Sem poder mexer um único músculo do corpo ouviu esse diálogo estranho.
Despertando aos poucos do sono forçado resolve fingir que ainda
dorme, mantendo as pálpebras semi cerradas consegue enxergar agora
bem perto, os rostos das criaturas que a cercam.
São horrendos, sob o capuz um vazio com olhos desproporcionais. Não há
boca, nem nariz, apenas dois olhos vítreos que a observam como lentes pesquisadoras
de um microscópio vivo.
Completamente paralisada dentro do túnel iluminado está aterrorizada com o que
acaba de ouvir. A dor aumenta gradativamente, parece que com aparelhos
cirúrgicos abrem seu joelho, procurando por alguma coisa lá dentro.
Então não está no estágio pós-morte aguardando o
julgamento final. Ouviu as criaturas falarem sobre abdução.
Foi capturada por alguma nave espacial de que tanto ouvira falar na mídia nos
últimos tempos. Precisa escapar, não vai se entregar facilmente; a ideia
de ter seu corpo participando de qualquer projeto alienígena a apavora.
Tirando forças não sabe de onde se solta do interior daquele túnel maldito. Tão
rápido quanto permite a dor intensa em toda a perna esquerda, foge pelo
corredor iluminado. Há de encontrar alguém para ajudá-la, quem sabe existam
outros prisioneiros abduzidos por aquelas criaturas sem rosto. Juntos haverão
de formar uma frente de resistência.
Parece que não perceberam a fuga, stavam por demais compenetrados nos
seus trabalhos abjetos, o joelho lateja intensamente. No
corredor imenso muitas portas, todas fechadas. O coração acelerado parece sair
pela boca, o medo e o desejo de fugir é tanto que sente os pés longe do chão,
deslizam como se tivessem asas. De repente uma porta aberta.
Uma sala ampla, muito iluminada com dezenas de macas onde pessoas inconscientes
parecem esperar por uma cirurgia em grupo. Todos tem os joelhos
abertos que sangram abundantemente. Um grupo de alienígenas se aproxima.
Tão rápido quanto consegue se enfia debaixo de uma das camas. Tremendo de pavor
ouve as mesmas vozes metálicas saindo dos rostos vazios.
-Rápido Azor, precisamos terminar a transferência desses nossos
pequenos zions. Os módulos de recolhimento estão na temperatura adequada. Temos
pouco tempo pra providenciar a transmutação dentro das margens de segurança!
-Certo comandante. Projeto 001yk927 de abdução em fase de conclusão. Todos os
zions implantados nas articulações dos terráqueos estão em perfeitas condições
bio energéticas; iniciando transferência para o modulo de maturação.
-Perfeito Azor, temos ainda quarto grupo de abduzidos aguardando a retirada. Dentro
do prazo estipulado estaremos voltando para nossa galáxia com nossa raça
preservada da extinção.
-O comando geral já decidiu o que fazer com esses terráqueos?
-Sim, trata-se de uma raça inferior. Não evoluíram uma nano partícula
cósmica nos últimos milênios; só servem como módulos de primeiro estágio. Que
se diga a bem da verdade, foram os péssimos hábitos
alimentares, aliados a uma vida sedentária dessa raça, que
viabilizaram condições ideais de desenvolvimento para os nossos zions. Não nos
cabe zelar por uma sub raça prepotente e maligna, que chega ao absurdo de
injetar substância tóxica em seus corpos, alterando as características
originais, simplesmente em nome de uma beleza que só uma visão distorcida
pode enxergar.
-Ok comandante, em 47 segundos começamos a retiradas. Temos uma boa
margem de segurança, visto que conforme suas
orientações, não temos que nos preocupar com o estado dos
corpos gestores.
Corpos gestores….
raça inferior…. sub raça prepotente e maligna….. pois sim! Ela é que não
vai ficar indiferente, acovardada esperando um bando de alienígenas arrancarem
algo que implantaram em todos aqueles pobres corpos adormecidos,
certamente sob a força de alguma potente medicação. Agora entende tanta gente
com problemas nas articulações, principalmente nos joelhos, as vezes no
esquerdo, outras no direito, em muitos casos em ambos.
Foram todos como ela abduzidos.
Por algum processo desconhecido implantaram um embrião alienígena para
que tivesse dentro das articulações condições de se desenvolver num primeiro
estágio. Agora entende as salas de espera dos ortopedistas lotadas, as
sessões de fisioterapias com filas imensas.
Não vai ficar acuada como um
bichinho covarde, vai lutar com todas as forças. Gritará tanto que acordará
todos os companheiros de infortúnio. Se ela conseguiu despertar e
escapar; há de conseguir ajudar outros tantos a fugirem
também.
Enche os pulmões de ar. Desde criança
foi conhecida pelo poder vocal, muitas discussões ganhara literalmente no
grito. Mais que nunca é hora de colocar em ação todo esse potencial…
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