terça-feira, 26 de maio de 2009

O Curioso Caso de Benjamin Button - Danny Marks



Ficha Técnica
Título Original: The Curious Case of Benjamin Button
Gênero: Drama
Duração: 166 min.
Ano: 2008
Distribuidora: Warner Bros
Direção: David Fincher
Roteiro: Eric Roth e Robin Swicord, baseado em estória de F. Scott Fitzgerald
Elenco
Brad Pitt (Benjamin Button)
Cate Blanchett (Daisy)
Julia Ormond (Caroline)
Faune A. Chambers (Dorothy Baker)
Elias Koteas (Monsieur Gateau)
Donna DuPlantier (Blanche Devereaux)
Jacob Tolano (Martin Gateau)
Ed Metzger (Teddy Roosevelt)
Jason Flemyng (Thomas Button)
Tilda Swinton (Elizabeth Abbott)
David Ross Patterson (Walter Abbott)
Joeanna Sayler (Caroline Button)
Taraji P. Henson (Queenie)
Mahershalalhashbaz Ali (Tizzy)
Fiona Hale (Sra. Hollister)
Patrick Thomas O'Brien (Dr. Rose)
Danny Nelson (General Winston)
Marion Zinser (Sra. Horton)
Paula Gray (Sybil Wagner)
Taren Cunningham (Elizabeth Abbott - jovem)
Elle Fanning (Daisy - 7 anos)
Madisen Beaty (Daisy - 10 anos)
Peter Donald Badalamenti II (Benjamin Button - 1928 a 1931)
Robert Towers (Benjamin Button - 1932 a 1934)
Tom Everett (Benjamin Button - 1935 a 1937)
Spencer Daniels (Benjamin Button - 12 anos)
Chandler Canterbury (Benjamin Button - 8 anos)
Charles Henry Wyson (Benjamin Button - 6 anos)

“Já te contei que fui atingido por um raio sete vezes?”

Qual a melhor forma de analisar o filme “O Estranho Caso de Benjamin Button”?
Pelo lado literário?
Benjamin Button cumpre, com a sua vida, o desejo de Mark Twain que acreditava que o homem seria muito mais feliz se nascesse aos 80 anos e fosse se tornando jovem com a passar dos anos.
Como um relógio rodando ao contrário, Benjamin nasce velho, senil, a beira da morte, e vai rejuvenescendo até tornar-se irremediavelmente jovem, e morrer.
Mais do que o desejo de juventude eterna, o que o filme retrata é o desejo que todos temos de acompanhar a maturidade da alma com o vigor da juventude.


Pode-se analisar pela vertente da Psicologia?
O Relojoeiro Cego que constrói um relógio que desafia a regra da vida e regride no tempo.
E o tempo está permanentemente aparecendo no filme, como um pano de fundo que passa quase despercebido. Do Deus Chronos que devora os filhos ao contraste marcante dos dois extremos do mesmo circulo, a juventude infante e a maturidade senil.
O Tempo Cronológico dos eventos que se sucedem como o fim da primeira guerra, e o inicio da segunda, a subida do homem ao espaço, a mulher mais idosa a atravessar o canal da mancha, realizando um sonho de se sentir viva, de deixar sua marca no mundo.
O tempo biológico dos anciões no asilo em contraste com o tempo rejuvenescedor de Benjamim. A vida de todos que cruzam o seu caminho, realçando as degenerações e reavivando as realizações.
Temos também o tempo climático, as tempestades, o furacão Kathrina que devastou a cidade na época em que ocorreu de fato. Ficção e realidade sem fronteiras, como o tempo efêmero em sua passagem e real em seus efeitos.
O Relojoeiro Cego que sabe exatamente para onde vai, embora surpreenda a todos quando o faz de forma misteriosa.
Mas, resolvi analisar o filme por outra vertente, algo que ao meu ver unifica todos os pontos anteriores e muitos outros em um só: Os Raios que Caem em nossas vidas.
E isso fica marcado pela fala do simpático ancião que foi atingido sete vezes pelo raio:
_ Já te contei que fui atingido por um raio sete vezes?

- No telhado enquanto consertava o vazamento
- Atravessando a rua para pegar a correspondência
- Cuidando das vacas no campo
- Em um passeio de caminhão
- Ou simplesmente andando com o cachorro.

