sexta-feira, 18 de outubro de 2019

Ser Escritor – Danny Marks




          Qual o conselho que você dá para os escritores iniciantes? Invariavelmente me fazem essa pergunta nas palestras que participo e a minha resposta é invariavelmente a mesma: Desista. Se você conseguir então pode ter uma vida tranquila, do contrário, bem-vindo ao time dos que vão sofrer para o divertimento de César.
          Atualmente qualquer pessoa pode publicar um livro, ou vários. Existe uma indústria inteira dedicada aos novos escritores. Sim, é uma indústria lucrativa para quem trabalha no entorno da produção literária. Um autor independente paga para fazerem a revisão, diagramação, capa, divulgação, book trailer, eventos de lançamento, eventos de autógrafos, sorteio de livros, ilustrações, críticos, agentes literários (que talvez consigam uma chance de publicação em uma grande editora). Há os que pagam para uma editora fazer tudo isso e ficam com uma pequena parte do possível lucro e uma boa parte das despesas (as editoras por demanda).
          Há plataformas que você pode até publicar gratuitamente, ou quase, porque o trabalho de vender, divulgar, diagramar, fazer capa, ilustração, etc é todo seu e se conseguir vender bem, recebe parte do lucro. Mas pode se arriscar a enviar originais para alguma editora e responder perguntas do tipo: Quantos dos seus amigos acredita que comprariam o seu livro? Qual o nível de influência digital que você possui? Qual a sua previsão de vendas para um primeiro disparo?
          Há algo errado nisso? Sim, há. Amigos não são “público”, não os torne isso ou vai ficar sem os dois mais rápido que imagina. Amigos podem comprar seus livros e até gostarem de suas histórias, mas não baseie sua carreira na quantidade de amigos dispostos a “dar uma força” ou ela vai terminar de forma mais rápida e frustrante que imagina. Qualquer pessoa razoavelmente consciente de como funciona o mercado literário sabe que um livro não se vende sozinho, por melhor que seja a história. O autor precisa ser, no mínimo, famoso antes de tentar a fama na literatura. Se não for famoso, considere gastar um bom dinheiro em marketing pessoal e do seu livro para ter alguma chance, ou espere um golpe de sorte que pode levar anos, ou nunca chegar.
          Considere também fazer muitos cursos de aperfeiçoamento, melhorar cada vez mais a escrita, aprofundar seus conhecimentos de roteiros, nichos de mercado, estilos literários, tendências de público, pesquisas gerais e ferramentas de trabalho tecnológicas (sim, existem várias disponíveis e necessárias para cada uma das etapas que vai ter que enfrentar). Depois de pronto o livro vem a parte trabalhosa de se divulgar e divulgar a sua obra. E se fizer sucesso (parabéns!) prepare-se para ser cobrado do próximo livro em menos de um ano. Ou seja, não terá tempo para fazer a divulgação do livro recém-lançado e o próximo livro ao mesmo tempo. E se demorar demais para lançar o segundo, já terá perdido o impulso do primeiro, é nesse ponto que entram os agentes da indústria do livro para ajuda-lo (e lucrar) com seu trabalho.
          Isso ocorre basicamente em qualquer país do mundo, mas há países como o Brasil em que as coisas são piores. Aqui livro não é gênero de primeira necessidade, não é considerado como diversão, a menos que possa ser discutido abertamente com os amigos que também leram e gostaram. Ou seja, se não conquistar uma galera legal logo de cara, suas chances de sucesso decrescem absurdamente. As pessoas vão achar muito caro um livro de um autor brasileiro desconhecido que custa em torno de R$ 50,00 (a média das produções independentes), pagarão mais caro para ter um livro importado de um autor famoso, ou irão preferir gastar mais em uma noitada regada a cerveja (uma pizza chega a esse valor facilmente, já pensou nisso?).
