quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Três Reinos - Danny Marks



 Reza a Lenda que um rei chamado Lucidus, buscando um bom marido para sua filha e um bom sucessor para seu reino, dispôs-se a testar os pretendentes de diversas formas até conseguir três candidatos, fortes, corajosos e inteligentes, ao cargo.
            Para decidir qual dos três ficaria com o cargo de regente deu-lhes um ultimo teste.
            Cada um deles deveria governar por um período de cinco anos, províncias afastadas do reino que tinham sérios problemas. Nenhum deles saberia dos progressos dos outros concorrentes, e somente uma vez por ano teriam comunicação do reino. Findos os cinco anos o que melhor se saísse seria aclamado como o novo regente.
            O Rei, em sua generosidade, determinou que fossem concedidos durante os cinco anos de regência, dinheiro, suprimentos e materiais em partes iguais para cada um dos pretendentes, de forma que estes pudessem suprir as necessidades da comunidade. Mas, secretamente decidira que, para cada ano de fartura um ano de penúria se seguiria até que se completassem os cinco anos. E assim foi feito.
            A província de Abidos seria governada por All Sam que, assim que chegou, distribuiu as dádivas do rei entre todos, sendo imediatamente aclamado pelo povo.
            A província de Bembidos  seria governada por Bam Sam, o prudente, que determinou que nada fosse entregue ao povo, mas guardado no palácio para quando se fizesse necessário. O povo o recebeu com desconfiança.
            A província de Causum seria governada por Calcos, que depois de andar pela localidade ordenou que parte dos donativos fosse entregue à população mais carente e que o restante fosse guardado no castelo.
            Veio o segundo ano que, como determinado,  nada seria doado pelo rei.
            All Sam de Abidos revelou ao povo que os suprimentos doados pelo rei não haviam sido entregues mas que ele buscaria resolver a situação e novamente foi aclamado.
            Bam Sam de Bembidos temendo a revolta, cada vez maior, do povo decidiu distribuir o estoque do palácio e acabou sendo aclamado.
            Calcos de Causum convocou o povo e revelou o seu estudo para corrigir os graves problemas da província e declarou que haveriam mutirões para reconstrução das estradas, irrigação das colheitas, criação de áreas de lazer e centros de estudos. Os voluntários receberiam como pagamento parte dos suprimentos estocados no palácio. O povo atendeu, mas houve os que levantaram a voz dizendo que era obrigação do rei cuidar de seu povo sem jogar esse ônus para seus empobrecidos súditos.
            No terceiro ano os suprimentos chegaram.
            All Sam apressou-se a distribuir os donativos para acalmar o povo que não acreditava mais em seus discursos de prosperidade vindoura quando fosse eleito novo rei. Quando os suprimentos chegaram às suas mãos todos o aclamaram novamente...
            Bam Sam revoltado com a população que, em sua opinião, eram um bando de preguiçosos que só queriam bem-aventuranças e nada de trabalho, decidiu devolver os donativos do rei; assim este o julgaria o melhor dos candidatos por sequer precisar do auxilio do rei e o povo teria que se trabalhar se quisesse sobreviver, senão que morressem de fome...
            O povo julgou que o regente havia ficado louco ou que o rei havia lhe retirado seu apoio, atacaram a comitiva que retornava e roubaram os suprimentos.
            Em Calcos, com a ajuda do povo, novos trabalhos foram executados para ampliar o que já havia sido feito. Os poucos que antes reclamavam foram silenciados pelos resultados que fazia a comunidade prosperar.
            Novamente as provisões do rei foram parte para o povo, parte para as reservas do palácio.
            Eis que o quarto ano chegou e nada foi entregue.
            All Sam procurou acalmar o povo revelando um suposto plano do rei de casa-lo com a filha e prometeu que iria garantir que no ano seguinte tudo iria melhorar.
            Bam Sam vendo o povo cada vez mais faminto e revoltado, ordenou às suas tropas que reprimissem toda e qualquer manifestação contraria ao seu governo, em troca teriam todos os donativos do rei distribuídos entre si.
            E o povo foi fustigado e reprimido com violência, ficando mais revoltado.
            Em Causum, Calcos agradeceu ao povo a colaboração nos mutirões de reconstrução e destinou parte dos estoques para promover festas para todos, e o povo feliz por não ver mais necessitados entre eles, e ao ver sua província próspera, aclamou-o e jurou-lhe fidelidade.
            Quinto ano, nenhum donativo chegou, apenas um mensageiro com uma enigmática mensagem
            “Nada mais poderá ser dado pelo Rei, nada será tomado enquanto o Rei Viver...”
            All Sam ao ver a mensagem, saltou em um cavalo e fugiu, antes que o povo descobrisse a sua desgraça. Jamais foi visto novamente...
            Bam Sam não teve tamanha sorte, o mensageiro já se comunicara com as tropas revelando que nada seria entregue, e estas acabaram por se juntar ao povo, que no auge de sua revolta invadiu o palácio e destruiu tudo e todos que lá se encontravam.
            Calcos julgando que o soberano estava com dificuldades convocou o povo pedindo voluntários. E novamente o povo o atendeu ao seu chamado. Um exército foi formado e, levando consigo grandes quantidades de suprimentos, rumou para a capital do reino.
            Qual não foi a surpresa ao encontrarem nos limites da cidade o rei e sua comitiva que cavalgavam ao seu encontro.
            Calcos aproximou-se de Lucidus e dirigiu-lhe a palavra.
             Meu Rei, que mal lhe aflige? Nada nos revelaste em tua missiva, mas teu povo aqui está para livrar-te da penúria e de teus inimigos, somos teus servos para o que precisares...
            — Não meu caro Calcos, como descobriste por teu próprio mérito, o governante é o servo de seu povo. Aquele que buscar governar para si nada terá e aquele que para todos governar por todos será atendido.
            O Único mal que pode destruir uma nação é a incompetência de seus governantes, pois assim como teu corpo, por mais forte e sadio que seja, sem uma cabeça para conduzi-lo perecerá; também a tua cabeça sem um corpo para executar teus planos, impotente fica. É desta forma que tem que ser um rei e seu reino.
            Hoje, dou-te minha filha por esposa e meu reino para que o sirvas, levai os frutos de tua sabedoria, que destinavas a mim, para Abidos e Bembidos, restabelece a paz em teu reino. Tu és Rei e este é teu Povo
            E Calcos foi aclamado por todos e com sua direção a paz e a prosperidade voltaram àquelas terras.

6 comentários:

Álvaro Lins disse...

Gosto de aprender:)!
Parabéns pelo texto.
Bjo

Danny Marks disse...

Obrigado, Alvaro,

Aprendemos todos nós e redistribuimos o aprendizado como podemos.
Seja sempre bem vindo ao nosso espaço.

Forte Abraço

ricardo alves / são paulo,brasil disse...

excelente texto,misto de conto e resenha!

Danny Marks disse...

Valeu, Ricardo,

Esse é um texto antigo do primeiro projeto Retratos da Mente, que deu origem ao projeto atual.
Coisa de "album de família" rsrs, as fotos antigas também tem seu charme e nos lembram da trajetória que percorremos.

Abraços

Sempre Janice disse...

Belo texto.
Parabéns!!
Beijos!!

Danny Marks disse...

Obrigado, Janice,

Embora trate-se de um texto antigo que reeditei especialmente para o blog, está com o timming bem atual, por conta das eleições que estão para acontecer.

Em qual candidato você votaria?

Forte abraço :)

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