Mas não são apenas estes raios, mais explícitos, que surgem na história. Há o que atingiu o próprio Relojoeiro Cego, ao perder o seu filho ainda jovem para a guerra e que o faz decidir criar a anomalia de Benjamin como resposta ao mundo louco em que vivemos.
- Há o raio que leva a vida da Sra Button no instante do parto
- Há o raio que atinge o Sr Button ao ver o filho que o destino lhe deu em sua viuvez precoce e lhe levou a alegria de viver.
- Há o raio fulminante que abate o pastor que ensina Benjamin a dar os primeiros passos
- Há o raio que atinge Caroline, filha de Daisy, ao descobrir que Benjamin é o seu verdadeiro pai.
- Vários raios atingem a bela Daisy durante a sua vida, como aquele que lhe tirou a arte da dança, a decisão de Benjamin de abandoná-la e à filha, reproduzindo o ato de seu pai inconscientemente.
- Mas, os mais marcantes são os que atingem Benjamin Button, marcando cada passo, cada nova etapa de sua vida.
Perde a mãe ao nascer, é rejeitado pelo pai e adotado por uma estranha.
Descobre que terá que dividir o amor de sua mãe com uma irmã.
Decide abandonar a sua casa, começa a trabalhar, faz os seus rituais de passagem com bebidas e mulheres, perde pessoas que ama, conquista o seu lugar no mundo, torna-se homem.
Volta para casa, reencontra seu primeiro amor, conhece o pai e descobre sua história, tendo que encarar o passado sombrio.
Faz as pazes com o passado, aprende a perdoar os outros e a si mesmo, descobre que a vida é muito mais do que fazer escolhas, é aceitar que nem todas escolhas nos são agradáveis e que não há como saber o que elas nos trarão no futuro, aprende sobre o si mesmo.

Ao longo da vida de Benjamin, passamos a nos ver como em um espelho, cada particularidade de riso e de dor, cada pequeno nuance escondido, como a bondosa Miss Mapple que lhe ensina a tocar piano e a preparar-se para todos os momentos como se fosse o mais importante de sua vida, mesmo que nada aconteça.

Conexões, vidas que se entrelaçam e criam a malha do destino, nos oferecendo as opções da vida, nem sempre agradáveis, muitas vezes cruéis e injustas.

E ao longo do tempo, o relógio vai girando ao contrário até ser substituído por outro mais moderno, porque o tempo não para, seja para que lado corra, e tudo o que tem um início deve ter um fim.
E como diria a sábia Miss Mapple, é necessário que assim seja para que possamos saber que amamos de verdade, porque é o fim que nos dá o sentido de tudo o que aconteceu. É no final que sabemos o quanto estávamos tensos, emocionados, apaixonados, vivos, e o quanto isso nos fez bem de fato, não importa quantos raios nos tenham atingido, para que soubéssemos que estávamos vivos, e até por eles, porque a vida não foi feita para ser analisada, apenas apreciada e vivida.

O Futuro é um mistério e as únicas certezas de nossa vida são que nascemos um dia e que em algum momento deixaremos apenas lembranças de nossa passagem.

Mentira, Fantasia e Virtualidade, as faces do Novo Paradigma Cultural




Como blogueiro, ativista cultural, escritor e estudante, estou sempre me deparando com questões e textos controversos em vários meios de comunicação. Segundo o ditado popular, “opinião é como braço, cada um tem o seu”.
Sempre procuro respeitar as opiniões que encontro, o que não significa que, necessariamente, precise concordar com elas ou até, quando for o caso, combatê-las.
Mas, algumas vezes, me deparo com alguns casos que não compreendo a construção lógica do autor e tento aprofundar o tema para poder compreender melhor.
Na intenção de ampliar ainda mais o conteúdo cultural deste blog, resolvi criar a coluna “Minha Opinião”, onde pretendo apresentar textos que causem estranhamento e buscar entendê-los através de uma análise mais aprofundada, disponibilizando esse meu debate interno para os colegas poderem apresentar o seu parecer, ampliando a questão ou até criando novos textos para debates.
Como estréia desta coluna, apresento um texto extraído do Blog Ana R - Sobre Todas as Coisas com uma matéria de Rosely Saião, psicóloga e colunista do jornal Notícias Populares e da seção Sexoteen, do UOL

