Quando ele acordou
naquele dia o sol já se levantara mais cedo do que devia. Por isso ele nem
percebeu que suas calças haviam ficado alguns centímetros menores.
Na pressa bateu a cabeça ao entrar no carro e jogou a
culpa do desconforto claustrofóbico ao trânsito que sempre era maior que no dia anterior.
Só, talvez, depois de uma semana, quando teve que se
abaixar para entrar pela porta da sua casa que ele começou realmente a pensar
que havia alguma coisa estranha.
Os pés já não cabiam mais na cama e passara a olhar
as pessoas de cima.
No começo até achou bacana. Finalmente cumprira os
desejos dos pais. Secretamente também fora o seu desejo ser cada vez maior do
que aqueles outros garotos que sempre conseguiam as melhores coisas.
Ser grande já não era um sonho, tornara-se a sua
realidade.
Dois anos depois já não sabia mais o que fazer.
Era um transtorno ter que ficar abaixado para ver o
que todos os outros viam naturalmente. Cada vez mais percebia que quanto mais de
cima olhava, menos via o que importava, as pequenas coisas cada vez mais
distantes.
À noite o ar o atingia mais frio que antes e usavam-no
como referência mesmo quando não sabiam direito o seu nome.
Sempre havia os que se aproximavam apenas para tentar
alcançar alguma coisa lá de cima, descer estrelas, soprar as nuvens, apagar a lua
ou acender o sol. Por mais que houvesse outros a sua volta, só olhavam para
cima para pedir.
Então ele caiu.
Os que o acompanharam antes do fenômeno acontecer,
subiram nas suas costas e voaram no vento que fazia lá em cima, sem olhar para trás.
Logo ele que nunca pensara que as pessoas podiam voar, agora desejava apenas
poder criar um buraco tão grande em que coubesse dentro.
Mas qual buraco seria tão fundo?
Aos poucos, com o próprio esforço, foi se levantando,
nem sabia como. Alguns tentavam ajudar, mas o peso era demais para qualquer um
carregar por ele.
Com
o tempo foi se acostumando a olhar com cuidado o caminho, evitando pisar em
alguém. Buscando de alguma forma voltar ao que era antes, mas sabendo que
jamais poderia.
Sua cabeça só conseguia ver o chão, que ficara tão
longe quanto as estrelas. Sempre a meio caminho do espaço que o poderia tornar
pequeno de novo.
Um dia, não se sabe por que, simplesmente deu um
passo por cima da montanha mais próxima e desapareceu.
Não levou muito tempo para que se esquecessem dele, e
quando lembravam faziam parecer apenas uma lenda qualquer. Uma história mal
contada por alguém que fingia saber demais.
Mas o
homem continuou a crescer para sempre, em um lugar que antes não imaginava ser
possível existir.
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