(Texto concorrente do Concurso Os Retratos da Mente)
Querida mãe
Sei que em tempos de festas você está
triste. Seria mesmo impossível não
sermos invadidos por essa saudade incontrolável
que invade corações, empalidecendo nossos sorrisos.
Gostaria de
lhe contar algumas coisas. Lembra quando me falava sobre o futuro?
Quando me incentivava a estudar, pesquisar, ir na direção dos meus sonhos sem
temer adversidades?
Acredita que deu certo? Tirando a saudade
que sinto de você, do papai, de toda a turma enfim, estou muito bem por aqui.No
começo estranhei bastante, nem poderia ser diferente. Aos poucos tudo foi se
encaixando: o ar é ótimo, estou respirando
com uma facilidade que nunca tive antes,
a natureza me presenteia com paisagens fantásticas, tão lindas que não
consigo descrever. Fiz amizades e tenho aprendido muito com alguns mestres
das mais diversas áreas que estão à nossa disposição. Aliás, falando em
mestres, que os daí onde fiz a pós
graduação não nos ouçam: o que acontece por essas bandas é aprendizado de verdade.
Mãe na noite de natal estaremos em comunhão
de pensamentos acredite. Saia e fixe seu olhar numa estrela, será nosso ponto
de encontro,combinado?
Seja feliz por aí! Deguste uma boa fatia de
peito de peru com salada de alface que
sempre nos deliciou nos natais passados.
Abrace todo mundo e sorria, estou muito bem entre parceiros formidáveis. Feliz Natal
querida, até breve!!!!
Querido filho
Tudo está preparado para mais um natal? Espero que não esqueça o que ensinei:
essa é uma ocasião em que tudo deve continuar acontecendo como toda família sempre apreciou. Tenho certeza que
a vovó já colocou uma meia velha perto
da janela, pro presente do papai Noel não é verdade?
Incrível como a velhice se encontra com a
infância, deve estar cada dia mais confusa e esquecida. Lembro das suas
peripécias senis que me faziam hora chorar,
hora dar boas gargalhadas.
Querido sei que pelo seu modo de encarar as
lutas diárias tem procurado dar conta de tudo. O papai não esquece de você um
minuto. Ele é meio turrão você sabe, por causa dele fui obrigada a vir pra cá,
mas fique tranquilo estamos bem. Existem várias oficinas de trabalho, no começo
ele se recusou a aprender ou participar
de qualquer atividade, aos poucos no entanto esta se interessando por algumas
modalidades. Eu estou sentindo um prazer imenso nesse aprendizado. Agora sei
que, embora formada em pedagogia, o
quanto me faltava de conhecimento verdadeiro. Filho, não quero que chore nesse natal. Vamos
combinar um encontro? Saia um pouco antes da ceia, vá degustando uvas verdes,
aquelas sem sementes, as nossas preferidas.
Olhe para o céu, procure uma
estrela bem brilhante. Será nosso encontro
combinado???
Amo você querido, amamos todos
vocês. Feliz Natal, não esqueça o aniversariante!!!
(...)
Um vento morno agita a folhagem, fazendo rolar sobre a grama
verdinha folhas secas das azaléias floridas. Algumas tocam de leve os pés da
senhora de cabelos branquinhos, que num sobressalto parece acordar de um breve
cochilo.
-Desculpe achar graça, a senhora se assustou?
-Acho que dei uma cochilada. Está tudo tão quieto por aqui, com
a correria toda por conta do natal, essa calmaria acabou tomando conta de mim.
-Posso contar um segredo? De
mim também, tirei uma pestana antes de
recomeçar a correria. Estou me
preparando para as comemorações que estão por acontecer. A senhora acredita que
até sonhei com a minha mãe fazendo recomendações?
-Que coincidência, também tive um sonho breve, mas falando em recomendações preciso pegar o
assado na padaria, é o prato predileto do
pessoal de casa. Meu menino mesmo estando distante não gostaria que faltasse na mesa.
-Nossa, ainda bem que a
senhora falou nisso. Preciso me
apressar, o rapaz do mercado vai fazer entrega lá casa. Recomendações da minha
mãe: nunca esquecer as frutas frescas do meu pai e as uvas verdes sem sementes,
nossas prediletas. Até logo senhora, feliz natal!
-Pra você também meu jovem,
até logo!
(...)
Ambos se afastam rapidamente
deixando pra traz os confortáveis bancos
de madeira, onde tiveram instantes de recolhimento no silêncio da pracinha florida, em frente ao cemitério municipal.
Saem com o olhos ainda vermelhos pelas lágrimas derramadas há
pouco. Ele em frente ao túmulo dos pais mortos em trágico acidente de carro
três anos atrás. Ela diante do túmulo do
filho único vítima de uma grave doença no sistema respiratório.
A algazarra dos pássaros
procurando abrigo nas árvores ao cair da noite
vai ficando distante. Enquanto mergulham no mar de buzinas intermitentes
e o cintilar das centenas de luzinhas de
natal, os dois vultos se misturam a multidão, cada um
com o coração leve pela lembrança boa
do breve sonho que tiveram sobre uma carta de natal!!!!
Um comentário:
Magnífico meu Amigo Além de lindo verdadeiro ...Um grande abraço Pedro Pugliese
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