Texto Original Transcrito:

Dia da mentira por Rosely Saião

Todo mundo sabe que hoje é o dia dedicado à mentira e que as crianças adoram planejar brincadeiras e pegadinhas para aplicar nos colegas nesse dia. Tudo bem: isso é saudável e lúdico já que há um contexto para tanto. Porém, hoje quero falar da importância de se ensinar o amor à verdade aos filhos.
Em tempos em que os pais estão ocupadíssimos em preparar os filhos para o futuro no sentido prático e instrumental, um grande número deles se esquece de que a base da educação familiar reside em outro foco: na transmissão das tradições familiares e na educação moral.
Desde pequenas as crianças já podem aprender a importância que devemos dar à verdade. Mas, vamos reconhecer: tem sido muito difícil ensinar o valor da verdade no mundo contemporâneo. Vou tomar a Internet como um dos elementos que torna isso ainda mais difícil.
Não há dúvida alguma de que a ampla divulgação de todo o tipo de informação que ocorre na internet é importante. Entretanto, como qualquer pessoa pode publicar qualquer coisa na internet, como saber se as informações encontradas correspondem à verdade?
Vamos considerar um aluno que busca na internet conteúdos para realizar um trabalho escolar. Para saber se o que encontrou é digno de confiança em relação ao conhecimento, é preciso ter uma bagagem teórica muito sólida, o que os estudantes ainda não têm porque estão em formação para ter. Por isso, podem valorizar conteúdos sem nenhum rigor científico. O mais sensato seria incentivar os alunos a pesquisarem o conhecimento em publicações fidedignas, como os livros, por exemplo.
Voltemos è educação moral. Uma criança pequena depende dos pais para viver, por isso precisa confiar neles. Se ela percebe que os pais mentem a ela – e as crianças percebem isso rapidamente e com clareza – perde a confiança nos pais e, como conseqüência, tem seu desenvolvimento prejudicado, além de passar a dar valor à mentira.
No cotidiano, os adultos cometem pequenas mentiras para preservar sua intimidade, sua privacidade. Um exemplo: mandar dizer que não está para evitar um telefonema de trabalho em horário de descanso. Mas isso precisa ser explicado à criança para que ela não passe a valorizar a mentira.
Algumas atitudes dos pais, que são observados atentamente pelos filhos, podem ensinar a mentira aos filhos. Arrumar atestado médico para justificar a falta em dia de prova quando ele não esteve doente; orientar o filho a dizer que o pneu do carro do pai furou para explicar o atraso na chegada da escola; encontrar para o filho alguma desculpa que justifique sua falha na escola. Todos esses exemplos são reais e apontam a direção contrária à de uma boa educação moral.
Por isso, o dia da mentira até tem seu valor: o de indicar que a mentira intencional, desde que não prejudique nem desrespeite ninguém, é aceitável. Mas apenas nesse dia.
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Minha Opinião:

