Havia
um mar...
No
mar pequenas ondas iam e vinham.
Era
noite...
Havia
um céu salpicado de estrelas e pensamentos.
Havia
uma praia...
Na
areia pequenos rabiscos desenhados, sem sentido.
Ele
apareceu com seu passo de quem já teve pressa, mas aprendeu a esperar,
olhou os rabiscos sem sentido.
Dando
uma longa risada em direção às estrelas, sentou-se na areia e passou a unir os
rabiscos sem sentido e traçou uma figura que, de algum modo, era a sua imagem e
semelhança.
Ele
deu permissão à figura para viver no mundo que criara para ela.
Mas
a figura era apenas um esboço.
E
como esboço precisava ser aperfeiçoada.
Ele
concedeu-lhe o poder de criar novos traços, figuras ou esboços que a ajudassem
a se retocar e foi embora percorrer outros caminhos.
A
figura começou a julgar-se poderosa, pois podia fazer tudo o que quisesse, e
quanto mais a lembrança dele se afastava mais ela duvidava de sua existência.
A
figura buscou aprender sobre o seu mundo e, aprendendo, começou a querer
dominar tudo, mudar o que sabia e o que não sabia, criar novos traços sem
sentido, como os que um dia ela tinha sido.
Apagou,
rasurou, rabiscou tudo o que achava sem utilidade momentânea, fez coisas pelo
simples prazer de poder fazer, sentia uma necessidade de ser maior, muito maior
do que a lembrança que ainda restava dele, queria o poder para ser livre, sem
perceber que somente a sua incompreensão a prendia no chão.
O
mesmo chão que a tinha sustentado voltou-se contra sua arrogância, a mesma
força que tinha sido dada para criar, criou as ferramentas da destruição, e
rabisco após rabisco, esboço após esboço, todos foram desaparecendo,
apagando-se como a tinta que fica velha
E
a Figura ficou só, sem rabiscos ou esboços com quem pudesse falar.
Sozinha
pôs-se a chorar...não entendia...não queria entender...
Suas
lágrimas rolaram pelo seu corpo rabiscado e foram juntar-se as ondas que iam e
vinham na praia.
Amanheceu...Havia
um mar...
E
no mar pequenas ondas iam e vinham na areia da praia.
Havia
um céu...E no céu um sol quente...
Havia
uma praia...e na areia nenhuma figura, nem mesmo esboços...
Apenas
alguns rabiscos sem sentido.
Ele
voltou, olhou os rabiscos e sorriu, havia tempo...
E
enquanto olhava, lembrou-se de um lugar distante, um tempo em que havia
aprendido sobre as linhas tortas...e como torna-las belas e perfeitas...
Sentou
no chão e sem pressa, passou a juntar os rabiscos criando um desenho, e o
desenho de alguma forma era a sua imagem e semelhança...
Um
dia haveria mais alguém naquela praia...ele sabia disso...
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