Criar personagens em um texto é a coisa mais complexa que existe, embora seja a mais necessária para que o texto ‘funcione”, que produza uma identificação com o leitor e crie o efeito desejado.
Desconheço qualquer texto que não possua personagens, mesmo quando ele não se faz presente no texto e aparece apenas na figura do orador, que descreve a cena, o Eu Lirico do autor.
Portanto uma das estruturas principais de um texto são os personagens que o habitarão de alguma forma. Eles podem até não ser “humanos” nas suas características, como nos casos das fábulas, nas parlendas, na literatura fantástica. Porém, para que haja uma identificação com o humano, faz-se necessário que possuam características que criem esse vinculo. A essas características que serão expressas através do texto, preferencialmente não explicitadas neste, é que constrói-se o que chamaremos de “psiquismo do personagem”.
O ponto de partida para a construção do psiquismo do personagem está na idéia que se quer transmitir. Essa idéia é que determina como será construído o Eu Lirico do autor, que será expresso no texto como orador da ação, seja este em primeira pessoa, em terceira pessoa, orador impessoal, omnipresente, etc.
Tendo como base a idéia, construída a forma como será apresentado o orador que, por sua vez, apresentará a ação, a descrição do cenário, é que se determina a forma que o texto poderá ter para comportar a idéia.
Algumas pessoas acreditam que o cenário é fundamental para que a trama se desenvolva. Autores clássicos fundamentavam o enredo de seus textos no próprio cenário, sendo este praticamente um personagem presente nas histórias, moldando os destinos, interagindo com eles.
Essa característica não pode ser negligenciada, ao contrário, deve ser levada em consideração na composição do texto e na forma adotada para apresentar a idéia.
Então temos alguns elementos que devem ser considerados na construção do personagem e dos textos em que executarão a ação.
Um micro-conto, um texto curto, um poema, etc, tem pouco espaço para uma descrição do cenário, menos ainda para a composição de um personagem com “profundidade”, portanto é mais difícil de ser trabalhado. Mas, existem alguns recursos que permitem que isso possa ser feito com mais tranqüilidade. Um desses recursos é justamente a verossimilhança.
A verossimilhança é a característica que permite que o leitor identifique e se identifique com os fatos relatados. Um texto com verossimilhança possui um vinculo fundamental com a realidade do leitor, esse vinculo está baseado no conhecimento enciclopédico do leitor, nas características reconhecíveis pelo humano, algo que Carl Gustav Jung chamaria de Arquétipo. Os arquétipos são símbolos comuns à um agrupamento, representam todo um conjunto de parâmetros de realidade e interpretação desta.
Essa característica da verossimilhança restringe o texto a um determinado público, ou seja, para que o texto seja compreensível e possa criar um vinculo, é necessário que o seu leitor tenha em seu saber enciclopédico (saber de Mundo) registrados os elementos básicos da composição textual. Cada tipo de leitor possui a sua característica de saber enciclopédico. Um aborígene australiano terá um conhecimento da natureza e da região em que habita maior que um cidadão de alguma megalópole. Então, um texto direcionado a um desses leitores não funcionará tão facilmente para o outro. O mesmo se dá entre adultos e criança, entre homens e mulheres, e assim sucessivamente.
Embora a delimitação possa parecer limitadora, ela na verdade cumpre o papel de facilitador para a idéia. Todo texto literário pretende uma universalidade, e assim o é, mas para que possa ser compreendido em sua totalidade é necessário que haja um conhecimento prévio do leitor, ou um estudo aprofundado por parte deste após a sua leitura.
Desta forma, para que o autor possa criar o seu personagem para um público determinado, ele precisa imergir no psiquismo do seu público alvo, que é como é chamado o leitor objetivado para aquele texto, de forma que possa identificar os arquétipos que compõem o saber enciclopédico daqueles a quem se destina a mensagem.
Identificados os arquétipos pode-se fazer uma extrapolação da realidade, ir além das suas características básicas, e criar uma composição de personagem e ambiente em que os mesmos atuarão de forma a permitir a identificação dos elementos fundamentais que geram a verossimilhança ainda que esta se apresente mascarada em cenários e personagens fantásticos ou em idealizações da realidade comum.
Neste primeiro momento já se pode perceber como os elementos de um texto literário se integram com uma harmonia que faz-se necessária para que o mesmo atinja o seu objetivo, bem como podemos delimitar alguns dos elementos fundamentais para qualquer composição literária: o Eu Lírico (através do qual o autor se expressará), o Narrador (que pode ou não ser o Eu Lirico, e pode ou não ser personagem da composição), o Cenário, o Personagem e, fundamentalmente, o Vinculo com a Realidade do Leitor – a Verossimilhança.
Partindo desse pressuposto, vamos detalhar mais profundamente cada uma dessas estruturas fundamentais de forma que se possa perceber como a construção de um texto literário é feita, seja um texto mínimo como um micro-conto (com apenas uma linha) ou seja um texto mais longo e elaborado, um romance, por exemplo.
Respire fundo e prepare-se para mergulhar no maravilhoso Universo das Letras, pois para se imergir nele é necessário, antes de mais nada, ter uma inspiração.
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