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Estavam os familiares reunidos para leitura do testamento do famoso inventor Crisóstomo Anferes, doze horas após o concorrido funeral.
Única nota destoante era a presença do fiel assistente que o acompanhara desde os tempos ruins de mero laboratorista até depois de ter seu talento reconhecido mundialmente.
O advogado leu pacientemente as clausulas do testamento que distribuía os bens do falecido entre os presentes e recolheu as lamúrias gananciosas dos abutres fantasiados de gala.
Apenas o assistente Fernando Carlos parecia satisfeito com o seu legado: Um laboratório conservado dos tempos ruins, mais por sentimentalismo que por utilidade, e uma pequena soma em dinheiro a titulo de indenização para cada ano trabalhado ao lado do multimilionário que o falecido se tornara. Uma gota sequer notada no oceano de riquezas.
O advogado aproximou-se de Fernando antes que este abandonasse a sala e perguntou-lhe intrigado com tamanha dignidade.
_ Ficou satisfeito com sua parte?
_ Crisóstomo era meu amigo e nunca me deixou faltar nada que necessitasse. Foi um péssimo cientista até o final, mas um gênio nos negócios. Aprendi muito com ele e, afinal, o que foi um copo roubado à fonte? Sim, estou satisfeito com a minha parte e já sei o que fazer daqui para frente.
Um brilho de entendimento surgiu no olhar do advogado.
_ Senhor, acaso precisaria dos serviços de um honesto advogado?
_ Claro meu amigo, um dia também precisarei de um testamenteiro. Porque não começar logo?
Rindo os dois fecharam as portas às hienas que nem perceberam que sua fonte secara.
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