Para que se entenda a complexidade do assunto é preciso buscar nos filósofos e estudiosos contemporâneos o embasamento necessário para desenvolver o tema.
Com base no que o Edgard Morin apresenta no livro O Pensar Complexo (ed Garamond) a cultura da modernidade sofre do mal de fragmentação ao extremo, da especialização absoluta, o que torna o saber dissociado do contexto onde poderia se aplicar.
Nesse contexto são geradas inúmeras crises que poderiam ser evitadas ou, no mínimo, previstas se houvesse uma visão das interrelações do todo com as partes.
Ele sugere que através dos sete saberes (O Conhecimento, o conhecimento pertinente, a identidade humana, a compreensão humana, a incerteza, a condição planetária e a Antropo-ética) será possível apresentar um novo paradigma para a educação, onde cada parte sofre influência do todo e o todo influencia diretamente cada parte. O aprendizado é apresentado de forma holística
Junte-se os fatos da Crise da Modernidade e os relatos dos livros didáticos e paradidáticos que são comprados e distribuídos sem que haja uma revisão adequada e muitas vezes contendo falhas de conteúdo ou material desnecessário, e tem-se uma problemática em indicar livros como sendo uma fonte de pesquisa melhor que a Internet.
Neste ponto, é importante destacar a diferença entre a cultura do texto e a do Hipertexto.
A cultura do texto é linear e inicia-se em um ponto e segue traçando-se uma reta pelo desenvolvimento até a sua conclusão de uma forma restrita e direta, eliminando-se e/ou ignorando-se qualquer variável ou desvio do argumento central.
Já o Hipertexto valoriza os acréscimos tangenciais que se ligam à argumentação central através de um Link (uma conexão que remete a um novo caminho argumentativo) que pode ou não ser acionado a qualquer instante. Nesse formato os saberes se interligam acrescentando uma visão ampla ao tema central sem se desviarem do mesmo. Cada ramificação, ou link, pode ser explorado antecipadamente, durante ou posteriormente a argumentação central, tornando possível revisitar o tema com novas abordagens além de permitir uma conexão mais ampla com o objeto de estudo e as diversas facetas da realidade.
Edson Cruz, Nelson Magrini, Marcelino Freire, Dalmo Duque dos Santos, entre outros escritores, professores e divulgadores culturais da atualidade, ressaltam a necessidade de trabalhos como o apresentado pela Wikipédia (www.wikipédia.com.br) onde qualquer pessoa pode apresentar textos sobre qualquer assunto, porém, todos os usuários podem fazer ou solicitar correções e/ou acréscimos que são avaliados pelos organizadores. Descoberta alguma falha ela é corrigida não apenas pelos organizadores, mas pelo conhecimento acumulado de toda a comunidade que usa o veículo, o que supera a visão de qualquer revisor individual com larga margem de escala e rapidez.
O blog, veículo cada vez mais utilizado para comunicação, e que foi, inclusive, fonte da matéria que deu origem a este texto, também sofre o mesmo procedimento, embora em menor escala.
Essa crise de paradigmas que a atualidade está enfrentando já foi apresentada por Marylin Ferguson, no livro “A Conspiração Aquariana”, publicado 20 anos antes dos trabalhos de Edgard Morin, e apresenta um comparativo apontando as mudanças de paradigmas em vários setores sociais.
Marilyn intuiu que e a sociedade queria mudar, pois o "status quo" não satisfazia. Esta transformação se opera através de 4 fases, segundo seu livro:

- Há na sociedade um sentimento de vazio, de nojo, de insatisfação, de tédio consumista. Compra-se, consome-se, come-se, diverte-se, mas a sensação de nojo e vazio continua uma realidade dolorida. As pessoas estão insatisfeitas.
- Neste estado de coisas, neste estado de espírito, nesta ansiedade, parte-se em busca de respostas.
- A integração - a pessoa começa a refletir mais e a selecionar para si um mestre, um guru interior e nesta fase a pessoa experimenta uma grande "cura", a cura psicossomática. Qualquer terapia vale. A pessoa intui que estas idéias respondem às suas ansiedades, aceita-as, entra "na rede" e se faz mais um seguidor para a grande conspiração aquariana.
A conspiração - a pessoa já está sintonizada com as idéias propostas pelos grupos, que são inúmeros, e assim vai se criando uma Rede Universal de "conspiração silenciosa" que pretende com isto dar uma nova visão de mundo e curá-lo, expandir sua consciência para levar a paz ao cosmo. Expandir todo o potencial humano retido, reprimido acorrentado no homem por circunstâncias existenciais, sociais, religiosas ou econômicas. "É preciso liberar-se, e liberar as feras acorrentadas dentro de si. Atingir o seu eu profundo", a divinização.
O livro fala em Vila Global. Propõe a necessidade de criar, construir uma rede universal através destas idéias, pois é necessário "pensar globalmente e agir localmente", em pequenos grupos. Tudo muda, nada é permanente "sejam as idéias, sejam as formas", é preciso mudar.
"O mundo no qual se estabelece a rede universal operará a transformação do indivíduo, que terá como conseqüência a do mundo, do contexto universal. Esta seria a nova conspiração, a nova religião universal".
Compreendendo o ambiente sócio-político mundial e a crise da modernidade podemos avançar na problemática dos valores morais necessários a construção de uma sociedade capaz de lidar com a superinformação e os erros intencionais ou inadvertidos dos produtores dessa informação. É o que explica Edgard Morin, conhecido como principal crítico da educação racionalista do século XX e propositor de um novo paradigma educacional.
Segundo ele é necessário desenvolver os sete saberes (como passaram a ser chamados):
1º Saber: Erro e ilusão - Não afastar o erro do processo de aprendizagem, íntegrar o erro ao processo, para que o conhecimento avance.
2º Saber: O conhecimento pertinente - Juntar as mais variadas áreas de conhecimento, contra a fragmentação.
3º Saber: Ensinar a condição humana - Não somos um algo só. Somos indivíduos mais que culturais, somos psíquicos, físicos, míticos, biológicos, etc.
4º Saber: Identidade terrena - Saber que a Terra é um pequeno planeta, que precisa ser sustentado a qualquer custo. Idéia da sustentabilidade, terra-pátria.
5º Saber: Enfrentar as incertezas - Princípio da incerteza. Ensinar que a ciência deve trabalhar com a idéia de que existem coisas incertas
6º Saber: Ensinar a compreensão - A comunicação humana deve ser voltada para a compreensão. Introduzir a compreensão; compreensão entre departamentos de uma escola, entre alunos e professores, etc.
7º Saber: Ética do gênero humano - É a antropo-ética. Não desejar para os outros, aquilo que não quer para você.

