Antes ela se escondia
atrás da porta do seu quarto, embaixo da cama, no armário.
Às vezes estava bem
ali na terceira gaveta, por entre as folhas mal escritas, no livro debaixo das
roupas mais intimas.
Mas um dia você
descobre a solidão e ela se gruda em você como uma cola pegajosa e mole que se
estica quando tenta escapar, mas que a puxa de volta como um elástico, de volta
ao seu abraço nefasto.
E você passa a temer
os abraços, de qualquer tipo.
E em cada trovão há uma
tempestade devastadora; em cada nuvem e sombra, um monstro de fumaça tóxica que
vai dissolver os seus ossos mantendo o restante intacto, de forma que você não
possa mais se levantar, não possa mais se defender, não possa mais gritar ou
mesmo correr.
E os dias se seguem,
um após o outro, e algo duro se forma lá dentro.
Uma camada de gelo que
recobre os seus sentimentos e entorpece, com o frio, os sentidos que antes eram
tão vívidos.
Então um dia você
descobre que a solidão também te protege de suas lágrimas, da sua dor, dos
efeitos incertos do seu sorriso. Ela te protege do futuro que você não sabe
mais qual será ou mesmo se vai chegar algum dia.
E como uma couraça que
reveste o seu corpo, um exoesqueleto que a sustenta e a põe a andar sem ser
tocada por nada, por ninguém, ela avança com e sobre você.
E tudo isso seria
evitado se alguém, qualquer mãe ou pai, tivesse lhe dito que estava tudo bem.
Que você poderia
sentir medo, e que realmente há um monstro nas sombras do seu quarto, escondido
no seu armário ou embaixo de sua cama.
Que não há problemas
em você sentir-se paralisada de vez em quando, e que sempre podem ocorrer
tempestades que arrasem o seu mais belo jardim.
Mas, que lhe diga,
depois de tudo isso, que vai ficar tudo bem, e que a envolva em um abraço de
liberdade, e lhe ilumine com um sorriso de sol.
Alguém que um dia lhe
dirá que, sim, há verdadeiros monstros a solta no mundo e que isso é muito
ruim, mas que você não deve achar isso normal, que deve combater com coragem a
dor que possa surgir, e que jamais deve se tornar um monstro também porque há
sempre melhores opções.
Nesse dia você lembrará
de alguém, como eu, que lhe disse que não há problema em ter medo, e que a
coragem é simplesmente a força que adquirimos enfrentando os nossos mais
terríveis medos para fazer o que é certo, o que acreditamos.
E essa força, essa
crença que alimentará você, levará para longe qualquer dor que possa sentir, e
lhe demonstrará que não é por estar sozinha que você está só.
Que a solidão pode
habitar dentro de nós e nos isolar de todos, ou de ninguém.
Então um dia você
descobre a solidão e avança sobre ela e lhe tira a máscara sombria e a abraça
como ela sempre desejou ser abraçada, e lhe dirá que está tudo bem, que tudo
ficará bem, e que você jamais vai deixa-la sozinha de novo.
E nesse dia, vocês
duas vão ver que sempre haverá um sol amanhã.
2 comentários:
Danny Magnífico !!! Lindo post de um sensibilidade a toda prova amei um grande abraço Pedro Pugliese
Pedro, meu amigo, seu entusiasmo me contagia sempre.
Obrigado por isso, tenha um ótimo 2013 com um Sol de Amanhã.
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