quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Sobre Homens e Tulipas - Danny Marks


          O Jovem parou em frente ao portão de ferro que guardava a entrada da mansão, tocou a campainha e aguardou.
            Estava com seu terno novo, e apesar do calor, tremia. Não era de frio, apenas nervoso. Tinha enviado seu currículo para uma empresa e fora convidado a comparecer naquele local.
            Um homem idoso, se aproximou e lhe disse.
            — O que deseja?
            — Eu fui convocado para vir aqui, estou interessado em ocupar a vaga que ofereceram e...
            — Ah, sim, venha comigo.
            Abriu o portão e começou a se dirigir para um local afastado da casa.
            Enquanto o recém chegado andava atrás do velho, reparou que este usava roupas gastas sujas de terra. Deve ser o jardineiro, pensou.
            Ao chegarem próximos de um canteiro de tulipas o velho lhe disse.
            — São muito delicadas e precisam de certo cuidado para plantá-las. Já plantou tulipas?
            — Não, nunca tive oportunidade...mas é que...
            — Venha! Vou lhe mostrar como se faz.
            E com todo cuidado mostrou ao rapaz como se plantava a tulipa. Depois pegou outra e a entregou ao jovem.
            — Tente você agora...Talvez não tenha outra oportunidade para aprender a fazer corretamente...
            O jovem ficou indeciso, poderia se sujar todo e ficaria mal apresentado quando fosse ser entrevistado, mas o velho era simpático e parecia achar aquilo muito importante. Quem sabe se tomasse cuidado...
            Pouco a pouco foi fazendo como o velho lhe dizia e acabou plantando a tulipa, porém, sujara a roupa.
            — Caramba, e agora, preciso me apresentar bem para o seu chefe. Deste jeito ele nem vai querer me ouvir...
            — Posso lhe emprestar uma roupa.
            O jovem ficou pensando, que tipo de roupa o jardineiro teria para lhe emprestar, mas para não desagradar o homem resolveu aceitar.
            Foram até uma pequena casinha onde o velho lhe deu uma roupa limpa mas, gasta pelo uso.
            E lá se foi meu emprego, pensou o rapaz. Talvez se pudesse explicar o ocorrido... Perguntou para o jardineiro onde poderia encontrar o local das entrevistas.
            — Ali na casa grande, já tem alguns esperando lá...
            — Então deixe-me ir, já devo estar atrasado. Obrigado por me ensinar a plantar tulipas. Talvez precise arrumar emprego de jardineiro.
            — Ora meu jovem, tudo o que se aprende é usado, até quando menos se espera.
            Apressado o jovem foi até onde o velho lhe indicara, e lá encontrou com mais três que esperavam ser atendidos. Imediatamente viu o olhar de zombaria dos outros, todos de terno, e ele com as roupas do jardineiro.
            Pensou em ir embora, mas o que tinha mais a perder? Resolveu ficar.
            Logo entrou um senhor com um belíssimo terno e um sorriso cativante, cumprimentou a todos e abriu uma pasta onde se estavam alguns papeis.
            — Vejo que todos foram aprovados nos testes iniciais, e gostaria de lhes dar os parabéns, mas nossa empresa necessita de Pessoas Especiais para o cargo que estão angariando.
            — Eu tenho vinte anos de administração, sou....
            — Sim, claro. — disse o senhor interrompendo o candidatos afoito — Sei que quase todos aqui, têm experiência em empregos anteriores, exceto nosso jovem amigo...
             O jovem que já estava sem jeito pelas roupas acabou tendo que suportar o riso mal disfarçado dos colegas.
            — Porém, buscamos experiência de outro tipo. — Continuou o anfitrião — Como já disse, nossa empresa precisa de pessoas especiais, com qualidades especiais. Para isso preparamos um ultimo teste, aquele que conseguir passar, terá o emprego.
            Conduziu-os até uma sala onde se viam tulipas esperando para serem plantadas em vasos.
            — Plantem uma Tulipa e sejam nossos novos funcionários. — disse o anfitrião, sério.
            O jovem agradeceu mentalmente a sorte que teve e fez como o jardineiro havia lhe ensinado. Não se preocupou com as roupas, compraria outra para o jardineiro como agradecimento.
            Os outros evitando se sujar acabavam quebrando a delicada planta.
            — Isso é ridículo. — disse um dos candidatos furiosos.— O que plantar tulipas provará sobre minha capacidade de trabalho que minha experiência anterior não tenha provado?
            — Prova muito! Para mim.
            Todos olharam para aquele que havia entrado na sala, Era o velho do jardim, só que agora usando roupas bem cortadas.
           — Todos vocês passaram pelo mesmo teste. A cada um de vocês chamei para ensinar como plantar tulipas, mas somente um se dignou a aprender. Somente um mostrou respeito por um desconhecido e ignorando seus problemas pessoais procurou ser gentil. Quando as dificuldades aumentaram, poderia ter desistido, se rendido a uma situação, mas não o fez. Não me importa o motivo, me importa a atitude.
            — Mas... Você é o jardineiro....— disse outro candidato.
            — Desculpem, foi uma falha minha, senhores! — Interrompeu o anfitrião — Quero lhes apresentar o contratante. Este é o patrão! Ele adora tulipas. Poucas pessoas tocam em suas espécies raras. Essas mesmas que estavam manipulando com...um certo cuidado.
            — As tulipas são como as pessoas — disse o patrão — precisam mais do que técnicas, precisam de respeito, que as tratem como se fossem únicas de sua espécie, porque muitas vezes o são. Técnica eu posso ensinar a qualquer um, mas vivência e respeito, somente a vida pode ensinar.
            — Mas isso é um insulto, ser discriminado por não saber plantar tulipas.
            — Não, rapaz! Não vou contratar alguém tão arrogante que não queira aprender algo novo, ou tão imaturo que necessita ver cargos e não qualidades para ter respeito. Minha empresa precisa de pessoas que comandem as máquinas, não o contrário. Saiam! Melhor sorte da próxima vez. — então voltou-se para o único que conseguira plantar a Tulipa — Quanto a você, meu jovem amigo, no bolso de sua calça está o contrato de trabalho. Se ainda quiser pode assiná-lo e devolve-lo junto com as roupas. Não sei quando elas poderão ser úteis novamente.

