sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Vivendo e aprendendo (ou Não). - Danny Marks



 “Quando observamos a quantidade e a variedade dos estabelecimentos de ensino e de aprendizado, assim como o grande número de alunos e professores, é possível acreditar que a espécie humana dá muita importância à instrução e à verdade. Entretanto, nesse caso, as aparências também enganam. Os professores ensinam para ganhar dinheiro e não se esforçam pela sabedoria, mas pelo crédito que ganham dando a impressão de possuí-la. E os alunos não aprendem para ganhar conhecimento e se instruir, mas para poder tagarelar e ganhar ares de importantes. A cada trinta anos, desponta no mundo uma nova geração, pessoas que não sabem nada e agora devoram os resultados do saber humano acumulado durante milênios, de modo sumário e apressado, depois querem ser mais espertas do que todo o passado. É com esse objetivo que tal geração frequenta universidade e se aferra aos livros, sempre aos mais recentes, os de sua época e próprios para sua idade. Só o que é breve e novo! Assim como é nova a geração, que logo passa a emitir seus juízos. [...] Em geral, estudantes e estudiosos de todos os tipos e de qualquer idade tem em mira apenas a informação não a instrução. Sua honra é baseada no fato de terem informações sobre tudo, sobre todas as pedras, ou plantas, ou batalhas, ou experiências, sobre o resumo e o conjunto de todos os livros. Não ocorre a eles que a informação é um mero meio para a instrução, tendo pouco ou nenhum valor por si mesma [...]” (in A Arte de Escrever – SCHOPENHAUER, Arthur, LP&M, 2012, pgs 19,20)

                Poder-se-ia dizer que a citação acima foi tirada de algum jornal ou outra mídia da atualidade brasileira, não fosse o fato de Schopenhauer (1788-1860) estar distante tanto geograficamente quanto no tempo da nossa realidade. Mas, e aqui começa a parte interessante, guardadas as generalizações e a visão pessoal do autor, as palavras podem ser transportadas diretamente para o ambiente escolar da atualidade, para a sociedade acadêmica e os novos alunos, aprendizes dos saberes.
                Aqueles que tem contato com a dura realidade das salas de aula, públicas ou privadas deste enorme país de tantas faces e sotaques, sabem que nada é tão preto no branco como dizem as mais belas teorias pedagógicas, antes sim, as coisas são cinza e cinzas é o que produzem em sua grande maioria.
                De um lado há profissionais que reclamam de baixos salários, mas boa parte nem pensa em trabalhar corretamente, de forma ética e competente, buscar competências que se tornam necessárias à evolução de qualquer carreira, e mesmo o conhecimento instituído necessita de novas formas de ser transmitido.
                Em outro lado há os sistemas políticos, públicos e privados, com suas belas campanhas e realidades tortas, obscuras. Cobranças de um lado e apaziguamentos de outro, dá com uma mão e tira com duas.
                Em outro ainda, os alunos que vão para a escola como refugiados de lares desfeitos, como guerrilheiros de um campo de batalha urbano, como sábios informatizados de conhecimento tão volátil quanto a memória Ram que possuem no lugar de cérebro pensante.
                E por fim, os pais desses alunos, em sua grande maioria esperançosos de dar aos filhos o que nunca tiveram. Alguns esquecendo de dar, também, o que tiveram, como educação: limites, formação de caráter, sociabilidade, responsabilidade.  Estes valores, sem dúvida alguma os que lhes possibilitaram serem pessoas melhores e que, por negligência ou qualquer outra incapacidade consciente ou inconsciente que possuam, deixaram de transmitir aos rebentos como herança, são os que esperam “alguém” acabe por ensina-los aos seus filhos, "criados para o mundo". Que mundo?
                A responsabilidade deixada de lado gera a impunidade, que gera o caos que não vê vitoriosos ou derrotados, apenas o que precisa ser destruído e consumido na sua onda devastadora.
                Caos é, antes de mais nada, a ausência de ordem, de controle, de limites.  O Caos não tem senhor ou objetivos a serem alcançados, existe apenas porque não foi contraposto pela ordem, pelo limite.
                E assim vamos todos nos tornando cúmplices e vítimas do caos que criamos, por preguiça, negligência ou simplesmente por não querermos ver que não há outro alguém que fará por nós o que não nos dispusemos a fazer, ao fugir de nossas responsabilidades em tornar-nos melhores para o mundo para que, por consequência disso, o mundo se torne melhor para todos.

