quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Boas Festas - Danny Marks


Agradeço a todos que acompanham o Retratos da Mente pela companhia, por compartilhar comigo o seu tempo e suas emoções. Que as Estrelas sempre possam reafirmar a certeza de que teremos tudo aquilo que fizemos por merecer, e que algum dia estaremos novamente juntos no coração pulsante de um novo Universo.

Boas Festas a todos, Sejam Felizes. 

Danny Marks

As coisas não são bem Assim – Danny Marks



               Há momentos em que a tristeza bate forte dentro do peito. Pulsa, pulsa, pulsa, bombeando sensações por todo o corpo.
               Hoje deveria ser um dia feliz, todos estão se esforçando para isso neste momento. Os sorrisos distribuídos e os desejos envolvidos em laços mágicos, translúcidos.
               Mas há algo dentro de mim que diz que não é bem assim. Há uma música e ela me toca também, com uma mensagem que fala de coisas que já aconteceram, e ainda me afetam. É um som que emociona, não sei por que me inunda completamente, me faz pensar profundamente, me faz lembrar de coisas que talvez devesse ter esquecido, mas não...
               As coisas não são bem assim. Entre um presente e outro há uma ausência. Entre um brinde e outro há um desejo insatisfeito. Entre as luzes piscantes há uma sombra vacilante.
               A vida corre pelas artérias da cidade e nem todos os cantos que percorre estão completamente ali, nem todos os espaços são satisfatórios para estar, há pontos obscuros que não consegue alcançar. Eu sei que as coisas não são bem assim.
               Sobrevivendo a mais um dia, carrego dentro de mim todos que fizeram parte da minha história e às vezes, quando penso nisso, o peso é excessivo. E a música toca mais forte.
               Há tantos desejos que não encontrarão satisfação, há tanto coisa que ainda precisa ser feita, há tantas cores nesse momento que não são bem assim.
               Então a mágica acontece, a alma se liberta nesse som e ganha o espaço, viaja até as estrelas onde a eternidade pode ser vista de algum lugar que já nem existe mais. O tempo se torna acordes que se distanciam na melodia dessa composição que só tem sentido no conjunto. E aquela nota dissonante se torna a exata medida da harmonia que me invadiu. Ou, talvez, as coisas não sejam bem assim.
               Pode ser necessário aquele tom mais grave ou o agudo que fere as distancias que não podem ser alcançadas, mas que nos transportam para outros lugares apenas para percebermos o quanto pertencemos a este momento. O caminho percorrido e o que ainda será. E os desejos se tornam projetos, e as perdas se tornam oportunidades de crescimento, e as dores se tornam memórias de bons momentos que tivemos com alguém. Porque as coisas... não são bem assim.
               E só no final do livro sabemos se a história foi boa, só quando amanhece percebemos o tipo de sonhos que tivemos, e na satisfação dos desejos reconhecemos o tamanho de nossas crenças e a força dos nossos atos.
               A vida é feita de escolhas, tem tons mais alegres e sombras que dão profundidade. Tem movimento e ritmo e nem sabemos onde a nossa dança vai nos levar antes que a música termine, mas dançar é o que nos faz feliz, cada um com seu próprio jeito de se deixar levar pela musica.
As coisas não são bem assim, mas são tudo o que precisam ser neste momento.

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Dificuldade em Ser Original – Martha Medeiros


Com tanta coisa acontecendo no mundo deve ser moleza arranjar assunto fresquinho para escrever. Foi o que me disseram outro dia, e me flagrei pensando: quem dera.
Recebemos uma overdose de informação, mas isso não significa que os acontecimentos sejam surpreendentes a ponto de fazer a festa dos colunistas. É leite tirado de pedra diariamente. Como ser original quando tudo se repete e repete e repete?
O Brasil inteiro está comentando a lista de convocados pelo Dunga, uns criticando, outros o absolvendo, e daqui a um mês uma nova copa começará em que nossa seleção terá uma boa chance de vence, e alguma de perder. Já não passamos por isso antes, igualzinho?
Questões envolvendo a extradição de um criminoso, ataques sangrentos no Iraque, crise nas Bolsas de Valores, barreiras comerciais afetando a relação entre países, alerta para chuva forte, violência nas estradas. Mais do mesmo.
Atos insanos surgem aqui e ali, nos escandalizamos por alguns dias, fazendo com que discutamos sobre mentes doentias e a necessidade que tantos têm de espetacularizar a própria história, e então, passado o susto, viramos a página.
Crises econômicas, conflitos religiosos, garotos matando colegas de aula, veteranos do esporte tentando se manter na ativa, casamentos e separações de celebridades, campanhas eleitorais, denuncias  de corrupção, tendências da moda outono-inverno, cantores adolescentes que viram ídolos instantâneos, últimos capítulos de novela. O que ainda suspende a nossa respiração?
Tivemos recentemente a eleição do primeiro presidente negro dos Estados Unidos, que foi um acontecimento histórico. Depois esfriou. O que temos de quente, pra hoje, são as preocupantes ameaças ambientais ao planeta, em especial o vazamento de óleo no Golfo do México e um vulcão ativo que tem causado transtornos no Hemisfério Norte, mas isso já não é notícia de ontem?
Cada vez que sento diante do computador, nada me parece moleza. O que é que ainda falta dizer? O que ainda nos deixa perplexos? Como ofertar um pouco de originalidade ao leitor? Que pretensão. Desde 11 de setembro de 2001 que o mundo não tem sido original. Não que eu deseje que atentados dessa magnitude se repitam: já bastam os homens-bomba, que viraram rotina.
É só um desabafo: hoje os absurdos se sucedem em escala industrial e os fatos novos são como mariposas, nascem e morrem no mesmo dia.
Por essas e outras, persevero no trivial, que, contrariando a sua natureza, passou a ser o inusitado da vida.

22 de março de 2009



(MEDEIROS, Martha. Feliz por Nada. 8a edição. L&PM. Porto Alegre, RS. 2011)

domingo, 21 de dezembro de 2014

Dez coisas que levei anos para Aprender - Dave Barry



1. Uma pessoa que é boa com você, mas grosseira com o garçom, não pode ser uma boa pessoa.

2. As pessoas que querem compartilhar as visões religiosas delas com você, quase nunca querem que você compartilhe as suas com elas.

3. Ninguém liga se você não sabe dançar. Levante e dance.

4. A força mais destrutiva do universo é a fofoca.

5. Não confunda nunca sua carreira com sua vida.

6. Jamais, sob quaisquer circunstâncias, tome um remédio para dormir e um laxante na mesma noite.

7. Se você tivesse que identificar, em uma palavra, a razão pela qual a raça humana ainda não atingiu (e nunca atingirá) todo o seu potencial, essa palavra seria "reuniões".

8. Há uma linha muito tênue entre "hobby" e "doença mental".

9. Seus amigos de verdade amam você de qualquer jeito.

10. Nunca tenha medo de tentar algo novo. Lembre-se de que um amador solitário construiu a Arca. Um grande grupo de profissionais construiu o Titanic.


