A maldita velha com o seu lenço vermelho estava de volta. Desta vez não vai me encontrar no meio do papelão. Não importa, ela sempre deixa a “quentinha” e alguns doces em algum lugar protegido.
Eu a tenho observado. Quando comecei a ter forças decidi segui-la, saber onde morava. Não foi fácil. Tenho que ficar andando para lá e para cá para não ser capturado pelos homens de farda.
Às vezes eu a via em meio à multidão, sentia o cheiro de morango que exalava dela e dos doces que carregava em uma cesta de palha trançada, mas quando tentava me aproximar ela já havia sumido por entre os sorrisos bestificados.
Os comentários eram sempre os mesmos, “que boa senhora”, “que coração gentil”. Que puta velha! Isso sim. Viciando com suas gulodices, seduzindo as pessoas com sua doçura fabricada para esconder os seus pecados mesquinhos. Quanto dinheiro não deveria ter na sua casa? Quanta comida boa? Conforto? Como se eu não soubesse que aquele rosto esconde as coisas mais sórdidas, os segredos mais obscuros.
As pessoas são podres, todas elas. Se perderem as coisas que as fazem parecer melhor, ficam iguais a mim, lixo humano. Já está decidido, vou dar um jeito de descobrir onde é a fonte e mergulhar de cabeça até não haver mais nada que eu possa usar e abusar.
(...)
Droga, o que aconteceu comigo? Minha cabeça... Onde estou? Que cheiro é esse?
— Pena que ainda não está gordo o suficiente, mas já dá pra alguma coisa.
Não pode ser... Aquele monstro estava devorando uma mão humana.
Ei! Onde está o meu braço?
Nenhum comentário:
Postar um comentário