O
policial entrou nervoso na sala do delegado.
—
Senhor, tem um caso de furto...
— Tá, e o que eu tenho a ver com isso? Faz a ocorrência e
coloca na fila.
— Mas é que o denunciante alega que foram depenados.
— Que se foda, anota a porra da ocorrência e coloca na
caixinha.
— O senhor não está entendendo, é um papagaio.
O delegado apagou o cigarro na placa de proibido fumar.
— Que tá acontecendo contigo? Não quer mais fazer as
ocorrências? Que merda! Tem alguém querendo denunciar um furto, anota as coisas
e depois coloca na fila. Dá pra fazer isso?
— Mas senhor, é que é muito suspeito.
— O que é suspeito?
— É que ele está usando botas.
O delegado ficou olhando para o policial por um tempo,
mas nada mais foi dito. A contra gosto levantou da sua cadeira e deu uma olhada
na sala de espera. Estava lá, o papagaio de botas.
— Realmente é muito suspeito.
— O senhor está vendo? Foi o que pensei.
— Muito bem. Mas temos que fazer alguma coisa. Ele deu
alguma indicação do endereço do furto?
— Sim, é onde ele mora.
— Entendo. E havia mais alguém com o suspeito para
comprovar a veracidade da coisa?
— Não, senhor. Disse que quando chegou já tinha
acontecido tudo e que não viu mais ninguém.
— Ai tem truta. Esse ai está escondendo alguma coisa,
posso sentir.
— Eu senti a mesma coisa, por isso vim falar com o
senhor.
— Precisamos agir com cautela, as coisas andam difíceis e
não podemos dar vacilo, entendeu? Faz o seguinte, quem tá de plantão hoje?
— Tem mais uns dois tomando café na padaria.
— Passa um radio e manda virem preparados pra tudo.
Enquanto isso enrola esse ai. Fica vigiando que a gente não sabe o que pode
acontecer.
— E quando os outros chegarem?
— Captura o desgraçado e joga na cela. Deixa comigo, vou
fazer esse papagaio cantar como nunca na vida dele.
— Eu sabia que o senhor ia resolver a situação.
— Só uma coisa.
— Sim, senhor.
— Bico fechado, entendeu?
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