João que amava Maria, que amava Pedro, que amava Cínthia, que amava Diana, que amava Renato, que amava Ricardo que casou com Fernanda por exatos três anos e dois filhos.
Quem não conhece histórias assim, saídas da boca de poeta ou extraídas da mente psicanalítica? Decerto os moradores de determinada cidade do litoral paulista conhecem os desmandos do Destino, já que o Amor ninguém é trouxa de culpar por relacionamentos que se estabeleçam.
Para os desafortunados que não tem conhecimento desse exótico recanto de areias finas, salgadas por lágrimas de Lua, conto em breves passagens a história ocorrida há mais de mil e uma noites, se me permitem um calculo de anjo torto, já que dizer três anos não soaria romântico.
E foi um João romântico e embriagado que conheceu Maria, moça recatada de cidade interiorana-praiana, que só tinha ido a quermesse junina por insistência de Cínthia, sua amiga.
João, voluntário samaritano, servia de auxiliar de Cupido na função de correio elegante, o que não o impediu de apropriar-se de alguns copos de quentão, cuja finalidade alegada era apenas de espantar o frio de seu coração.
Pedro, que não era santo homenageado, no embalo da quadrilha que se desenrolava, solicitou ao colega casamenteiro os serviços de levar em papel perfumado seus desejos e admirações para a moça que os havia despertado.
Cínthia nem poderia saber que estava sendo previsto um temporal para sua horta ou teria rezado à deusa caçadora que a tomasse em sacrifício antes que um desastre maior lhe acometesse, mas dizem que o amor é cego e quando o seu representante encontra-se em estado etílico, a coisa fica ainda pior.
Por tal motivo não se deve culpar o Destino como causador da imprudência de João ter entregue à Maria, o seu amor recém descoberto, bilhete romanticamente escrito por Pedro e endereçado à Cínthia que nunca teria oportunidade de o ler.
Acaso o engano não tivesse ocorrido e a história teria que ser contada de outra forma e Maria teria olhos livres para João e não para as palavras escritas e assinadas.
Mas um engano nunca chega sozinho e Pedro não percebeu que sua encomenda havia chegado a endereço errado, e por não haver como reclamar do que não se sabe, mas sim do que se imagina saber, sentiu-se ofendido por ser tão brutalmente ignorado e acabou resolvendo descontar a sua frustração em Diana que estava à caça do garçom Renato.
Ricardo, famoso destruidor de corações nas lendas urbanas, acabara de chegar acompanhado de sua amiga de infância, com quem tentava descobrir coisas que não se devem revelar aqui e cujo sonho era ter uma bela casa e dois filhos, acompanhada é claro de uma vida tranquila com todo o romantismo que um filho de empresário pode oferecer a uma mulher.
Eis que os olhos de Ricardo encontram de bandeja os de Renato e imediatamente passam a desejar aqueles pés de moleque. Enquanto isso Maria que não era mole, foi cobrar de Pedro a satisfação que havia sido prometida no bilhete extraviado.
Pedro, que se fosse santo teria poderes de vidência, não viu a locomotiva que se aproximava e de quebra pensou que o olhar de Renato era dirigido à deusa que também o ignorava.
Foi então que a fogueira esquentou com a flecha do ciúme partindo o coração dos festivos representantes terrenos das entidades divinas.
Pedro acertou João que caiu sobre Renato que foi defendido aos socos por Ricardo que apanhou de Cínthia por ter acertado, por engano, Diana. Maria fugiu da festa e Fernanda desmaiou, não pela confusão, mas para fazer valer a tradição de toda quadrilha, e se barriga não se via naquele momento, não custou a se identificar o noivo para o casamento.
E essa é toda a parte emocionante da história, já que em relacionamentos mais valem as brasas do momento que as cinzas que as sucedem.
Para encerrar fica a sabedoria popular aplicada ao contexto: Rapadura é doce, mas não é mole.
E toca o forró!
E toca o forró!
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