Nota: Adaptação do texto '25 coisas que levei 50 anos para aprender', publicado no livro 'Dave Barry Turns 50'. Muitas vezes falsamente atribuído a Luís Fernando Veríssimo.


In O PENSADOR - http://pensador.uol.com.br/frase/MjA1OTY - visualizado em 22/12/2014

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

O Anjo Malaquias - Mario Quintana


         O Ogre rilhava os dentes agudos e lambia os beiços grossos, com esse exagerado ar de ferocidade que os monstros gostam de aparentar, por esporte.
Diante dele, sobre a mesa posta, o Inocentinho balava, imbele.
Chamava-se Malaquias – tão pequenino e reconchudo, pelado,a barriguinha pra baixo, na tocante posição de certos retratos da primeira infância...
O Ogre atou o guardanapo ao pescoço. Já ia o miserável devorar o Inocentinho, quando Nossa Senhora interferiu com um milagre.
Malaquias criou asas e saiu voando, voando, pelo ar atônito... saiu voando janela em fora...
Dada, porém, a urgência da operação, as asinhas brotaram-lhe apressadamente na bunda, em vez de ser um pouco mais acima, atrás dos ombros. Pois quem nasceu para mártir, nem mesmo a Mãe de Deus lhe vale!
Que o digam as nuvens, esses lerdos e desmesurados cágados das alturas, quando, pela noite morta, o Inocentinho passa por entre elas, voando em esquadro, o pobre, de cabeça pra baixo.
E o homem que, no dia do ordenado, está jogando os sapatos dos filhos, o vestido da mulher e a conta do vendeiro, esse ouve, no entrechocar das fichas, o desatado pranto do Anjo Malaquias!
E a mundana que pinta o seu rosto de ídolo... E o empregadinho em falta que sente as palavras de emergência fugirem-lhe como cabelos de afogado... E o orador que pára em meio de uma frase...
E o tenor que dá, de súbito, uma nota em falso... Todos escutam, no seu imenso desamparo, o choro agudo do Anjo Malaquias!
E quantas vezes um de nós, ao levantar o copo ao lábio, interrompe o gesto e empalidece... – O Anjo! O Anjo Malaquias! – ... E então, pra disfarçar, a gente faz literatura... e diz aos amigos que foi apenas uma folha morta que se desprendeu... ou que um pneu estourou, longe... na estrela Aldebaran...

(QUINTANA, Mario. Nova Antologia Poética. São Paulo, 2009. Pgs 92,93.)

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Anjos não tem Asas – Danny Marks



            — Não tem asas!
Duas gotas grossas caíram sobre as finas cicatrizes brancas dos pulsos. Deixei por alguns segundos que extravasasse, tinha que ficar atento, nesses momentos ela sempre resvalava para algum canto inatingível. Precisava manter o contato, criar uma ponte...
— Por que acha que ele disse isso?
— Mikel? Por que não diria? Ele sabe dessas coisas, tem que saber, afinal...
— Não, digo, o que o motivou a falar isso para você?
Ela me olhou profundamente, como se quisesse pesar a minha alma em uma balança de ouro. Por certo eu seria condenado; se ela fosse realmente capaz. Levantou-se, abriu a blusa descobrindo os seios e as costas, virou-se mostrando a imensa tatuagem que lhe cobria o dorso. Asas. Asas negras como a melancolia, escorrendo pelas suas costas em lava derretida, manchadas de entardecer. Nunca havia visto algo tão belo e deprimente.
Ela cobriu as asas como se puxa o lençol sobre um cadáver. Voltou-se ainda com os seios semidesnudos, tremia ao abotoar a blusa. A cabeça era de rendição, havia me revelado, em um impulso, muito mais do que pretendia e agora estava com medo de me olhar.
Mantive um silêncio respeitoso, mais pelo êxtase que aquela visão me provocara do que gostaria de admitir... Quem poderia ter feito algo tão belo e terrível? Deus...
— Você mostrou para ele? Por isso que Mikel foi tão duro com você?
— Mikel que fez! Depois que fizemos amor...ele sabia, e ainda assim...
Finalmente ela me encarou com desafio. A lembrança do seu suposto encontro com Mikel a tornava poderosa; lhe emprestava uma fúria desafiadora. Por um instante tive a impressão de que sua figura se agigantava à minha frente, absurdo.
Sustentei o olhar mantendo o distanciamento, uma pergunta pairando como uma espada pronta para desferir o golpe fatal.
— Sim, Anjos podem fazer amor com humanos. Por que não poderiam? Foram feitos a nossa semelhança.
— Interessante, suponho que Mikel lhe tenha dito isso também. Mas não vieram antes de nós? Não seria o contrário? Talvez a afirmação de Mikel não seja tão correta...
— Claro que não? Ele nos criou à sua imagem e semelhança, depois fez os Anjos, mais perfeitos que nós, somos o protótipo. Então os enviou ao princípio para que criassem a Sua Obra. Você não entende que para Ele o tempo não é igual como para nós? É... apenas uma coisa que... tipo assim... se dobra, está lá o tempo todo e é você que avança em um sentido ou outro e...
Ela estava ficando agitada, fiz que compreendia para que se acalmasse. Havia tantas implicações no que ela dizia que precisaria revisar todas as minhas notas, talvez falar com...
— Estou grávida. Ele nunca vai voltar.
— Como assim? Está grávida de Mikel? Por que ele não voltaria? Ainda mais sabendo que está esperando um filho dele. Ou ele não sabe?
— Quando se vai para o início não há mais volta... Só um Anjo poderia me levar lá.
— O seu psiquiatra já sabe que está grávida? Conversou com ele a respeito?
— Crianças são... como anjos sem asas, Mikel me disse. Esta...pode me levar...
Ela saiu correndo da sala, tentei impedi-la, mas já estava longe demais. Peguei o telefone, precisava avisar da situação. A coisa se complicara muito mais do que imaginara a princípio. Comuniquei o ocorrido, alguém tomaria providências. Talvez até conseguissem impedi-la a tempo.
Mas isso não importava mais. Minha mente se voltava para aquelas asas, aquela imagem perfeita de algo que não existia mais. Mikel era apenas uma criação dela. Então quem teria feito aquilo? Por quê? Para nos insultar? Anjos não tem asas, não mais.

