quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Memórias, Putas e Palavra Tristes - Danny Marks



Pois se não foi do alto de uma manhã, natimorta, como são todas as dos que se atrevem a corromper o vício da saúde com noites de prazer fugaz, que me descobri sábio.
Já em tenra idade fiz de um plágio um estilo de vida, ao adotar como filosofia uma frase: “Os sábios herdarão a terra, pois quem espera, em Sabedoria sempre alcança”.
Sequer sabia o que faria com o mundo quando o herdasse, mesma forma desconhecia serventia da casa que somente adultos freqüentavam nessa espera, e cujo nome sussurravam com ar travesso: Sabedoria.
Acreditava, então, de pronto responder tais questões, quando sobreviesse idade de em Sabedoria estar, e me resignei a esperar.
Ensaiava constantemente para ser um dos sábios, enquanto idade para tal eu não possuía.
Nos folhetins baratos e em tomos empoeirados de livrarias publicas construía alcovas para meus olhos e para palavras, das quais me enamorara.
Tomava nota desses encontros lascivos no roto caderno carregado qual tesouro artístico, raramente exposto.
Usava minhas amadas em formas diversas, feito peças de brinquedo da criança imberbe, julgando com elas fazer belas construções.
Anos se passaram, sem que a espera me permitisse alcançar o intento parvo a que me dedicava de alma e, quando em vez, de corpo presente.
Foi sem aparato especial ou fanfarra que identifiquei o sortilégio de alcançar pensamento original, nunca antes feito adequadamente, emaranhado que estava nos pensamentos de outrem. E finalmente soube, que era um tolo.
Por me saber tolo em todos os momentos anteriores, me tornei um Sábio.
Em Sabedoria pude entender que minhas belas amadas não passavam de putas tristes. Dançavam diante de meus olhos me servindo da mesma forma que logo estavam servindo a outrem desconhecido.
Éramos, enfim, tolos enganados por essas palavras tristes, putas que eram, a jurar nos pertencerem, quando na verdade as possuíamos apenas por breves instantes de lucidez.
Mas alcançada a sabedoria não há retorno que nos satisfaça. Foi o que as salvou de minha ira imediata e rotunda.
Que se sucederia se houvesse eu descoberto, quando tolo perseguia a dita sabedoria, que viria com a idade? Logo se responde, pois que tolos jamais descobrem traição que possa haver.
Hoje as amo como merecem, como Putas Palavras Tristes de quem, nem eu, nem ninguém, jamais será dono. Essas dóceis servas é que são donas da sabedoria, que desde sempre lhes pertenceu, no mundo que as abriga e embala, e no qual somos apenas convidados, a usufruir seu encanto.
Confesso sem remorso de tempos idos que, hoje sim, sei amá-las muito mais, como merecem.
Minhas dóceis amantes, minhas Putas Palavras Tristes.

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