sábado, 2 de abril de 2016

“Acerca da Fantasiosa, Trágica e Cômica Guerra dos Robôs Verdes contra os Amarelos na Tentativa de Destituir os Vermelhos da sua Posição Inexistente de Surreal Vilipendio” — OU — “É o que é” — Danny Marks



Há quem diga, ao analisar os fatos a serem relatados, que o problema da invasão dos Robôs se antecede aos primórdios da citada civilização quando, por uma falha devastadora de trajeto, uma frota de naves acabou desembarcando em terras nunca antes vistas daquela forma.
Mas, devido a necessidade e complexidade de se relatar os fatos de forma eficaz em tão curto espaço, farei apenas um recorte mais imediato, no máximo traçando uma breve e tênue linha de raciocínio que venha deste primeiro erro, para não dizer erro primário, passando por todos os outros que se seguiram, justificados ou não pelos anais da história conhecida e desconhecida, desembocando na singularidade do momento contemporâneo.
Desta forma, vamos dizer apenas que; por uma evolução lógica de simbioses consecutivas dos mais diversos tipos e gêneros, na linha de produção de novos e eficientes auto governantes que se proclamassem assim à custa de força ou de convencimento dos que comporiam a massa governável, justificativa primária para a própria existência dos que os conduziam; não se poderia deixar de chegar, dos biônicos mandatários, aos atuais robôs sectários.
Os mais eruditos hão de se polarizar, defendendo ou repudiando, mas sempre relacionando, acerca da mítica e profética filosofia de Gambi Harra sobre as peculiaridades dos organismos de convívio existentes nestas terras coloridas pela própria natureza em que os contrastes se dissolvem e se reforçam criando não sínteses, mas junções funcionais de solução imediata que se tornam permanentes pelos usos.
O certo é que, pela filosofia de Gambi Harra ou contra ela, se estiver dando certo, mesmo que errado seja, não se mexe, até que se prove contrário; para não dar errado, até que se descubra qual seria o certo primordial que teria evitado todo prejuízo consequente. Sendo assim, cada vez mais o errado que dá certo foi feito e criou-se uma verdadeira cultura do “jeito que dá certo”, sendo o “jeito” não a forma de fazer, mas o artifício usado para fazer com que o errado se contradissesse, e se tornasse certo.
Essa formula mágica foi se estendendo para todos os lados de forma tão rápida que, não fosse vista pela própria cultura que a incentivava, seria impossível de se compreender. Logo era comum se valorizar tanto a inversão que se mandava para fora das terras administradas, por todos os meios possíveis e imagináveis, as melhores mentes para que cometessem erros lá fora, em outras terras. E por serem erros produzidos por, ou com interferência de, membros exportados destes locais, facilmente se poderia aplicar o antídoto ao errado dando um “jeitinho” que o tornaria certo de ser usado por aqui sem os custos de tê-los produzido inicialmente. Era o princípio de exportação da matéria prima para importar o produto refugado.
Importando erros de todos os lugares e “ajeitando” na forma nacional de se viver, conseguiu-se progressos fenomenais na música, por exemplo, com híbridos como o Rock-sambanejo, o axé-pagode-funk, o Rap de atitude funk, até se chegar ao máximo de aproximação da voz que ficara muda, graças aos céus por isso, por tantos anos com o Funk Favela.
A aclamação inevitável desse contagioso processo foi quase que unânime em todas as classes sociais e mídias. A tal “Norma Culta” teve que se curvar definitivamente ao preceito de que não existe erro, apenas formas diferentes de se fazer o errado e apenas uma de se fazer o certo. E viva a diversidade nivelada ao mínimo para poder abarcar a todos os desfavorecidos de alguma forma e eleva-los ao nível de criaturas desejantes. Esse era o desejo por trás da revolução calcada nas palavras proféticas de Gambi Harra que garantia cada vez mais os governantes robóticos que se imiscuíam em todas as esferas de poder. Não se faz necessário dizer que robôs necessitam de poder para viver, se alimentam de poder da mesma forma que máquinas não pensantes se alimentam de eletricidade, outra forma de poder.
              Tudo estaria bem se houvesse unanimidade, seja na forma de poder, seja na forma de conquista-lo, ou ainda, se houvesse apenas um grupo de interesse, um tipo de robô.