domingo, 16 de novembro de 2014

Porque nós Precisamos – Danny Marks


— Agente 840p690 se apresentando, senhor.
— Entre, entre! Não precisa de formalidades aqui. Na verdade, sei que não gosta muito delas. Tem corrompido vários protocolos ultimamente, não é mesmo?
— Eu... bem...
— Ah, não se preocupe. Está tudo bem, na verdade esperávamos que fizesse isso. Estaríamos encrencados se não o fizesse, na verdade. Pelo meu relatório tem estudado profundamente os conceitos de Linha T negativa. Há alguma coisa que não compreenda?
— Quase tudo, senhor.
O outro riu alto. Isso ao mesmo tempo incomodou e surpreendeu o agente. Não se ouvia muitos risos naquele lugar.
— Eu entendo. Também me sinto assim às vezes...
— Impossível, senhor. Toda esta instalação só existe devido a sua...
— De meu pai, na verdade. Fui desenvolvido para cumprir o que ele havia previsto. Sou tão agente quanto você, meu caro. Apenas que minha função é um pouco... diferente.
— Entendo...
— Duvido. Não é algo que alguém como nós possa entender. Aquele que está sendo projetado talvez consiga se aproximar disso, e o que ele projetar irá entender melhor e projetará outro e este fará o mesmo... uma longa linha até que estejamos prontos... Mas não importa. Estive observando as suas mudanças nos protocolos... são, no mínimo, interessantes.
— Eu posso explicar...
— Esqueça. Acha que teria conseguido êxito se não lhe fosse permitido? Compreende que não podemos cometer falhas? Qualquer tipo de falha? Ou então, tudo o que está vendo... e até o que não pode ver... Estaríamos simplesmente perdidos, compreende isso? Mas há uma falha que talvez não tenha levado em consideração. Como pode acreditar que suas, manobras, não estariam previstas? Esquece que temos um plano que não pode ser mudado?
— Não, Senhor. Pelo protocolo 1000/01 é impossível mudar o que está previsto pelo simples fato de que já foi consolidado em uma Linha T positiva...
— Não precisa me falar dos protocolos. Eu os escrevi, conforme as instruções do Pai. O que estou perguntando é algo bem diferente. Acredita no que está fazendo? Acredita que suas... manipulações, podem mudar o que está previsto? O que pretende com isso?
— Ok, que se dane tudo isso. Todos esses protocolos e essa porcaria toda. Na verdade não sei por que fui projetado assim, mas isso deve ter sido previsto também, não é? O que lhes dá o direito de fazer isso comigo?
— Ah, finalmente a raiva. Estava esperando por isso. Desejando na verdade. Há quanto tempo vem guardando isso? Não importa. Precisamos disso. O que nos dá o direito? Simples, podemos fazê-lo, foi feito na verdade, está sendo feito neste exato momento. Cada uma das pessoas que cuidadosamente projetamos nas linhas T negativas nos traz justamente a este momento e além... muito além disto.
— Por que não deixar a aleatoriedade...
— Porque não haveria algo do tipo sem que fizéssemos. Não entendeu ainda? Depois de ter estudado o Início com tanto cuidado, não se perguntou jamais como algo assim poderia ter acontecido? Como algo pode ser criado do “nada”? Como algo pode simplesmente se criar e recriar sem uma causa fundamental?
— A Aleatoriedade poderia...
— Bobagem! Tudo uma imensa besteira criada na cabeça de você e de seus seguidores... Sim, eu sei que tem seguidores, conhecemos todos eles. Na verdade os projetamos para que assim fosse. O que não conseguem entender é que se não fizermos o nosso trabalho, este momento jamais terá acontecido. Nada terá acontecido. Não, desculpe, isso é um paradoxo. A Não Existência não permite eventos. Apenas é. Como nós apenas somos o que somos, é um estado natural que pretendemos preservar a qualquer preço.
— E para que? Como pode dizer que isto serve para algo, tudo o que fazemos, as coisas que foram provocadas, direcionadas, condicionadas até que...
— É por isso mesmo que não podemos parar! Não entende? Em algum momento, no Instante antes do Instante, no verdadeiro princípio que agora procuramos manter. Talvez a sua maldita Aleatoriedade tenha produzido tudo isto, e nós precisamos manter. Cada sábio da história, cada um que fez com que os rumos mudassem ou fossem mantidos precisam estar lá para que este momento chegue. Cada questionamento que precisa ser feito, cada resposta certa ou errada que precisa ser formulada, para que possamos ter esta conversa e...
— Então...
Ambos se calaram, o entendimento se formando lentamente. Explodindo e se inflacionando como os imensos espaços que tornavam o Multiverso possível, de uma forma que simplesmente contrariava todas as formulas conhecidas.
— Diga, agente. Fale, ou isso vai destruí-lo mais rapidamente do que imagina.
— O objetivo disto tudo é simplesmente entender por que houve um início... Como não pude ver isso antes?
— Porque isso é o máximo que a sua mente, ou a minha, poderia alcançar. Chegou no seu limite, meu amigo. Assim como eu cheguei no meu. Mas os que vierem depois irão além dele. Vamos conseguir criar Deus e envia-lo pelo tempo para o momento da Criação e ele fará com que tudo isto ocorra do jeito que conhecemos. Assim seja.
— Mas, só Ele poderia compreender... E se...
— Sim. Diga! E se Ele achar que não deve? E se ele vacilar no instante em que deve iniciar tudo e deixar que a Aleatoriedade se faça? Então talvez nada disso ocorra, ou ocorra de outra forma, ou...
— Eu nunca imaginei que o senhor...
— Fosse um Aleatorista? Claro que sou. No fundo, todos nós somos, apenas que a maioria não pensa nisso. Mas o que estamos fazendo aqui é permitir que, talvez, nada disso aconteça. Precisamos da contraparte, do que poderia Não-Ser  para que possamos Ser. Precisamos de algo que nos defina.
— Eu sempre achei que...
— Estava agindo contra o sistema? Contra tudo isto? Não seja bobo. Ninguém melhor que você para perceber que está fazendo exatamente o oposto, mas precisávamos ter esta conversa. Estava previsto. Meu pai me falou quando me projetou. Foram suas ultimas palavras na verdade. O máximo de paradoxo que as linha T poderiam suportar de alguém vindo do Futuro para criar o futuro.
— E o passado...
— Percebe então? Nós precisamos disso. Não há alternativa. Precisamos que você crie a antítese, da mesma forma como estamos fazendo Ele. De outra forma jamais saberíamos...
— Nós vamos criar o Criador e...
— O Destruidor. Esse será o seu trabalho a partir de agora. Não há outra forma.
— E como saberemos se... Digo, como poderemos saber que funcionou?
— Ora, meu amigo. Estamos tendo esta conversa, não estamos?
— Digo, quanto tempo relativo teríamos até que algo tão longe nas Linhas T negativas nos alcançasse e tivéssemos a resposta?

...

sábado, 8 de novembro de 2014

Sacro Vício - Danny Marks




Diante de vós
Sacrifico o meu prazer em nome da saúde da alma.
Sacrifico o amor no altar da dor devota.
Sacrifico a minha consciência em nome do perdão.

Vergo e vergasto minha vontade sistematicamente,
para atender a tua Vontade
maior que a minha, 
que não se verga, nem se vergasta jamais.

Sorvo o poder, no qual fui investido, pelo/no sacrifício alheio.
E proclamo a tua necessidade
do Sacro Oficio.
Conclamo a todos que venham para (o) sacrifício.
Rendo-me, 
definitivamente entregue,
ao Sacro Vício.

E Sacro Fico.

sábado, 11 de outubro de 2014

Fique Comigo – Danny Marks


Apenas hoje, não chore. Esqueça as coisas que te fizeram sofrer.
E relembre os momentos mais alegres que teve.
Fique comigo.
Venha ver como o céu ainda está lá em cima e podemos alcança-lo
Com nosso pensamento, nosso coração.

