"

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