sexta-feira, 24 de julho de 2009
Quando a Sorte bate à porta
Ela estava especialmente linda, naquele dia, o sol batendo em seus cabelos e iluminando mais ainda o seu rosto, a felicidade transbordando pelas coisas que trazia consigo. Ela sabia que seriam muito úteis...
Olhou para a casa simples, pintada de verde. Sorriu ao lembrar que eles associavam a cor verde à esperança, mas não era esperança que veriam hoje...
Tocou a campainha da porta e esperou.
Um homem abriu a porta, era de manhã e ele estava visivelmente mal humorado. Como alguém poderia estar mal humorado com um dia tão lindo como aquele, ainda mais quando Ela batia à porta? Bom, isso vai mudar logo, pensou.
_ O que você quer? _ perguntou o homem mal humorado.
_ Bom dia _ Ela disse com sua voz musical, desejando que uma mostra de gentileza e educação, pudessem melhorar o ânimo daquele que a recebia._ Eu vim para lhe mostrar algumas coisas e...
_ Não queremos comprar nada._ falou o homem, seco.
_ Creio que é um engano, não vim aqui para lhe vender nada.
_ Sei..., então veio para pedir alguma coisa. Não fazemos doações também, nos temos que trabalhar muito para ter o que temos, e vocês deveriam fazer o mesmo....
Contendo a sua decepção com a forma mal educada da sua recepção, Ela insistiu.
_ Eu também não vim pedir nenhuma doação _ e como prova disso lhe presenteou com seu mais belo sorriso._ Eu apenas...
_ Não veio pedir nada, nem vender nada? Ta bom, vocês sempre dizem isso e depois ficam empurrando um monte de coisas que a gente não quer, ou então ficam tentando nos amolecer com uma conversinha sentimental sobre o sofrimento de alguém que eu nem sequer conheço. Olha dona, estou de saco cheio de pessoas como você, se vocês tem problemas, nos também, então vá resolver os seus que eu resolvo os meus.
O homem realmente começou a irrita-la, mas seu trabalho era importante, não iria desistir fácil assim. Talvez a mulher que se aproximava para ver o motivo da confusão tivesse mais sensibilidade, normalmente as mulheres são mais sensíveis...
_ Quem é essa mulher? _ Foi perguntando a esposa com fúria.
_ Não é ninguém_ respondeu o homem.
_ Ah, não? Então o que é que eu estou vendo ai na minha frente? O Papai Noel? Não vá me dizer que é alguma vagabunda que anda saindo com você e veio pedir dinheiro? Você não presta mesmo...
Ela ficou indecisa sobre o que fazer, ninguém a insultava assim, normalmente as pessoas se sentiam felizes com a sua presença. Precisava desfazer o mal entendido, se ao menos eles a deixassem falar...
_ Que amante que nada. E eu não ando com vagabundas não senhor...
_ É, teria que ser uma retardada para ser amante de um velho barrigudo como você. Bonita desse jeito deve ser representante de alguma empresa...._ retrucou a mulher como se Ela nem estivesse ali
Aproveitando a deixa Ela decidiu se apresentar.
_ Eu estava falando justamente ao seu marido que...
_ Ela tava querendo vender alguma coisa, e eu falei que não queremos nada..._ Interrompeu novamente o homem.
Ignorando a nova grosseria, Ela se manteve firme.
_ ...Foi Deus quem me mandou aqui para atender às suas preces...
_ Ah, entendi, você é daquelas que aparece com uma bíblia em baixo do braço, falando de Deus e não sei mais o que, mas na verdade não passa de uma vagabunda aproveitadora...Só quer levar o nosso dinheiro e encher o saco de quem está em paz_ disse a mulher interrompendo-a novamente.
Puxa, esses dois precisam muito mais do que o que eu trouxe, pensou Ela.
_ Olha, moça, não temos nada com sua religião mas não estamos interessados em nada do que você possa falar, ok? _ disse o homem querendo se livrar logo dela antes que a sua esposa começasse a fazer especulações. Como a esposa saberia das amantes?
_ Mas eu não vim falar de religião...Eu apenas gostaria de....
_ Sou eu que gostaria de ficar livre de vocês que ficam enchendo o saco, batendo na porta de pessoas ocupadas que precisam de descanso para poder trabalhar honestamente. Vá resolver os seus problemas que nos já temos os nossos, passar bem. _ E a mulher fechou a porta furiosamente, derrubando o enfeite que tinha sobrevivido desde o natal, e aguardava pacientemente o próximo. Nem sequer ouviu as ultimas palavras que Ela pronunciou...
_ Mas, eu vim para ajuda-los...
Ela abaixou e pegou o enfeite, já sujo e mal tratado, agora partido pela queda.
Nele estava escrito:
Neste natal, Jesus nasceu
Sorte, Amor, Paz e Benção
Ao Mundo ele prometeu
No Ano Novo aguardemos então
A Visita do enviado Teu.
Ela passou a mão sobre o enfeite que se reconstituiu e ficou como novo, colocando-o no lugar de onde havia caído. Recolheu as coisas que tinha trazido consigo e se virou para ir embora, entristecida.
Não entendia esses humanos, pediam coisas ao Pai e quando as obtinham, lhe batiam a porta na cara? Trancavam os corações a todas as coisas boas que lhe tinham sido graciosamente ofertadas?
Olhou para o enfeite, talvez um dia outro mensageiro viesse, e quem sabe seria melhor recebido. Mas Ela não gostaria de voltar com todas aquelas coisas...
Claro! Bastaria distribui-las por ai, onde encontrasse corações abertos em que pudesse entrar e ser bem recebida. Com esse pensamento ficou feliz novamente.
Libertou as asas que estavam recolhidas e se lançou aos Céus em busca de pessoas que a quisessem em suas vidas.
Já ia longe quando dentro da casa a mulher gritou...
_ Mas que azar, o gás acabou logo agora, justo quando o bolo estava quase pronto. Agora vai solar todo.
_ Ah, deixa pra lá, eu vou trocar e pronto.
_ Que maldição, meu Deus, porque a gente nunca tem sorte nessa vida? Tudo dá sempre errado.
_ Já te disse mulher, se Deus quiser, um dia a sorte vai bater na nossa porta e ai as coisas vão melhorar, quem sabe até ganho na loteria e fico milionário? _ E disse baixinho pra si mesmo _ Se isso acontecer, ai você vai ver...
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