segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Ninguém vai acreditar nessa história – Danny Marks


          Hoje tive uma ideia para um romance. É sobre um cara que mesmo sem ter diploma universitário consegue se tornar empresário e começa a fazer negócios com o governo. Para ganhar uma grana mais rapidamente, acaba se envolvendo em um esquema de pagamento de propinas milionário e em pouco tempo esse empresário do ilícito se torna um dos homens mais ricos do mundo com uma fortuna avaliada em 30 bilhões de dólares.
          Só que um azar danado acontece e o cara vai a falência, e o pior, acaba sendo indiciado pela polícia como suspeito nos tais esquemas de propinas. O cara cisca daqui, cisca dali e consegue se sair bem por mais algum tempo até que outras investigações o colocam na mira da polícia novamente, com mandado de prisão expedido.
          Vários dias depois de ter sido pedida a prisão preventiva, aquela que é para impedir o cara de fugir, o cara foge para outro país. O advogado do cara diz que foi apenas uma viagem de negócios, que logo o cara vai voltar e se entregar. Desconfiada a polícia pede a colaboração da Interpol para prender o suposto meliante foragido, mas ninguém consegue descobrir onde o cara foi e suspeita-se que já tem um esquema montado para ir para um pais que não tem repatriação.
          Uma reviravolta acontece quando o cara aparece em um aeroporto internacional e tranquilamente embarca em um voo comercial para o pais onde está sendo procurado e, finalmente, é preso com toda pompa e circunstância que alguém de tanta periculosidade merece.  Políticos que estão envolvidos nos esquemas se preocupam com uma possível delação do empresário que conseguiu a façanha de perder 30 bilhões de dólares em um par de anos e que agora pode acabar com o esquema bilionário deles da mesma maneira.
          Mas outra reviravolta acontece, e o perigoso possível delator de políticos é levado para um presídio em que se encontram outros líderes do crime organizado e que, como todos os presídios do país em questão, enfrenta uma crise de superlotação com três vezes mais detidos do que a capacidade. Não tem arrego, o cara não tem diploma de nível superior, tem que ficar com os presos comuns, digo, de alta periculosidade igual a ele.
          Só que outra reviravolta acontece e o presídio acaba sofrendo uma rebelião semelhante à dos outros presídios que também saíram do controle resultando em massacres entre os detentos e que levaram dias para serem contornados pelo sistema carcerário falido devido às propinas que resultaram na maior parte dos meliantes que os integram. Na confusão que se forma, um cadáver com a aparência do empresário é encontrado de forma tão desfigurada que dificulta a identificação.
          Uma força tarefa é montada para descobrir se o cadáver é realmente do empresário e dados médicos arquivados em hospitais e clinicas dentárias são solicitados para que se possa confirmar que realmente houve uma tragédia e o possível delator não pode mais delatar nada porque foi exterminado pelos chefes de gangues que odeiam delatores. A justiça do crime passando acima da justiça da lei e cumprindo a sentença com mais rapidez e eficiência.
          Alguns dos presos que fugiram na já citada rebelião são conduzidos para outros presídios e um ou outro que alegam que houve um esquema organizado para a fuga, acaba desaparecendo em outros motins de forma a cumprir a mesma lei da Omerta. Em boca fechada não entra facão enferrujado.
          Enquanto isso, um homem desconhecido, com as faixas necessárias à reconstrução facial a que se submeteu, olha o saldo das contas secretas que manteve ocultas dos olhos curiosos e começa a fazer planos para uma faculdade, afinal, não se pode brincar com a sorte e é preciso ter muito conhecimento nesses dias turbulentos.

          Essa seria a história que eu iria contar, mas cá entre nós, é um enredo muito ruim, não dá para acreditar em tamanhos absurdos, certo? Melhor deixar para lá, isso nunca iria acontecer de verdade. Como é difícil a vida de um escritor tentando compor enredos com a verossimilhança necessária.

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