4 comentários:

Unknown disse...

Querido escritor,

Os candidatos sairam ainda achando que perderam a vaga por não saberem plantar tulipas, realmente não estavam preparados!
Belíssimo texto em tempos de intolerância a vida e as pessoas!

Lindas tulipas para você!

Beijos,

Danny Marks disse...

Querida Poeta,

Este foi um texto que escrevi depois de ter visto uma fantástica entrevista com o "Papa" da Administração: Peter Drucker.

Na época eu também era um administrador e me marcou muito a idéia de que os "recursos humanos" estavam sendo tratados mais como "recursos" do que como "humanos".

Foi quando me veio a mente a frase que acabou gerando o texto: "Precisamos de Homens para comandar as máquinas, não o contrário".

Anos depois de escrito o texto, pode-se perceber que os empresários estão acordando para a realidade mais fundamental que está explícita no texto: Técnica qualquer pessoa interessada pode aprender, mas vivência, só a vida ensina.

Que esse texto possa ajudar os futuros candidatos a emprego, sobre si mesmos e sobre como lidar com os recursos Humanos que possuem.

As mais belas Tulipas, pra você. :)

Anônimo disse...

Bela história... e bela analogia... Eu fiz administração e parei no 6º semestre. Posso dizer por experiência própria que a faculdade não ensina nada disso. Não que fosse obrigada mas as pessoas ja vêm com uma bagagem e a levam pelo resto da vida. Na sala de aula você ja percebe que tipo de profissionais serão...
Se eu voltar ao curso com certeza vou passar esse texto adiante. Thanks Danny

Danny Marks disse...

Jon, eu tenho certeza de que se você resolver retornar ao curso de ADM, quem vai ganhar são as pessoas que irão trabalhar com você.

Se o texto lhe servir, pode usa-lo, será um prazer poder contribuir de alguma forma.

Abraços Mágicos

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