“Vende-se: Sapatos de bebe, nunca usados.”
(Hernest Hemingway)
Esse provavelmente é o mais famoso exemplo de narrativa breve já conhecido. São seis palavras que contam uma história, ou várias, de acordo com o leitor.
Não é uma coisa simples de ser feita, e não se espera que todos os autores tenham essa concisão. O que se deseja é que os textos sejam objetivos e simples, fáceis de entender e com uma elaboração que ultrapasse os limites das palavras.
Um livro se inicia pelo título, se estende pela capa, dedicatória, prefácio e finalmente o conteúdo. Eu me lembro de um livro famoso nos idos de ´70. O título era bem sugestivo, A Vida Sexual do Homem de 60 Anos. Era um livro de aproximadamente 150 páginas. Quando se abria o volume, notava-se que as páginas estavam em branco, exceto a ultima que dizia: “Apresse-se! Escreva suas memórias. Eu não consegui.”
Não me pergunte quem é o autor, dei o livro de presente, mas a advertência tem me perseguido pelos últimos vinte anos. Será o tema de um futuro livro, espero escrever antes dos 60 anos, mas ainda estou recolhendo material.
Esses dois exemplos demonstram como um texto pode ser trabalhado, desde o título até o local onde esse texto será inserido, tudo pode ser elemento do texto e ir além dele na construção da história.
Quando eu digo: Finalmente dormiu, descanse em paz. O que estou fazendo é contando uma historia em cinco palavras, cada uma delas modificando o significado das anteriores, acrescentando e direcionando a imaginação, criando um contato com o leitor e sua capacidade de entender o que esta na mente do autor.
Vejamos um exemplo de uma construção de um microconto e como as palavras o modificam conforme vão sendo acrescidas.
Título: Amor Virtual
Texto: Digite Sexo.
O título e o texto se completam e criam uma história que pode ser ampliada ou modificada: Digite sexo e idade. Fantasie, não minta.
A cada acréscimo o sentido se modifica. No primeiro complemento fica frio, muda o sentido do primeiro termo, no segundo retoma um caminho diferente e modifica o título.
Esse poder de alterar toda uma seqüência, está em cada palavra em um texto, cada vírgula, cada ponto. Brincar com esses elementos é construir formas diferentes de dar uma mensagem que pode ser explicita ou obscura, com múltiplos significados, como na frase: Sorria! A câmera está quebrada.
O motivo para o sorriso pode ser o mais variado. A frase pode ser uma piada, ou o dialogo entre dois bandidos, ou ainda a constatação de uma tragédia. Tudo depende do contexto onde a frase vai ser usada. O que fica claro é que há dois interlocutores, o que manda sorrir e o outro que poderá sorrir, ou não, se for o dono da câmera. Se eu inserir apenas uma palavra, “já”, eu condiciono a frase a uma situação mais específica: Sorria! A câmera JÁ está quebrada. Modifiquei a frase que passa a descrever um ato de vandalismo, no mínimo, com a cumplicidade do outro interlocutor.
É preciso prestar atenção a cada palavra que se insere no texto, de forma que elas cumpram o objetivo de tornar indiscutível a situação, criando, porém, o vínculo mágico entre o leitor e o autor de forma que possam conversar e acompanhar a história que será contada. Então, serão testemunhas oculares do encanto da literatura.
Um comentário:
Maravilha Danny.
Um nó desatado antes da escrita.
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