terça-feira, 16 de maio de 2017

Dias Azuis - Danny Marks


          Quando a força da gravidade alcança todas as células do seu corpo com a percepção de que estão ali, juntas em cada milímetro cubico, e erguer-se se torna algo que exige esforço, você percebe que é um Dia Azul.
          A fumaça das folhas que o acalmavam, fusionadas no vapor ou na chama, não alcançam o mesmo intento de antes. Não se afogue em sal, mas deixe que saia, na manhã cinzenta ou na tarde ensolarada. Deixe que saia porque muitas vezes o dia fica azul.
          Ah, que doces lembranças que retornam com intensidade. Que pensamentos que gostaria de ter levado ao passado, para o momento certo que provocaria a atitude que o tornaria mais. O que mais? Não há como saber agora que outros conhecimentos se sobrepuseram e o fizeram entender que há dias que são azuis.
          Há dias coloridos, rosa, amarelo, vermelho. Dias negros, cinza, também fazem parte do calendário, o planeta girando sobre suas rodas imaginárias, dançando em torno do astro que arde em sua solitária condução. Dias frios, outros quentes, outros se tornam noite sem que se perceba por quem. Há aqueles de energia ultravioleta, no infravermelho do seu olhar em busca do calor, no amor ao frio, cianótico para uns, dourado para outros.
          Há tons nas cores, como há sabores nas línguas que se tocam. Gradações que se percebem ou se dispersam nos sentidos, afinados ou compostos de outras melodias que não se percebe. Toque aquele acorde febril e veja como vibra a atmosfera que nos envolve, e ainda assim, não seremos dois iguais na multidão, quando muito um par a evoluir na dança dos dias azuis.
          Todas as melodias terminam, os acordes descansam entre um show e outro, improvisos nos acompanham e estabelecem o seu próprio ritmo. O insuportável silêncio nos invade com um grito de bis do respeitável público, de ingressos na mão, esperando ansioso pela solução que virá. Cai o pano, as luzes acendem, hora de ir. Não vá para a luz! Não deixe que se vá, prenda com correntes fortes e mate-se sem reverberações.
          Não, há dias que precisam ser azuis para poder nos lembrar que há muitas cores necessárias na paleta do Criador, mas nenhuma se repete além do seu breve momento de brilho ofuscante, lusco fusco de intimo saber.
          Então você consegue pegar o ritmo novamente, e descobre o seu momento, e está tudo bem. Porque há tanto na harmonia desse universo que até mesmo o mais azul dos dias, só serve para lhe dizer o quão grandioso é. E o seu sorriso não é mais azul, e o vapor ou a fumaça das folhas de outono já não precisam mais acalmar o peso das suas células orbitando um coração. Há toda uma composição urgente na calma dos seus gestos e o solo se torna um voo de liberdade que toca as almas distantes com seus acordes de reconhecimento.

          Agora você pode se ver novamente, em seus novos olhos azuis, como as estrelas em uma noite sem fim, onde sempre poderá plantar as suas esperanças a piscar em vários tons, sabores e cores. Porque se todos gostassem apenas do verde, o que seria dos Dias Azuis?

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