A antropo-ética está ancorada em três elementos:

Indivíduo, Sociedade, Espécie.
Morin defende a interligação destes três elementos desde O Paradigma Perdido: a natureza humana (Biblioteca Universitária, 1988 – 4a edição). Na questão prática de aplicar os 7 saberes, a questão fundamental é que o objetivo não é transformá-los em disciplinas, mas sim em diretrizes para ação e para elaboração de propostas e intervenções educacionais.
Desta forma, a solução apresentada para a crise da modernidade e para a nova cultura globalizada que envolve pais, filhos, educadores, sociedade, etc, em um conjunto complexo de interações passa pela reinvenção do que é moralidade e do que é construção do conhecimento de base para a instrumentalização das novas (e antigas) gerações para enfrentar os desafios que surgem inexoravelmente a cada dia e a cada avanço tecnológico.
A equação que se apresenta é complexa, mas, aparentemente, é melhor desenvolvida pelas mentes jovens que já nasceram nesse universo multimídia, do que pelas pessoas que ainda tentam se agarrar a valores que estão ultrapassados pela própria evolução social. Em ambos os casos a única forma de haver um desenvolvimento estruturado é a compreensão dos mecanismos e uma abertura sistemática ao NOVO, repensando os valores anteriores e atualizando-os dentro do cenário que se estabelece. Isso fica mais claro quando inserimos as considerações de Bernardo Toro diante dessas mudanças na educação e no ensino.
Ele propôs a criação dos Códigos da Modernidade:

- Domínio da leitura e da escrita
- Capacidade de fazer cálculos e resolver problemas
- Capacidade de analisar, sintetizar e interpretar dados, fatos e situações
- Capacidade de compreender e atuar em seu entorno social
- Receber criticamente os meios de comunicação
- Capacidade de localizar, acessar e usar melhor a informação acumulada
- Capacidade de planejar, trabalhar e decidir em grupo.

São sete competências mínimas para a participação produtiva e a inserção social do ser humano no século 21, nota-se que não é feita distinção de geração na necessidade dessa inserção.
Para desenvolvê-los, o ensino deve ser contextualizado o que não significa utilizar qualquer tema da atualidade e sim canalizar as energias para assuntos que fazem sentido na vida dos alunos.
Toro valoriza também o que chama de saber social, um conjunto de conhecimentos, práticas, valores, habilidades e tradições que possibilitam a construção das sociedades e garantem as quatro tarefas básicas da vida: cuidar da sobrevivência, organizar as condições para conviver, ser capaz de produzir o que necessitamos e criar um sentido de vida. A escola é apenas um dos ambientes em que ocorre a aprendizagem. A família, os amigos, a igreja, os meios de comunicação, as empresas, são outras importantes fontes de conhecimento para os indivíduos.
Para concluir, cito Paulo Freire, que por toda a sua vida e em toda a sua obra, destacou que o aprendizado é algo para a vida toda. Inicia-se na infância, com o apoio dos adultos, e se desenvolve no ambiente com o suporte dos educadores e meios de comunicação. Rejeitar esse novo paradigma que se forma ou tentar subjugar, de alguma forma impositiva, o novo cenário aos anteriores é negar que a criatividade e capacidade de adaptação humana nos trouxeram, através das crises e soluções encontradas, ao momento atual, e que repensar valores é uma prática saudável e necessária ao crescimento, em qualquer fase da vida. Essa sim, seria uma mentira totalmente prejudicial. Foi através da fantasia, que é uma forma de mentira, que novas idéias puderam ser inseridas na sociedade e trabalhadas para tornarem-se realidades práticas, então, podemos crer que, mesmo que às vezes seja usada de forma indevida, essa capacidade humana, como tantas outras, bem empregada, é totalmente produtiva e benéfica ao desenvolvimento.
Como apresentei no meu livro “O Caos Contido”:
“O remédio, em excesso, pode matar. O veneno, na dose certa, pode curar”.

