Veja a parte 1 em CONSPIRAÇÃO - UMA TEORIA
“E conhecereis a verdade, e a verdade voz libertará” (João
8:32).
Há milênios que o pressuposto do conhecimento da verdade
traz a libertação, mas há alguns problemas nisso. O primeiro é definir o que é
verdade.
A Filosofia, mãe de todas as ciências, tenta até hoje
chegar a um conceito que explicaria o que é a verdade. Dependendo de como se
busca o conceito do que seria a verdade, ela assume aspectos diferentes e,
ainda assim, válidos. Por exemplo: a verdade pode ser material, formal,
analítica, sintética ou sofisma.
Para complicar, até mesmo o que concebemos como realidade é
subjetivo, depende dos sentidos, da interpretação destes por um conjunto de
interações no cérebro, e por aí vai.
O mesmo ocorre com a liberdade. O que seria? Não há uma
conclusão final, porque na maioria das vezes chega-se a uma liberdade parcial.
Então, do que a verdade nos libertaria? Para quê?
O que isso tem a ver com a Teoria da Conspiração?
Basicamente, tudo.
Uma TC não lida necessariamente com a mentira, ao
contrário, as melhores lidam justamente com a liberação da verdade. Uma mentira
é difícil de ser mantida por muito tempo, por um grande número de pessoas.
Quanto maior o tempo e o número de pessoas envolvidas, mais breve será a
mentira e mais rapidamente desmascarada. Por outro lado, uma verdade parcial,
apresentada de forma a formar conceitos incorretos, pode durar longamente e se
tornar ainda mais forte com o número de pessoas que a propagam.
Uma meia-verdade é muito mais eficiente que uma mentira,
mais difícil de ser desvelada, mais forte e, principalmente, melhor aceita.
Isso porque há fatos que demonstram a verdade apresentada, afinal é uma
verdade, mas por ser incompleta, manipulada, indutora, serve a interesses de
quem a manipula, não é livre e não liberta ninguém, na verdade, acorrenta ainda
mais forte.
Assim como a verdade é uma construção que pode ter camadas
específicas ou camadas amplas, onde novos conhecimentos se somam aos já
adquiridos; a TC também tem camadas que podem ser bem rasas, bem específica, e
se completam e se reforçam em esquemas muito mais complexos.
Na verdade, quanto mais complexo o mundo se torna, mais
fácil se torna construir uma Teoria da Conspiração. Quanto mais informações são
divulgadas, mais complexo se torna descobrir as meia-verdades que abrigam, as
manipulações que escondem ou que provocam. Isso já está arraigado na
coletividade, entranhado no sistema amoral da construção da sociedade.
O que são as lendas, as histórias infantis, as ideologias
religiosas ou não, os discursos motivacionais, etc., senão meia-verdades que se
utilizam para atingir fins desejáveis? Quem não se sentiu confortado por uma
“mentira sincera” diante de algo trágico e insuportável? “Vai melhorar”, “Não
tema, vai dar certo”. Como assim? Como fazer afirmações que não podemos provar,
até que as façamos acontecer? O que é omitido é a verdade que “Se não melhorar,
não vai precisar se preocupar mais, pois terá sido o fim”, então é preciso
acreditar que sim, as coisas podem estar ruins, mas enquanto não se desistir,
há esperanças de que melhorem com o nosso esforço. A partícula da verdade
liberta do desastre total e manipula em direção a solução, tornando uma
meia-verdade em um fato utilizando as ferramentas da TC.
Isso nos leva a pensar que o objetivo de toda TC é a sobrevivência
daqueles que se servem dela, independente dos valores morais que os motivam.
Portanto a TC é uma ferramenta intelectual, não um organismo com vontade
própria com fins específicos e objetivos. É uma ferramenta de sobrevivência e,
portanto, extremamente versátil.
O mais interessante é que, por ser uma ferramenta de
sobrevivência, está sujeita às leis da evolução, ou seja, precisa se adaptar e
evoluir ou será extinta. Isso é facilmente comprovável quando se faz uma
pesquisa histórica. Nada melhor para determinar a evolução e adaptação de
alguma coisa que fazer uma pesquisa histórica.
A Teoria da Conspiração está tão entranhada no
desenvolvimento das sociedades que é impossível separa-las. Grupos, cidades,
reinos, nações, sociedades inteiras foram fundadas e derrotadas por
conspiradores. Conspirações ergueram e derrubaram impérios, basta ver o caso
dos Romanos, dos Gregos, na antiguidade. Casos como o de Cortez são
emblemáticos, onde a derrocada de um império se deu pela manipulação dos
próprios pilares que o mantinham. As máfias da modernidade e as sociedades
secretas são exemplos dessas manipulações de mão dupla.
Chegamos a época em que a informação está de tal forma
acessível e disseminada pelo mundo que é praticamente impossível esconder a
verdade, a menos que seja por baixo de outras verdades, pela intoxicação de
verdades seletivas ou insuportavelmente realistas, pela enxurrada constante de
verdades que anestesia e impede um raciocínio prolongado.
Na era da informação que prometia unir o mundo, finalmente
acessível a todos, sofremos cada vez mais um isolamento, uma desesperança.
Somos cada vez mais manipuláveis pelas tendências e pelos “movimentos
coletivos”, nossas vozes se perdem no grito da multidão. Criamos
voluntariamente barreiras contra o excesso que nos inunda e nos sufoca e,
deixamos brechas abertas por informações livremente apresentadas para nos
sentirmos parte de alguma coisa que se fragmenta na imensidão da coletividade.
Quanto mais fazemos parte de algo maior, menor nos sentimos diante do todo,
desvalorizando o nosso próprio potencial de intervir.
O que uma célula em um corpo pode fazer para alterar a
realidade do todo? Em uma palavra? Contaminação. É assim que um câncer se forma
e se dissemina. É assim que um vírus derrota um organismo bilhões de vezes mais
complexo e capaz de feitos incomparáveis.
É preciso aprender como funciona essa ferramenta evolutiva,
a Teoria da Conspiração, para poder impedir que se torne um câncer, e se torne
um fator de cura; para impedir que se torne um vírus que destrói o hospedeiro,
e se torne uma vacina que impede que fiquemos doentes.
E assim encerramos esta breve
explanação sobre as bases da Teoria da Conspiração e passamos a apresentar
algumas possibilidades, também teóricas, da sua aplicação. Podemos ser autores,
atores ou figurantes, mas não podemos nos furtar a sofrer as influências dessa
ferramenta que, de alguma forma, definirá os rumos futuros da humanidade, como
vem fazendo desde os primórdios
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