Houve
um ser que desejou mais do que qualquer outra coisa saber porque o criador
permitia que houvesse sofrimento no mundo, apesar de possuir o poder do
Universo.
E tanto desejou que lhe foi
concedido .
E tendo conhecido buscou os meios de
destruir o sofrimento.
Lembrou que já vivera antes e que
tinha o poder e prudente que julgava ser ensinou e concedeu o poder aos que o
seguiam.
Crianças que eram, riram do que podiam fazer e
brincaram com o poder que possuiam, mas as brincadeiras ficaram violentas e o
ser teve que para-los antes que machucassem a si mesmos e aos outros de forma
irreversível.
Maltratado pelos que outrora o
seguiam deu-lhes as costas levando consigo o poder, a dor e a solidão, pois
compreendeu que não existia ninguém capaz de segui-lo em seu caminho.
Mas o tempo passou e novos
juntaram-se a ele, buscando a luz que dele irradiava.
Desta vez, julgando-se prudente, não
quis que o seguissem e ordenou que fossem a frente dele, e os empurrou pelo
caminho.
Percebendo-se
a frente do mestre, cada qual pegou rumo diferente, ignorando as advertências
daquele que tentava resgata-los para o caminho, mas por estar atrás deles, não
o ouviram.
O Ser chorou a nova perda, mas
seguiu adiante como não podia deixar de ser. Passou a trabalhar na solidão, porém
os seus atos e suas palavras atraiam mais e mais seguidores e passou a
falar-lhes e quis ser um deles, e ao vê-los em perigo salvou-os, e decidiu por
eles qual caminho seguir, e passou a viver uma vida que não era sua e nem de
ninguém e eles o seguiram como cordeiros que tinham se tornado sob seu jugo.
Somente
tarde demais percebeu o que tinha feito e desiludido e humilhado chamou seu
criador e disse-lhe:
— Perdoa-me, pois errei, liberta-me
deste fardo. Não sou merecedor de carregá-lo, que a outro seja entregue.
— Que assim seja, criança das
Estrelas, mas o fardo deve ser carregado por alguém. Aponta-me quem desejas que
o faça.
— Pai, não o daria ao meu pior
inimigo. Não existe outro meio?
— Uma vez te ajudei e te abençoei. E
veja que retomaste o mesmo caminho, arrancar-te do que escolheste te faria
sofrer mais do que se seguisses sempre
em frente e alcançasses o que busca.
— Sinto-me cansado, creio não estar
preparado para o que me aguarda.
— Cada ser no universo carrega o
fardo que é capaz de suportar, levar menos do que isso deixaria o ser relapso,
arrogante, irrefletido. Levar mais do que o necessário seria torná-lo inepto e
atordoado.
— Que devo fazer então?
— O avaro carregaria um fardo de
ouro com alegria, o sábio carregaria livros sem hesitar, o generoso recolheria
o que pudesse do caminho para distribuir para aqueles que encontrasse
aumentando e diminuindo constantemente o fardo que carrega, somente o humilde
leva menos do que necessita e vive descansado, mas sempre sentindo falta de
algo que não trouxe.
— Devo ser humilde para descansar?
—
A avareza leva um fardo pesado com alegria, a arrogância o carrega sem
pestanejar, a sabedoria o leva por ser útil, a generosidade o faz por amor aos
outros, e a humildade permite que descanses enquanto sonhas com o que não
possuis.
— Devo ser todos em um?
— Acaso existe unidade e
exclusividade nos sentimentos? Existe aquele que está sempre feliz, satisfeito,
triste, paciente, furioso, arrogante ou generoso? Meu filho a sabedoria
consiste em usar-se o que se tem de bom e de ruim de forma produtiva.
Existiu há muito tempo dois
semeadores a quem foram dados dois sacos de sementes para cada um. Um saco continha
sementes de boa qualidade e no outro havia sementes apodrecidas. Um dos
semeadores jogou as sementes podres fora e semeou apenas as boas.
O outro enterrou as podres para que
não causassem danos, vigiou-as e aguardou que se misturassem a terra. Por fim
semeou as sementes boas no solo que havia trabalhado e suas plantas nasceram
mais fortes que a de seu amigo.
— Então devo usar tudo o que possuo
para seguir adiante?
O amigo do semeador — continuou o
criador ignorando a interrupção — ao ver como as plantas cresciam na horta do
vizinho correu para pegar aquelas sementes que havia descartado e despejou-as
sobre as raízes de sua horta.
Fungos cresceram das sementes podres
e insetos nocivos foram atraídos matando as plantas que germinavam. O semeador
ficou sem nada.
— Faltou-lhe a sabedoria para usar o
que tinha.
— Sobrou-lhe arrogância para pensar
que já sabia tudo o que precisava e evitou aprender com o outro como fazer
corretamente. Faltou-lhe paciência para aprender como fazer, faltou-lhe
humildade para conformar-se com o que já possuía e não desejar o que não estava
pronto para ter, sobrou-lhe o desespero de começar novamente, totalmente
dependente da caridade do outro.
— Compreendo mestre.
— Então diga-me: Qual dos semeadores
serás?
— Nenhum, pois aprendi que cada um
deve ser o que é, e tentar copiar os passos dos outros leva à queda fatal. Observarei
e aprenderei com os outros, mas somente quando o conhecimento fizer parte de
mim como um solo adubado plantarei as sementes que tenho guardado, e quando o
fizer será a minha maneira.
— E quanto ao teu fardo?
—
Se o carrego é porque me será útil, arriá-lo agora poderá me fazer retornar no
caminho mais tarde para buscar aquilo que só então descobri que preciso.
Seguirei com passos mais curtos quando me sentir cansado, mas irei até o final
da jornada com aquilo que me pertence.
— Que a tua vontade seja feita,
Irmão das Estrelas! Hoje aprendeste do caminho e o caminho aliviou o teu
cansaço, não te esqueças disso.
—
Obrigado, Pai. Que os frutos deste momento sejam doces a quem os buscar em suas
necessidades.
—
O que desejas, meu filho. Assim será...
Um comentário:
"A avareza leva um fardo pesado com alegria, a arrogância o carrega sem pestanejar, a sabedoria o leva por ser útil, a generosidade o faz por amor aos outros, e a humildade permite que descanses enquanto sonhas com o que não possuis."
Adorei reler, rever, relembrar, encontrar você de novo aqui.
Beijo meus,
Anna Amorim
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