sábado, 23 de maio de 2009

Uma Carta por Benjamin



- Por Alessandra Carvalho -



- Uma carta?
- Uma carta.
- Mas quem é que manda cartas hoje em dia?

Assim começa Uma Carta por Benjamin (R$25,00, Ed. Multifoco, 136 págs), livro de estréia da escritora gaúcha Janaína Lauxen, 24 anos.
O enredo é, no mínimo, instigante: imagine você, um belo dia, receber uma carta de alguém que absolutamente não conhece, lhe tratando com carinho e intimidade? Então imagine se esta pessoa passa a lhe enviar cartas semanalmente, revelando a cada correspondência um novo capítulo de uma história que, pelo simples fato de você saber, já o torna cúmplice?
É o que acontece com Benjamin, o protagonista, sujeito quieto e aborrecível que se vê arrancado de dentro de si próprio quando precisa tomar uma decisão capaz de alterar o rumo de todo um país.
Segundo a autora, a história surgiu num dia em que viu um carteiro deixar a correspondência na casa da frente:
- Tenho mania de me colocar no lugar do personagem, e fazê-lo tomar uma atitude que eu jamais tomaria, seja por falta de coragem ou de convicção. Geralmente, termino a história pensando completamente diferente, e achando mais é que eu faria igual ao personagem. Não é estranho? Tua criação te convencer a mudar de idéia?
Fugindo do estilo literário ‘meu querido diário’, predominante em estantes, catálogos de editoras e livrarias, Jana Lauxen resgata o bom e velho folhetim, prendendo o leitor em cada linha de um jeito suave e irresistível.
Morando atualmente em Passo Fundo, Jana nasceu em Carazinho, cidade no interior do Rio Grande do Sul, porém não precisou ir geograficamente muito longe para conseguir lançar seu primeiro livro:
- Costumo dizer que sem a internet não seria ninguém. Não que eu seja grande coisa, mas seria ainda menos sem ela. Primeiro porque não tinha um tostão furado no bolso para ir morar em Porto Alegre e fazer uma oficina com o Assis Brasil; menos ainda para bancar uma publicação independente. Levei quase seis anos, mas agora está aí. E eu continuo aqui, no mesmo lugar – diz a autora.

Realmente: é na frente do computador que Jana passa a maior parte do seu dia. É editora do portal E-Blogue.com, co-editora da versão brasileira do site inglês 3:AM Magazine, colaboradora da revista independente Café Espacial e, no momento, organiza a antologia de contos policiais Assassinos S/A, a ser lançada em junho, também pela editora Multifoco.
- Ganho pouco, mas quem não ganha? Pelo menos eu me divirto.
Isso sem contar seu blogue pessoal, o janalauxen.blogspot.com que, segundo ela, não abandona de jeito nenhum:
- É o melhor canal que tenho com quem gosta de ler o que eu escrevo. Sem contar a interação, que é ótima. Se eu só publicar em livros, jornais e revistas, vou restringir demais meu número de leitores, e quero justamente o contrário.
E não tem medo de ser tachada como escritora de blogue?
- Não, não mesmo. Já fui tachada de tanta coisa; escritora de blogue é até bonitinho.
Além disso, Jana é graduada em Publicidade e Propaganda há dois anos, mas nunca exerceu a profissão. Conta que se formou porque ‘todo mundo com 20 anos quer se formar’ e afirma que se pudesse voltar atrás, teria trancado tudo no quarto semestre.
- Mas não chego a me arrepender. Fiz bons amigos por lá, além de uma bela dívida.