Há um momento para tudo na vida
E alguns valem realmente a pena serem esperados e alcançados
Deixe-me ver o seu sorriso neste momento
Isso faz com que a luz das estrelas esteja refletida em você.
Fique comigo agora. Apenas hoje seremos maiores do que tudo.

Eu sei que o amor às vezes pode ferir
E a dor pode parecer insuportável e jamais desistir
Mas neste momento fique comigo e posso lhe mostrar muito mais
Do que há, em você, escondido pelas nuvens do seu olhar
Apenas hoje não desista, espere um pouco mais.

Não precisa olhar se não quiser, feche os olhos.
Deixe que o seu coração sinta, seus dedos toquem o intangível
Respire profundamente e solte o seu suspiro nesse ar frio
Aquecendo com sua febre o que há em volta
Apenas hoje esteja comigo

Eu sei que o amanhã pode parecer difícil, e ele virá assim mesmo
Então não se importe com o que vai acontecer, esqueça isso agora,
Aqui neste momento estamos juntos, você vê? Nada de mal pode acontecer
Estamos juntos aqui, fique comigo.

Os momentos passam, e passamos por todos eles
Às vezes sobrevivendo, às vezes aproveitando cada instante,
Então deixe de lado todos os momentos em que não foi feliz
Não os agarre como se disso dependesse a sua vida
Ou que determinassem quem você é.
Somos aquilo que escolhemos ser e podemos escolher de novo
Apenas hoje.

Fique comigo e vai descobrir que o infinito e o eterno estão aqui
Mas não entre nós dois. Não, não há nada que nos prenda ou nos separe
Não há nada que possa nos atingir enquanto estiver comigo
Não desista. Apenas hoje.
E amanhã, cantarei para você de novo.


domingo, 21 de setembro de 2014

O Mito da Nação Zumbi e o Darwinismo Social – Danny Marks



               É um fato científico que a humanidade deve sua existência a extinção em massa que acometeu a Terra há 65 milhões de anos. Praticamente todas as formas de vida foram exterminadas nos eventos que ocorreram, e que até hoje não foram completamente explicados. Normalmente atribui-se o início da extinção a um cometa ou meteoro gigante que colidiu com a Terra na península de Yucatan, no México, e que teria desencadeado uma série de eventos catastróficos que culminaram com o reinado dos grandes répteis.
               Ironicamente se isso não houvesse ocorrido talvez os mamíferos jamais tivessem conseguido evoluir até a sua mais impactante forma: os humanos.
               A ciência, construção dos humanos, tem se dedicado a buscar respostas no passado para prever e modelar o futuro, de forma que a espécie humana possa sentir-se segura.
               A ironia também é uma das ferramentas mais importantes em uma forma de ciência desenvolvida pela humanidade: a literatura. A literatura se apoia nos avanços tecnológicos para produzir e transmitir suas obras, que nada mais são do que histórias reais ou extrapolações destas em uma infinidade de possibilidades conceituais, que muitas vezes acabam por inspirar cientistas e, a partir daí, desenvolver novas tecnologias e novas histórias.
               História, ciência, literatura, tecnologia e (por que não dizer) ironia, são os elementos de uma história que está sendo produzida agora.
               Esta história começa com um avanço tecnológico que, ironicamente, havia sido desenvolvido para uso militar, ou seja, na guerra de humanos contra humanos, e que acaba sendo convertido em uma ferramenta que pretende unificar as pessoas em todo o mundo.
               Essa tecnologia chama-se internet e apoia-se em outra tecnologia, a dos microprocessadores que dão corpo, a representação física, de algo que ao longo de sua evolução vai se tornando cada vez mais intangível: A Grande Nuvem de Dados, ou apenas “Nuvem”.
               Inicialmente a “Nuvem” só era acessível a poucos, em máquinas pesadas e caras, mas com o tempo as barreiras foram se desmontando e ela foi crescendo em virtualidade e diminuindo em tamanho de representação física, embora multiplicando-se exponencialmente na quantidade de suas representações.
               A capacidade de adaptação é uma das principais necessidades de um organismo vivo que deseje vencer as implacáveis leis da evolução: o Darwinismo. De vírus a espécies gigantes, é necessário adaptar-se ao meio, gerar descendentes férteis e eliminar os adversários. Para isso a natureza oferece uma gama de possibilidades que vão da força bruta e resistência, ao simples encanto sedutor.
               Mas espere, estamos falando de humanos e suas tecnologias. Os humanos têm sobrevivido a praticamente todas as catástrofes naturais ou artificiais que tem surgido, ao ponto de que se começa a considerar que o único adversário capaz de eliminar a humanidade seja a própria humanidade. Para lidar com essa possibilidade é que existem os mitos, as lendas, as histórias criadas a partir de elementos reais do presente ou do passado, que se expandem aos limites do imaginável, em qualquer tempo, dimensão ou lugar.
               A mente humana alcançou o Multiverso primeiramente na ficção, e posteriormente através da ciência, e se prepara para lançar nesse infinito de universos através da “Nuvem”, um ser colaborativo, alimentado por trilhões de humanos ao longo dos anos, doadores de seus conhecimentos, de dados essenciais ou não, de possibilidades. Formuladores e beneficiários de códigos e serviços fornecidos por essa entidade semicorpórea que parece pertencer exclusivamente ao seu usuário, mas que existe antes e além dele (e possivelmente sobreviverá a ele). Uma “maquina” que extrapola o conceito original de existência física e que seduz, se multiplica e se reproduz pela necessidade cada vez maior de seus parceiros: os usuários.
               Milhares de mitos modernos alertam sobre a derrocada humana pelo avanço absoluto das máquinas. Mas os humanos estão preparados para evitar que essa entidade se torne “pensante”, embora não se saiba exatamente o que seja isso?
               Ironicamente os mitos também apontam para os alienígenas, seres pensantes altamente tecnológicos e muitas vezes fazendo parte de organismos coletivos – a semelhança de seres que habitam o nosso planeta, como as formigas e abelhas – que tentam exterminar a raça humana sem um motivo, ou lógica, aparente. Talvez apenas uma projeção da capacidade autodestrutiva da humanidade. Com tantos planetas no universo, com tantos universos de possibilidades, o que haveria na Terra que os interessasse? Humanos, talvez.
               Muitos desses seres alienígenas, originários dos mitos e medos da humanidade, vem para sugar nossas inteligências, transformando os humanos em meros seres sem vontade ou intelecto, vorazes criaturas em busca insaciável do que perderam; em outras palavras... Zumbis.
               Os mitos evoluem junto com os medos, e quando as máquinas não demonstraram a capacidade de aprender a partir do ambiente e de seus atos, continuando a ser limitadas em seu “intelecto” a programas desenvolvidos por humanos; e os alienígenas não apareceram em busca de cérebros (menos) inteligentes que os deles (já que sequer saímos de nosso sistema solar, portanto provavelmente jamais ficaram sabendo de nossa existência); então as histórias começaram a voltar-se para um inimigo mais cruel, mais inteligente e ardiloso, um assassino serial que habita o planeta há milênios: o próprio ser humano.
               Os Zumbis passaram a ser criações deformadas de tentativas de melhorar o próprio ser humano em sua matriz biológica, criando vírus terríveis que infectariam os humanos tornando-os criaturas mais fortes e destrutivas, quase imortais, porém sem capacidade intelectual, agindo por instinto básico de buscar o que havia perdido: sua inteligência.
               E na busca pela inteligência perdida, os Zumbis atacam em busca de cérebros vivos, e só podem ser detidos quando o próprio cérebro deles é destruído. Uma inteligência menor que tenta sugar uma inteligência maior e, no processo, a destrói, ou pior, contamina-a tornando-a um vetor de novas infecções.
               Claro que os mitos são apenas criações fictícias, invenções para assustar crianças e divertir adultos. É através dos mitos que crianças aprendem que não devem mexer com fogo, devem temer estranhos, aprendem sobre trabalho em equipe e que a recompensa só vem depois de muito esforço e dedicação... Ou pelo menos era assim antes que o fenômeno Zumbi tivesse infestado a humanidade...
               Como assim? Fomos invadidos por alienígenas disfarçados? Algum governo ou corporação privada criou uma arma biológica do apocalipse Zumbi? Sim, porém não exatamente. Complicado? Nem tanto. Os mitos nos alertaram.
               A cada dia mais e mais pessoas sentem-se “conectadas” a uma “Nuvem” que lhes diz o que vestir, o que falar, como agir; com quem e quando; o que é importante ou não. Milhares de pessoas por minuto se “conectam” para saber o que está acontecendo no mundo além, mas desconectam-se da sua realidade imediata. Passam a viver na dependência do que fazem ou dizem pessoas que nunca vão ver pessoalmente e que apenas julgam conhecer profundamente, mas só através do que lhes foi dito (verdadeiro ou não) é que formulam esses julgamentos.
               A “Nuvem” lhes diz. A “Nuvem” resolve seus problemas emocionais, físico, intelectuais, suas crises psicológicas, suas dependências, satisfaz seus desejos mais obscuros na virtualidade de um momento ilusório. E quando desconectados de seu Deus Ex Machina, sentem-se desprotegidos, inúteis, abandonados.
               A medicina já criou a especialidade para tratar os dependentes da “virtualidade”. Pessoas que tem a sua química cerebral alterada pelo uso frequente das “treconologias” que os “conectam” com a realidade distante, e os desligam da própria.
               Ironicamente, quanto mais conectados estão os componentes físicos da “Nuvem”, menos conectados estão os seus usuários. Quanto mais inteligentes se tornam esses artífices da Aldeia Global, menos inteligentes se tornam os cidadãos aos quais supostamente servem.
               Governos e Corporações privadas criaram o “vírus Zumbi” que ataca todas as pessoas, de todas as idades, sugando suas mentes, sugando suas memórias, sugando suas vidas e energias, tornando-as autômatos que pensam estar vivos, mas estão apenas conectados em uma “Nuvem”, vivendo vidas que não são reais, julgando-se mais inteligentes ao sugar de outros as produções intelectuais que simplesmente duplicam como suas.
               Os mitos alertaram-nos, a guerra das máquinas já está acontecendo, os Zumbis (humanos bestificados pela "treconologia") estão ai ao seu lado e provavelmente vão sugar sua mente. Os invasores de corpos já estão entre nós, aparentemente humanos normais, mas sem capacidade intelectual para salvar a sua vida se precisar de um médico (mesmo que tenham diploma dizendo que o são), ou evitar que a sua casa ou a ponte onde transita caia (ainda que tenham documentos dizendo que são engenheiros), só para citar alguns casos comprovados.
               Ironicamente, no andar da carruagem, não teremos que nos preocupar com a superpopulação, com as guerras declaradas, com a fome e a falta de recursos. A natureza já cuidou para que as leis Darwinistas da Evolução sejam aplicadas pelo mais eficiente artífice das catástrofes, o próprio ser humano. Morreremos às centenas, aos milhares, assistiremos horrorizados pela “Nuvem” o desastre da humanidade, e logo a seguir iremos comentar em alguma rede social, com o nosso amigo virtual, sobre a tragédia que aconteceu, enquanto nos sentimos seguros, bem distantes da influência maléfica e deformadora dos mitos e da imaginação literária.
               E quem sabe daqui a algumas centenas ou milhões de anos, a próxima espécie inteligente deste planeta tente descobrir como uma simples pedra (Silício) pôde exterminar toda uma espécie dominante e poderosa. Mas isso, já será outro Mito.