4 comentários:

Marisa Giglio disse...

Muito interessante seu texto .
Sei que é professor e pode nos explanar a realidade da educação hoje em dia .
Sou de um tempo que nos levantávamos à entrada dos mestres, em sinal de respeito .
Estudei em escolas privadas e públicas como também em universidade pública , direito na USP , e privada , Letras na FMU e não presencei o descaso que muitos estudantes , na atualidade , tem com os professores em geral .
Suas colocações , Danny , são oportunas . Parabéns .
Beijos e bom final de semana

Danny Marks disse...

Marisa, o tema está sendo muito discutido atualmente e todos tentam encontrar os culpados para essa situação. Eu sempre preferi achar soluções, identificar responsabilidades e tentar melhorar as coisas.
Na minha visão, como professor, as responsabilidades sobre a situação recaem sobre todos os envolvidos e somente se eles perceberem é que vão conseguir reverter as coisas.
Recentemente uma de minhas professoras da faculdade foi agredida fisicamente por um aluno em sala de aula ao tentar impedi-lo de apagar as notas de todos os alunos registradas no diario de classe. A mãe do aluno ainda diz que a culpa foi da professora, o aluno só alega "ter ficado nervoso".
Há maus profissionais sim, mas também há os ótimos; há pais desleixados e coniventes, mas há os educadores; há alunos problemáticos, e também os que se esforçam para aprender; Só não há, a meu ver, um interesse da sociedade organizada de dar um basta nessa coisa toda e impor um pouco mais de ordem ao caos do ensino que está cada vez pior.
Obrigado pela presença, um ótimo final de semana.

Ishitori disse...

Nossa tanto o texto quanto os comentários mexeram comigo... Sei lá... Eu estou estudando para ser professora, vou me formar como professora de História, e tenho refletido cada vez mais exatamente sobre isso.... O que significa ser uma professora, o que os alunos, pais, a sociedade, e eu mesma vão estar esperando de mim.

Danny Marks disse...

Ishitori, ser professor é ter conhecimento e habilidade para instruir os alunos de forma que adquiram competências. O problema é que alguns pais, não todos, passaram a confundir instrução com educação. Educação se refere aos valores sociais e humanos que se aprende no convívio familiar e posteriormente se amplia no convivio social. Quando um único aluno chega a escola sem educação, acaba criando uma situação que se não for adequadamente trabalhada pode gerar uma corrupção de todos os outros elementos, pelo simples fato da impunidade e do exemplo negativo. Escolas e profissionais, muitas vezes optam por não intervir por medo da legislação que em vez de proteger acaba tornando invunerável e irresponsável o menor. Ainda assim há boas escolas, ótimos alunos que estimulam o profissional a fazer melhor ainda aquilo que faz com amor, ensinar. A dificuldade está em encontrar essas escolas e alunos. Se a sociedade não se voltar logo para o problema a tendencia é piorar muito e rapidamente, como os fatos demonstram.
Na minha opinião, o ECA deveria ser retrabalhado para identificar o que é uma agressão ao menor e o que é uma imposição de limites necessários para a formação do caráter, e deveria ser obrigatório aos pais dos adolescentes infratores terem aulas sobre como educar os filhos.
Devolver a responsabilidade a quem é de direito.
Obrigado pela presença, espero que tenha sucesso na carreira que é uma bela carreira, mas cada dia mais está desvalorizada e difícil.

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