segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Meta Onde? Parte II - O Caminhante das Estrelas - Claude Ustt


-Cadê sua mãe?
-Tá fazendo a unha na Cida .
-Ué, tem festa e num to sabendo?
-Não pai, a Cida tá cobrando baratinho pra praticar,só isso.A coitada da mãe nunca tem chance de se cuidar um pouco.
-Hummmm.... sei.
                                          ................
No espelho do  banheiro Zé  se depara  com um quase desconhecido, o que vê é uma pálida imagem do passado.
Desconfortável desvia o olhar, enquanto  enxuga as mãos na toalha rosa com beirada em crochê.
Está mexendo no controle da  televisão,  quando Zulmira entra apressada.
-Oi Zé, chegou mais cedo? Fui na Cida fazer as unhas,olha como ela tá trabalhando direitinho? Aproveitei fiz uma escova, gostou?
-Hum...hum.
-Só vai dizer isso?  Hum..hum
-Você quer que eu diga o que? A tal Cida  num tá fazendo o curso,  não vai abrir um salão lá na avenida?Deve di sabe o que faz. Se você tá toda feliz desse jeito,minha opinião não interessa.
-Nossa Zé, que grosseria, se soubesse que ia ficar bravo, não teria ido.
-Num to bravo mulher, deixa de besteira. Você é bonita de qualquer jeito. Só estranhei porque hoje num tem festa nem nada.
-É que a Cida precisa praticá, toda a vizinhança tá aproveitando.Ela cobra menos da metade do preço de salão.
-Tá certo, não vamu discuti a toa. Dá pra  arrumá a comida  mais cedo, vou ver o futebol lá na quadra com a turma.
Após servir  o  jantar  e arrumar a cozinha,como sempre ela   está só. Recostada  no sofá,  folheia o livro que a filha mais velha emprestou  dias atrás. De olhos fechados, alisa a capa com carinho,como se fosse o rosto de alguém querido, sempre amou livros. Quem sabe,como afirmam as meninas, ainda haja tempo para aprender algo novo.
.Além  de noções de gramática e ortografia,  tem textos  interessantes que ela, embora achasse impossível, está conseguindo entender muito bem.  Abre uma página ao acaso, o título chama atenção:
O caminhante das estrelas
 “....chegou sem avisar,  o estranho  caminhante. Em uma das mãos um saco de tecido transparente contendo letras cintilantes,inquietas,  parecendo ter vida própria. Na outra mão uma tocha,  para   iluminar o escuro.
Seus passos deixam um rastro vindo  das estrelas, e o caminho à frente  marcado pela chama da tocha, não está  bem definido, mas é  misterioso, atraente......”
-Acorda mulher, depois fica reclamando de dor no pescoço.Vai pra  cama.
-O que? Que foi, nossa você já chegou? Acho que peguei no sono.
-Acha? A televisão ligada, esse livro em cima de você, tá de bobera mulher. Que mania é essa agora de ficar com esse livro pra lá e pra cá.
-Foi a Géssica que me emprestou pra eu esclarecer uma dúvida com uma palavra, sabe aquele dia em que a gente discu...
-Desculpe Zuzu, mas to morrendo e de sono. Ainda bem que amanhã já é sexta, depois me fala disso, vamu pra cama que já é tarde!
Ressentida  com mais uma indiferença,  mas extremamente cansada, pega rápido no sono.
O caminhante vindo das estrelas se aproxima sorrindo. Atira em sua direção as letras inquietas, que rápido formam um tapete, onde ela deita sem cerimônia. Algumas se transformam em pequenas borboletas coloridas que em vôos  rasteiros, tocam de leve seu corpo aqui e ali,provocando uma sensação muito boa.
Ele  traz   um livro na mão e sorri enigmático.Leva a tocha em sua direção e com a chama,  toca de leve seu corpo.Um calor   que não queima, mas  invade cada espaço  inexpugnável.  Uma onda de  prazer acontece, como um jato de vida incontrolável,  penetra todas as células adormecidas.
-Zuzu, Zuzu, o que foi, tá  passando mal?
-Hã? O que  tá acontecendo Ze?
-Que tá acontecendo  digo eu, tá  se debatendo, gemendo feito louca. Foi alguma coisa que fez mal? Qué  um sal de fruta?
-Não Zé, foi só um pesadelo.
-Então reza pro anjo da guarda e volta a dormi em paz!

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