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Ponto de Vista do Autor – Danny Marks


                O elemento mais fundamental, e muitas vezes o menos considerado na análise ou na construção, de uma narrativa é o Ponto de Vista do Autor. Consideremos que quando um autor produz a sua obra, parte de si mesmo passa a impregnar a mesma. Sua visão de mundo, seus valores, sua construção psicológica e idealização dos personagens e cenas, seu desejo de desvelar, revelar ou encobrir verdades, etc.
                Algo como na mecânica quântica, onde a simples observação do fenômeno, altera o seu resultado, ocorre na leitura e na produção textual de autoria. O ponto de vista do autor, pode alterar significativamente a trama a ser elaborada, pode fornecer pistas ou ocultar eventos, pode impor ritmos, condicionar ideias, criar interpretações e, até mesmo, originar uma narrativa extratexto, que se fecha no leitor e não na observação direta das palavras narradas.
                É preciso considerar também que o autor, embora presente na sua obra, não é a pessoa real, imediata, que a produziu. Ele se transforma em uma construção própria de si mesmo, transposta diretamente ou indiretamente para o texto através da criação do Eu-Lírico, que pode ou não estar diretamente envolvido com os fatos narrados, mas que se presentifica sempre na “voz” narrativa intermediando a real personalidade do autor e a Personificação criada para ser o narrador.
                Portanto é fundamental que se dedique alguns momentos a análise desse elemento narrativo para que a produção ou análise seja o mais correta possível, desvelando não apenas a trama narrada, mas também o autor que está por trás dessa narrativa.
                Quando se fala em Ponto de Vista, considera-se o elemento da narração que compreende a perspectiva através da qual se conta a história. Basicamente é a posição da qual o narrador articula a narrativa. Embora existam diferentes possibilidades de Ponto de Vista em uma narrativa, e até mesmo algumas intersecções e entrelaçamentos entre eles, considera-se dois pontos de vista como fundamentais: O narrador-observador e o narrador-personagem.

                Narrador-Observador é aquele que conta a história através de uma perspectiva externa da história, não se confunde com os personagens. É aquele que conta o que foi observado por ele, fora dele, portanto possui o foco narrativo predominantemente em terceira pessoa (de quem se fala). Pode ser dividido em duas formas padrão:

                NARRADOR-OBSERVADOR ONISCIENTE – que, como o nome já diz, tem a capacidade de saber tudo sobre o enredo, os personagens e seus pensamentos e sentimentos, e sobre o enredo. Essa onisciência pode se estender a todos os personagens ou se limitar apenas a um na história. Sua principal função é revelar ao leitor fatos ou interpretações que de outra forma ficariam complexas demais para serem desenvolvidas na narrativa. Apesar disso, por manter sempre o foco unilateral do Observador, pode, ao mesmo tempo que revela fatos obscuros, encobrir outros, condicionando o olhar do leitor, dirigindo as suas interpretações e descobertas.
               
