quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Um Dia Ruim - Danny Marks


                O valentão entrou no barzinho com cara de nenhum amigo, seguido de perto pelo seu grupo, que servia de inspiração e segurança para as provocações que gostava de fazer.
                Foi logo sentando-se em um canto privilegiado onde pudesse buscar a sua vítima. Tão logo a encontrou, fez como se não a tivesse visto preparando o teatro que lhe era característico e em ar professoral disse para os seus discípulos.
                — Um homem tem que ter atitude, ser macho. Não pode se curvar diante de nada, porque a vida foi feita para os fortes, e quem não gostar disso, que dê o fora dela.
                Os asseclas assentiram como lhes era devido fazer  e ele continuou inspirado.
                — Essa coisa do cara usar terno, ficar todo perfumado, alinhadinho. Isso é coisa de gay, de gente que não presta. É só ver esses políticos, tudo de terno. Bando de pilantra isso sim. Queria ver se eles tivessem que trabalhar, usar os músculos — e batia no bíceps desenvolvido em academia e na farmácia — mostrar que são homens mesmo. Que nada. Sairiam todos como se fossem umas galinhas assustadas.
                E fez a sua demonstração caricata de uma galinha assustada para divertir os que o adoravam como exemplo mor da masculinidade.
                — Mulher gosta é de cara macho, não desses engomadinhos.  É ou não é?
                E o seu grupinho concordou animado.
                Feito o teatro preparatório, levantou-se como se tivesse descoberto naquele momento o cara de terno, cabisbaixo na mesa logo a frente, o copo cheio de um líquido indefinido.
                Traçando uma linha reta entre predador e presa, foi logo dando o bote na vítima desavisada.  Puxou a cadeira e sentou-se de frente para o homem, esperando que o mesmo reclamasse da atitude. Estufou ainda mais o peito para parecer mais musculoso e intimidador.
                Mas o homem não deu ar de que o havia notado, com o olhar pregado no copo.
                Indignado com a atitude indiferente do outro o valentão pegou o copo sobre a mesa e de um gole o esvaziou batendo o copo vazio no tampo enquanto berrava para que todos ouvissem.
                — E agora? O que você vai dizer sobre isso?
                O outro olhou para o homem que estava na sua frente e começou a falar calmamente.
                — Dia ruim. Sabe, hoje acordei atrasado para uma entrevista importante, o relógio quebrou e não despertou. Saí correndo e acabei batendo o carro. Larguei lá mesmo onde estava, não podia perder tempo. Penei para conseguir um táxi e o motorista se perdeu e nos enfiou em um congestionamento. Paguei o táxi e fui andando, mas vieram uns caras e me assaltaram. Cheguei no trabalho e o patrão me demitiu porque não compareci na reunião com os investidores e perdemos o negócio. Voltei para casa andando porque ninguém tinha um centavo para me emprestar. Chego em casa e encontro a minha mulher com outro cara na minha cama. Pego uma arma para matar os dois, mas a arma estava velha, não funcionou. Saí de casa disposto a acabar com a vida. Entro no primeiro bar e vem um desgraçado e bebe todo o veneno do meu copo. Só pode ser um dia ruim. Quer saber? Pra mim chega!! Amanhã vou reaver o meu emprego, fazer as pazes com a minha mulher e arrumar o carro. Não posso ficar deixando que os outros decidam a vida por mim.
                E o homem de terno levantou-se e saiu do bar deixando os seus problemas para trás. Felizmente não é sempre que se tem um dia ruim.

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