Meus amigos, este final de semana estarei em algum lugar. Ainda não sei onde, não importa.
Recentemente eu vi uma mulher de 72 anos saltar de asa delta e me perguntei se teria que esperar tanto tempo para fazer o mesmo, ou quem sabe ir à praia, andar sem rumo, ver novos lugares ou ler um livro novo.
Sou escritor, supostamente uma opção ingrata em um país que, dizem, não gosta de ler. Ouço tanto isso, principalmente autores e professores, que me pergunto se nem mesmo estes lêem.
Dizem que um livro é caro neste país.
Consideraria um livro de vinte reais caro se não custassem o mesmo que cinco maços de cigarro que viram fumaça em tão pouco tempo, ou quatro cervejas tomadas em alguma balada que escorrerão pelo ralo do banheiro antes que o dia amanheça. Talvez ler seja apenas uma opção que alguns resolvem descartar antes de terem tentado, e isso realmente não me preocupa.
É a minha opção ser escritor.
Não por querer os lucros ou os louros de uma carreira que brinda com o sucesso apenas alguns, nem sempre merecedores consensuais desse mérito. Como em tantas outras carreiras, o esforço se comunga com a sorte e com a inteligência em uma formula de sucesso que poucos conseguem realizar.
Também não almejo a imortalidade que livros podem trazer, ainda que não me furte a achar a idéia da imortalidade sem vida como sendo uma das principais premissas literárias.
Não esperem as minhas recriminações aos seus hábitos, sejam quais forem. Eu já tenho os meus próprios para meditar sobre méritos e deméritos.
Se há os que gostam de ler em livros, também há os que gostam de ler a vida em outras formas, seja na mesa de um bar, seja no salto arrojado no vazio de uma encosta de montanha, no cavalgar das ondas ou na imersão literal em um mundo desconhecido onde somos aliens desgarrados de nosso passado.
A vida se dá de várias formas que chamamos arte e mesmo a sensibilidade para perceber isso é uma forma de arte.
Arte de viver.
Então, meus amigos, não esperem por mim este final de semana.
Já devem ter percebido que não há abandono algum por eu não estar ao seu lado. Não há fuga ou descaso. Veja o livro na estante de sua casa, que sempre aguarda paciente que alguém o leia para formar o vinculo mágico, que pode durar por toda a vida ou até ser passado para outras mãos por empréstimo jamais devolvido ou doação mediante suborno.
Para mim o principal é continuar a ler a vida em todos os aspectos que puder encontrar, enquanto houver vida que possa identificar a vida no entorno. E se há um tempo para se viver ou para se morrer, também haverá um momento para se deixar a vida de lado e fazer o que não se quer, o que não se gosta, o que se pensa necessário e o que realmente é necessário.
Mas não este fim de semana.
Estarei lendo a vida em algum lugar e talvez em um momento de distração, se peguem a olhar a grama crescendo, o vento murmurando alguma musica para os frutos amadurecerem. Não riam se perceberem alguém contando as gotas de chuva ou os reflexos do sol. Acima de tudo não estranhem de me encontrar por ai. Este imenso livro que chamamos de mundo tem tantas histórias e eu tenho tanta pressa de conhecê-las que, talvez por simples obra das leis inexoráveis que juntam os semelhantes, nos encontremos este fim de semana para ler o nosso próximo capítulo.
Não esperem por mim este final de semana, eu estarei bem ao lado.
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