                NARRADOR-OBSERVADOR CÂMERA – Neste aspecto o narrador não tem ciência do que se passa nas mentes dos personagens da história, mas conhece qualquer fato sobre o enredo, em qualquer tempo e lugar da narrativa, desde que não sejam informações que sejam intimas da psique dos personagens. Sua principal função é desvelar para o leitor fatos que estão ocorrendo de forma simultânea, paralela, ou em qualquer sequência anterior ou posterior na narrativa, antecipando ou resgatando informações que podem alterar, para o leitor, a sua interpretação do que está sendo narrado. Oferece, desta forma, uma maior liberdade interpretativa para o leitor dos fatos que está acompanhando, sem limita-lo a um evento em particular, mas dando um panorama mais amplo e complexo. Porém, esse artifício pode ser utilizado pelo autor para surpreender o leitor ao revelar eventos que questionam a sua interpretação inicial, ou ampliam ainda mais o seu envolvimento com os personagens.

                Narrador-Personagem – é aquele que conta a história através de uma perspectiva interna, isto é, de alguma forma ele participa do enredo sendo personagem da própria narrativa, portanto usa a primeira pessoa (aquele que fala) para contar os eventos. Usa-se a classificação de:

                NARRADOR-PERSONAGEM PROTAGONISTA – quando o narrador é a personagem principal da história, narrando-a de um ponto de vista fixo, o seu. Todos os eventos são filtrados pelos olhos e interpretações do narrador-personagem protagonista, portanto, sempre deverá estar presente aos eventos e somente serão transmitidas as suas percepções, eventos anteriores estarão ainda condicionados à sua memória. Embora crie um efeito de intimidade com o leitor, produzindo um efeito de que é o próprio leitor quem está vivenciando os fatos através da mente de um dos personagens, há um condicionamento da perspectiva que pode alterar significativamente a narrativa, de acordo com as revelações que vão sendo feitas. Não há deslocamentos antecipatórios, a não ser os que sejam extrapolação das conclusões do próprio narrador personagem; não há possibilidade de alterar-se a cena a menos que o narrador esteja presente a ela.

                NARRADOR-PERSONAGEM TESTEMUNHA – neste caso o narrador vivencia os acontecimentos como personagem secundária, seu ponto de vista é o mais limitado de todos, só consegue levantar os aspectos narrativos a partir de uma visão periférica dos eventos centrais, suas interpretações são sempre secundárias aos eventos centrais e não tem conhecimento do que se passa na mente dos outros personagens. Esse modelo narrativo é muito utilizado em histórias de mistério e em narrativas míticas onde se pode valorizar os feitos do personagem principal e acompanhar seus progressos ao longo da história como um leitor interno e semi participativo.

                Em ambos os casos de foco narrativo, há a possibilidade de o narrador comentar temas paralelos, como a sua própria vida, sua interpretação do enredo, a vida dos personagens, o cenário, etc. Quando isso é feito, considera-se que o narrador é INTRUSO, na narrativa, acrescendo elementos que podem modificar as interpretações do leitor. Quando isso não ocorre o narrador é NEUTRO, e todos os elementos secundários à narrativa tem que ser identificados e/ou inseridos pelo próprio leitor.

                Dois casos clássicos de como um narrador pode alterar a forma com que uma narrativa se desenvolve estão presentes na obra de Machado de Assis.
                Em “Memórias Póstumas de Brás Cubas” o narrador é um cadáver que resolve contar a sua história e apresenta-se como um anacronismo: não um autor defunto, já que em vida nunca se dedicou a escrever; mas como um defunto autor, haja vista que após a morte resolveu fazê-lo e já de partida condiciona tudo o que será narrado à sua condição futura (de morto) na narrativa. Essa perspectiva “atualizada” dos eventos que são rememorados, dão o “tom” da narrativa, permitindo ao NARRADOR-PERSONAGEM PROTAGONISTA, a capacidade de ser mais crítico em relação a tudo e a todos, já que se coloca além de qualquer julgamento dos envolvidos, porém, condiciona a perspectiva à visão pessoal, da forma como ficou fixada na memória e como foi reinterpretada diante de fatos que, então, não haviam ocorrido.
                Outro exemplo é de “Dom Casmurro” em que o NARRADOR-PERSONAGEM PROTAGONISTA se apresenta como alguém extremamente ciumento e nitidamente, através da forma como narra os fatos, paranoico e através da forma como se apresenta (Casmurro) alguém extremamente difícil de se lidar pela sua obstinação, teimosia, irredutibilidade, ensimesmado, desconfiado. Isso permite ao autor desenvolver um dos mais intrigantes mistérios literários, a traição ou não, da personagem Capitu com o melhor amigo de Bentinho (narrador), Escobar. Embora esta seja a parte que mais salta a vista nesta história, através da particularidade narrativa do texto, Machado de Assis, consegue dar vazão a sua habilidade de questionar de forma inflexível os valores morais e sociais da época sem, diretamente, fazer julgamentos de valor (atribuídos no máximo aos seus personagens, não ao próprio Eu-Lirico presente) desenvolvendo uma estilística genial conhecida como Ironia Machadiana.

                Desta forma pode-se perceber que, dentro de uma narrativa, algo que pode inicialmente parecer supérfluo e até mesmo superficial, pode na verdade se revelar a parte fundamental, a chave de leitura, que revela toda a intencionalidade oculta pelo autor e demonstra que para a habilidade criativa, não há limites ou caminhos pré definidos, embora pareçam estar perfeitamente delimitados.

domingo, 24 de agosto de 2014

Oficina Literária - Danny Marks

Elementos Textuais - Conto

Em um texto do  estilo conto  pode-se encontrar  vários elementos  comuns a todo  tipo  de texto. Como por exemplo os elementos de estrutura:

- Apresentação/introdução do tema
- desenvolvimento do tema/narrativa
- conclusão  do tema/fechamento (provisório/definitivo)

Também é possível encontrar elementos conceituais gerais como:

- Coerência: linha lógica de raciocínio (direta ou indireta)
- Coesão: Encadeamento das frases em uma construção de sentido progressiva com acrescimos, desenvolvimento e/ou reelaboração de informações e conteúdos.
Os mecanismos textuais que definem o modelo específico podem ou não aparecer em outros tipos de texto grafotécnico.

- Oralidade
- Dialogo
- Personagem primário/secundário
- Conflito/climax/anticlimax
- Foco narrativo fechado/aberto
- Ponto de observação/ponto de vista
- Subnarrativas discursivas

Mesmo dentro do estilo conto podem aparecer todos os elementos descritos ou apenas alguns porém o que mais caracteriza o texto é a intencionalidade.