          Tem a questão da distribuição, se o seu livro não ficar acessível, não será comprado. O frete custa caro, um livro usado de um autor estrangeiro custa em média R$ 20,00, o frete custa em torno de R$ 10,00. Ou seja, um livro usado de um autor estrangeiro que alguns amigos comentam custa mais barato do que um livro novo de um autor nacional que ninguém conhece, e jamais vão conhecer porque ninguém deu uma oportunidade. Mas é claro que há os eBooks que além de serem ecológicos permitem uma ampliação do mercado e dos leitores, certo?
          Errado. Já parou para ver o preço dos leitores de eBook? As plataformas dedicadas de sua “biblioteca” que não podem ser lidas em outros espaços de uma forma confortável? Já se imaginou indo a praia ou em algum lugar público levando um eReader? Que tal ler no notebook ou tablet? Celular? Provavelmente vai ficar mais preocupado em ser assaltado do que com a história, fora o desconforto de um aparelho não direcionado para uma leitura prazerosa. Livros físicos ainda são a melhor opção nesses casos portanto voltamos ao mesmo ponto. Sem divulgação, sem vendas. Sem escala, preços que são “caros” se comparados a outros tipos de divertimento que dão menos trabalho. Um cinema conta uma história de 200 páginas em duas horas e custa quase o mesmo preço e muita gente vai ver. Claro que não é a história completa, mas se pode assistir o resumo, para que imaginar todo o roteiro?
          Percebe que não é tão maluca a minha resposta lá do início? Ser Escritor não é uma profissão conceituada, tanto que atualmente qualquer um pode se considerar escritor e alimentar essa indústria com seus sonhos e esperanças. E não vejo problema algum nisso. As pessoas precisam trabalhar e é bom que alguém possa ganhar dinheiro com livros no Brasil, ainda que não sejam os autores, ainda que seja às custas deles. Mas que seja dito a verdade e que saibam onde estão se metendo para não ficarem frustrados e acreditarem que estão fazendo algo de errado. Não estão, apenas não há nenhum interesse em tornar alguém um ilustre artista sem que tenha percorrido todo o calvário de armadilhas, desesperos, os sete círculos do inferno de Dante.
          Se conseguir desistir, faça agora e vai perceber que foi um ótimo negócio abandonar essa besteira. Mas se não conseguir, então não tem jeito. Torne-se o seu principal leitor, escreva para o seu prazer e satisfaça-se com isso. Invista no seu trabalho como se fosse um hobby caro do qual extrai tudo o que precisa, mesmo que sejam alguns elogios de pessoas próximas. Perceba que a sua vida é uma história e que ela contém inúmeras narrativas interessantes que gostaria de deixar registradas em algum lugar para que possa olhar para elas de vez em quando e se emocionar. Publique seu livro com a qualidade que gostaria de ver em todos os livros que compra, porque aqueles que lhe derem esse voto de confiança merecem respeito e simpatia.
          E quando ver alguém tentando fazer o mesmo, ajude-o. Compre o livro dele, divulgue o trabalho, converse a respeito e ouça o que ele tem a dizer. Pode se surpreender ao ter prazer nisso, saber que por mais solitária que seja a escrita, não está realmente sozinho. Está cercado de personagens de todos os tipos, de pessoas que merecem ouvir ou ler uma boa história. Vai perceber que todo esforço vale a pena, se a alma não for pequena, como disse um escritor que ninguém conheceria se não tivesse se aventurado nesse caminho. Que teve que penar muito para ter seus textos lidos e ser reconhecido, mas hoje todos sabem que existiu e se tornou importante para muitos.
          E se quiser saber da minha obra e ajudar a divulgar, então passe no meu site e veja quantas histórias podemos partilhar. Terei o maior prazer em conversar com você em www.dannymarks.com.br. Obrigado por sua atenção, nos vemos na próxima história.

Um comentário:

Rodolfo disse...

Ola, Danny
Iniciei recentemente nessa louca empreitada de escrever, mas acredito que sei bem do que você está falando e concordo plenamente.
Ainda não li nenhum livro seu mas já estou sondando alguns títulos. Acho que sou desses que não vão desistir. Não por querer, mas porque a escrita me tomou as entranhas. Vou continuar acompanhando seus texto. Obrigado por compartilhar a verdade.

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