Não se lembra quando tudo
começou. Não dera importância aos primeiros sinais discretos. Recorda-se
vagamente de umas fisgadas doloridas, uma dorzinha chata que aparecia
repentinamente depois de alguma estripulia e se espalhava aos poucos,
sintomas sempre atribuídos a algum excesso cometido.
Na rotina agitada não tinha lá muito tempo pra ficar atenta a pequenos sinais
do corpo. Extremamente ativa superava as crises tomando um anti inflamatório,
um analgésico e só.
Quando alguém alertava sobre a necessidade de procurar ajuda profissional
respondia simpática:
-Basta juntar os joelhos na horizontal pra tudo voltar ao
normal!
Perdida em
pensamentos, sorri ao pensar que pela segunda vez em pouco tempo há
uma referência aos joelhos em suas divagações solitárias. Recorda
as aulas de biologia no tempo de ginásio. O professor apaixonado por
antropologia, defendia teses pra lá de interessantes:
-O corpo humano foi planejado para andar de quatro. Quando se fixou sobre
duas pernas para alcançar alimento, desprezou sua natureza, começou
a agredir as articulações forçando posições para os quais não estava
programado.
Lembra das risadas
maliciosas dos meninos no fundo da sala, diante das citações: posições,
duas pernas….de quatro, que disparavam o
alarme dos hormônios em plena efervescência. As meninas com um leve rubor de
faces também se demonstravam instigadas por pensamentos picantes, a maioria
deles inconfessos.
Entre risadas e cochichos o assunto provocava um frenesi incontido:
-Já pensou? A Meire com aquelas coxas grossas andando de quatro
na minha frente? Ai que tentação!
-Cala a boca garoto, se o irmão dela escuta vai dar confusão!
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