“Nunca antes na história...” e “O Diabo está nos detalhes”,
são clichês que insistem em continuar vivos, e o motivo é bem simples, ou não.
Pense em um lago grande e profundo. Na superfície você pode
ver as aguas calmas, algumas pessoas velejando, ou pescando, ou até mesmo
andando de pedalinho; por baixo pode estar havendo nesse exato momento uma luta
de vida ou morte entre os predadores e as presas. Pode até haver um cadáver
semidevorado, encravado entre outros restos lançados de forma criminosa, armas
descartadas de algum crime insuspeito, ainda.
Ou, pode ocorrer exatamente o contrário. A superfície
agitada por uma terrível tempestade, que não consegue causar nenhum dano ao
mundo subaquático que segue o seu curso natural, tranquilo e calmo como uma
ostra fazendo a pérola que, talvez, acabe em algum colar famoso.
Foco é o que determina o quanto da verdade vamos perceber
ou não, e isso pode ser manipulado de forma bastante hábil, pelos que entendem
como fazer as coisas parecerem o que se deseja que elas sejam. Nada de novo até
aqui.
Realmente não há nada de novo em toda a história, as velhas
formulas são aperfeiçoadas, mas não alteradas. São raras as criações originais
de fato, como o Diabo, que até a idade média, sequer existia, mas que a partir
de então, possui ação retroativa até o início dos tempos.
Contra fatos não há argumentos, eles estão lá e resistem de
forma científica incontestável a qualquer análise. Mas, fatos podem ser
apresentados ou permanecer ocultos, e o pior, podem ser interpretados fora de
um contexto que transforma as “verdades” que apresentam de forma completamente
diferente do que o fariam em outros modelos. São peças menores da verdade,
detalhes que abrigam o tal diabo e suas tramas.
Há aqueles que dirão que quanto mais informações, mais
detalhes forem levantados sobre qualquer coisa, mais se conhecerá a verdade.
Mas isso não é uma realidade constante. É possível apresentar tantas
informações que a simples exposição faz com que todo o quadro se torne confuso,
criando a dúvida e desenvolvendo teorias interpretativas que podem até ocultar
ainda mais a verdade que pretendiam revelar, de forma maliciosa ou não.
É nesse momento que o foco assume o papel de indutor da
verdade, criando seletivamente um conjunto de detalhes que corrobore, confirme,
a narrativa que se deseja apresentar e que, normalmente, acaba sendo a mais
convincente até que se prove o contrário, por interesse que possa haver, quando
for capaz de se contrapor ao que já foi determinado.
A narrativa é o que provoca o “efeito borboleta” onde o
bater de asas de uma borboleta em um lado do mundo acaba provocando uma série
de consequências interligadas que culminam com um furacão do outro lado do
mundo, cientificamente comprovado pela mecânica quântica dos argumentadores que
elaboram as engrenagens desse complexo mecanismo.
Dessa forma, até
mesmo os livros de história podem ser revistos e novos fatos acrescentados,
alterando completamente uma narrativa que já estava estabelecida, mas que
diante de “novas descobertas” torna-se obsoleta, sendo necessária sua
reavaliação dentro de um novo cenário interpretativo que estabelecerá uma outra
verdade incontestável até que algum detalhe faça o diabo novamente e o processo
se reinicie.
Então, fica cada vez mais difícil acreditar em qualquer
coisa, mas é preciso ter crenças para poder seguir vivendo. E a vida não é
justa, isso é verdade. Afinal justiça é uma construção moral humana, e a vida é
muito mais do que humana, a menos que consideremos que tudo o que se julga vivo
seja qualquer outra coisa e se crie uma narrativa em que a única coisa que
realmente vive, somos nós, os humanos.
Isso poderia explicar porque estamos destruindo
sistematicamente tudo aquilo que não nos pareça humano, até mesmo outras
pessoas. Mas essa conversa fica para outro momento, quando houver detalhes que
justifiquem esse diabo de narrativa.
Até
lá...
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