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Entrevista
1.
Fale-nos
um pouco de você.
Puxa começou difícil
rsrs. Acho mais fácil falar dos personagens ou das tramas que de si mesmo, mas
vamos lá. Sou formado em ADM e LETRAS, pós-graduado em Alfabetização e
Letramento. Aposentado da indústria metalúrgica. Escrevo desde criança, mas
profissionalmente só mais recentemente, sou péssimo com datas, mas não faz mais
que dez anos. Sou considerado um Ciêntista Mistico, bruxo tecnológico na
variante mais comum, mas estou afastado da psicobiofísica há mais de trinta
anos, portanto o título é apenas uma concessão.
2.
O que
vc fazia/faz além de escrever? De onde veio a inspiração para a escrita?
Como disse, atualmente
estou aposentado. Já dei aulas particulares e no Estado sobre técnicas de
redação, já fui organizador de antologia e editor, mas me desliguei porque
gosto de uma certa tranquilidade, cansado de batalhas infrutíferas. Minha
inspiração para a escrita vem das pessoas e situações que acompanho, do olhar
para o mundo e dos conhecimentos de análise de padrões que desenvolvi na época
em que era místico. Minha habilidade em construir cenários a partir de indícios
já foi muito elogiada por administradores, mas sempre procurei usa-la mais para
o lado da escrita literária.
3.
Qual
a melhor coisa em escrever?
Difícil dizer isso.
Meu relacionamento com a escrita é na base de que não a comando. Aceito uma
ideia e a desenvolvo no estilo e no modelo que ela exigir. Já escrevi FC,
Terror, Horror psicológico, Psicologia, Policial, Comédia de Costumes,
Fantasia, Fábula, Literatura fantástica, distopia e por aí vai. Gosto de
misturar alguns estilos, fazer uma intersecção entre realidades possíveis e
imagináveis. Quando estudo um autor, tento criar algo usando o estilo dele para
alguma ideia que me surgiu, contos especialmente. Isso cria um sério problema
na definição da minha literatura, mas recentemente escrevi um texto sobre isso
e conclui que escrevo sobre qualquer coisa que gostaria de ter lido, mas não
havia sido escrito, até então.
4.
Você
tem um cantinho especial para escrever? (envie-nos uma foto)
Não tenho, qualquer
lugar serve, até porque eu “vejo” as cenas que escrevo. Acompanho a história na
minha cabeça para poder ver o seu desenvolvimento, seu ritmo, suas conexões.
Depois tento transpor o “filme” para a escrita, mas antes pensei bastante a
respeito, investiguei todos os ângulos. Qualquer lugar server, e alguns lugares
acabam servindo de cenários também.
5.
Qual
seu gênero literário? Já tentou passear em outros gêneros?
Rsrs, como falei. Não
tenho um gênero específico, escrevo o que gostaria de ler e ainda não fizeram.
Pode me chamar de um escritor de transgênero rsrs, ou algo pior uma mistura de
gêneros e estilos que se submetem a ideia que querem contar para realiza-la da
melhor forma que puder. Terror/Ficção Científica/Policial?
Fantasia/Medieval/retrofuturista? Qualquer coisa serve, desde que o resultado
seja algo que faça o leitor sentir satisfação e sou o meu primeiro e mais
exigente leitor.
6.
Fale-nos
um pouco sobre seu(s) livro(s). Onde encontra inspiração para título e nomes
dos personagens?
Na maioria das vezes
os títulos e personagens se nomeiam a partir das próprias narrativas. Aquela
coisa de que tinha que ser aquele nome, naturalmente. Não forço em nenhum
momento a ideia, no máximo a questiono sobre onde está querendo ir, mas procuro
deixar que me conduza e me apresente coisas novas. Publiquei em antologias de
poesia, medieval, terror, ficção científica, literatura fantástica. Tenho livro
de literatura policial, livros de contos, dois volumes com filosofia
existencialista sob uma abordagem dialógica no formato de romance intermodal,
tenho uma autobiografia mística em forma de romance. O que você quiser, pode
acreditar que escrevi ou vou escrever em algum momento. Gosto do desafio de
fazer o novo e me surpreender. Gosto do inusitado que surpreende pela sua
complexidade simples, aquela coisa da pessoa ver algo totalmente novo e falar
“como não pensei nisso antes?”. Esse é o meu objetivo, fazer o meu leitor amar
o inesperado e aproveitar cada momento que estiver lendo uma de minhas viagens
ao universo do possível.
7.
Qual
tipo de pesquisa você faz para criar o "universo" do livro?
