Eu
sempre gostei de paradoxos. Chama a minha atenção essa coisa quase impossível
de existir. Dois opostos perfeitos em rota de colisão que extrapolam as leis da
lógica por existirem em um nível diferente.
Mas
ultimamente tenho me assustado com os paradoxos.
Já
estava intrigado com a imensa quantidade de pessoas que optavam por gravar em vídeo
com seus celulares, eventos em que se esforçaram para estar, e que poderiam
vivenciar depois nas imagens ruins, não naquele momento em que precisavam
compor a prova de sua participação. Participação?
Mas
paradoxos são surpreendentes. Em um barzinho de uma certa cidade um grupo de Death
Metal, cuja tradução seria “Metal da Morte”, tocava para um grupo de jovens as
suas músicas falando de morte, violência, da fragilidade da vida, esses temas
niilistas que agradariam a Nietzche se vivesse hoje em dia, teve seu show
interrompido por outro grupo de jovens que, em nome de uma suposta
religiosidade, levaram violência, morte, e demonstraram a fragilidade da vida
com balas de metralhadora e bombas, destruindo tantos quanto puderam antes de destruírem-se
também.
Em
outra cidade, uma empresa que tira o seu lucro de desenterrar riquezas do solo,
provoca uma catástrofe sem precedentes na história da humanidade, enterrando um
rio com toda a sua fauna e flora, uma cidade com seus habitantes, uma cultura
local que jamais vai se recuperar do pesadelo de lama que a soterrou.
Em
outra cidade manifestações acaloradas contra uma suposta peça de teatro, de gosto
duvidoso, que recebeu mais publicidade gratuita que outras peças excelentes,
devido a ser de gosto duvidoso e por ser financiada pelo governo. E o paradoxo
não para aí, boa parte das pessoas que foram contra o financiamento do governo
da tal “arte duvidosa” se beneficiam do financiamento do governo em programas
de “socialização duvidosa”.
Sem
falar naquele representante do povo que, sem consultar o povo que representa,
decide fechar escolas para “melhorar a qualidade do ensino”. E os alunos que
normalmente querem distancia da escola, tanto que é preciso fazer campanha e
até lei para obriga-los a ir para a escola, decidem ocupar as escolas para
defender o seu direito de ter uma escola para não ir, e até de ter professores
para discutirem, baterem, ignorarem.
Eu
adoro paradoxos porque eles escondem uma verdade mais profunda, algo que não é
visto de cara. Há uma lógica que nos escapa aos sentidos e quando a percebemos,
às vezes, até achamos engraçada e a chamamos de ironia.
E não
conheço ninguém melhor para lidar e explicar a ironia inteligente do que o
grande Machado de Assis, ele próprio uma ironia. Um negro, coxo, em uma sociedade
escravagista, que passou para a história como um dos maiores críticos da
sociedade e, que me corrijam os especialistas se puderem, o maior gênio e
crítico da complexidade humana. Ler os textos que Machado de Assis escreveu há
mais de um século é ter a impressão que foram produzidos ainda o ano passado,
ou este.
Foi
Machado que disse que a arte de viver consiste em tirar o maior bem do maior
mal. Foi o cara que escreveu a inacreditável história de um analista que queria
curar a loucura, até descobrir que a única loucura que precisava ser curada era
a dele. Antecipou a “Igreja do Diabo” onde tudo era permitido com a benção do
capeta, que tinha a ilusão (e a concessão de Deus) de que ao fundar uma igreja
conseguiria corromper de vez a humanidade, e acabou desconsolado com a
contradição humana.
Ah, se houvesse
uma maneira de trazer Machado à vida novamente para explicar os imensos
paradoxos que a humanidade apresenta todos os dias. É nesses momentos em que
os paradoxos se riem de nós, pobres mortais, porque Machado está vivo, suas palavras
ainda estão acessíveis depois de sua morte sem que tenha uma única vez feito um
selfie, gravado um vídeo.
Foi na contradição paradoxal de Machado de Assis que achei a resposta
"Há
pessoas que choram por saber que as rosas têm espinho. Há outras que sorriem
por saber que os espinhos têm rosas." (Machado de Assis).
Como
contestar isso?
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