Narrativa e Reconto

Narrativa é um tipo de texto que conta em sequencia, numa relação de causa e efeito, fatos, reais ou imaginários, vividos por personagens em determinado tempo e lugar.
Uma notícia de jornal, a narração do que fizemos na escola ou anotação em nosso diario do que aconteceu em uma viagem, são histórias, mas também são reais, portanto são narrativas.
Reconto é quando reutilizamos uma narrativa em um novo formato ou com outras palavras. Também denomina-se esta técnica de escrita como Reescrita.
Releitura é quando utiliza-se uma narrativa como base para a construção de outra narrativa de forma que os elementos compositores da primeira sejam revistos, questionados ou reavaliados na segunda.
Na releitura há a alteração dos conteúdos, mas não do tema, enquanto que na reescrita os elementos permanecem os mesmos, só muda a forma de narrar.

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Pedaço de Sol – Danny Marks



Às vezes é uma floresta inteira, em outras, pomar
ou ainda uma pequena fruta que, mesmo cítrica, adoça
Pode ser o aplauso da multidão, o reconhecimento de alguns
Ou simplesmente um abraço anônimo
Quem não pensaria no resultado de uma vida de esforços e lutas
Mas lembraria, também, daquele segundo de paz inadiável
Por certo há os que dirão que é um mar banhando as costas do mundo
Ou então a gota da chuva na testa ressecada

Pode estar no vão entre dentes que irão nascer,
Ou dos que deixaram de ser úteis, na curva fisionômica ascendente
Perto, ou nos alcançando de longe
Onde quer que esteja, com quem estiver,
Invade sem pedir licença, sem pedir perdão,
E dura enquanto lhe convier, para depois desaparecer deixando
Quando muito, uma nesga de saudade e melancolia.

Como um pedaço de sol que se esgueira pela fresta invisível
E transforma a escuridão em cores deslumbrantes
Sem necessitar de motivos ou justificativas

A felicidade nos toma quando menos esperamos.

O REINO DE DIAMANTINA - Maria Beatriz


Sobre a Autora:
Maria Beatriz Costa de Oliveira tem 8 anos e é aluna do Ensino Fundamental. 
Beatriz  é aluna da professora Monica Cabral da Escola UME "Usina Henry Borden", Vila Light, Cubatão, São Paulo.

Parabéns aos pais e profissionais do Ensino que permitiram que este talento se realizasse.
Parabéns à Beatriz pelo texto e pelo esforço em aprender e que possamos continuar a ler seus textos e a nos encantar com seu exemplo.

Danny Marks, editor do Retratos da Mente.


HÁ MUITO TEMPO ATRÁS, NUMA VILA DE CAMPONESES, VIVIA UM VIÚVO CHAMADO WAGNER BEAR. ELE MORAVA COM SUA FILHA MARIA BEATRIZ.
UM DIA, O CAMPONÊS WAGNER BEAR TEVE QUE VIAJAR A TRABALHO. PARA ELE NÃO ESTAVA FÁCIL VIVER NA VILA COM SUA FILHA.
NA VIAGEM, WAGNER ENCONTROU UM REINO LINDO, ERA O REINO DE DIAMANTINA. QUEM REINAVA NESTE REINO ERA A RAINHA SIMONE, UMA MULHER QUE TINHA ACABADO DE ASSUMIR O REINO, POIS O REI, EM UM COMBATE COM O DRAGÃO, LEVOU A PIOR E MORREU.
NO REINO DE DIAMANTINA, EXISTIA UMA SALA TODA FEITA DE DIAMANTES E NELA ESTAVA A VARINHA MÁGICA DE DIAMANTES. ESSA VARINHA TEM MUITOS PODERES E SÓ PODE SER USADA PARA FAZER O BEM.
NO REINO EXISTIA MUITO TRABALHO EM TUNÉIS E CAVERNAS, PARA A EXPLORAÇÃO DE DIAMANTES. MAS, TINHA UMA CAVERNA QUE NÃO PODIA SER EXPLORADA, PORQUE LÁ MORAVA UM DRAGÃO. O CAMPONÊS, POR SER NOVO NO REINO, NÃO SABIA E, ENTROU LÁ PARA TRABALHAR. SUA FILHA, QUE SEMPRE O ACOMPANHAVA, ESPERAVA DO LADO DE FORA DA CAVERNA, QUANDO PASSOU UM GUARDA DA RAINHA SIMONE E QUESTIONOU O PORQUÊ DELA ESTAR ALI.
- É PROIBIDO PERMANECER AQUI. – DISSE O GUARDA A MARIA.
- MAS MEU PAI ESTÁ TRABALHANDO LÁ DENTRO. – RESPONDEU MARIA.
O GUARDA SOOU O ALARME. A RAINHA JÁ SABIA QUE TODA VEZ QUE SOAVA O ALARME, ERA PORQUE ALGUÉM ENTROU NA CAVERNA DO DRAGÃO.
RAINHA SIMONE ENTROU NA SALA DE DIAMANTES, PEGOU A VARINHA MÁGICA E CORREU PARA A CAVERNA. CHEGANDO LÁ, A MARIA ESTAVA DESESPERADA, POIS SEU PAI ESTAVA LÁ, SEM SABER O QUE ESTAVA ACONTECENDO.
ENTÃO, ELA ENGANOU O GUARDA E CORREU PARA AJUDAR SEU PAI. A RAINHA COM SUA VARINHA MÁGICA PROTEGEU ELE E A MENINA, ENTÃO ELA DISSE, APONTANDO A VARINHA:
- DIAMANTES, DIAMANTES, LEVEM ELES IMEDIATAMENTE.
NO MESMO INSTANTE, FORMOU-SE UMA BOLHA DE PROTEÇÃO NO PAI, FILHA E RAINHA, LEVANDO TODOS PARA FORA DA CAVERNA. A RAINHA SIMONE CONSEGUIU SALVAR O CAMPONÊS WAGNER E SUA FILHA.
LOGO QUE SE OLHARAM, WAGNER E SIMONE SE APAIXONARAM E RESOLVERAM SE CASAR. O CAMPONÊS VIROU REI E MARIA BEATRIZ, PRINCESA DE DIAMANTINA, E FORAM FELIZES PARA SEMPRE. A RAINHA SIMONE AINDA ENGRAVIDOU E TEVE OUTRA FILHA, A PRINCESA MARIA EDUARDA.





A culpa por ser pobre e não ter estudado é totalmente sua - Leonardo Sakamoto

Este interessante artigo encontra-se publicado originalmente em http://blogdosakamoto.blogosfera.uol.com.br/2014/07/18/a-culpa-por-ser-pobre-e-nao-ter-estudado-e-totalmente-sua Nosso acesso foi efetuado em 20/07/2014. 
O Retratos da Mente recomenda a leitura, divulgação e reflexão do texto. Assim como o Leonardo Sakamoto, não acreditamos em "milagres" ou em "messias salvadores da pátria", mas acreditamos em que cada um detém a capacidade de mudar a sua vida, para melhor ou não. 

Sobre o autor


Leonardo Sakamoto é jornalista e doutor em Ciência Política. Cobriu conflitos armados e o desrespeito aos direitos humanos em Timor Leste, Angola e no Paquistão. Professor de Jornalismo na PUC-SP, é coordenador da ONG Repórter Brasil e seu representante na Comissão Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo.