Depende. Sempre vou
atrás do que é preciso para realizar a ideia. Faço pesquisa histórica,
científica, estilística, o que for. A construção de uma narrativa é como se
fosse uma investigação, alguns fatos são apresentados, mas existem lacunas
imensas e uma indefinível linha de tempo que precisa ser traçada para poder
fazer algum sentido. É preciso mergulhar na história sem uma ideia
pré-concebida, sem expectativa, seguir os rumos para onde ela levar e ver o que
é importante e o que é melhor deixar de lado. As ideias são sempre prolixas em
apresentar pistas falsas, tergiversar. Tem que segui-las, mas tem que
pressiona-las para que digam o que importa, fazer com que revelem mais do que
gostariam, então acaba descobrindo coisas incríveis, se estiver atento.
8.
Você
se inspira em algum autor ou livros para escrever?
Em todos rsrs. Digo
que na minha escrita estão não apenas todas as pessoas que conheci ou de quem ouvi
falar, mas todos os autores que amei e todos que odiei. Não se pode deixar nada
de fora se o objetivo é ser o mais verdadeiro possível. Cada detalhe é
importante na composição do quadro, mesmo que não apareça em primeiro plano.
Você não vai pintar o vento soprando, mas a forma como as folhas estão vão
falar sobre o vento, sobre a luz, sobre aquele animal que passou por ali e
comeu algumas delas, amassando outras. Quanto mais você conseguir apresentar
sem dizer, mais belo será o seu texto, e mais fácil levar o leitor junto.
9.
Você
já teve dificuldade em publicar algum livro? Teve algum livro que não conseguiu
ser publicado?
Não, na verdade não
procuro editoras. Todo material que publiquei foi por convite ou oportunidade.
Recentemente publiquei em eBook porque queria verificar como era essa mídia e
só estando dentro. Já notei algumas coisas interessantes que vão me conduzir
para os próximos passos.
10.
O que
você acha do novo cenário da literatura nacional?
Essa é uma equação
complexa porque há várias frentes. Ainda estamos presos a muito preconceito. Os
leitores brasileiros não gostam de autores brasileiros, a menos que tenham sido
“aprovados” lá fora. As editoras não investem em autores novos porque não
possuem público e muitos são fracos em termos de técnica, mas não há uma aposta
na construção de um público ou de formação de autores mais qualificados. São
raros os cursos de escrita criativa, a grande maioria não passa do básico. Ser
autodidata em algo tão complexo quanto a escrita não é um caminho fácil e a maioria
dos autores ou sobrevive porque pode pagar pelo hobby das auto publicações ou
desiste.
11.
Recentemente
surgiram várias pessoas lançando livros nacionais, uns são muito bons, outros
nem tanto, outros são até desesperadores, o que você acha sobre este boom?
Acho que é importante
no aspecto de que é preciso diversidade para poder criar um espaço para a
qualidade. Quando os importados chineses invadiram o Brasil todos temeram que
iam acabar com o mercado nacional por venderem produtos de baixa qualidade e
baixo preço. Anos depois vemos que a grande maioria dos produtos vendidos
nessas lojas são de marcas nacionais desconhecidas, que não possuem um grande
marketing, mas que possuem qualidades mínimas regulamentadas pela legislação e
um preço acessível. Quem pode comprar qualidade melhor, vai procurar uma loja
diferente, mas ambas sobrevivem em fatias diferentes de mercado, cada qual com
seus objetivos e público. O mesmo vale para o mercado literário, o problema é
que, ao contrário dos importados, não temos o desenvolvimento da produção
nacional com qualidade.
12.
Qual
sua opinião sobre os preços elevados dos livros nacionais?
Poderiam ser menores
se fosse feita uma pesquisa e desenvolvidas tecnologias na produção e
distribuição dos livros. O mercado literário está preso a produção importada, a
leis que regem esses livros. Fica complicado baixar o preço quando você depende
de restrições que quase equalizam o valor local com o do estrangeiro e ainda
tem que compor royalties para os detentores do direito de publicação. Se
investirem em autores nacionais, em produção local, em tecnologia digital para
imprimir livros por demanda eliminando estoques, os preços cairiam para os
livros nacionais, mas isso desestabilizaria todo o mercado do livro importando.
Não é tão simples assim. Aquela coisa que só há mudança por dois motivos:
necessidade ou interesse.
13.
Qual
livro você falaria: "queria ter tido esta ideia"?
Na verdade, nenhum.
Tem livros que adoro, autores que me encantam, mas não diria que gostaria de
ter alguma ideia que eles realizaram, não seria a mesma coisa. Adoro ser
surpreendido por um autor, isso fica cada vez mais difícil rsrs, mas perderia
esse prazer se ficasse pensando que poderia ter escrito aquilo. Não, prefiro
pensar que posso escrever algo que daria o troco a esses autores,
surpreendendo-os e fazendo-os sentir como me sinto ao ler o que escrevem.
14.