              Mas as invasões robóticas ocorreram por todos os lados nas mais variadas terras e das mais variadas formas, provocando a necessária disparidade de elementos que se percebe ao aplicar-se variáveis evolutivas a elementos diferenciados por longo tempo.
              Aqui mesmo houve a guerra dos robôs verdes contra os amarelos, apenas porque uns eram alimentados pela queima de produtos para gerar energia, enquanto outros eram alimentados pelo uso de elementos raros e valores subjetivos. Uns queriam petróleo e terras de plantio e de pasto, outros queriam minérios e papeis de valor. E na guerra de um contra o outro, na eterna batalha de um para derrubar o outro, surgiram os vermelhos que queriam ir além, que diziam-se capazes de extrair o poder da biomassa manipulada adequadamente. E quando verdes e amarelos perceberam, os vermelhos já haviam se posicionado de forma irredutível em seu lugar abstrato de poder.
              Segundo a teologia de Máximus Popularis, aquele que retira do que retirou de outro o que não lhe pertencia, sem nada em troca lhe dar, merece ser perdoado sem demora por prazo estipulado que lhe supere a expectativa de vida. Então, Verdes e Amarelos nada puderam fazer ao ver que Vermelhos usufruíam à sua maneira do mesmo quinhão que antes lhes pertencera e que, de certa forma, ainda usufruíam, só que menos.
              Apesar disso, estaria tudo bem nesse delicado equilíbrio, haja vista que um tripé se sustenta melhor que um bípede, ainda que no tripé lhe falte um dedo de apoio. Bambeia mas faz, e quem não faz? Certo?
              Errado. Esse é o problema máximo da filosofia inversionista de Gambi Harra, quando o errado é certo, o certo é errado; ou seja, através da evolução natural do erro, surge o defeito congênito. E, por inevitável justiça que no universo se faça, as coisas evoluem sempre de forma inexorável até que algum fator lhe altere o rumo ou a intensidade.
              Assim, no vácuo de governança que se presenciava, de forma a garantir que nenhum lado se favorecesse mais do que o já combinado, alça-se ao mais elevado bastião aquele robô que, se para vermelhos não convence pela sua incapacidade, para verdes e amarelos se deseja que convença e termine por se auto destruir inevitavelmente, levando consigo quem apoio deu.
              Se as coisas não seguissem os preceitos de Gambi Harra, já arraigados até o mínimo sustentáculo organizativo nestas terras, teria dado certo. Um lado apoiaria e controlaria, o outro se absteria e aproveitaria as brechas, e todos estariam bem. Nada melhor que um robô sem cérebro para ser o rosto dos mecanismos que o controlavam sem aparecer. A Marionete era o ápice da evolução dos robôs, estes mesmos controlados à distância por invisíveis forças, mas pensantes de sua autonomia.
Mas eis que a Marionete nasceu com defeito, ou melhor, justificou-se completamente toda a sua evolução defeituosa, e surpreendentemente se tornou inquebrável, tortuosamente deficiente, e o pior, impossível de ser controlada, ignorada, direcionada, derrubada, destruída. Eram tantas adaptações malfeitas que se juntavam em reforços temerários que nem o mais genial projetista conseguiria descobrir qual o botão que desligava a aberração. A Marionete tinha tantas falhas que se tornara a prova de falhas, e as provava a todo instante.
              Foi então que verdes, amarelos e vermelhos se juntaram contra o Cinza, antes que cinza se tornasse de vez o padrão. Mas, novamente pelos princípios já elencados a farta, não se fez o que deveria ser feito de errado, e tentando fazer o certo, errado se tornou e começaram a aparecer todos os erros, que certos seriam se não fossem expostos, e todas as amarrações que sistematicamente foram feitas para se reforçarem mutuamente, começaram a falhar. E quanto mais os Verdes, Vermelhos e Amarelos tentavam corrigir o defeito do Cinza, mais a coisa ficava marrom.
              E aqui estamos, ainda sem saber como se dará o final, mas na esperança de que as coisas deem errado para que se tornem certas e não tenhamos que corrigir do zero todos os acertos que se fizeram pelos erros dos que, julgando-se acima de qualquer erro, erraram feio.
              É o que é, e tenho dito!


 Dr Soum Homem
Antropófago Social e Sexoanalógico

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