Um arco-íris de cores berrantes cruzou o espaço e atingiu a
terra como um relâmpago destroçando a paz que encontrou pelo caminho fraturando
o sorriso.
Não, não fiquei maluco. O mundo também não está louco. As
coisas estão como sempre foram, apenas mais visíveis e, por algum tempo, mais
expostas. Engana-se quem pensa o contrário.
Um campeão olímpico, um ídolo de comportamento
extravagante, muitas vezes violento e estúpido, se vê às voltas com uma mentira
descarada, que provoca uma terrível e desnecessária confusão. Hércules acaba
pagando o preço por seu comportamento e acaba sendo redimido pela ação divina
para servir como um símbolo para reflexão.
Talvez alguns tenham pensado na recente questão envolvendo
um atleta da natação e sua trajetória conturbada e as consequências da sua
imaturidade que poderia ter criado um problema mais sério e mais difícil de
contornar.
Tem aquele outro caso que emocionou a todos, do garoto
desconhecido até então que morreu afogado ao fugir da guerra, ou aquele outro
que teve a sua inocência roubada diante da violência dos que, supostamente,
lutavam pela sua liberdade. E a violência acabou por lhes roubar tudo o que
possuíam, em nome de lhes dar exatamente o que lhes roubaram: vida, liberdade,
segurança, paz.
Não estou me referindo a Alan Kurdi, nem ao Omran Daqnesh,
as pequenas vítimas que ganharam o mundo na tragédia Síria, provocada pela
ideologia de violência como justificativa para resolver os problemas que possam
haver e que, supostamente, não teriam outro meio de serem resolvidos. Estou me
referindo a desconhecidas crianças neandertais, vítimas da guerra contra os
homo erectus, nossos antepassados que os exterminaram completamente, deixando
apenas ossos como registro dessa coabitação nada pacífica.
A questão está em que somos capazes de nos sensibilizar
pela tragédia de alguns que nos causam simpatia, mas ignoramos completamente a tragédia
de outros que não conseguem nos comover da mesma forma. E a violência parece
ser sempre a resposta mais imediata, até mesmo a um sentimento de revolta
diante... da violência.
Quantas pessoas “de bem” não falaram emocionadas que é
preciso “acabar de vez” com esse ou aquele, para que a paz volte? Quantos não
berraram indignados que é preciso lutar, ainda que alguns inocentes morram,
para se conquistar a paz. Na verdade a Pax Romana era baseada nesse princípio
de imposição a força de uma ideologia de paz e progresso, ditados pelos
conquistadores.
Não, o mundo não mudou, não ficou louco de repente. Apenas
não aprendeu com as lições antigas, não aprendeu a conviver com as
consequências dos atos passados. Os que hoje pedem a vinda de um novo meteoro
que exterminou mais de noventa por cento da vida na Terra, incluindo os
“vilões” dinossauros e as inocentes plantas e animais menores, dando
oportunidade para que os mamíferos construíssem o seu império; são os mesmos
que tremiam com o holocausto nuclear possível da guerra fria, o nosso “meteoro”
criado especificamente para eliminar vilões e inocentes de forma global, e que,
felizmente, não foi lançado.
As cores vibrantes do arco-íris deveriam nos alertar para
um fato que está visível, mas é ignorado constantemente. A cor branca que
simboliza a paz é decomposta em todas as cores pelo prisma, que a fragmenta. Só
quando as juntamos de novo de forma harmônica podemos recriar a luz branca.
Esse fato óbvio, cientificamente comprovado, exaustivamente
demonstrado, nos leva a pensar que existe alguma lógica na decomposição que
cria a beleza das cores, mas que pode causar o caos da decomposição da vida.
A energia vibrante percorre todas as formas, tem a sua
função na natureza e sua existência garantida no universo. Mas como qualquer
ferramenta que pode ajudar a construir coisas maravilhosas, carrega no seu bojo
a semente da destruição de tudo. O desequilíbrio que movimenta, e o equilíbrio
que sustenta, se alternando para que o ritmo seja dado, em um ou em outro
sentido.
E quem determina para que lado estamos indo? Nossos humores
que fazem expor os ossos mais evidentes do corpo, na fratura exposta do sorriso
ou na união forçada das mandíbulas cerradas, como uma advertência muda contra o
futuro.
O mundo não ficou maluco, apenas ainda não descobriu o que
fazer com a sanidade.
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