Quando a força da gravidade alcança todas as células do seu
corpo com a percepção de que estão ali, juntas em cada milímetro cubico, e
erguer-se se torna algo que exige esforço, você percebe que é um Dia Azul.
A fumaça das folhas que o acalmavam, fusionadas no vapor ou
na chama, não alcançam o mesmo intento de antes. Não se afogue em sal, mas
deixe que saia, na manhã cinzenta ou na tarde ensolarada. Deixe que saia porque
muitas vezes o dia fica azul.
Ah, que doces lembranças que retornam com intensidade. Que
pensamentos que gostaria de ter levado ao passado, para o momento certo que
provocaria a atitude que o tornaria mais. O que mais? Não há como saber agora
que outros conhecimentos se sobrepuseram e o fizeram entender que há dias que
são azuis.
Há dias coloridos, rosa, amarelo, vermelho. Dias negros, cinza,
também fazem parte do calendário, o planeta girando sobre suas rodas
imaginárias, dançando em torno do astro que arde em sua solitária condução.
Dias frios, outros quentes, outros se tornam noite sem que se perceba por quem.
Há aqueles de energia ultravioleta, no infravermelho do seu olhar em busca do
calor, no amor ao frio, cianótico para uns, dourado para outros.
Há tons nas cores, como há sabores nas línguas que se
tocam. Gradações que se percebem ou se dispersam nos sentidos, afinados ou
compostos de outras melodias que não se percebe. Toque aquele acorde febril e
veja como vibra a atmosfera que nos envolve, e ainda assim, não seremos dois
iguais na multidão, quando muito um par a evoluir na dança dos dias azuis.
Todas as melodias terminam, os acordes descansam entre um
show e outro, improvisos nos acompanham e estabelecem o seu próprio ritmo. O
insuportável silêncio nos invade com um grito de bis do respeitável público, de
ingressos na mão, esperando ansioso pela solução que virá. Cai o pano, as luzes
acendem, hora de ir. Não vá para a luz! Não deixe que se vá, prenda com
correntes fortes e mate-se sem reverberações.
Não, há dias que precisam ser azuis para poder nos lembrar
que há muitas cores necessárias na paleta do Criador, mas nenhuma se repete
além do seu breve momento de brilho ofuscante, lusco fusco de intimo saber.
Então você consegue pegar o ritmo novamente, e descobre o
seu momento, e está tudo bem. Porque há tanto na harmonia desse universo que
até mesmo o mais azul dos dias, só serve para lhe dizer o quão grandioso é. E o
seu sorriso não é mais azul, e o vapor ou a fumaça das folhas de outono já não
precisam mais acalmar o peso das suas células orbitando um coração. Há toda uma
composição urgente na calma dos seus gestos e o solo se torna um voo de
liberdade que toca as almas distantes com seus acordes de reconhecimento.
Agora você pode se ver novamente, em seus novos olhos
azuis, como as estrelas em uma noite sem fim, onde sempre poderá plantar as
suas esperanças a piscar em vários tons, sabores e cores. Porque se todos
gostassem apenas do verde, o que seria dos Dias Azuis?
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