Todo autor sabe que parte do seu
inconsciente se projeta na sua obra, mesclando-se ao produto criado, tornando-o
único.
Um texto tem por objetivo levar uma
mensagem ao leitor. O conteúdo dessa mensagem varia de acordo com a vontade e o
momento de quem a produz e se completa naquele que lê.
Essa característica permite a
identificação com o autor, cria uma ressonância entre as partes envolvidas e
produz a mágica da leitura. Quanto melhor for a mensagem, melhor será a
sintonia e mais apreciado será o texto, atingindo o fim para o qual foi
produzido.
Porém na escrita, como em outras formas
de arte, o inconsciente se manifesta mesmo contra a vontade do autor e pode
colocar conteúdos que não fazem parte da mensagem ou até, em alguns casos,
suprimir o que deveria estar lá.
Essa falha nem sempre é visualizada
pelo autor, pode escapar de várias revisões e criar um ruído na mensagem original
prejudicando a sintonia.
Para evitar isso, existem algumas
técnicas simples de ser adotadas. Em primeiro lugar, para evitar que a
inspiração se perca, deve-se colocar tudo o que vem a mente no papel (ou na
tela do editor de textos) sem maiores preocupações, deixando fluir as imagens
da forma como elas vem à mente e na seqüência que aparecerem.
Depois de concluída essa fase que eu
chamo de Bloco Granítico, passa-se a produção efetiva, que nada mais é do que
esculpir a imagem que se tem, nesse bloco inacessível a qualquer outro além
daquele que o criou.
Deve-se dar os contornos, criar os
traços básicos, o que no texto significa colocar em ordem as seqüências das
cenas de forma coerente e que não comprometam o objetivo.
Agora o trabalho parece estar pronto.
Já se pode ver a mensagem que desejamos transmitir e é muito comum que o autor
visualize sua obra prima nesse esboço.
A mensagem, porém, precisa estar
visível a todos, então faz-se necessário o acabamento.
Com cuidado, deve-se ler cada palavra e
ver a sua localização na frase de forma a verificar a sonoridade que ela
produz. Um texto bem elaborado deve ser uma música para os ouvidos, ter
harmonia e ritmo. Um bom artifício é ler em voz alta o que está escrito, ouvir
o efeito que se produz. Mesmo em uma leitura silenciosa o leitor ouvirá a sua
voz interna, que difere da voz do autor.
Ler em voz alta produz um efeito
semelhante ao de outra pessoa lendo. Se houver repetições de som ou dificuldade
na leitura a harmonia do texto precisa ser trabalhada.
Outra ponto importante é a repetição de
palavras.
É necessário dizer ao leitor quem está
falando ou a quem o personagem se dirige em um dialogo, porem deve-se fazê-lo
de forma subjetiva, evitando-se os mesmos termos em um espaço pequeno. A repetição
cria a sensação de que já leu aquele trecho e a tendência natural é não prestar
muita atenção, provocando uma ruptura no fluxo de leitura.
A sequência de apresentação dos
argumentos também é importante, deve haver uma descoberta constante, um
acréscimo de informações de forma coerente.Por exemplo:
“Amaro Morreu!” No encontro
comemorativo será feita leitura do texto, aproveitando que os convidados
estarão presentes para prestar suas homenagens ao Julio Antunes, o autor deste
famoso livro.
Uma seqüência melhor seria: Haverá um
encontro em homenagem ao escritor Julio Antunes com a leitura de um texto do
livro “Amaro Morreu!”, para os convidados.
Observe que várias palavras foram
suprimidas e a mensagem foi reordenada tornando-se clara.
Um fato a ser destacado é a redundância
subjetiva, muitas vezes não percebida claramente. Se o evento é em homenagem a
alguém, pressupõe-se homenagens, não sendo necessário reforçar no texto.
É comum que os escritores busquem
formas poéticas em seus textos, como:
As lágrimas escorreram dos olhos; O sol
surgiu iluminando tudo; Bateu violentamente o punho sobre a mesa; Abriu os
olhos e viu o que acontecia.
Lágrimas só podem escorrer dos olhos, o
sol sempre ilumina, é impossível bater gentilmente e só com os olhos abertos é
que se pode ver.
Ou seja, pode parecer poético, mas é de
extremo mau gosto e desnecessário, enfraquecendo a frase.
Outra forma que corrompe o objetivo,
sobrepondo camadas desnecessárias, são os adjetivos que em excesso tornam-se um
problema:
A rosa de pétalas macias, perfumada com
o mais doce odor dos campos, com sua cor vermelha, sensual, era o símbolo
perfeitamente talhado desse amor.
Poderia ser dito apenas: A rosa
vermelha era o símbolo desse amor. Tudo o mais já implícito na frase, se torna
cansativo ao ser lido.
O leitor é carente de novidades, de
acréscimos ao seu conhecimento, esse é o motivo de ler a mensagem, e quando há
muitas voltas para atingir esse objetivo perde o interesse.
O autor cria para os outros, sua obra
tem que se completar naquele que vai ler, e para isso precisa limpar os
excessos e criar o efeito desejado. Se esse não for o objetivo, então a obra
não é para ser apresentada ao público, devendo ficar restrita a mente de quem a
criou, preservada em sua intimidade.
Quando apresentada, a obra deixa de
pertencer unicamente ao autor, passando a fazer parte da vida de quem a vê e a
interpreta, se for bem elaborada, permanecerá integra; senão, será vista de
formas diferentes com efeitos imprevisíveis.
A busca da mensagem perfeita e
incorruptível é o objetivo de todo artista e estes são apenas alguns passos
nessa jornada sem fim, mas nunca é tarde para se iniciar algo que nos fará
melhores.
(Danny Marks)
Figura: O Beijo - Rodhin
6 comentários:
Este texto está muito gostoso de ler, esculpindo com palavras Danny.E ainda uma escultura do Rodin pra ilustrar.
Excelente.
Obrigado,Flávia,
A idéia é dar dicas para aqueles que tem vontade de escrever (nem que seja em um blog ou orkut) e também mostrar a importância que há em saber ler de forma crítica.
Fala meu professor, nada como amanhecer lendo suas maravilhosas dicas!!!
Obrigado, Adriana,
Eu me esforço para ensinar o pouco que aprendo e partilhar a magia das palavras. Espero que esteja aproveitando a oficina. Pode apresentar dúvidas, sugestões, críticas, o que achar importante.
As proximas "aulas" devem estar no blog em breve, não perca rss.
Além de bruxo, és escultor....
Hum... deliciosos de ler.
beijinhossssssssssssssssss
Samarah,
São aspectos da magia. A arte, faz parte do Universo Mágico, com sua força é capaz de criar um mundo diferente. A história prova isso ;)
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