Se
tivesse que escolher uma trilha sonora para seus livros qual seria? (nome da
musica + cantor)
Complicado rsrs. Sou
eclético também no estilo musical. Minha playlist é uma miscelânea absurda de
músicas nacionais e estrangeiras. Tenho instrumental, épico, clássico, rock,
heavy metal, lírico, world music, mantras e por aí vai. Não sou o mesmo em todos os momentos, então a
música pode me acompanhar ou eu acompanho a música. Se algo não me satisfaz no
momento, pulo para a faixa seguinte e tento sintonizar com o som que me conecta
de alguma forma a realidade que estou vivendo. Não obrigo meus personagens a
nada, não os obrigaria a serem tão loucos quanto eu rsrs
15.
Já
leu algum livro que tenha considerado "o livro de sua vida"?
Já, vários. Dependendo
da fase da vida em que estou, algum me pega de jeito. Quando as coisas mudam,
outro assume o lugar, mas aqueles que passaram e me tocaram profundamente
sempre ficam e de vez em quando ainda sinto o seu toque suave e sei que não
estou sozinho, nunca.
16.
Você
tem novos projetos em mente? Se sim, pode falar sobre eles?
No momento o meu maior
projeto é ficar vivo rsrs. Estou escrevendo um romance complexo chamado Fome de
Viver, é a quarta tentativa de realizar essa ideia, nenhuma das anteriores
ficou satisfatória e comecei tudo de novo.
Algumas ideias são complicadas e não aceitam que as deixe de lado ou que
passe adiante para outro realizar. Há quatro anos venho tentando me livrar
desta, já escrevi um monte de coisa durante esse período, mas ela está lá só
observando. Quando fica brava, me deixa acordado a noite, só revirando uma cena
que vai ficar em algum lugar da narrativa ou será descartada, mas que até uma
coisa ou outra acontecer, não vai sumir. Fome de Viver fala sobre
sobrevivência, estou testando a vontade de viver dessa ideia e ela está
testando a minha. Espero que ambos cheguemos vivos ao final.
17.
Você
acompanha as críticas feitas por blogueiros nas redes sociais? O que você acha sobre
isso?
Vejo algumas coisas,
as pesquisas e as escritas tomam bastante tempo. Quando uma crítica é
bem-feita, não vejo problema algum, mesmo que sejam negativas são importantes
para apontar onde o autor pode aprimorar o seu trabalho. Quando as críticas são
apenas opiniões, acho que entra no direito de cada um apresenta-la, se não for
ofensiva, não vejo problemas, mas ignoro. Sou órfão de críticas, algumas
opiniões favoráveis, acho que meus leitores tem medo de mim, nunca se sabe o
que se passa na cabeça de um autor como eu, não é mesmo? Rsrs
18.
Se
pudesse escolher um leitor para seu livro (escritor, alguém que admire) quem
seria?
Olha, adoraria que
Isaac Asimov, Frank Herbert, Robert Heinlein, Arthur Clark ou Dean Koontz
dessem uma lida no que escrevi e me oferecessem uma crítica. Mas acabei ficando
com outros autores muito bacanas que foram inclusive meus mestres em alguns
estilos, como o Marcelino Freire (contos/crônicas) e Sérgio Couto (literatura
policial). Devo ter sido lido por outros autores nacionais com quem publiquei
ou que publiquei quando era editor, mas não recebi críticas.
19.
Qual
a maior alegria para um escritor?
A minha é poder criar
uma história que possa ler milhares de vezes e anos depois ainda continua a
deixar a mesma emoção. É algo indescritível porque você gerou, viu crescer,
superar todas as dificuldades e depois vencer no mundo e se realizar. É o mais
próximo de um filho que se pode criar com palavras.
20.
Deixe
uma mensagem a nossos leitores e para aqueles que estejam iniciando no mundo da
escrita literária.
A melhor mensagem que
posso deixar para os leitores é que devem dar oportunidade para o novo, devem
olhar para os autores nacionais como olham para os estrangeiros, são pessoas
iguais a você que merecem uma oportunidade de serem ouvidos e lidos, nada além
disso. E se gostarem, que continuem fazendo; e se não gostarem, apenas deixem
de lado e peguem o próximo e deem uma oportunidade também. Pode ser que o
momento e o clima não sejam propícios, mas pode ser que se surpreenda e se
apaixone.
Aos autores nacionais
eu digo, resistam. Se não conseguirem superar-se nas próprias dificuldades,
como pensam ensinar os seus personagens a ser melhor? A criatura nasce como
fruto da matéria do criador, e desenvolve-se depois no mundo apenas com as
ferramentas que lhe forem dadas por este, ou morrem. Seja responsável pelo que
faz e faça o melhor que puder em cada momento, nada mais pode ser pedido de
forma justa.
Agradeço pela
oportunidade, nos vemos em algum lugar por ai.
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