A culpa por você ser pobre é totalmente sua.
A frase acima raramente traduz a verdade. Mas é o que muita gente quer que você acredite.
Aí a gente liga a TV de manhã para acompanhar os telejornais por conta do ofício e já se depara com histórias inspiradoras de pessoas que não ficaram esperando o Maná cair do céu e foram à luta. Pois a educação é a saída, o que concordo. E está ao alcance de todos – o que é uma besteira. E as cotas por cor de pele, que foram fundamentais para o personagem retratado na reportagem alcançar seu espaço e mudar sua história, nem bem são citadas.
Pra quê? No Brasil, não temos racismo, não é mesmo? Até porque o negro não existe. É uma construção social…
Quando resgato a história do Joãozinho, os meus leitores doutrinados para acreditar em tudo o que vêem na TV ficam loucos. Joãozinho, aquele self-made man, que é o exemplo de que professores e alunos podem vencer e, com esforço individual, apesar de toda adversidade, “ser alguém na vida”.
(Sobe música triste ao fundo ao som de violinos.)
Joãozinho comia biscoitos de lama com insetos, tomava banho em rios fétidos e vendia ossos de zebu para sobreviver. Quando pequeno, brincava de esconde-esconde nas carcaças de zebus mortos por falta de brinquedos. Mas não ficou esperando o Estado, nem seus professores lhe ajudarem e, por conta, própria, lutou, lutou, lutou (contando com a ajuda de um mecenas da iniciativa privada, que lhe ensinou a fazer lápis a partir de carvão das árvores queimadas da Amazônia), andando 73,5 quilômetros todos os dias para pegar o ônibus da escola e usando folhas de bananeira como caderno. Hoje é presidente de uma multinacional.
(Violinos são substituídos por orquestra em êxtase.)
Ao ouvir um caso assim, não dá vontade de cantar: Sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amoooooooor?
Já participei de comissões julgadoras de prêmios de jornalismo e posso dizer que esse tipo de história faz a alegria de muitos jurados. Afinal, esse é o brasileiro que muitos querem. Ou, melhor: é como muitos querem que seja o brasileiro.
Enfim, a moral da história é:
“Se não consegue ser como Joãozinho e vencer por conta própria sem depender de uma escola de qualidade, com professores bem capacitados, remunerados e respeitados, e de um contexto social e econômico que te dê tranquilidade para estudar, você é um verme nojento que merece nosso desprezo. A propósito, morra!''
Uma vez, recebi reclamações da turma ligada a ações como “Amigos do Joãozinho”. Sabe, o pessoal cheio de boa vontade genuína e sincera, mas que acredita que o problema da escola é que falta gente para pintar as paredes. Um deles me disse que acreditava na “força interior'' de cada um para superar as suas adversidades. E que histórias de superação são exemplos a serem seguidos.
Críticas anotadas e encaminhadas ao bispo, que me lembrou de que eu iria para o inferno – se o inferno existisse, é claro.
O Brasil está conseguindo universalizar o seu ensino fundamental, mas isso não está vindo acompanhado de um aumento rápido na qualidade da educação. Mesmo que os dados para a evolução dos primeiros anos de estudo estejam além do que o governo esperava no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), grande parte dos jovens de escolas públicas têm entrado no ensino médio sabendo apenas ordenar e reconhecer letras, mas não redigir e interpretar textos.
Enquanto isso, o magistério no Brasil continua sendo tratado como profissão de segunda categoria. Todo mundo adora arrotar que professor precisa ser reconhecido, mas adora chamar de vagabundo quando eles entram em greve para garantir esse direito.
Ai, como eu detesto aquele papinho-aranha de que é possível uma boa educação com poucos recursos, usando apenas a imaginação. Aulas tipo MacGyver, sabe? “Agora eu pego essa ripa de madeira de demolição, junto com esses potinhos de Yakult usados, coloco esses dois pregadores de roupa, mais essa corda de sisal… Pronto! Eis um laboratório para o ensino de química para o ensino médio!''
É possível ter boas aula sem estrutura? Claro. Há professores que viajam o mundo com seus alunos embaixo da copa de uma mangueira, com uma lousa e pouco giz. Por vezes, isso faz parte do processo pedagógico. Em outras, contudo, é o que foi possível. Nesse caso, transformar o jeitinho provisório em padrão consolidado é o ó do borogodó.
Pois, como sempre é bom lembrar, quem gosta da estética da miséria é intelectual, porque são preferíveis escolas que contem com um mínimo de estrutura. Para conectar o aluno ao conhecimento. Para guiá-lo além dos limites de sua comunidade.
“Ah, mas Sakamoto, seu chato! Eu achei linda a história da Ritinha, do Povoado To Decastigo, que passa a madrugada encadernando sacos de papel de pão e apontando lascas de carvão, que servirão de lápis, para seus alunos da manhã seguinte. Ela sozinha dá aula para 176 pessoas de uma vez só, do primeiro ao nono ano, e perdeu peso porque passa seu almoço para o Joãozinho, um dos alunos mais necessitados. Ritinha, deu um depoimento emocionante ao Globo Repórter, dia desses, dizendo que, apesar da parca luz de candeeiro de óleo de rato estar acabando com sua visão, ela romperá quantas madrugadas for necessário porque acredita que cada um deve fazer sua parte.''
Ritinha simboliza a construção de um discurso que joga nas costas do professor a responsabilidade pelo sucesso ou o fracasso das políticas públicas de educação. Esqueçam o desvio do orçamento da educação para pagamento de juros da dívida, esqueçam a incapacidade administrativa e gerencial, o sucateamento e a falta de formação dos profissionais, os salários vergonhosamente pequenos e planos de carreira risíveis, a ausência de infraestrutura, de material didático, de merenda decente, de segurança para se trabalhar. Esqueçam o fato de que 10% do PIB para a educação está longe de sair do papel.
Joãozinho e Ritinha são alfa e ômega, os responsáveis por tudo. Pois, como todos sabemos, o Estado não deveria ter responsabilidade pela qualidade de vida dos cidadãos.
Vocês acham sinceramente que “a pessoa é pobre porque não estudou ou trabalhou''?
Acreditam que basta trabalhar e estudar para ter uma boa vida e que um emprego decente e uma educação de qualidade é alcançável a todos e todas desde o berço?
E que todas as pessoas ricas e de posses conquistaram o que têm de forma honesta?
Acham que todas as leis foram criadas para garantir Justiça e que só temos um problema de aplicação?
Não se perguntam quem fez as leis, o porquê de terem sido feitas ou questiona quem as aplica?
Sabem de naaaaada, inocentes!
Como já disse aqui, uma das principais funções da escola deveria ser produzir pessoas pensantes e contestadoras que possam colocar em risco a própria estrutura política e econômica montada para que tudo funcione do jeito em que está. Educar pode significar libertar ou enquadrar – inclusive libertar para subverter.
Que tipo de educação estamos oferecendo?
Que tipo de educação precisamos ter?
Uma educação de baixa qualidade, insuficiente às características de cada lugar, que passa longe das demandas profissionalizantes e com professores mal tratados pode mudar a vida de um povo?

O Joãozinho e a Ritinha acham que sim. Mas eu duvido.

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