segunda-feira, 6 de maio de 2013

Tripas para Violino - Danny Marks



 

É a gota d’água, ficar olhando acima de todos. Ninguém olha para cima, a menos que lhes jogue algo sobre as cabeças desnudas.
Os decotes são mais visíveis do alto, cortes nas roupas mal feitas, sapatos estragados pelo andar torto, vicissitudes perdidas na multidão. O padrão é ser diferente, esquisito.
Apressados carneiros, assados ficam mais apetitosos, as peles avermelhadas marcadas por tons mais claros como tatuagens tribais. Canibais.
Devoro cada um deles em fantasias compondo um carnaval de melodias, nota a nota.
Notem, sou eu que estou tocando sem mãos, a olhos vistos. Antenas portáteis que cruzam espaços preenchidos por corpos deformados na lente, gente.
Teleguiados é o que são, emissários de algo imaterial que se lança de um espaço ao outro. Entre o ponto A e o B, explodindo em risada, choro, rosnado, grunhido e passos largos de cacófagos. Bacteriófagos a inocular através da grande ocular.
Atiro letras picadas ao vento, insultos desmembrados que não podem ser compilados. Complicados, ninguém lê. Ofensas não sobrevivem sem destinatários risíveis.
 Vivem informados apenas pelos donos, arrastando suas tripas tensas para compor uma melodia sinistra, sol2 ou sol6, enquanto o arco se arrasta, evolui e em desafino rompe a estratégia das notas.
Uma luz cortante que apaga todas as outras. E à gota d’água se juntam tantas outras.
No escuro apenas os dentes brancos aparecem. Obrigado, Deus!
A hora da caça chegou.

 

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