sexta-feira, 14 de novembro de 2008

O Homem que Via - Danny Marks



Em um tempo já esquecido, em um local obscuro de algum lugar, nasceu o homem que via. A principio, ninguém percebeu que ele via, porque em seu mundo ninguém tinha olhos somente ele tinha um, no centro da testa.
Com o tempo foram percebendo que ele era diferente, não conseguia trabalhar ou andar sem cair, no escuro, coisas simples que todos faziam com a maior naturalidade, ele parecia retardado...
Ele percebeu que tinha um olho e que ninguém mais tinha, e por vergonha, escondeu esse problema de todos enquanto pode, mas foi descoberto. Por acaso alguém passou a mão em seu rosto e notou a sua deformação, logo todos o evitavam, depois passaram a zombar dele, por fim o expulsaram do seu meio. Isolado, começou a chorar, coisa que mais ninguém em seu mundo fazia, até que teve uma grande ideia, tentaria ser igual a todos. E cobriu o seu único olho com uma venda.
Por longo tempo buscou ser como todos, completamente cego, mas constantemente lhe vinha um sentimento estranho, saudade de sua visão...
Começou a perceber que, ao privar-se da visão perdia parte do seu mundo, não via mais as cores, as formas, as variações de sombras e luz.
Impossibilitado de abandonar definitivamente essa parte de seu ser, decidiu ir embora, deixando para traz todo o seu passado.
Andou por muito tempo sem rumo até que ouviu som de vozes, rindo, aproximou-se meio escondido e viu um grupo de pessoas, e tomou um susto, elas não eram cegas, nem tinham um olho apenas, e sim dois olhos...
Aproximou-se e pediu ajuda, no que foi atendido, levaram-no para um lugar onde todos tinham dois olhos, e todos o tratavam bem embora de forma estranha.
Com o tempo percebeu que sentiam pena dele, porque tinha um olho só, tentou mostrar que sabia fazer coisas sem ver, mas isso os horrorizava, era considerado um ser inferior, e pouco a pouco o discriminaram.
Ele tentou ser igual a eles, mas não conseguia ver tantas coisas que eles viam e foi ficando triste. Decidiu sair dali.
Andou por muito tempo, decidiu desistir de tudo, foi quando ouviu um grito e correu para ver o que era. Uma jovem tinha caído em um buraco e não conseguia sair, em seu socorro vinha um grupo maior, que para horror do homem, não conseguiam perceber que iriam cair também, pois nenhum deles tinha olhos...
_ Parem – gritou – Eu a tirarei do buraco onde caiu.
E fez o que tinha dito, sendo imediatamente aclamado por todos.
Foi conduzido até a cidade, sendo apresentado a todos como um sábio estrangeiro que os alertara do perigo iminente e tinha pessoalmente salvado um deles.
Quando ia falar como tinha feito algo simples para ele, calou-se ao ver um jovem em canto escondido, um jovem com um olho só, no meio da testa.
Aproximou-se do jovem e falou:
_ Sou realmente um sábio estrangeiro que foi enviado para mostrar a vocês um caminho melhor, onde o respeito às diferenças implica em benefícios para todos, eu os ensinarei e aprenderei com vocês, pois todos temos para aprender e ensinar.
E abaixando-se falou ao ouvido do garoto.
_ Ver é muito mais que ter olhos, é sentir dentro de si que somos todos iguais mesmo sendo diferentes, porque todos buscamos ser aceitos, e às vezes precisamos entender como os outros nos vêem e não apenas como os vemos.
Logo o sábio tornou-se Rei e o menino seu aprendiz, e todos progrediram juntos.




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