Para quem quiser saber mais sobre a autora, pode encontrá-la em seu blogue, onde bate cartão (quase) todo dia.
Lá você também pode adquirir o livro Uma Carta por Benjamin.
Que, se me permitem o conselho, eu recomendo.

Conversa de Bar – O Queijo



_ ...E essa é a questão.
_ Não Entendi.
_ Presta atenção! Vou explicar de novo: suponhamos que você tenha um queijo suíço como este aqui, ele é todo cheio de buracos Ta vendo?
_ Sim!
- Então, quanto mais queijo você tem mais buracos, quanto mais buracos menos queijo, portanto quanto mais queijo menos queijo.
_ Hummm
_ Por outro lado quanto menos queijo, menos buraco, logo quanto menos queijo mais queijo...
_ Humhumm
_ Agora voltando a nossa questão, quanto mais informações as pessoas tem mais elas fazem perguntas...
_ Hummm? Hum hummm?
_ Se as pessoas perguntam é porque não sabem....
_ Hum!!
_ Se as pessoas não sabem é porque não tem informação...
_ Humhumm
_ Portanto chega-se a conclusão obvia de que, quanto mais informação menos informação.
_ Humm!
_ Logo, quanto menos informação mais informação, puro raciocínio lógico.
_ Hummm, hum hum.
_ Por isso eu afirmo que as pessoas não devem buscar mais informações do que as que já possuem sob pena de ficarem cada vez menos informadas, até não saberem nada mais sobre nenhuma coisa.
_ Hummmmmmmm
_ Você está acompanhando meu raciocínio? Sei que sou um gênio, mas tente me acompanhar?
_ Hummm? Hummm Hummm
_ Eu sou um produto de minha era, um sábio moderno popular, com a sabedoria dos antepassados dos que ainda virão.
_ Hummm....
_ É eu sei...Peraí! Cadê o queijo que estava aqui?
_ Bem... Eu comi. Tava ótimo.
_ Mas você comeu tudo... E não deixou nada para mim...
_ Eu??? Não!! Isso é uma experimentação prática da sua teoria, quanto menos queijo mais queijo lembra? Mas como já comi bastante pode ficar com tudo para você. Agora preciso ir, vou tentar diger... digo, interpretar melhor a sua sabedoria...
_ Ei! A conta.
_ Desculpe, mas o brilho da sua genialidade cegou-me, e não consigo ver onde deixei a carteira, você pode pagar essa? A próxima é minha...
_ Bem que eu sabia! As pessoas não estão preparadas para palavras mais complexas...

segunda-feira, 11 de maio de 2009


Enfim saiu mais um TerrorZine, para os que já conhecem não é necessário explicações. Para quem não conhece, é o melhor Zine Eletrônico de microcontos que conheço, mais uma das fantásticas criações de meu Amigo Ademir Pascale e sua linda esposa Elenir Alves.
Um espaço aberto a novos autores, bem como aos já consagrados pelo público, recheado de encantos, mistérios, informação e oportunidades de crescimento e diversão.
Tudo isso a um custo ZERO para os leitores, bastando baixar o arquivo em PDF diretamente do site, com a possibilidade de retransmiti-lo para toda a sua lista de amigos, como um presente de qualidade que realmente é.
Já contando nove exemplares, todos eles disponíveis para Download no site Cranik (www.cranik.com/terrorzine.html)conta com publicações dos melhores autores nacionais e, para os meus leitores, também contos inéditos de Danny Marks.
Neste TerrorZine 09, os meus leitores podem contar com um bonus especial, uma entrevista minha com Ademir Pascale, onde este bruxo revela um pouco mais de sua carreira como mistico e escritor.
Os que não tem curiosidade por este tipo de coisa, podem ainda se deleitar com contos fantásticos, em todos os sentidos da palavra, e até se inspirar e se inscrever para os futuros exemplares a serem lançados.
Querem mais? Então acessem o link e descubram um universo de possibilidades e cultura com a marca caracteristica de Ademir Pascale: Qualidade e Beleza.

Eu recomendo!

Térmitas de Shopping Center - Danny Marks


O Ser Humano descende do cupim, não do macaco, como pensava Darwin.
Basta observar como a cultura humana se desenvolve de forma similar à dos térmitas. Estas estranhas criaturas, livres na natureza, constroem torres cada vez mais altas onde abrigam suas colônias e desenvolvem o seu trabalho. Veja o Shopping Center, por exemplo, com suas paredes altas e vários andares sobrepostos e, no centro, o imenso vão a permitir a visibilidade dos níveis hierárquicos de projeção. Quanto maior a importância adquirida mais alto se encontra a sua participação e visibilidade.
O estudioso da evolução poderia contestar que o fato das similaridades construídas se deve ao tipo de alimentação que os símios de outrora, nossos parentes distantes, possuíam, pois que estes se alimentavam de cupins e piolhos tanto quanto de frutas. Talvez essas características tenham adentrado o DNA da espécie que hoje se auto intitula homo sapiens sapiens. Eu não teria como discutir tais fatos enquanto aprecio um café no subsolo desta fenomenal construção de térmitas humanos.
Talvez, penso eu, a essa junção se deva o fato das praças de alimentação serem situadas no plano mais alto, como os galhos onde se encontravam as frutas, ou as cabeças com piolhos. Felizmente não mais é necessário que cada macaco fique em seu galho, podendo alcançar os mais altos através de escadas rolantes. E nota-se o empenho em escaladas cada vez mais rápidas dessas criaturas homogeneizadas e sua ânsia por novos planos, até mesmo durante a subida, para isso criaram as esteiras rolantes que nada mais são do que planos diagonais que conduzem ao topo tão rapidamente quanto conduziriam para baixo.
E tão rápidos são que sequer notam o entorno. Mas, eu, parado aqui em um canto do subsolo, observo atentamente o céu encoberto, não por nuvens como meus supostos ancestrais, mas por altiplanos e tetos projetados em abóbadas e cumes pontiagudos, sem estrelas mas com luzes fortíssimas a tornar dia qualquer horário.
O que torna mais interessante é a diversidade desse casulo de concreto. Podemos identificar facilmente os operários dos mais altos escalões através de suas vestes que, estranhamente, nunca são iguais às que são apresentadas para venda nesses mesmo locais onde desfilam. Como se o importante fosse ser diferente nessa similaridade, e, no entanto, se parecem tanto, uns com os outros, em suas atitudes.
Decerto que os ecologistas diriam que estou corretíssimo em minha suposição de descendência térmita devido ao estrago que fazemos ao meio ambiente, corroendo em nossa sanha alimentar tudo o que nos envolveria com abrigo e fartura. Já os simiescos antagonistas refletiriam sobre o comportamento de bandos, as brincadeiras ridículas ofensivamente chamadas de macaquices pelos que não estão compartimentalizados nesses mesmos grupos.
Mas o que me leva a pensar em térmitas não são fatos tão banais que, tivéssemos mais olhos como aracnídeos, veríamos facilmente. Não, o que me constrange a pensar de forma insetívora é o movimento construtivo que aproxima cada vez mais os lares das cidades unilocalizadas dos mega shopping centers que estão a ser construídos cada vez mais rapidamente, unificando os locais de trabalho, de viver, de lazer e de comer em um enorme cupinzeiro com todas as castas representativas em seus devidos lugares e cada vez mais uniformizadas em seus planos elaborados, diagonais ou horizontais.
Se me assusta essa descendência tão degradante, também me faz rir ao pensar na Terra como a enorme cabeça pensante de Gaia, na qual eu e todos os meus semelhantes não passamos de uns meros piolhos, a sugar pensamentos e alimentos em uma existência que, apesar de todos os pesares, deve ter lá sua significância. Nem que seja para produzir a coceira que fará a nobre hospedeira perceber que estamos aqui, até que esta se digne a cuidar, ao seu modo, de tantos parasitas.
Então, caso isso aconteça em breve, terei a conclusão à minha tese de que não importa de onde venham nossos genes, mas o que absorvemos do meio para nos tornar o que somos de fato.
E fico olhando para o biscoito amanteigado que acompanha o meu café e imaginando no que isso vai me transformar amanhã.

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